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CAPÍTULO III – METODOLOGIA

3.4. Métodos de recolha de dados

A recolha dos dados foi realizada, essencialmente, durante as aulas da disciplina de Matemática A, nas quais os alunos desenvolveram actividades com tarefas de exploração e investigação no âmbito da Geometria.

Tendo em conta o carácter qualitativo da metodologia adoptada nesta investigação, a recolha de dados foi essencialmente descritiva com vista a obter uma caracterização o mais completa possível da situação em estudo. Neste sentido e atendendo a que nos estudos de caso se devem usar múltiplas fontes de evidência (Yin, 2009), procurou-se diversificar os métodos de recolha de dados, com o propósito de obter um conjunto significativo de dados, válido e bem fundamentado (Bogdan & Briklen, 1994; Gall et al., 1996; Lessard-Hébert, Goyette & Boutin, 2005) tornando possível a sua confrontação, ou seja, o que diversos autores denominam por triangulação dos dados.

Sendo assim, os métodos de recolha de dados utilizados na investigação foram: a observação, a entrevista e a análise documental. Estas são segundo Lessard-Hébert et al. (2005) as técnicas que estão normalmente associadas à investigação qualitativa.

3.4.1. Observação

A observação é uma das técnicas que as metodologias qualitativas privilegiam (Lessard- Hébert et al., 2005). De acordo com Gall et al. (1996) a observação permite ao investigador formular a sua própria versão do que está a ocorrer e fornece uma descrição mais completa da situação, do que a que seria possível através de outros métodos. Ela “pode assumir uma forma directa sistemática ou uma forma participante” (Lessard-Hébert et al., 2005, p. 143).

A observação participante procura descrever os factos tal como eles são para os sujeitos observados e pode revestir-se de uma forma mais activa ou mais passiva, conforme o nível de envolvimento do observador em relação aos acontecimentos e aos pontos de vista dos participantes. Na observação activa, o observador envolve-se nos acontecimentos e regista-os após eles ocorrerem, ao passo que na observação passiva o observador não participa nos acontecimentos, assiste a eles do exterior (Lessard-Hébert et al., 2005).

Neste estudo a observação foi participante activa, uma vez que o papel de observador foi desempenhado pela investigadora, que trabalhou em assessoria com a professora da turma e interagiu com os indivíduos sujeitos a observação com a finalidade de recolher dados sobre as suas acções, opiniões e perspectivas. A observação ocorreu no contexto natural onde se desenvolveu a investigação. Foi efectuada sobre a forma de registo escrito de notas pela investigadora, após a interacção com os alunos ou a observação da interacção entre os alunos e entre estes e a professora e complementada com o registo áudio e vídeo, de modo a obter informações mais reais e completas da dinâmica da sala de aula. Para Gall et al. (1996) as gravações áudio e vídeo têm a vantagem de permitirem registar acontecimentos que ocorrem ao mesmo tempo e de poderem ser estudados várias vezes para uma análise cuidada e quando for mais conveniente para o observador. Assim, nas aulas em que as tarefas foram exploradas dispôs-se de duas câmaras de filmar e de gravadores áudio para obter informações mais detalhadas sobre as interacções ocorridas quer em pequeno grupo, quer em grande grupo. Todos os registos foram visionados pela investigadora e transcritos.

3.4.2. Entrevista

A entrevista é uma fonte rica de obter informações relativas a aspectos não observáveis numa dada situação. Ela é segundo Bogdan e Briklen (1994) “utilizada para recolher dados descritivos na linguagem do próprio sujeito, permitindo ao investigador descobrir intuitivamente uma ideia sobre a maneira como os sujeitos interpretam aspectos do mundo” (p.134).

As entrevistas podem ser estruturadas, semi-estruturadas e não estruturadas, dependendo do grau de controlo que o investigador deseja ter sobre a situação. De acordo com Gall et al. (1996) na investigação qualitativa o formato de entrevista é pouco estruturado, uma vez que a meta do investigador é ajudar os respondentes a exprimirem as suas perspectivas acerca de uma situação nas suas próprias palavras.

As entrevistas podem ser individuais ou de grupo. Para Gall et al. (1996) uma entrevista de grupo envolve a formulação de questões a um grupo de sujeitos reunidos para este propósito específico. Este grupo é designado por estes autores por grupo foco. Os mesmos autores afirmam que recentemente, os investigadores têm manifestado interesse no uso de grupos foco para recolher dados, por verificarem que as interacções entre os participantes estimulam-nos a afirmar sentimentos, percepções e crenças que não exprimiriam em entrevistas individuais. Também Bogdan e Briklen (1994) salientam que nas entrevistas de grupo, os sujeitos ao reflectirem sobre um tópico podem estimular-se uns aos outros e avançar ideias.

