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M ÉTODOS DE C ARACTERIZAÇÃO DA I NVALIDEZ A CIDENTÁRIA

No documento DIOGO LOPES VILELA BERBEL (páginas 68-73)

4. RISCO SOCIAL

4.4 M ÉTODOS DE C ARACTERIZAÇÃO DA I NVALIDEZ A CIDENTÁRIA

A invalidez acidentária pressupõe a doença profissional, doença do trabalho ou acidente do trabalho. A ausência desses fatos não inviabiliza, necessariamente, a proteção previdenciária. Se superada a carência, o segurado

Ambientes laborais Nocivas Passivel de gerar aposentadoria especial Passível de atribuir ou desencadear doença do trabalho Comuns

69 poderá se beneficiar, desde que comprove a invalidez, independentemente da origem.

A natureza acidentária da invalidez pode ser aferida por meio de dois métodos: i) causal e; ii) técnico.

4.4.1NEXO CAUSAL

Para o reconhecimento do acidente do trabalho, é essencial a ocorrência do nexo de causalidade, ou seja, a demonstração da relação de causa e efeito entre o trabalho e a lesão. A causalidade acidentária é verificada quando se comprova que a lesão geradora da invalidez decorreu, direta ou indiretamente, do trabalho ou de seu meio ambiente.

Com relação à caracterização da doença do trabalho, o nexo causal é fator fundamental para averiguar se as condições nocivas no ambiente do trabalho é elemento motivador da enfermidade, pois caso a doença seja gerada por outro elemento externo ao ambiente, esta perderá a qualidade ―do trabalho‖.

Nesse sentido, para que esta doença continue tendo a qualificadora acidentária, deve-se relacionar com outras circunstâncias inerentes a essa qualificação.

O nexo causal, além de verificar a pertinência entre o acidente/doença e a relação laboral, é também o elemento confirmador do NTEP.

4.4.2 Nexo Técnico Epidemiológico Previdenciário – NTEP

A Lei n. 11.430/06 acrescentou o artigo 21-A na Lei n. 8.213/91 instituindo assim o NTEP:

Art. 21-A. A perícia médica do INSS considerará caracterizada a natureza acidentária da incapacidade quando constatar ocorrência de nexo técnico epidemiológico entre o trabalho e o agravo, decorrente da relação entre a atividade da empresa e a entidade

70 mórbida motivadora da incapacidade elencada na classificação internacional de doença – CID, em conformidade com o dispuser o regulamento.

§1º. A perícia médica do INSS deixará de aplicar o disposto neste artigo quando demonstrada a inexistência do nexo de que trata o caput deste artigo.

§2º. A empresa poderá requerer a não aplicação do nexo técnico epidemiológico, de cuja decisão caberá recurso com efeito suspensivo, da empresa ou do segurado, ao Conselho de Recursos da Previdência Social.

A finalidade do NTEP é a identificação de doenças e acidentes provavelmente relacionados com as práticas de determinas atividades profissionais. O NTEP leva em consideração os dados constantes da Classificação Nacional de Atividades Econômicas – CNAE e as doenças descritas no Decreto n. 3.048/99, que atualmente estão regulamentadas pelo Decreto n. 6.957/09.

O NTEP presume que a incapacidade é acidentária quando o trabalhador adquirir alguma das enfermidades relacionadas à atividade preponderante do seu empregador, cruzando do código da Classificação Internacional de Doenças - CID e do CNAE da atividade econômica. Trata-se de relação de causalidade aferida por estatística que, por meio da reiteração, traça perfil epidemiológico de cada atividade econômica.

A conclusão da existência do NTEP não é prova absoluta da ocorrência da doença profissional, pois o § 2º do artigo 21-A da Lei n. 8.213/91 legitima qualquer uma das partes da relação, empresa ou segurado, a impugnar a decisão administrativa que atribuiu à natureza acidentária ao benefício.

