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4.1 ANÁLISE DA INTERVENÇÃO DIDÁTICA

4.1.4 Módulo III Produção final

Nessa última aula, pedimos que os alunos finalizassem seus textos tentando resgatar o que haviam escrito em suas primeiras produções, caso fosse possível. Isso foi uma forma de observar se eles iriam conseguir conferir identidade a seus textos, já que eles teriam que opinar e apresentar uma possível alternativa de solução (ou não) para o problema destacado no início. Deixamos claro que isso ficaria a critério de cada um, a depender do tipo de reação que pretendiam causar no leitor, se aceitação ou rejeição das ideias defendidas por eles.

Aproximavam-se os momentos finais desse 5° encontro, todavia, ainda precisaríamos preparar nosso cartaz, essa seria uma das formas de socialização do texto. Havíamos preparado o material de antemão (letras impressas e cortadas, cartolinas, tesoura, etc.) e pedimos aos alunos que já haviam concluído seus textos para montar o cartaz, enquanto isso, auxiliamos os alunos que ainda não haviam terminado a reescrita.

IMAGEM 5 – Cartaz produzido pelos alunos da EJA

Fonte: Dados da pesquisa (2019).

O professor da disciplina de Ciências, gentilmente, nos cedeu 20 minutos de seu horário para que pudéssemos concluir esse momento. E assim foi feito com a permissão dele, visto que ele iria apenas realizar a correção de uma atividade e liberaria a turma em seguida. Terminadas essas duas atividades, pedimos aos alunos que se manifestassem para falar sobre seu texto final

e sobre a experiência e importância de termos discutido a temática do bullying e da violência no espaço de sala de aula. Obtivemos os seguintes relatos:

A1: Eu achei bom falar sobre esse tema. A gente pensa que por já sê adulto, isso não acontece entre a gente, mas acontece sim. Eu já fui vítima de bullying e ainda sou. Chamam a pessoa de gorda, burra, só sabe quem passa...

A2: É, já que muitos não tem como falá em casa, se conversá e trabalhá essa questão na escola é melhó.

Nesse momento, um aluno interveio com a pergunta:

A3: Professora, será que o jornalista vai mermo lê o texto da gente? Pra o povu sabê o que a gente escreveu?

Pq: Claro que sim, A3. Por que não iria? Iremos à rádio falar do trabalho, conceder uma entrevista e socializar o texto final do autor, esse que a gente pegou como modelo para nossa reescrita. E os demais serão expostos aqui na sala, no cartaz. E quem quiser ir à rádio para falar sobre o que escreveu e aprendeu desse tema, já está convidado também.

Os alunos disseram não ter coragem e preferiram se abster de participar da entrevista à emissora de rádio14. Então, a professora pesquisadora se dispôs a ir à emissora, a fim de tornar público o trabalho que os alunos da EJA haviam realizado.

IMAGEM 6 – Entrevista à Rádio Serra Branca FM

Fonte: Dados da pesquisa (2019).

14 Concessão de entrevista e socialização do texto na rádio Serra Branca FM, 103.3. Em: 17 de maio de 2019.

Encerramos nosso 5º encontro agradecendo aos alunos pela colaboração com nossa pesquisa e também à comunidade escolar, nas pessoas da diretora e da professora regente, por ter nos facultado a oportunidade de realizar a pesquisa na instituição.

A teoria da AD nos auxiliou nesse sentido, porque, outrora, não víamos o texto com esse olhar, não o abordávamos considerando toda essa amplitude de possibilidades e polissemia que ele permite. Por mais que soubéssemos que o texto é carregado de subjetividade, de história, de discursos provenientes de várias formações discursivas e ideológicas, não tínhamos o conhecimento teórico e analítico de como interpretá-lo considerando esses aspectos. Destacamos a importante contribuição dessa corrente analítico-interpretativista para o nosso fazer pedagógico.

Convém destacar que toda a pesquisa nos fez repensar nossa prática, não só com relação ao público da EJA, mas a todo o contexto de atuação. Antes da professora pesquisadora ingressar no Programa de Formação de Professores, já atuava em sala de aula. Quando atuou no Fundamental I, a pesquisadora tinha que desempenhar o papel do “professor polivalente”, não só ministrando a disciplina específica de sua licenciatura – Língua Portuguesa, mas também outras. Já no segundo segmento do Ensino Fundamental, passou a atuar, especificamente, em sua área de formação.

Trouxemos essas informações para refletir sobre o seguinte: mesmo atuando em sua área de formação, a pesquisadora não havia pensando em trabalhar o texto considerando a perspectiva discursiva, como foi feito na EJA. E não é que ela não conhecesse a teoria, o fato é que quando a considerava em sua prática de ensino, fazia de modo superficial. Mostrava que o discurso existia, mas não instigava os seus alunos a mergulharem na interioridade do texto, para além do seu aspecto linguístico, para alcançarem sua exterioridade, sua história e as condições em que ele fora produzido. Com isso, a docente acabava “reproduzindo” aquilo que Geraldi (1997) já apontava, que muitas vezes o trabalho com a leitura e interpretação do texto é usado como pretexto para se chegar ao ensino da gramática.

Assim, mediante a aplicação dessa SD, foi possível refletir sobre a importância de o professor planejar sistematicamente suas ações em sala, conhecer a necessidade de sua(s) turma(s) e pensar em como ele pode contribuir para atender a essa necessidade. Vimos a importância de trabalhar a escrita a partir da criação de condições de leitura, para que os alunos soubessem o que dizer, como e para quem dizer, já que ninguém fala ou escreve sobre o que não sabe. Outro fator que vale destacarmos é como se torna mais significativo um trabalho de escrita a partir dos gêneros textuais, com práticas de escritas que estejam ligadas à realidade social dos alunos.

A fim de constatarmos a significação de um trabalho nesse sentido, no tópico seguinte, também trazemos reflexões. Nesse momento, tendo o texto escrito como unidade de análise, observamos, especificamente, nosso objeto de estudo: a constituição da autoria a partir da escrita de textos pelos alunos da EJA. Afinal, esse foi nosso foco quando pensamos no objetivo para a elaboração de nossa SD, o qual residiu em criarmos condições para que o aluno da EJA conhecesse o gênero artigo de opinião, desenvolvesse as capacidades discursivas e argumentativas e assumisse a posição de autoria na escrita de seu texto.

Assim, passemos a observar como as produções do texto opinativo ofereceram-nos possibilidades de análises interpretativas sob a ótica discursiva. Observaremos como os alunos se colocaram como sujeitos de seu dizer, se deslocando da posição social de alunos da EJA, para assumirem outras posições discursivas, colocando-se ora como alunos-vítimas, como agressores, como representantes da instituição de onde discursam, ora como articulistas ou como representantes da sociedade.

4.2 MARCAS DE SUBJETIVIDADE E CONSTITUIÇÃO DE AUTORIA: O QUE OS