Assim, no final da experiência realizou-se uma entrevista semi-estruturada a cada um dos dois grupos que são objecto de estudo de caso, com o objectivo de esclarecer alguns pontos do trabalho realizado e obter informações mais detalhadas sobre a opinião dos alunos em relação à experiência. Esta entrevista embora obedecendo a um guião (Anexo V) previamente preparado, de perguntas abertas, foi flexível permitindo uma recolha de dados num ambiente natural de conversa, deixando os participantes falar livremente sobre os seus pontos de vista. Não foi seguida a ordem exacta das questões que consta do guião e foram integradas novas questões tendo em conta o rumo do diálogo com os entrevistados.

Realizaram-se também duas entrevistas semi-estruturadas à professora da turma, tendo por base um guião orientador de questões abertas para cada uma (Anexos VI e VII). A primeira decorreu no início do estudo com a finalidade de recolher dados acerca da formação académica e percurso profissional da professora, da sua experiência com tarefas de natureza exploratória e investigativa e com programas de Geometria Dinâmica, da sua percepção sobre o ensino da Geometria e sobre as dificuldades dos alunos na aprendizagem da mesma. A segunda realizou-se no final da experiência

com o intuito de promover uma reflexão sobre o contributo do estudo quer para os alunos quer para a sua formação.

As entrevistas foram gravadas em áudio para preservar e aumentar a fiabilidade da informação recolhida e posteriormente transcritas.

3.4.3. Análise documental

A análise documental em investigação qualitativa “é utilizada para triangular os dados obtidos através de uma ou duas outras técnicas” (Lessard-Hébert et al., 2005, p. 144).

Nesta investigação foram analisados documentos de registo que continham informações relativas ao percurso escolar e à componente afectiva e social dos alunos, documentos escritos produzidos pelos alunos nas aulas e registo escrito de notas feito pela investigadora ao longo do estudo.

Através dos documentos de registo relacionados com o percurso escolar e com a componente afectiva e social dos alunos foram recolhidas informações relativamente à idade, às retenções dos alunos e aos seus resultados escolares na disciplina de Matemática, assim como algumas informações a nível de ambiente familiar, condições sócio-economicas, habilitações e profissões dos encarregados de educação, bem como as expectativas dos alunos sobre a escola e sobre o seu futuro. Estas informações ajudaram à caracterização da turma e foram complementadas com a análise dos dados obtidos através da ficha de caracterização preenchida pelos alunos no início da experiência, com a observação de aulas que antecederam a intervenção de ensino e com a realização de conversas informais com a professora da turma. Através da ficha de caracterização procurou-se conhecer as concepções e atitudes dos alunos face à Matemática e em particular à Geometria, assim como às aulas de Matemática.

Para eliminar interpretações erróneas das observações realizadas e uma vez que os relatos resultantes de observações participantes são descritos com frequência como subjectivos, recorreu- se à análise de documentos escritos produzidos pelos alunos. Este foi um meio para obter dados mais significativos, sobre a mobilização de conhecimentos, a compreensão de processos usados pelos alunos na realização das tarefas de exploração e investigação, a comunicação escrita do trabalho desenvolvido e sobre as dificuldades sentidas pelos mesmos. Assim, foi pedido a um responsável de cada grupo para no fim de cada tarefa entregar a resolução à investigadora, que depois de digitalizada foi devolvida ao grupo. No final de cada tarefa foi ainda solicitado aos alunos para preencherem um ficha de reflexão individual sobre a mesma (Anexo VIII), a fim de se obterem

dados mais concretos sobre a opinião de cada aluno relativamente às dificuldades sentidas na realização da tarefa e ao modo como as ultrapassou. O preenchimento desta ficha foi feito pelos alunos em casa, não só para evitar ocupar tempo da aula, mas também porque foi sugerido pelos próprios alunos.

Com o registo escrito de notas procurou-se obter informações sobre observações, questões, diálogos e comentários pertinentes para a investigadora, que surgiram durante a recolha de dados e que foram registadas durante e após a observação na sala de aula e após as conversas informais realizadas com a professora da turma.