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PARTE II. TRABALHO EMPÍRICO – ESTUDO DE CASO, CENTRO NOVAS

4. Metodologia

4.2. Métodos de recolha de dados

As fontes de informação utilizadas revelaram-se de grande utilidade para a apreensão da realidade em estudo, embora apresentem contornos e objetivos distintos.

A análise documental incidiu nos seguintes tipos de documentos:

- Documentos de apoio à contextualização da ação do CNO, em termos do enquadramento no âmbito da INO, o programa de EFA que acolhe a sua atividade;

- Documentos relativos às metodologias, técnicas e referenciais definidos pela tutela para a operacionalização da ação do CNO, em particular os processos RVCC;

- Documentos internos ao CNO, nomeadamente relatórios de atividade e de avaliação; - Documentos produzidos no âmbito da atividade com os adultos, designadamente portefólios.

Esta componente da recolha de informação revelou-se mais trabalhosa do que se antecipou inicialmente, não só pelo número de fontes recenseadas, mas sobretudo pela complexidade dos documentos, em particular os que se relacionam com as metodologias, técnicas e referenciais definidos pela tutela. Se bem que a investigação não implicasse um

domínio completamente aturado desses referenciais era fundamental conhecer a estrutura básica da ação do CNO ao nível dos processo RVCC e dominar minimamente os conceitos, pressupostos e metodologias em causa. Ora, em função da complexidade inerente ao processo de RVCC e dos referenciais estabelecidos este desiderato foi difícil de alcançar de forma plena, e aliás as entrevistas realizadas revelaram que essas dificuldades também estavam presentes nos agentes envolvidos na ação do CNO, se bem que de forma necessariamente distinta.

Em função desta circunstância, a observação de situações concretas de trabalho com adultos envolvidos nos processos RVCC, revelou-se precocemente como uma abordagem fundamental para a apreensão da realidade em estudo. De fato, para a compreensão do tipo de trabalho desenvolvido com os adultos, não bastava obter uma descrição dos intervenientes, através de entrevista, ou compreender as etapas e metodologias, por via dos documentos, era necessário observar as equipas e os adultos em ação. Assim, foram observadas as seguintes atividades:

- uma sessão coletiva de formação: seis adultos em fase terminal de processo de RVCC de nível secundário, que após a entrega de portefólio receberam feedback e orientações da equipa de formadores;

- duas sessões de júri de avaliação, ambas com incidência na certificação de nível secundário: a primeira envolveu três candidatos, a segunda cinco candidatos, incluindo neste último caso, uma das adultas que foi entrevistada.

O trabalho empírico foi sendo alimentado numa lógica de retroação contínua entre as diversas fontes de informação, que foram ora induzindo, ora esclarecendo questões e problemáticas. Ainda assim, a recolha de informação através de entrevista apresenta um protagonismo particular, sobretudo pela oportunidade de recolher testemunhos diversificados. As entrevistas, realizadas em modalidade de entrevista semi-directiva, dividem-se em três grupos: as entrevistas com o coordenador do CNO, as entrevistas com a equipa técnica e as entrevistas com as adultas participantes.

As entrevistas com o coordenador acompanharam o desenvolvimento do trabalho e assumiram maior estruturação durante as entrevistas exploratórias, na fase de estabilização dos contornos do estudo de caso e após a realização das entrevistas com a equipa técnica. Mas ocorreram também outros contactos com menor nível de formalidade de que resultaram notas de campo, e que foram particularmente úteis para o esclarecimento de questões que foram emergindo ao longo do trabalho. Complementarmente, foram também tratados nestes contextos a preparação e a organização das restantes atividades de recolha de informação.

O coordenador, de sexo masculino, inclui-se no grupo etário 30/35 anos, tem formação de base na área da psicologia e formação avançada na área e possui experiência com significado em matéria de processos RVCC. Desenvolve a atividade em regime de part-time mas mantém com a organização responsável pelo CNO uma relação duradoura de trabalho. No que respeita à equipa técnica foram realizadas cinco entrevistas, gravadas em suporte áudio e com uma duração média de 1.30h, que abrangeram a diversidade de perfis profissionais presentes no CNO, assumindo-se este como o critério único de seleção dos entrevistados.

Em geral, as entrevistas correram conforme previsto, ainda que o tempo dedicado à apreensão das diversas componentes do processo de RVCC, a partir das funções específicas dos técnicos, tenha sido mais longo do que o esperado. Este facto está relacionado com a complexidade das regras e das metodologias associadas à sua intervenção, bem como com o quadro específico adoptado e com as problemáticas daí decorrentes.

Apresenta-se seguidamente as características dos entrevistados, ficando claro, que se juntarmos a este grupo o perfil do coordenador, foi possível cumprir o critério de seleção de um CNO com uma equipa experiente e com condições para refletir criticamente sobre os processos RVCC e sobre as suas práticas.

