• Nenhum resultado encontrado

que pensa ser esperto, o intelectual, o que domina, e quase sempre veste roupas elegantes; e pelo clown ―augusto‖, que é o bobo, o estúpido, sempre sujeito aos desmandos do branco (ICLE, 2006, p. 14).

Isto é apenas um princípio básico; nem é sempre o ―branco‖ o esperto em determinada situação, nem o ―augusto‖ é o estúpido que é caloteado. Portanto, os humanos e não humanos improvisando são eles mesmos divisíveis, em estados ou momentos ―brancos‖ e em estados ou momentos ―augustos‖, por assim dizer. No caso dos munrracos, que implicam em trios e não duplas, o jogo do status é mais complexo, hierarquizado, dinâmico e relacional. Numa sessão de treinamento na época da oficina de bunraku mencionada anteriormente (seção 2.2.2), Carlos filma enquanto Camilo, Edgar e Lucía animam um boneco dançando235. A partir de uma pergunta da Lucía, que não estava assistindo às oficinas, Carlos reflete sobre a técnica:

L: ¿La cabeza es la que lleva la respiración? C: No, todos… O sea, es como una marca y todos se unen, pero las propuestas no sólo vienen desde la cabeza, que es lo que nos decían. Entonces es como proponer desde tu parte, no queriendo ser la cabeza tampoco, pero sí desde tu parte. Entonces eso hace como que la repartición de la responsabilidad del muñeco, de la animación, sea más compartida.

Camilo: Otra cosa es cuando quiere controlar la cabeza... ya no tiene nada qué hacer!

Essa circulação, aparentemente rápida e instável das posições relativas ao status, permite vislumbrar um caminho para que possamos efetivamente pensar no poder e na dominação a partir da vistoria e do desarranjo do conteúdo das forças sociais implicadas, contanto que não passemos por essas categorias como se elas já fossem dadas, ou como se fossem relações entre causas e efeitos. Talvez haja uma projeção disso para outras faces do auto-reconhecimento na coletividade.

[...] no se puede hablar como hablaban los grupos más viejos, ―es que nosotros somos los buenos y

235 Ver no anexo 3, o vídeo dessa sessão dança munrraco.

producción y cosas cuando él necesitaba, participábamos en los proyectos de festivales y de comparsas que él organizaba. Entonces él nos tenía como ahí, pero era el único, porque ningún otro grupo de los duros de Bogotá… como que, ah, los chinos22 que trabajan con Ciro, pero no había ningún reconocimiento ni ninguna visibilidad, pasaban los años, ya llevábamos por ejemplo tres años, cuatro años, y seguíamos en la misma… ―los hijitos de Ciro‖, y no más. […] Era como eso, como mostrarle a ATICO que estamos apareciendo, porque sabíamos que existía ATICO […] Y cuando apareció Javier y Angélica, era como, ¡huy, hay más, entonces se puede hacer! Era como buscar más fuerza para eso (Liliana, do grupo Materile).

Aos poucos, os jovens bonequeiros que trabalhavam com os grupos já reconhecidos, ou que estavam tentando manter seus próprios projetos (ou as duas coisas), começam a se encontrar em pequenos grupos que ainda não sabem da existência de vários outros que estão na mesma situação. Empolgados pelo fato de conhecer colegas da mesma geração que estavam vivendo experiências semelhantes, ainda não sabiam que eram mais do que imaginavam.

las personas jóvenes titiriteras se cruzaban en espacios por x o y razón, y se empezaba a decir, huy no, chévere reunirnos para tal cosa, que yo tengo un material que me gustaría mostrarles, yo tengo… leí tal libro, chévere que pudiéramos hacer una red… empezaron como a idearse cosas (Rossmery, do grupo El beso).

Além disso, o nome JUTI começou a aparecer como uma brincadeira nos encontros destes pequenos grupos de jovens bonequeiros. A conversa seguinte é uma troca de versões a respeito disso, entre Mauricio (do grupo Materile) e Rossmery (do grupo El beso).

