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3 ARBITRAGEM DE CONFLITOS PELO USO DE RECURSOS HÍDRICOS

3.4 ASPECTOS DA LEI 9.307/96 APLICÁVEIS AO PROCESSO ADMINISTRATIVO DE

3.5.1 Métodos das teorias da comunicação dos grupos

Segundo Bredariol (2001), estes métodos inserem-se em uma longa tradição de mediação, principalmente nos Estados Unidos da América, envolvendo, entre outras, disputas trabalhistas, de família e de meio ambiente. Pressupõem que os conflitos acontecem por problemas de comunicação entre as partes e, em geral, envolvem a participação de um terceiro mediador neutro. O mediador entra em cena quando as emoções entre as partes estão tensas e impedem que se firme qualquer compromisso porque os comportamentos negativos criam barreiras. Há muitos assuntos em disputa, discordâncias sobre informações e possíveis combinações, os interesses são contraditórios e as diferenças éticas e de valores distanciam as partes, que muitas vezes têm pouca ou nenhuma experiência em participar de negociações.

Para Bredariol (2001), a amplitude destas metodologias é infinita, levando o autor a mencionar as relativas a políticas ambientais, à atuação de governos e à construção de parcerias e planos na busca de acordos de ganhos mútuos ou de consenso. Autores como Fisher R., Ury W., Susskind L., Bingham G., Backow L., Carpenter S. e Kennedy, Moore C., Pruitt D., Blake R. e outros podem ser incluídos nesta linha, mesmo sendo difícil e perigoso este enquadramento de colaborações

tão distintas. Cada um tem sua contribuição original e aborda aspectos considerados mais produtivos para resolver as disputas, seja dando ênfase aos métodos de negociação, ou propondo metodologias de estruturação de políticas de organizações em casos de conflitos, seja adequando estes métodos frente às diversas áreas de atuação (trabalho, família, comunidade, meio ambiente) ou por outros meios de abordagem de conflitos.

Na verdade, estes ‘métodos’ são experiências de resolução de disputas resultantes de diversas situações de conflito ambiental. Como dito, têm uma tradição de mediação, ou seja, são métodos que foram cristalizados com base em processos de negociação com características relativas ao conceito de mediação anteriormente estabelecido, integrando, assim, o universo das RADs. Isto posto, deve-se deixar claro que estes métodos foram na verdade desenvolvidos em um contexto de mediação.

a) O conflito como objeto de relações públicas.

Com base em estimativas de despesas com litígios por danos ao meio ambiente e processos contra empresas, notícias de acidentes ambientais e análise das razões de descontentamento do público e das estratégias para acobertamento dos problemas por parte das empresas, Susskind L. e Field P. discutem as relações que as empresas americanas mantiveram com o público nestas situações.

Pode parecer um receituário de recomendações, mas os autores partem do pressuposto de que as estratégias atuais das empresas têm resultado em prejuízos com indenizações e custas judiciais e perda de competitividade. Esta proposta se insere no âmbito das reformas da administração privada através de princípios como a qualidade total, a produção conforme a demanda dos consumidores e a transparência das relações com o público.

b) As Regulamentações Negociadas.

Antes da elaboração de normas ou propostas de políticas, a Environmental Protection Agency – EPA – dos Estados Unidos da América - EUA, realiza durante seis meses pesquisas, audiências públicas, consultas, abertura de debates e comentários aos diferentes atores interessados, testes e ajustes. Após este período, a regulamentação passa, então, a ser aplicada. Mesmo com estes cuidados, “quatro

de cada cinco normas editadas pela EPA eram contestadas judicialmente” (SUSSKIND apud BREDARIOL, 2001). Para superar esta dificuldade, foi desenvolvido pela EPA o chamado sistema de regulamentações negociadas a partir de experiências como a definição de valores de multas para emissões de caminhões, a permissão do uso de pesticidas em situações de emergência e a disposição de lixo de baixo teor de radioatividade. A respeito do último assunto, grupos ecologistas não participaram, argumentando que radioatividade não é negociável. Entretanto, este fato levou a que se fizesse uma separação entre temas, negociáveis uns, e outros com grande carga emocional, como a radioatividade.

A decisão por consenso e não por maioria de votos, a possibilidade que qualquer representante deixasse a negociação caso fosse de seu interesse e a inexistência de um acordo de não questionamento judicial caso a regulamentação fosse aprovada foram as principais regras de participação.

Os atores aceitaram os resultados das negociações e as regulamentações foram implantadas sem ser contestadas judicialmente, passando esta maneira de agir a ser tomada como regra.

c) Os Métodos de Construção de Consenso.

As experiências com as RegNeg e as RADs serviram como principal base para que fossem sistematizados os procedimentos de construção de consenso. Estes métodos podem ser utilizados na negociação de normas, planejamento de projetos e resolução de conflitos.

d) Os Métodos de Planejamento Pela Construção de Consensos.

A Agência de Cooperação dos EUA – USAID - e a Sociedade Alemã de Cooperação Técnica – GTZ - têm divulgado métodos para construir consensos com o envolvimento ou não de parcerias entre empresas, governos e organizações não governamentais.

Neste sentido, Brose (apud BREDARIOL 2001) enumera vários exemplos de métodos participativos, a saber: 1) Metodologia para Resolução dos Problemas (MRP), divulgada pelo SEBRAE, 2) Método Altadir de Planificación Popular (MAPP), aplicado principalmente por sindicatos e associações similares, 3) Método de análise e solução de Problemas (MASP), utilizado pela INFRAERO, 4) Processo criativo de

soluções de problemas (PCSP), utilizado pela iniciativa privada, 5) Método ZOPP (Planejamento de Projetos Orientado por Objetivos) da GTZ.

e) Um Software para a Negociação de Conflitos Urbanos.

Em 1990, Anson e Jelassi (apud BREDARIOL, 2001) apresentaram um programa deste tipo e fizeram referência a oito programas da mesma natureza, desenvolvidos por outras universidades americanas, utilizando a comunicação de grupos.

Entretanto, cita-se Marchand (apud BREDARIOL, 2001), pelo fato de o programa que desenvolveu dirigir-se ao contexto do planejamento urbano. Marchand, do Instituto Francês de Urbanismo, criou um programa para simular negociações de decisões sobre o desenvolvimento urbano.

f) Os Métodos da Comunicação dos Grupos e Análise de Decisões.

Conforme Bredariol (2001), Bacow e Wheeller e Fisher e Ury têm em comum, entre outros aspectos, os agradecimentos que fazem a Howard Raiffa que, por meio de publicações e entrevistas, orientou estes autores a definir uma base metodológica para analisar decisões em situações conflituosas. Sua contribuição reside na riqueza de casos nos quais o meio ambiente é o objeto de disputa. Propõe buscar soluções conjuntas e, principalmente, conduzir a atuação do mediador em relação às técnicas de que se pode valer e à ética no desempenho de sua função.

Como já foi dito, estes métodos têm longa tradição no âmbito da mediação, isto é, são diferentes técnicas de negociação participativa que têm em comum, entre outros aspectos, o direito à voz e decisão aos participantes na discussão dos problemas postos visando a (re) estabelecer a comunicação entre as partes.