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MÉTODOS E TÉCNICAS DE PESQUISA QUALITATIVA: DA COLETA DE DADOS À INTERPRETAÇÃO E AVALIAÇÃO

REALIZAÇÃO DO PROJETO DE APLICAÇÃO

3 PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS

3.2 MÉTODOS E TÉCNICAS DE PESQUISA QUALITATIVA: DA COLETA DE DADOS À INTERPRETAÇÃO E AVALIAÇÃO

Nossa pesquisa se apoia na produção de dados qualitativos originais, provenientes de um curso de formação de professores para o uso de dispositivos móveis em atividades pedagógicas para o ensino de conceitos matemáticos baseados na teoria do Mobile Learning.

Por meio de duas edições do curso denominado Mobile Learning no ensino de conceitos matemáticos, utilizamos um processo de pesquisa-ação com o objetivo de propiciar o desenvolvimento de conhecimentos pedagógicos, teóricos e práticos, que possibilitem ao professor realizar o planejamento, organização e aplicação de atividades pedagógicas baseadas na teoria do Mobile Learning. Como afirma Thiolent (2011), em uma pesquisa-ação é essencial que os pesquisadores sejam sujeitos ativos na pesquisa prévia dos sujeitos e seu espaço social, no equacionamento dos problemas encontrados neste grupo e na sua possível solução. Thiolent (2011) afirma que há uma semelhança, e até confusão, entre os termos pesquisa-ação e pesquisa participante:

Ao nível das definições, uma questão frequentemente discutida é a de saber se existe uma diferença entre pesquisa-ação e pesquisa participante. Isto é uma questão de terminologia acerca da qual não há unanimidade. Nossa posição consiste em dizer que toda pesquisa-ação é do tipo participativo: a participação das pessoas implicadas nos problemas investigados é absolutamente necessária. No entanto tudo o que é chamado pesquisa participante não é pesquisa-ação. THIOLENT (2011, p.21).

A metodologia da pesquisa participante requer que os pesquisadores possuam algum tipo de vínculo ou “relações comunicativas” com os sujeitos pesquisados. Esta comunicação geralmente é para ter um relacionamento de confiança, “uma aparente identificação” e poder ter melhor acesso às informações e conhecimentos dos participantes (THIOLENT, 2011, p. 21).

Para ser considerado uma pesquisa ação, Thiolent (2011) nos apresenta uma distinção entre estas duas metodologias,

Para que não haja ambiguidade, uma pesquisa pode ser qualificada de pesquisa-ação quando houver realmente uma ação por parte das pessoas ou grupos implicados no problema sob observação. Além disso, é preciso que a ação seja uma ação não trivial, o que quer dizer uma ação problemática merecendo investigação para ser elaborada e conduzido. THIOLENT (2011, p.21).

Ibiapina et al. (2016) concorda neste mesmo sentido quando afirma que

Em se tratando da pesquisa-ação, esta constitui forma interativa que visa compreender as relações construídas com o objeto, processo e em decorrência buscar solucionar problemas decorrentes da prática social, por conseguinte, nessa modalidade de pesquisa, o foco está na interpretação da realidade e no agir para buscar mudança. (IBIAPINA ET AL., 2016, p. 27).

Em uma pesquisa-ação, é necessário elaborar uma definição precisa de qual é a ação, quais são os sujeitos ativos do processo de mudança, os objetivos e obstáculos da pesquisa, e, como afirma Thiolent (2016), “qual é a exigência de conhecimento a ser produzido em função dos problemas encontrados na ação ou entre os atores da situação”. (THIOLENT, 2011, p.21). Thiloent (2016) apresenta uma lista das principais características de uma pesquisa ação:

a) Há uma ampla e explícita interação entre pesquisadores e pessoas implicadas na situação investigada;

b) Desta interação resulta a ordem de prioridade dos problemas a serem pesquisados e das soluções a serem encaminhadas sob forma de ação concreta;

c) O objeto de investigação não é constituído pelas pessoas e sim pela situação social e pelos problemas de diferentes naturezas encontrados nesta situação;

d) O objetivo da pesquisa-ação consiste em resolver ou, pelo menos, em esclarecer os problemas da situação observada;

e) Há, durante o processo, um acompanhamento das decisões, das ações e de toda a atividade intencional dos atores da situação;

A pesquisa não se limita a uma forma de ação (risco de ativismo): pretende- se aumentar o conhecimento dos pesquisadores e o conhecimento ou “nível de consciência” das pessoas e grupos considerados. THIOLENT (2011, p.22).