Tabela 6. Caracterização dos entrevistados/ equipa técnica

Perfil profissional Características principais Técnica de

Encaminhamento

Sexo Feminino, 29 anos. Formação em Psicologia, várias formações, workshops e seminários; foi formadora da ANQ. Trabalha no CNO desde 2011; experiência anterior como profissional de RVC (nível básico e secundário) noutro CNO.

Técnica de RVCC (nível secundário)

Sexo Feminino, 42 anos. Formação em Direito, Mestrado em Ciências da Educação, formação na área dos portefólios; várias formações, workshops e seminários promovidos pela ANEFA, DGFV e ANQ; foi formadora da ANQ. Trabalha no CNO desde 2008; experiência anterior com outro CNO e experiência em cursos EFA, desde 2001, como mediadora nos processos de reconhecimento e validação de competências.

Formadora de Nível Básico

Sexo Feminino, Formação em Sociologia. Trabalha no CNO desde 2007; experiência como formadora dos cursos CEF/ adultos.

Formadora de Nível Secundário

Sexo Feminino, 34 anos. Formação em Sociologia, outras formações promovidas pela DREN e ANQ. Trabalha no CNO desde 2007; experiência como formadora dos cursos CEF/ adultos.

Perfil profissional Características principais

Avaliador Externo Sexo masculino, 52 anos. Formação em Psicologia; experiência com relevo no domínio da concepção e gestão de programas de formação para adultos e como formador. Colabora com o CNO em análise há cerca de 4/5 anos; desempenha funções de Avaliador Externo noutros CNO.

Relativamente às entrevistas com participantes do processo RVCC, foram realizadas duas entrevistas a participantes envolvidas em processos de nível secundário. Inicialmente, com o apoio do coordenador do CNO, foi seleccionado um grupo de quatro adultos, que foram convidados para entrevista, mas o grupo foi reduzido para dois por ausência de resposta dos restantes.

As entrevistas, com duração aproximada de quarenta minutos e gravadas em áudio, foram realizadas num caso no local de trabalho e noutro caso nas instalações do CNO. Estas entrevistas apresentaram características distintas das anteriores, em especial no que respeita à dificuldade em cobrir com profundidade os domínios de informação previstos e em obter testemunhos que permitissem completar de forma aturada as recolhas relativas às práticas de avaliação. Esta situação resulta do descentramento das adultas face aos métodos e técnicas previstos para o processo RVCC, pelo menos tal como se encontram formalizados, e não da resistência à partilha das suas vivências. Este aspecto será desenvolvido no capítulo relativo à análise crítica dos dados.

Tabela 7. Caracterização das entrevistadas/ adultas participantes

Adulta Características principais

Adulta 1 Sexo feminino, 49 anos de idade, residente no Porto, trabalha como administrativa numa organização pública.

Adulta 2 Sexo feminino, 43 anos de idade, residente no Porto, trabalha numa empresa privada de serviços.

O guião das entrevistas ao coordenador, à equipa técnica e às adultas foi organizado a partir das questões de investigação, cruzando este primeiro nível com as categorias de análise e indicadores que compõem o modelo de análise. Algumas perguntas não apresentavam um nível de orientação muito específica, optando-se por formulações gerais, e uma orientação do questionamento em função das respostas obtidas. Esta situação ocorreu essencialmente nas entrevistas com a equipa técnica do CNO.

Seguidamente procede-se à apresentação geral da estrutura da recolha de dados empíricos, utilizando para tal uma tabela que cruza as questões de investigação, as categorias de análise e os indicadores, com as fontes de informação previstas – análise coumental, entrevistas e observação de atividades.

Tabela 8. Estruturação da recolha de dados empíricos por questões de investigação, categorias de análise, indicadores e fontes de informação Fontes de informação Questões de investigação Categorias de análise/ indicadores Análise documental Entrevistas/ coordenação Entrevistas/ equipa técnico-pedagógica Entrevista/ adultos Observação de atividades

Orientações de política, objectivos, metas e dinâmica da INO

Estruturação geral da acção dos CNO (etapas e conteúdos)

Finalidade da avaliação; Tipos de Avaliação

Qual o enquadramento de política e as

características do modelo de avaliação definido pela tutela para

a acção dos CNO? Métodos; personalização/

estandardização; tipo de participação do adulto; papel do avaliador

Integração institucional e recursos Objectivos, metas e procura dos adultos Momentos-chave na evolução do CNO Monitorização e avaliação

Estruturação geral da acção do CNO/ balanço e apropriações específicas Percepção quanto aos objectivos e resultados Quais as principais características do enquadramento institucional, do contexto local e da organização e actividade do CNO? Quais as suas principais problemáticas e perspectivas de

evolução? Identificação das problemáticas centrais e perspectivas de evolução Percepção global do modelo de

avaliação definido

Apropriação dos conceitos e princípios do modelo de avaliação

Tipo de apropriação das metodologias e referenciais previstos

Quais as práticas de avaliação adoptadas no CNO? Como é que as orientações são implementadas? Como são apropriados e operacionalizados os

conceitos Práticas de avaliação adoptadas e domínios de adaptação