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PARTE I: FUNDAMENTOS E CONCEITOS

Capítulo 2. Apoio à Decisão em Pesquisa, Desenvolvimento & Inovação

2- Métodos Econômicos

Os modelos econômicos tradicionais tentam calcular o custo benefício de uma opção de valor ou do risco financeiro de um projeto sob uma ótica monetária. Estão diretamente relacionados a conceitos de orçamento de capital. Estes modelos geram informações não apenas para a gestão da P&D, mas também para a gestão estratégica, uma vez que permitem comparar os projetos de P&D a outras classes de projetos. A utilização da análise econômica é teoricamente bem justificada se as condições para as quais os modelos são válidos podem ser satisfeitas (ORMALA, 1986). Contudo, na prática, a contribuição dos projetos de P&D é difícil de ser estimada em termos monetários. Além disso, vale ressaltar que decisões em P&D envolvem, na grande maioria das vezes, múltiplos critérios, e os métodos econômicos primam apenas pela viabilidade e resultados financeiros; assim, não são capazes de levar em consideração aspectos estratégicos, que são difíceis de monetizar quantitativamente (LAWSON et al., 2006; POH et al., 2001).

Em linhas gerais, pode-se afirmar que os métodos deste grupo são necessários para se ter uma estimativa de retorno econômico. Podem ser usados para estimar fatores de mercado quantitativamente, e seu resultado está relacionado com a necessidade de monetizar os itens individualmente. Por esta razão, este conjunto de técnicas tem dificuldade em gerenciar situações de incerteza.

Este grupo está dividido em seis abordagens: Taxa Interna de Retorno - TIR; Valor Presente Líquido – VPL; Fluxo de Caixa Descontado; Opções Reais e Teoria dos Jogos.

Taxa Interna de Retorno - TIR

Busca responder a questão: este curso de ação pode ser lucrativo? A TIR é um critério comumente empregado em análise de projetos. Pode ser definida como a taxa de desconto que iguala os fluxos de caixa ao investimento inicial. A grande vantagem deste critério é permitir que todo o projeto seja resumido a um único número: a sua rentabilidade intrínseca esperada. É justamente por isso que o critério continua sendo amplamente usado. É útil em oferecer um parâmetro de comparação de uma lista de projetos semelhantes em uma carteira. Contudo, é deficiente em considerar o valor do dinheiro no tempo, pois oferece uma visão incompleta do valor do projeto.

Valor Presente Líquido - VPL

O critério do VPL é um dos mais comuns em análise de projetos; é obtido calculando-se o valor presente de uma série de fluxos de caixa – pagamentos ou recebimentos – com base em uma taxa de custo de oportunidade conhecido ou estimado, e subtraindo-se o investimento inicial. Uma vantagem deste critério é determinar o valor que é criado ou destruído quando se decide realizar um projeto. Outra vantagem é que o VPL pode ser calculado para diversas taxas mínimas de atratividade, permitindo análises de sensibilidade frente a alterações. É uma ferramenta de orçamento de capital que aborda o custo de oportunidade de investir em um projeto, em oposição ao investimento em ativos de rendimento fixo.

Fluxo de Caixa Descontado

Denomina-se fluxo de caixa descontado por se tratar de uma popular abordagem no mercado financeiro, e também é utilizado para avaliar projetos de P&D. Oferece insights sobre a relação entre a taxa de desconto e investimento de capital feitas em momentos distintos. Possui especificações de valor que dão preferência para fluxos de retorno ao longo do tempo; contudo, geralmente a taxa de desconto não corresponde à realidade. Enquanto o seu procedimento é simples de usar e entender, requer dados que podem não estar disponíveis para a consideração, como no caso de projetos de pesquisa básica ou fundamental. Este método financeiro quantitativo é problemático por três razões: 1- Não consegue resolver adequadamente a incerteza acerca do resultado do investimento; 2- Assume-se que o investimento é feito inicialmente e que os recursos comprometidos não podem ser alterados ao longo do projeto; 3- A análise se baseia na atribuição de uma taxa de desconto apropriada (VONORTAS; HERTZFELD, 1998).

