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correspondentes ao bem já integralmente depreciado em virtude de gozo de

4 PREÇOS DE TRANSFERÊNCIA NAS OPERAÇÕES DE TRANSFERÊNCIA DE TECNOLOGIA: A LEGISLAÇÃO

4.1 PREÇOS DE TRANSFERÊNCIA NA LEGISLAÇÃO BRASILEIRA

4.1.3 Métodos de controle

As operações realizadas entre pessoas vinculadas devem obedecer ao princípio arm´s lenght. Assim, para garantir este dever,

foram desenvolvidos métodos de apuração de preços que, teoricamente, fariam submergir o tal preço arm´s lenght. A Lei 9.430/96 separou os métodos para importações e exportações. Em relação às importações, o artigo 18 determina que os custos, despesas e encargos somente poderão ser deduzidos, para fins de determinação do lucro real, se não excederem a um dos métodos previstos. Em relação às exportações, o artigo 19 determina que as receitas ficarão sujeitas a arbitramento, caso o preço médio de venda dos bens, serviços ou direitos seja inferior a 90% (noventa por cento) do preço praticado no mercado interno. Portanto, antes de aplicar os métodos relativos às exportações, é preciso verificar se o preço é inferior ao limite imposto no caput do artigo 19.

O primeiro método previsto na Lei nº 9.430/96 se baseia na comparação e similaridade de bens, serviços ou direitos. Na importação o método é denominado de “Método dos Preços Independentes Comparados” (PIC) e na exportação o método é denominado de “Método do Preço de Venda nas Exportações” (PVEx). Esses são os métodos mais claramente realizadores do princípio arm´s lenght, considerando que efetivamente comparam os preços praticados em condições de mercado, por empresas independentes. O artigo 42 da IN/RFB 1.312/12 define a similaridade quando dois ou mais bens, simultaneamente: “I – tiverem a mesma natureza e a mesma função; II – puderem substituir-se mutuamente, na função a que se destinem; III – tiverem especificações equivalentes” (BRASIL, 2012).

O segundo método utilizado pela Lei nº 9.430/96 se baseia no preço de venda, diminuído do lucro. Na importação o método é denominado de “Método do Preço de Revenda menos Lucro” (PRL) e consiste, de forma geral, na apuração do preço médio de venda do bem, serviço ou direito importado, no Brasil, diminuídos dos descontos incondicionais concedidos, dos impostos e contribuições sobre as vendas, das comissões e corretagens pagas, e da margem de lucro, predeterminada na Lei, que varia de 20% (vinte por cento) a 40% (quarenta por cento), a depender do setor econômico.

Na exportação há o “Método do Preço de Venda por Atacado no País de Destino, Diminuído do Lucro” (PVA) e o “Método do Preço de Venda a Varejo no País de Destino, Diminuído do Lucro” (PVV). Como as denominações já mencionam, um se aplica na venda a varejo e outro na venda em atacado. Para a apuração do preço médio são considerados os preços de venda dos bens no mercado varejista/atacadista do país de destino, diminuídos dos tributos incluídos no preço e da margem de lucro de 15% (quinze por cento) nas vendas em atacado e da margem de lucro de 30% (trinta por cento) nas vendas no varejo.

O terceiro método previsto na Lei 9.430/96 tem por fundamento o custo de produção/aquisição, adicionado do lucro. Na importação o método é denominado de “Método do Custo de Produção mais Lucro” (CPL) e na exportação, “Método do Custo de Aquisição ou de Produção mais Tributos e Lucro” (CAP). Para a apuração do preço médio, são considerados os custos de aquisição ou de produção de bens, serviços ou direitos, acrescidos dos impostos, contribuições (importações), taxas (exportação) e da margem de lucro de 15% (quinze por cento) nas importações e de 20% (vinte por cento) nas exportações.

O quarto método previsto na Lei 9.430/96 foi introduzido pela Lei 12.715/12 e se baseia nas cotações de bolsas de mercadorias e futuros. Na importação, o método é denominado de “Método do Preço sob Cotação na Importação” (PCI), e na exportação, “Método do Preço sob Cotação na Exportação” (PECEX). Tais métodos são definidos como “os valores médios diários da cotação de bens ou direitos sujeitos a preços públicos em bolsas de mercadorias e futuros internacionalmente reconhecidas” (BRASIL, 2012).

Os métodos de controle, como já mencionado, deveriam ter por função revelar o preço arm´s lenght. Nesses termos, apesar de o contribuinte poder escolher o método que melhor lhe aprouver, ele está adstrito à norma, ou seja, não pode se utilizar de outro método, mesmo que mais eficiente. De acordo com Alberto Xavier (2010, p. 304), a legislação brasileira “preferiu reconhecer um rol taxativo de métodos para aferição do preço parâmetro, vedando ao contribuinte o recurso à eleição de outros métodos, ainda que mais compatíveis com as suas atividades ou com certas operações em virtude de suas características singulares”. No mesmo sentido, Heleno Torres (2001, p. 212) leciona que “os métodos utilizáveis são os que estão contidos na Lei 9.430/96, sem concessão para os contribuintes usarem outro, e muito menos discricionariedade para as autoridades administrativas modificarem os que foram prescritos legalmente”. Ricardo Lobo Torres (2012, p. 95) caminha em sentido contrário: “Se as normas previstas na legislação brasileira forem insuficientes para concretizar o princípio arm´s lenght nada obsta, a nosso ver, que se recorra a outros métodos e à combinação de alguns deles”.

Outra discussão pertinente é sobre as margens de lucro predeterminadas nos métodos previstos na Lei 9.430/96. A doutrina majoritária advoga no sentido de tais presunções serem juris tantum, ou seja, relativas, com admissão de provas em contrário. Luis Eduardo Schoueri (2006, p. 102) argumenta que “a fixação de margens sem qualquer compromisso com a realidade implica a imposição de limites

de dedutibilidade, no caso das importações, ou de receitas mínimas, no caso da exportação, incompatíveis com a realidade, resultando daí, notória inconstitucionalidade por fugir ao parâmetro”.

O artigo 20 da Lei n. 9.430/96 permite que o Ministro de Estado, em circunstâncias justificadas, altere os percentuais previstos nos métodos para a importação e exportação. Portanto, se o contribuinte demonstrar que as margens previstas não são compatíveis com a realidade e com o princípio arm´s lenght, deve o Ministro alterá-las. Porém, como lembra Luis Eduardo Schoueri (2006, p. 106), é possível que o sujeito passivo não tenha condições de fazer a demonstração e, nesses casos, “uma análise detida das Instruções Normativas que já regulamentaram a matéria revela que dificilmente um contribuinte poderá contestar as margens legais”.

Ressalve-se que, como as operações de transferência de tecnologia realizadas por empresas vinculadas, objeto do presente trabalho, não são alcançadas pela legislação brasileira sobre os preços de transferência, o seu tratamento tributário será apresentado no tópico a seguir. Contudo, a explicação dos métodos, mesmo que feita de forma superficial, dará suporte para a comparação e análise dos métodos recomendados pela OCDE.

4.1.4 Tributação das operações de transferência de tecnologia