R: ―en el taller de Eclipse -todavía no existía Dedos formalmente[…] se dice sí, es que hay que hacer la Juventud Titiritera, también porque todo

el tiempo era como a tratar de hacerle la contraprestación a la rosca23 de los viejos, que de cierto modo se sentía que como que tenían monopolizado todo, tanto el mercado, como la creación, como la escena titiritera […] la gente sólo pensaba que títeres eran [...] los grupos que llevaban más de 20 o 30 años. Entonces pues en un momento dado [decimos] ―nosotros queremos dedicarnos a este arte, pero cómo hacemos para romper con esto?‖

M: matar al padre…

R: Exactamente, entonces la idea era bueno, pues juntos de pronto damos un golpe más certero, en cambio si cada uno va por su lado… además que pues chévere juntos porque a todos nos conectaba algo, la universidad, éramos de la [Universidad] Nacional […] nos habíamos conocido en Eclipse en algún momento, y entonces en un momento dado [dijimos] ―sí, claro, es que hay que hacer la Juventud Titiritera, en broma a la Juventud Comunista‖ [JUCO].

M: El nombre realmente […] no fue en el taller de Eclipse, eso primero fue… creo que fue por esos días, y fue por una cosa que organizó ahí Eclipse en la Nacional. Pero eso no fue en un taller, eso fue en un bar, [...] y medio borrachos.

R: Desde Eclipse estaba el chiste […] en un momento dado se escucha el nombre en una de esas reuniones y pega, huy, claro, la locura, […] o sea, Juventud, porque en contraposición a los viejitos, y Titiritera, pues porque era el oficio. Y pues claro, con la JUCO la burla estaba ahí latente.

M: Sí, estábamos borrachos y salimos gritando consignas, ―que le corten los hilos!‖, ―veneno para las libélulas!‖, ―insecticida a las libélulas!‖, ―le vamos a cortar los hilos!‖, bueno, güevonadas24 así…salimos así… ―que no quede títere con

23 Na Colômbia, o termo rosca é utilizado para referir-se a um grupo de preferências. Quando

alguém é da rosca, quer dizer que faz parte de um grupo privilegiado de preferências.

24 Güevonadas: besteiras.

assumir um estado de criança. Para tanto, é preciso tanto de uma intensidade quase religiosa, quanto de um estado extremo de secularidade, de profanação e de disposição para brincar (GROSS, 2009).

Como dito acima (ver seção 2.2.2), em dezembro do 2008 eu participei de um match dedicado à técnica dos munrracos, adaptada do bunraku japonês. As regras particulares desse match

munrraco incluiam a

improvisação em trios, formados, cada um deles, pela ―cabeça de série‖ (um bonequeiro treinado na técnica), uma segunda pessoa escolhida por ele, e um terceiro integrante voluntário, da platéia. A cabeça de série é quem decide a distribuição da equipe para animar o boneco, com freqüência perguntando aos integrantes do grupo qual parte do boneco gostariam de animar. Assim, a apropriação particular da técnica, que mantêm em aberto a possibilidade de trocar a parte do corpo que cada um anima, (evitando assim as hierarquias marcadas na tradição japonesa da arte), permite manter mais nivelada a distribuição de forças na agência, e manter seu desenvolvimento negociado mais complexo. Deste modo, o jogo de status que acontece no interior de cada trio improvisador, mesmo dinâmico, tem alguma semelhança com aquele que acontece – e muitas vezes sustenta – as duplas em estado clown.

O clown é encontrado quase sempre em dupla e representa micro-estruturalmente as relações de toda a sociedade contemporânea. A dupla é formada pelo clown chamado ―branco‖, aquele

Figura 36. Munrraco em ação, durante um

Esta lógica, que implica na idéia da competência durante os match de improvisação, é um dos elementos que derivaram do trabalho com o clown durante diversos processos da JUTI, desde a primeira comparsa. Uma performance desastrosa (para o artista) pode ser um espetáculo bem-sucedido (para o público), como no episódio mencionado da peça “La Niña Valiente” do grupo Titirituerka (seção 2.2.1).

Voltando à noção de competência em Bourdieu, haveria aqui o risco de assumirmos a existência de uma ―ortodoxia‖ (os grupos velhos, tradicionais e referenciais) que estaria em relação, e com freqüência em oposição, a uma ―subversão‖ (isto é, os grupos novos e a sua inovação, experimentação, etc.). Porém, o jogo é muito mais dinâmico, tanto pela artificialidade (que não é inutilidade) das categorias – como as de Arias (2009) – para enxergar os grupos, quanto pela artificialidade da dissecação entre o organizativo e o artístico.

Las peleas y contradicciones entre los sectores tradicionalistas y renovadores son enfrentamientos estériles, falsos, improcedentes, igual que los que se producen entre profesionales y aficionados. A la larga todos van a beber de la misma fuente y se necesitan mutuamente; sólo a través del diálogo, la reflexión y el intercambio de experiencia se hace posible el crecimiento (CURCI, 2007, p. 129).