Nossa pesquisa ação será considerada como o primeiro caso, descrito por Thiolent (2016), organizada a fim de se alcançar objetivos práticos demandados por um conjunto de sujeitos que constituem um “ator social homogêneo”, tendo os pesquisadores autonomia para “encomendar e controlar a pesquisa” (idem, 2016, p. 23). De qualquer forma, independentemente do tipo de pesquisa-ação é de extrema importância darmos voz aos sujeitos da pesquisa e ter uma atitude de atenção aos discursos dos participantes e foco na solução dos problemas encontrados sem um direcionamento prévio baseado em nossas próprias concepções (idem, 2016, p. 23).

O autor (THIOLENT, 2015) ainda chama a atenção para o fato de que na concepção da pesquisa temos que atentar para a relação entre os objetivos da pesquisa e os objetivos da ação. Dentro desta ideia ele acrescenta dois tópicos:

a) Objetivo prático: contribuir para o melhor equacionamento possível do problema considerado como central na pesquisa, com levantamento de soluções e propostas de ações correspondentes às “soluções” para auxiliar o agente (ou ator) na sua atividade transformadora da situação. É claro que este tipo de objetivo deve ser visto com realismo, isto é, sem exageros na definição das soluções alcançáveis. Nem todos os problemas têm solução a curto prazo.

b) Objetivo de conhecimento: obter informações que seriam de difícil acesso por meio de outros procedimentos, aumentar nosso conhecimento de determinadas situações (reinvindicações, representações, capacidades de ação ou de mobilização, etc.). THIOLENT (2011, p.24).

Desta maneira, nossa pesquisa tem um objetivo prático que é propiciar o conhecimento sobre o uso pedagógico de dispositivos móveis sem fio (tablets e smartphones) em atividades de ensino de conceitos matemáticos baseados na teoria do Mobile Learning. Esperamos que ao final do curso os professores sejam capazes de criar um planejamento e aplicar uma atividade pedagógica com seus alunos de ensino fundamental de modo que sua prática pedagógica sofra transformações. Como veremos mais adiante neste trabalho (ver descrição do campo de pesquisa, os sujeitos e os percursos da pesquisa no Capítulo 4), os professores da rede municipal de Joinville encontram em sua grande maioria dificuldades técnicas e pedagógicas para a utilização dos tablets em sala de aula.

Tripp (2005) oferece suporte para a ideia de pesquisa-ação quando afirma que este tipo de pesquisa relacionado com a educação tem sua atuação exatamente no espaço no qual estamos trabalhando com nossa pesquisa:

A pesquisa-ação educacional é principalmente uma estratégia para o

desenvolvimento de professores e pesquisadores de modo que eles

possam utilizar suas pesquisas para aprimorar seu ensino e, em decorrência, o aprendizado de seus alunos. (TRIPP, 2005, p. 445).

O objetivo do conhecimento trilha por dois caminhos. Primeiro, objetivamos levar o conhecimento sobre a cultura digital, uso das TDIC e o conhecimento da teoria do Mobile Learning para estes professores, de modo que eles possam efetivamente se apropriar deles em sua prática pedagógica; o segundo objetivo é mais voltado à nossa pesquisa, buscamos conhecer a realidade de alguns destes professores que irão, possivelmente, terminar o curso e aplicar o projeto de ensino construído ali. Quando falamos de realidade, estamos tratando da realidade no sentido ontológico,

Tripp (2005) também mostra a importância da organização da pesquisa- ação em fases em que iremos planejar, agir, monitorar, descrever e avaliar.

FIGURA 2 – ESQUEMA DAS QUATRO FASES DA PESQUISA-AÇÃO

FONTE: TRIPP (2005).

Na figura 2 Tripp (2005) nos apresenta um esquema demonstrativo das fases de uma pesquisa-ação. A primeira fase de nossa pesquisa-ação, o “planejamento de uma melhora prática” (TRIPP, 2005) é estudado neste trabalho na seção 4, na qual descrevemos a forma como nos aproximamos do campo de pesquisa, a construção do conhecimento acerca dos sujeitos e de suas necessidades e de que forma planejamos o curso de formação continuada para os professores. A segunda fase desta pesquisa, a “ação para implementar uma melhora planejada” (TRIPP, 2005) também é apresentada na seção 4, na qual descrevemos a forma como efetivamente nos aproximamos e aplicamos nosso curso de formação continuada. A terceira fase da pesquisa-ação, o monitoramento e a descrição dos prováveis efeitos da ação, se dá na seção 5, na qual analisamos os dados de nossa pesquisa. Finalmente, a avaliação dos resultados da pesquisa-ação é relatada nas considerações finais deste trabalho.