• Nenhum resultado encontrado

4.7 Consulta aos especialistas como forma de validação

4.7.7 Métodos “ad hoc”

Essencialmente, os métodos “ad hoc” consistem na constituição de grupos de trabalho multidisciplinares com especialistas de conhecido saber que fornecem suas impressões e experiências para a formulação de um relatório ou inventário de impactos potenciais do projeto em avaliação. Normalmente, empregam-se em situações nas quais as informações preliminares são escassas e quando a experiência passada é insuficiente para uma sistemática organização das informações com métodos mais objetivos. Em verdade, consultas “ad hoc” compõem a maioria dos métodos de AIA (Avaliação de Impacto Ambiental), em ao menos uma de suas fases (RODRIGUES, 1998). Como exemplo, tem-se o método Delphi, criado com o objetivo de facilitar a análise de muitas informações obtidas de profissionais que devem responder a questionários individuais.

4.7.7.1 MÉTODO DELPHI DE CONSULTA AOS ESPECIALISTAS

O método Delphi (LINSTONE e TUROFF, 1975) é uma ferramenta utilizada em pesquisas qualitativas, na qual se busca um consenso de opiniões de maneira geral através de consultas de um grupo de especialistas a respeito de eventos futuros. Essa consulta é realizada através de um questionário, que é repassado diversas vezes até que haja um consenso, ou seja, uma convergência das respostas, que representa uma consolidação do julgamento intuitivo do grupo dos especialistas (WRIGHT e GIOVINAZZO, 2000).

Segundo Martino (1993) as principais características deste método são: o anonimato dos respondentes, a representação estatística da distribuição dos resultados, e o feedback de respostas do grupo para reavaliação nas rodadas subsequentes. Além disso, o método Delphi permite a troca de informação e opiniões entre os respondentes e a possibilidade de revisão de visões individuais sobre o futuro, diante das previsões e argumentos dos demais participantes, com base em uma representação estatística de visão de grupo (DIETZ, 1987).

4.7.7.1.1 Descrição Da Metodologia Delphi

Segundo Dietz, 1987; Wright e Giovinazzo, 2000 a técnica desta metodologia se baseia no uso estruturado do conhecimento, da experiência e da criatividade de um painel de especialistas, pressupondo-se que o julgamento coletivo, quando organizado de forma adequada, é melhor do que a opinião de um só indivíduo, ou mesmo de alguns indivíduos desprovidos de uma ampla, variedade de conhecimentos especializados. Esta metodologia é usada principalmente quando não há dados quantitativos, ou estes não podem ser projetados para o futuro com segurança, devido à expectativa de mudanças estruturais nos fatores determinantes das tendências futuras.

Primeiramente é organizado um painel de especialistas sobre o assunto a ser estudado. Na primeira rodada cada membro do painel de especialista, recebe um questionário elaborado que é solicitado a responder e é explicada a razão que o levou a este resultado (DIETZ, 1987). O questionário deve ser cuidadosamente elaborado sendo que para cada questão uma síntese das principais informações conhecidas sobre aquele evento, e ocasionalmente, extrapolações para o futuro, de maneira a igualar e facilitar o raciocínio orientado para o futuro (WRIGHT e GIOVINAZZO, 2000).

As respostas das questões quantitativas além de serem tabuladas, recebem tratamento estatístico simples definindo-se a mediana e os quartis, e os resultados são devolvidos aos participantes na rodada seguinte. Quando há justificativas e opiniões qualitativas associadas a previsões quantitativas, a coordenação busca relacionar os argumentos às projeções quantitativas correspondentes conforme descrito no trabalho desenvolvido por Wright e Giovinazzo (2000).

De acordo com Dietz (1987), na segunda rodada de questionamentos as perguntas da primeira rodada são repetidas, mas devem ser acrescentados os resultados da rodada anterior, acompanhados das estatísticas de cada resposta e de suas razões para cada planejamento proposto.

Segundo a literatura três rodadas são suficientes para obter um resultado satisfatório, ou seja, o processo é repetido sucessivas vezes com as rodadas do questionário, até que a divergência de opiniões entre os especialistas tenha se reduzido a um nível satisfatório, e a resposta da última rodada seja tomada como a

previsão do grupo. A terceira rodada (quando necessária) apresenta aos especialistas o resultado da rodada anterior, além de ter por objetivo a convergência das respostas (DIETZ, 1987).

Através das diversas rodadas, nas quais se permite a troca de informações entre diversos participantes e, em geral, se conduz a uma convergência rumo a uma posição de consenso (ESTES e KUESPERT, 1976). Segundo Wright e Giovinazzo (2000) a evolução em direção ao consenso pode ser mensurada pela distância do 1º ao 3º quartil das respostas e o valor da mediana. Em alguns casos os respondentes se concentraram em torno de duas ou três posições distintas, sem se aproximar de um consenso.

