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5. A construção das características do campo jornalístico contemporâneo

5.6. A mídia alternativa ou contra-hegemônica

Outra característica importante que o campo jornalístico brasileiro vem adquirindo, principalmente a partir de 201375, é a presença da mídia chamada

alternativa ou contra-hegemônica, na disputa por atenção do público. Como exemplo, podemos citar a “Mídia Ninja”, os “Jornalistas Livres” e, no RS, o “Sul 21”, que fazem um trabalho muito diferente do que o que geralmente é feito na grande mídia. As pautas abordadas por essas mídias são distintas e trazem, normalmente, uma carga ideológica explícita. Os formatos utilizados, as fontes entrevistadas e as histórias contadas destoam do que normalmente se vê na grande mídia.

O entrevistado Daniel, quando critica a mídia tradicional, falando que seu posicionamento é um produto, aponta que vê nessas mídias alternativas uma forma de recuperar a essência do jornalismo:

Mas o posicionamento da mídia também é um produto, eles vão se posicionar ao interesse da empresa. A mídia nunca vai estar ao lado do país e das pessoas, no caso, a grande mídia. Por isso que tanto surgem mídias alternativas, um jornalismo alternativo, para tentar trabalhar um pouco isso, a essência do jornalismo. Mas, na grande mídia a essência do jornalismo se perdeu, porque ela não defende mais o que deve ser defendido. Porque o jornalismo é uma questão social também. E que grande mídia faz a questão social?

75No entanto, sabemos que as mídias alternativas se fazem presentes desde muito antes. Na Ditadura Militar Brasileira (1964-1985), por exemplo, tiveram forte papel de oposição.

A entrevistada Raquel, no entanto, aponta que a mídia alternativa, embora faça um trabalho sério, ainda não tem o mesmo prestígio e nem a mesma visibilidade que a mídia tradicional:

Tudo aquilo que é diferente, é completamente marginalizado. Um jornal comunitário, um jornal de sindicato, outras formas de fazer comunicação, como faz a Mídia Ninja, por exemplo, que tem um trabalho super sério e que talvez muita gente não veja como um meio de comunicação, no sentido de prestígio de ser um meio de comunicação, como tem os meios de comunicação tradicionais. Aí a gente vai assimilando essas coisas, tipo, os veículo de verdade. Jornalista mesmo trabalha naquilo que está dando na televisão – na Globo, SBT, Record –, e ai ser jornalista nos moldes dessas empresas acaba virando algo que tem que ser universal.

No entanto, é importante destacar que essas mídias ainda são minoria. Existem poucos veículos de comunicação que assumem tal postura e, os que o fazem, empregam poucas pessoas se mantendo, também, através de coberturas colaborativas – onde são solicitadas inscrições de interessados em fazer textos e vídeos sobre determinado assunto. Apesar disso, essas mídias alternativas têm ganhado força principalmente no meio on-line. A Mídia Ninja, por exemplo, tem, atualmente, 1,1 milhão de seguidores que acompanham suas publicações no site de redes sociais Instagram.

Neste capítulo, procuramos trazer o jornalismo enquanto campo e abordar algumas das suas principais características. Demos início às discussões tratando, em suma, da especialização dos membros do campo, onde constatamos que, embora não haja a obrigatoriedade do diploma e, logo, de uma educação formal e uma “especialização” para se exercer a profissão, existe um grupo que detém o conhecimento especializado e que o reivindica. Prova disso é que, a grande maioria dos jornalistas possuem formação em cursos de Jornalismo. Na sequência, trabalhamos a influência entre os campos, onde apontamos que o campo jornalístico sofre e exerce influência sobre outros. Ao mesmo tempo que é subordinado ao campo da economia – face que se desenha de várias formas, como a busca pelo lucro através de priorização de determinadas pauta e técnicas76, a contratação de estagiários e

freelancers, entre outros – exerce influência sobre o campo da política, por exemplo. Quando tratamos da hierarquia no campo, podemos notar que se divide em duas partes: a hierarquia entre os jornalistas e entre as empresas. Na primeira delas, abordamos

alguns capitais que influenciam, como o econômico e o social, além da deontologia profissional. Entre as empresas, abordamos, como exemplo, a questão de tempo, na qual nos referimos ao furo jornalístico. Dando continuidade, trouxemos a discussão sobre ideologia e isenção. Aqui apontamos que todos os meios de comunicação possuem uma perspectiva parcial, embora se cubram com o véu da imparcialidade e isenção. Os meios de comunicação são geridos por proprietários ou acionistas que possuem uma visão do que julgam ser melhor para o mund. Desse modo, interesses e ideologias se convertem em linhas editoriais dos jornais. Mesmo os jornalistas que contam com certa liberdade, acabam estando sujeitos a ver as notícias através de uma perspectiva parcial, uma vez que são atores socializados em determinados espaços. Quando tratamos dos oligopólios da mídia, versamos sobre as oito famílias que detém os grupos Globo, SBT, Record, Abril, Folha, Estado, RBS e Bandeirantes e, desta forma, detém o domínio do setor midiático. Assim, consideramos que existe, a não multiplicidade de olhares sobre os assuntos: o mesmo fato é tratado por uma mesma perspectiva por diversos meios de comunicação diferentes. Por último, discorremos sobre a mídia alternativa brasileira, que possui uma carga ideológica explicita e que aborda as pautas por uma outra perspectiva, através de outros formatos e fontes. No entanto, constatamos que esses meios ainda são minoria e que empregam poucos profissionais, funcionando, muitas vezes, através de coberturas colaborativas.

A partir de agora, iremos para o capítulo referente às biografias. Nelas, tratamos sobre a vida de quatro jovens jornalistas gaúchos: Raquel, Daniel, Francisco e Felipe. Tratamos de sua história desde a vida dos avós até o momento atual dos entrevistados, passando por pontos considerados relevantes para a pesquisa.