O NTEP não gera, portanto, presunção absoluta de acidentalidade. O efeito é relativo, porque se desconstruído o nexo de causalidade a invalidez perde sua condição acidentária. Essa desconstrução não importa, necessariamente, na cessação do benefício acidentário; essa situação ocorre tão-somente nos casos em que a causa da invalidez era necessária à concessão, por isentar a carência.

71 Portanto, nos casos de caracterização do NTEP para os segurados empregados, poderá o empregador interpor recurso administrativo ao Conselho da Previdência Social, objetivando a descaracterização da natureza acidentária do benefício. Todavia, obrigação de comprovação passa a ser exclusivamente do recorrente/empregador. Salienta-se que o recurso tem efeito suspensivo.

72 5 EFEITOS PREVIDENCIÁRIOS DA INVALIDEZ ACIDENTÁRIA

A qualificação da invalidez como acidentária enseja efeitos em outras relações jurídicas além da previdenciária. A constatação da invalidez, no entanto, pode ser distinta entre os ramos do direito. Assim, o fato considerado como acidente do trabalho para a seara previdenciária poderá, no entanto, ser descaracterizado, por exemplo, pelo direito do trabalho, e vice-versa:

RECURSO DE REVISTA - ESTABILIDADE - DOENÇA OCUPACIONAL - LAUDO JUDICIAL - AUSÊNCIA DO NEXO DE CAUSALIDADE - LAUDO DO INSS - PRESUNÇÃO DO NEXO TÉCNICO EPIDEMIOLÓGICO - PREVALÊNCIA - MATÉRIA FÁTICA. A discussão que exsurge dos autos é o aparente conflito

entre o laudo judicial e o laudo do INSS. Este, obtido no curso da instrução processual, a partir das alegações da parte de que laborava em atividade de digitação de dados para processamento e procedia à abertura de rígidos lacres que abasteciam os caixas eletrônicos, cuja conclusão foi pela existência de Nexo Técnico Epidemiológico entre a doença e o trabalho; e aquele elaborado a cargo de médico perito indicado pelo juízo, que, em vistoria ao local de trabalho do autor e análise das funções desempenhadas e da lesão sofrida, constatou a ausência de nexo de causalidade. O laudo obtido junto ao INSS presumiu o liame de causalidade a favor do empregado, nos termos do art. 21-A da Lei nº 8.213/91. Tal presunção, contudo, não é absoluta, transferindo ao empregador o ônus de desconstituir o que foi presumido pela lei. Ainda que o nexo de causalidade apontado pelo INSS seja fato novo superveniente à instrução processual, deverá ser considerado como meio de prova (art. 212º do CPC) e analisado conjuntamente com os demais elementos probatórios dos autos. A questão, portanto, envolve as provas produzidas nos autos e a influência que terão na formação do convencimento do julgador, nos termos dos arts. 131 e 436 do CPC. No caso em exame, o julgador ordinário fez prevalecer o laudo pericial produzido em juízo. Nesse sentido, constatado pela instância soberana na análise dos fatos e provas coligidos aos autos que não houve o nexo causal entre a atividade desempenhada pela autora e a lesão sofrida, para se chegar à conclusão diversa, de que o laudo produzido pelo INSS reflete o verdadeiro nexo causal, seria necessário o revolvimento do conjunto fático-probatório dos autos, cujo óbice em sede extraordinária encontra-se previsto na Súmula nº 126 do TST. Recurso de revista não conhecido.33

33 BRASIL. Tribunal Superior do Trabalho. 1ª Turma. RR - 615800-30.2003.5.09.0651. DJU 05/08/2011.

73 Cada ramo do direito, por meio dos seus princípios, axiomas e regras, constroem conceitos próprios, válidos dentro da esfera de domínio do seu conhecimento. Portanto, o conceito de invalidez do direito do trabalho não é, necessariamente, o mesmo para o direito securitário, tampouco para o direito do trabalho.

No documento DIOGO LOPES VILELA BERBEL (páginas 68-73)