Análise de Custo/Beneficio

Análise de custo-benefício é um outro método frequentemente utilizado para a avaliação de projetos. Neste método, a consequência de um projeto é descrita em medidas de custo e benefício. O principal valor desta abordagem é que ela encoraja uma consideração explícita dos custos e benefícios dos projetos e permite a identificação dos fatores críticos na avaliação. Sua principal desvantagem é que ele requer diferentes benefícios ou custos, medidos na mesma unidade. Ele também não permite a comparação direta dos projetos.

Teoria das Opções Reais

Esta abordagem considera que as decisões econômicas de investimento, bem como a avaliação econômica de projetos, são afetadas por incertezas econômicas e técnicas, e pelas flexibilidades gerenciais embutidas nos projetos. A incerteza econômica está relacionada a fatores externos ao projeto, sendo geralmente representada pelas oscilações estocásticas do preço do produto e pelos custos. A incerteza técnica se deve a fatores internos, como a incerteza sobre o tamanho da produção e o desempenho dos projetos em função do desenvolvimento e emprego de novas tecnologias. As flexibilidades gerenciais embutidas nos projetos dão liberdade ao gerente para tomar decisões tais como investir, expandir, parar temporariamente ou abandonar um determinado projeto. Se alguma destas possibilidades for ignorada na análise econômica, pode ocorrer uma subavaliação do projeto, levando a erros irreversíveis na tomada de decisões. Desta forma, a flexibilidade gerencial representa um valor que não é considerado pelas técnicas convencionais, tais como TIR e VPL (PACHECO; VELLASCO, 2007).

As opções reais buscam representar consequências naturais e de situações do mundo real que proporcionam as características de irreversibilidade, incerteza e possibilidade de adiamento. Ao considerarem, além das incertezas econômicas e técnicas, a flexibilidade gerencial, esta abordagem possibilita maximizar o valor do investimento. Os investimentos em P&D são entendidos como uma opção – sem obrigação – e possibilitam prosseguir ou não com uma determinada ação com base num valor comercial futuro do projeto. Tanto o método do fluxo de caixa descontado como a abordagem de opções reais colocam um valor numérico na decisão de investir ou postergar, o que possibilita capturar mudanças no mercado e na tecnologia. O principal atributo desta abordagem é que ela permite a inclusão de nova informação no processo de avaliação. A principal preocupação na aplicação da metodologia é de como lidar com a imprecisão não estatística que se encontra ao julgar ou estimar os fluxos de caixa futuros. Além disso, a utilização de opções reais para avaliar P&D requer sofisticação matemática.

Teoria dos Jogos

Não se trata diretamente de um método econômico. A teoria dos jogos distingue-se das diferentes abordagens discutidas anteriormente, pois procura estratégias racionais em situações em que o resultado depende não só da estratégia própria de um agente e das condições de mercado, mas também das estratégias escolhidas por outros agentes que possivelmente têm estratégias diferentes ou objetivos comuns. Para Gibbons (1992), a teoria dos jogos é o estudo de problemas que envolvem decisões entre dois ou mais jogadores, apreciada extensamente, por exemplo, no estudo dos oligopólios, em que cada firma considera a decisão das outras empresas na sua tomada de decisão.

A teoria dos jogos é uma abordagem que busca considerar os possíveis eventos futuros ou as reações do ambiente em uma empresa, em relação à sua ocorrência e extensão. Esta abordagem considera explicitamente a atuação de concorrentes com base em um comportamento racional. Modelos teóricos baseados em jogos são úteis para avaliar as estratégias de P, D&I; por exemplo, o padrão de despesa em P&D de uma empresa envolvida em uma corrida tecnológica de patentes (GROSSMAN; SHAPIRO, 1987). No contexto da P&D, a maioria dos modelos está restrita à análise de duopólios. No entanto, vale ressaltar que há uma diferença considerável entre aquilo com que a teoria pode lidar e a complexidade da maioria das situações concorrenciais decorrentes. Consequentemente, simplificações são necessárias para resolver os modelos analiticamente.