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Essa etapa foi composta pelo estabelecimento de contato com a instituição escolar que nos acolheu para a realização de nossa investigação e, posterior, intervenção. Destacamos que a pesquisa foi cadastrada na Plataforma Brasil e submetida ao Comitê de Ética do Centro de Ensino Superior e Desenvolvimento-CESED/Unifacisa. O trabalho recebeu parecer favorável à realização, conforme registro: 3.081.8186(ANEXO 8).

Realizados esses procedimentos éticos, a pesquisa teve como próxima etapa a observação de 7 aulas na turma do Ciclo IV da EJA. A observação foi necessária, pois precisávamos conhecer a turma, a metodologia da professora titular e a maneira como ocorriam as aulas e/ou propostas de escrita, ou seja, quais eram as condições de produção oferecidas aos alunos para construírem seus textos e quais gêneros eles já tinham visto em sala. Isso foi importante para que pudéssemos delinear nossa proposta didática, a fim de contribuirmos e para

6 “Após análise verifica-se que o(a) pesquisador(a) atendeu às pendências éticas vigentes no Brasil: A Resolução

466/12, 510/16 e a norma operacional 0001/13 do C.N.S. que regem as pesquisas que envolvem seres humanos de forma direta e/ou indireta. Dessa forma, somos do parecer APROVADO. Ao término do estudo, deverá ENVIAR RELATÓRIO FINAL através de notificação (via Plataforma Brasil) da pesquisa para o CEP – CESED”.

não incorrermos no risco de levar uma propositura de trabalho com a escrita, a qual eles já tivessem realizado.

A seguir, apresentaremos uma breve descrição de como ocorreu nossa observação às aulas da professora regente. Acreditamos ser importante esse momento pelo fato de não sermos a professora titular. Assim, tivemos a oportunidade de conhecer a dinâmica da turma e do processo de ensino para poder, posteriormente, intervir.

3.4.1 Breve descrição da observação

Quarta-feira, 20 de fevereiro de 2019

Esse primeiro dia de observação compôs-se de duas aulas, contudo, a aula que deveria iniciar às 19:00h, só iniciou às 19:30h e durou até às 19:55h. A professora titular da turma nos recebeu de maneira acolhedora, fez nossa apresentação e convidou-nos a falar um pouco sobre a pesquisa.

Em seguida, a professora regente deu continuidade ao momento e entregou o texto “Um apólogo”, de Machado de Assis (ANEXO 1). Ela começou instigando os alunos acerca da palavra expressa no título, indagou se os alunos conheciam o significado do vocábulo, todos responderam que não. Ela forneceu informações e prosseguiu com explicações acerca do tipo e do gênero textual, inclusive investigando aqueles que os alunos conheciam. Em meio aos indicados, os alunos mencionaram o conto.

A docente aproveitou para saber se os alunos já tinham lido algum conto e pelo menos três alunos disseram já terem lido “conto de fadas”. A professora prosseguiu com questões abordando o plano narrativo, leitura compartilhada e uma reflexão sobre o ensinamento que os discentes puderam obter com aquela leitura. Eles expuseram seus pontos de vista e a aula prosseguiu com a atividade de estudo do texto. Os alunos responderam às questões e a professora esclareceu dúvidas com relação ao significado de algumas palavras desconhecidas do texto e da atividade, visto que alguns não conseguiram realizar a proposta.

Com relação ao tratamento dado à leitura e ao estudo do texto, percebemos que esses aspectos sofreram uma abordagem ainda tímida, talvez pelo fato de os alunos não se sentirem à vontade com nossa presença e por isso preferiram não se posicionar, posto que a docente insistisse em extrair dos discentes, ainda que superficialmente, outras reflexões acerca do texto. A aula transcorreu e a atividade de interpretação e produção se resumiu ao estudo das informações já dadas pelo texto.

Se observarmos a proposta de atividade de estudo do texto, trazida pelo livro didático, veremos como as questões são elaboradas de forma a não permitir que o aluno vá além do que está posto. Ele não precisa levantar inferências, os efeitos de sentidos não são produzidos, porque as questões sobre o texto não possibilitam essa abertura para a instauração de sentidos (ver ANEXO 1). E isso é um perigo quando o professor restringe a atividade de leitura ou escrita, somente, ao que o livro traz, sem recorrer a uma perspectiva discursiva que ofereça ao aluno algo além do que “já dado” no material.

Sexta-feira, 22 de fevereiro

Seria nosso segundo dia de observação, porém, ao chegarmos à escola fomos surpreendidos de que o horário da turma havia sofrido uma mudança, o que impossibilitou a professora ministrar as três aulas restantes que compõem a carga horária semanal da disciplina na turma. Com isso, os alunos ficaram com apenas duas aulas nessa semana.

Terça-feira, 26 de fevereiro

Com a mudança de horário, a aulas da quarta-feira migraram para a terça. Assim, para esse dia, tivemos três aulas, e a professora titular trouxe uma proposta de produção com o gênero conto. A proposta consistia em criar personagens, utilizando o narrador em 1ª ou 3ª, e, em seguida, os alunos deveriam dar um título. Como mote para os alunos iniciarem a produção, foi disposta a seguinte condição: “o personagem principal vive um drama de um conflito pessoal e surge a oportunidade para ele se organizar na vida...” Mediante isso, 23 dos 25 alunos presentes, realizaram a produção. Ao coletarmos as produções disponibilizadas pela docente, percebemos que os alunos não atenderam à estrutura do gênero, no entanto, percebemos que muitos deles conseguiram se deslocar no texto, ora como narrador-personagem, ora narrador- observador. Percebemos muitos resgates de memórias de episódios vivenciados por eles e uma tentativa de inseri-los sutilmente no discurso, ainda que mantivessem o traço distinto da escrita ficcional.

Sexta-feira, 01 de março

Para esse encontro de duas aulas, a fim de nortear a elaboração de nossa proposta, solicitamos à professora regente a autorização para aplicarmos o questionário (APÊNDICE 1). O intuito foi o de traçar um perfil sociocultural dos estudantes do Ciclo IV da EJA. Dos 28 alunos matriculados nessa turma, 22 estiveram presentes e responderam a esse instrumento de coleta. Desses 22, alguns não quiseram responder todas as questões e optaram por entregá-lo

rapidamente, pois queriam sair da sala a fim de permanecerem no pátio da escola. Após esse procedimento, a professora deu continuidade a aula com um conteúdo gramatical. Encerramos esse momento da investigação a partir da observação às aulas, com um total de 7 aulas observadas, visto que as três aulas do dia 22 de fevereiro não foram ministradas.

A despeito do pouco espaço de tempo destinado à observação, obtivemos um panorama da turma, da didática empregada pela docente em suas aulas e do perfil do alunado. Tivemos a oportunidade de aplicar o questionário, cujo instrumento nos ofereceu subsídio para pensar em como e qual gênero poderíamos levar para trabalhar com esse público e, também, pudemos refletir qual papel a escrita assumia na vida social desses alunos. Um fato nos deixou bastante preocupados: a questão do tempo. As aulas que, em tese, têm 30 minutos no turno da noite nessa escola, não ocorrem de forma coerente, pois os alunos não cumprem com o horário de chegada. A maioria deles só chega à sala por volta de 19:30h, assim, a primeira aula praticamente não é acompanhada por grande parte, e isso inviabiliza qualquer trabalho que o docente pretenda desenvolver. Essa questão serviu para pensarmos em otimizar ao máximo o tempo de que disporíamos no momento de intervenção, para que obtivéssemos maior aproveitamento do trabalho.