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Princípio da Contrapartida

No documento DIOGO LOPES VILELA BERBEL (páginas 37-41)

2.4 P RINCÍPIOS C ONSTITUCIONAIS DA S EGURIDADE S OCIAL

2.4.8 Princípio da Contrapartida

A CF88, em seu artigo 195, parágrafo 5°, rege que ―nenhum benefício ou serviço da seguridade social poderá ser criado, majorado ou estendido sem a correspondente fonte de custeio total‖. Embora não esteja previsto dentre os objetivos da seguridade, especificamente no artigo 194, consideramos a contrapartida um princípio, pois seu conteúdo reitera o princípio do equilíbrio financeiro e atuarial, informando regras acerca desse objetivo. Fábio Zambitte Ibrahim: também coaduna com este pensamento:

Isonomia tributária Impostos Capacidade contributiva Contribuições para a Seguridade Social Probabilidade do risco social

38 [...] Não obstante a autoridade dos que assim se posicionam, acredito que a melhor compreensão seja no sentido de trata-se de um princípio, que visa a manutenção de um estado ideal de coisas (um sistema equilibrado), mas admite ponderação com outros princípios, sendo esta questão de especial importância no que diz respeito à possíveis extensões judiciais de benefícios assistenciais.23

Josef Esser comenta sobre os princípios dizendo:

[...] há princípios que são, no sistema jurídico, ―imanentes‖ e ―informativos‖. Sustenta esse notável autor que, mesmo quando não estejam incorporados ao texto normativo, tais princípios funcionam como “diretrices” (guides) que noteiam o legislador. 24

Nesse contexto, Wagner Balera25 entende a regra da contrapartida

como um princípio virtual.

Este princípio busca tornar a Seguridade Social financeiramente equilibrada, na medida em que orienta a ação do legislador no sentido de que a toda despesa criada deve corresponder uma receita respectiva para fazer face ao gasto instituído. Deste modo, nenhum recurso pode ser arrecadado pela Seguridade Social que não se destine ao custeio de um serviço ou benefício.

Por outro enfoque, o princípio da contrapartida evita a politização da Seguridade Social, principalmente a partir do aumento ou criação de novos benefícios tentadores para os governantes em determinados períodos:

[...] a fórmula da contrapartida é limitação constitucional contra os abusos que o Poder Legislativo, seduzido pela demagogia (notadamente nos anos eleitorais), viesse a cometer, mediante a criação de prestações que não tivessem previsão das respectivas receitas de cobertura26..

Em virtude destas considerações, de nada adiantaria a existência de norma (edição de leis) para a concessão ou ampliação de benefício já existente se não houver a previsão da origem de recursos, pois a prestação concedida poderá

23 IBRAHIM, op. cit., p. 67.

24 ESSER, Josef. Principio y Norma em la Elaboracion Jurisprudencial del Derecho Privado,

traduzido por Eduardo Valente Fiol, Bosh, Barcelona, 1961, p. 95. In BALERA, op. cit. 2004 pág.. 123

25 BALERA, op. cit. 2004 pág. 122 26 BALERA, op. cit. 2002.

39 ser considerada inconstitucional. Assim, o benefício ou serviço não poderá ser criado, sem que antes haja ingressado numerário no caixa da Seguridade Social, da mesma forma que a contribuição não poderá ser criada sem que haja despesa respectiva.

40 3 A PREVIDÊNCIA SOCIAL NO BRASIL

A ideia de previdência está intimamente ligada à noção de necessidade social. Essa expressão pode ser examinada a partir de duas perspectivas: uma, objetiva, que qualifica os riscos como sociais pelo fato de atingirem qualquer indivíduo e serem inerentes à vida em sociedade; e outra, subjetiva, por se tratar de riscos cuja prevenção somente a coletividade tem condições de organizar e cujos danos somente ela pode reparar, pois os indivíduos, isoladamente, não têm meios técnicos ou econômicos para lhes fazer frente.

A interrelação entre obra previdenciária e risco social, contudo, pode conduzir a equívoco interpretativo. A expressão ―risco social‖ tem significado semelhante a ―eventos infortunísticos‖, não obstante a proteção social atingir igualmente os eventos venturosos, como a maternidade. Logo, entende-se que a terminologia adequada seria ―necessidade social‖, como, exemplificativamente, aquela decorrente do afastamento da gestante do ambiente de trabalho.

A divergência entre a Seguridade Social (gênero) e a previdência social (espécie) está na priorização do indivíduo. A previdência se ocupa daquele que tem capacidade de trabalho, independentemente se está ou não a utilizando. A Seguridade Social atua em lacunas que a previdência social, protegendo indistintamente todos vitimados pela indigência social, sejam eles trabalhadores ou não.

Essa espécie de seguro pode se apresentar de vários modos. A forma social está relacionada aos elementos presentes na relação jurídica, pois a caracterização desse tipo de previdência encontra-se vinculada à existência, no corpo da relação, dos seguintes elementos:

 Obrigatoriedade: filiação obrigatória mediante a delimitação da população jurídica abstrata, impondo o status de segurado sem embargo da vontade;

41  Tripartição de custeio: a solidariedade intergerações se opera no viés do custeio do Sistema de Seguridade Social, devendo ser cotizado pelos segurados, empregadores e pela sociedade, na pessoa do Estado;

 Gestão Pública: dá-se através do Estado ou de instituições instrumentais.

A previdência social brasileira divide-se em dois subsistemas: (i) Regime Geral de Previdência Social – RGPS; (ii) Regimes Próprios de Previdência Social – RPPS. A divisão figura-se no campo da população jurídica protegida. O RGPS é residual, pois se relaciona com todos os sujeitos jurídicos previdenciários discriminados pelos RPPS.

Esse subsistema, por força constitucional, mantém relação única e exclusivamente com servidores públicos efetivos dos entes públicos que aderiram, mediante lei, a essa forma de previdência social, conforme prescreve seu artigo 40:

Art. 40. Aos servidores titulares de cargos efetivos da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios, incluídas suas autarquias e fundações, é assegurado regime de previdência de caráter contributivo e solidário, mediante contribuição do respectivo ente público, dos servidores ativos e inativos e dos pensionistas, observados os critérios que preservem o equilíbrio financeiro e atuarial e o disposto neste artigo27.

Não é a simples qualidade de efetividade no serviço público que garante o status de vinculado ao RPPS, visto que há pessoas em Estados e Municípios que não têm RPPS, sendo que seus servidores efetivos mantêm vínculo obrigatório com o RGPS. Nem todos os servidores públicos que têm RPPS mantém vínculo com esse regime, porque aqueles que não são efetivos se vinculam, obrigatoriamente, ao RGPS.

3.1HISTORIOGRAFIA DA PROTEÇÃO SOCIAL NO BRASIL

27 BRASIL. Casa Civil. Emenda Constitucional nº 20, de 15 de dezembro de 1998. Disponível em:

<http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/emendas/emc/emc20.htm>. Acesso em: 7 mar. 2010.

No documento DIOGO LOPES VILELA BERBEL (páginas 37-41)