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2. O bullying como um tipo de violência na escola

2.3 Manifestações do bullying

O bullying é constituído de manifestações violentas apresentadas de forma velada aos olhos das autoridades, visto que de modo geral os alvos da violência não se manifestam, o que dificulta a identificação por parte dos professores. Em parte os alvos não fazem a denúncia por temerem represálias ou, como afirmam Middelton-Moz e Zawadski (2007), por se sentirem culpados pelos comportamentos dos autores.

Por isso, muitas vezes, as condutas violentas só são possíveis de serem percebidas pelos adultos – pais e educadores - nas entrelinhas das relações sociais, pois, muitas vezes, passam por comportamentos caracterizados como brincadeiras tipicamente da infância ou conflito natural entre pares. Ora, como já se afirmou, isso não é verdade, uma vez que no bullying

há intenção de prejudicar e o comportamento persiste por certo tempo, sendo danoso à auto-estima da vítima e mantido graças ao poder exercido sobre esta, por diferença de idade, força, tamanho ou gênero. Num conflito normal entre pares, os envolvidos fornecem os motivos da discórdia, se desculpam, negociam entre si para satisfazerem suas necessidades, não persistem no comportamento para conseguir as coisas ao seu próprio modo (WEINHOLD apud CATINI, 2004, p. 16).

As manifestações mais comuns de bullying na escola são as presenciais, que, segundo a ABRAPIA (LOPES NETO; SAAVEDRA, 2003),

caracterizam-se pelos seguintes atos: apelidar: 54,2%; agredir: 16,1%; difamar: 11,8%; ameaçar: 8,5%; pegar pertences: 4,7%.

Em estudo coordenador por Fischer com alunos, pais e professores de escolas públicas das variadas regiões brasileiras (2010), os apelidos também ocuparam o primeiro lugar no pódio que hierarquiza os comportamentos de bullying. Sobre isso a autora afirma que

o modo de manifestação mais frequente de maus tratos entre alunos é a agressão verbal por meio de apelidos e xingamentos (...) o uso da agressão verbal na sala de aula e em outros espaços do ambiente escolar é uma forma rotineira de tratamento entre os alunos (...) e na maioria das vezes, os próprios alunos nem percebem que esse tipo de relacionamento é inadequado e pode gerar situações de violência. Ainda que chamem a atenção para o fato de que boa parte das agressões é gratuita e, aparentemente, inócuas, os docentes entrevistados relatam que esses apelidos geralmente estão relacionados a características físicas marcantes (altura, sobrepeso, padrões de beleza, uso de óculos ou aparelhos dentários etc.) ou provenientes de necessidades especiais. Segundo os professores, tais apelidos e brincadeiras podem ser motivados também por discriminação de cor / etnia, status social e traços de comportamento sexual (FISCHER, 2010, p. 36).

Vale ressaltar que, embora as manifestações de violências citadas sejam as mais comuns, não são as únicas que merecem atenção nem as únicas formas como o fenômeno se apresenta. Outro aspecto que também merece ser destacado é o fato de um autor utilizar mais de um comportamento para causar sofrimento ao seu alvo. De modo geral, apelidam, agridem, insultam, colocam em situação vexatória, etc., o que dificulta, ainda mais, a reação do alvo.

Além da modalidade do bullying presencial, há o cyberbullying14, que também é conhecido como bullying virtual. Essa é uma forma de assédio na qual se faz uso de equipamentos eletrônicos, tais como celular e computador. Vale destacar que o cyberbullying

apresenta particularidades que o diferem de agressões presenciais e diretas o que, interessantemente, o tornam um fenômeno que nos parece ainda mais cruel, pois, diferentemente do assédio presencial, não há necessidade das agressões se repetirem. O assédio se abre a mais pessoas rapidamente, devido à velocidade de propagação de informações nos meios virtuais, invadindo âmbitos de privacidade e segurança (BOZZA; TOGNETTA, 2011, p. 2).

14 Diferentemente do termo bullying, fez-se a opção por continuar grafando cyberbullying em itálico em

Essa manifestação do bullying através do uso das tecnologias tem se mostrado bastante frequente na contemporaneidade, repercutindo os avanços tecnológicos que marcam as formas de viver, alterando, inclusive, comportamentos.

Sobre essa modalidade de violência, Fischer (2010) aponta um percentual alto de alunos envolvidos em situações de cyberbullying, uma vez que 17% dos meninos e meninas entrevistados afirmam ter sido alvos de violência através das ferramentas virtuais. No que concerne às manifestações mais comuns de violência no ambiente virtual, a autora aponta os insultos e os maus tratos, proferidos por meio de e-mail, MSN e sites de relacionamento, como o Orkut.

Sobre os sites de relacionamento, observa-se que têm se apresentado como um grande palco para manifestação do cyberbullying. Em apenas uma comunidade de cunho preconceituoso, intitulada por “Eu Odeio as Patys15 da Escola”, encontra-se um quantitativo de 120.60716 membros, o que demonstra um percentual significativo de pessoas aderindo à comunidade com caráter intolerante. Além de possuir um título preconceituoso, tal comunidade possui em sua descrição os seguintes textos: “odeio essas *&@!@(*&@!_@; Pega 1 por 1 e desce o caçette [sic]! É disso q elas gostam e ficam pagando de trouxa”17. Tal texto leva a perceber que um alto número de adolescentes e jovens acreditam, de fato, que os diferentes, sejam quais forem as diferenças, merecem a vitimação pela violência.

No contexto virtual, estudos têm apontado que os danos causados às vítimas de cyberbullying são enormes, “pois a internet garante o anonimato daquele que agride, o que dificulta os mecanismos de respostas e proteção a esse tipo de humilhação” (BOZZA, TOGNETTA, 2011, p.3)

Sejam presenciais ou virtuais, as consequências de uma vida em torno do bullying geralmente são graves, pois, para os alvos, o sofrimento atua de maneira a produzir traumas severos, uma vez que “fora dos muros da escola, um jovem que sofre intimidação pode escolher trocar de grupo ou companhia,

15 Patys é uma forma abreviada da expressão Patricinha, usada para fazer referências às

meninas demasiadamente arrumadas e vaidosas.

16 Dados apresentados na comunidade citada em acesso realizado no dia 14/02/2011.

17 Disponível em http://www.orkut.com.br/Main#Community?cmm=4118766 . Acesso em

mas dentro da sala de aula é obrigado a conviver com seus companheiros durante todo seu percurso escolar” (CONSTANTINI, 2004, p. 74).