O Delphi era usualmente aplicado para levantamento de tendências e eventos futuros. Atualmente incorpora a busca de ideias e estratégias para a proposição de políticas organizacionais mais gerais e por isso não se caracteriza mais por ser um instrumento de previsão somente, mas sim por ser uma técnica de apoio à decisão e à definição de políticas, e passou a ser conhecida como o Policy Delphi (Delphi de Políticas) (WRIGHT e GIOVINAZZO, 2000).

Segundo Wright (1986, 1994) o Mini–Delphi por sua vez, pode ser conceituado como um processo estruturado de consulta a especialistas, que mantendo as principais características do método Delphi (LINSTONE e TUROFF, 1975) permite a realização de um estudo com grande agilidade em uma única sessão de trabalho.

Para a realização do Mini-Delphi, deve ser utilizado um questionário tipo Delphi, com os respondentes presentes no local, sendo mantidas as características centrais de anonimato das respostas em cada rodada, e a apresentação de feedback dos resultados da primeira rodada aos participantes. A partir deste feedback deve ser feita uma discussão dos resultados e aprovação das prioridades aportadas.

De acordo com Wright e Giovinazzo (2000) quando não se atingem estas características, o trabalho não se caracteriza como pela aplicação da técnica Delphi. Consequentemente, a realização de uma única rodada do questionário exclui a possibilidade de interação e busca de consenso; da mesma forma, a quebra do anonimato prejudica as condições necessárias para que um especialista de renome abandone seu rigor científico e passe a especular sobre o futuro.

Uma clara definição do objetivo do estudo deve ser feita, especificando o horizonte de tempo e o tipo de resultado desejado (WRIGHT e GIOVINAZZO, 2000).

As vantagens da técnica Delphi, vão muito além de se realizar previsões em situações de carência de dados históricos (WRIGHT, 1986) como:

- A consulta a um grupo de especialistas traz à análise do problema pelo menos o nível de informação do membro melhor informado; e, em geral, traz um volume muito maior de informação.

- O uso de questionários e respostas escritas possibilita uma maior reflexão e cuidado nas respostas, e facilita o seu registro, em comparação a uma discussão em grupo.

- O anonimato das respostas e o fato de não haver uma reunião física reduzem a influência de fatores psicológicos como, por exemplo, os efeitos da capacidade de persuasão, a relutância em abandonar posições assumidas, a manipulação política, a omissão de participantes e a dominância de grupos majoritários em relação a opiniões minoritárias.

- Não há custos de deslocamento de pessoal, apesar do custo de preparação ser maior com o envio dos questionários por correio ou por outro meio e os peritos podem responder sem restrição de conciliar as agendas para uma reunião,

- Os custos são provavelmente menores do que aqueles associados à reunião física de um grande grupo de peritos, apesar do custo de preparação ser maior.

- O efetivo engajamento no processo de um grande número de participantes é uma importante vantagem que induz a criatividade e confere credibilidade ao estudo.

As desvantagens da técnica Delphi segundo Wright (1986) são:

- Seleção de “amostra” de respondentes e tratamento dos resultados estatisticamente não aceitáveis.

- Dependência excessiva dos resultados em relação à escolha dos especialistas, com a possibilidade de introdução de viés pela escolha dos respondentes.

- Possibilidade de se forçar o consenso indevidamente.

- Dificuldade de se redigir um questionário sem ambiguidades e não viesado sobre tendências futuras.

- Demora excessiva para a realização do processo completo, especialmente no caso de envio de questionários via correio.

É importante ressaltar que a técnica Delphi é essencialmente uma consulta a um grupo limitado e seleto de especialistas, que através da sua capacidade de raciocínio lógico, da sua experiência e da troca objetiva de informações procura chegar a opiniões conjuntas sobre as questões propostas e que não se pretende em momento algum utilizar a técnica Delphi como um levantamento estatístico representativo da opinião de determinado grupo amostrado. Nesta situação, as questões de validade estatística da amostra e dos resultados não se aplicam.

Segundo Wright (1986) a seleção e convite aos respondentes, a elaboração de questionários e a análise das respostas são etapas em que o conhecimento da metodologia, a experiência e a imparciabilidade dos organizadores têm que ser aplicadas.

Com relação ao prazo o mais usual para uma aplicação completa é de quatro meses a um ano, dependendo da complexidade do tema e do questionário, do número e engajamento dos respondentes e da disponibilidade de recursos, especialmente o recurso humano habilitado para a coordenação do processo (WRIGHT, 1986).