Jurkowski decía que las convenciones que nos han dado la tradición eran instrumentos que creaban consenso entre el escenario y el público. Yo, que en mi juventud experimenté la resistencia de los continuadores de la tradición contra las tentativas de renovación, repliqué con una metáfora: la tradición es la tierra en la que el artista vivo planta nuevas flores. Para que las flores crezcan hay que remover siempre la tierra y abonarla. Y el agua que da vida viene de fuera (MESCHKE, 1988, p. 21).

No caso do teatro de animação de objetos, bem como do clown, a competência vai implicar um jogo oscilatório, graças à contradição do ator-animador, que se constrói como uma criança disciplinada, ou melhor, como um adulto disciplinado com uma preparação especial para

cabeza!‖, bueno, jodiendo25 así.

O fato mencionado por Mauricio em sua fala, que teve lugar na Universidad Nacional, foi uma apresentação do grupo Eclipse, durante um festival que o mesmo grupo organizava ali. Nesta ocasião, muitos dos bonequeiros que já se reconheciam como parte de uma nova geração desta arte, e começavam a pensar em ações conjuntas, se encontraram. Depois do festival, inspirados pela efervescência do álcool, os jovens bonequeiros realizaram algumas reuniões, nas quais foram discutidos os interesses comuns a todos e a finalidade de iniciar um trabalho coletivo, com objetivos tanto artísticos quanto de gestão. O particular da convergência de interesses tem a ver com a necessidade de, digamos assim, confrontar os seus próprios mestres para ganhar oportunidades e recursos para os seus projetos independentes. Isto é, todos eles coincidem em que, para poder tornarem-se independentes dos seus pais artísticos (basicamente dos três grupos mencionados na seção anterior), devem matá-los, ou seja, considerando-os seus adversários na concorrência – sob condições de igualdade – por recursos e oportunidades de formação e apresentação. A primeira de ditas reuniões foi feita em setembro ou outubro de 2004.

fue lo primero que salió, eso sí me acuerdo hartísimo: por qué no hacemos un festival de los grupos jóvenes? Entonces busquemos en las universidades y nos presentamos en las universidades, y no sé qué, esa creo que fue la primera línea de acción que hubo, o la primera idea como tal […] primero era como una forma para vernos, siento yo, o sea, no comenzamos con la cosa del ideal […] incluso era una respuesta a ATICO (Carlos, do grupo Proyecto Primate).

25 Joder literalmente traduz foder ou escangalhar, mas também pode significar brincar, como

neste caso (jodiendo aqui significa brincando). Figura 7. Logo da JUTI. Note-se que já inclui

Entonces dijimos bueno, si nosotros somos los jóvenes, y estar en ATICO pues no significa realmente mucho para entrar en el movimiento real de las cosas, dijimos, pues unamos esfuerzos, y entonces yo, que llevo 5 años trabajando unos contactos, un público, un lenguaje, y cada grupo igualmente por su lado, pues unamos eso y entonces ya tenemos 5 lenguajes, tenemos 5 procesos de público, tenemos 5 procesos de gestión. Pero todo se enfoca hacia la gestión, básicamente a conseguir funciones, a conseguir contactos en universidades… Se pensó entonces en un festival JUTI, esa fue la primera idea. Entonces festival JUTI era presentar las obras de los 6, 7 grupos que habían en ese momento, en todos los espacios donde fuera posible […] era ir a hablar a las universidades, ir a hablar en ciertos teatros, ir a hablar a la alcaldía para presentar en los parques, y en ese momento esa idea fue sólo esa idea, porque nadie hizo nada (Edgar, do grupo A-Garrapattta).

Pues fue muy complicado concretar eso…pero en últimas hasta mejor… sí, porque […] si ese objetivo de gestión hubiera sido efectivo y hubiera funcionado, de pronto no nos hubiéramos preocupado por hacer crecer otros objetivos, como el de la formación, el de investigar, que son los que han ido nutriendo a la JUTI para lo que es ahora. Si simplemente tú funcionas y ganas plata, […] de pronto lo otro no empieza a ser tan importante.[…] Nos damos cuenta incluso en esos meses en los que la cosa como que no funciona, que estamos como desubicados, tratando de hacer una cosa que es como que muy difícil, y entonces empezamos a ver otras formas de gestión que es lo de las convocatorias, y se empiezan a mover otras cosas (Liliana, do grupo Materile).

Assim, graças à pouca iniciativa para levar adiante aquelas primeiras propostas coletivas, que deveriam, idealmente, visibilizar e estabilizar economicamente o coletivo, a JUTI teve o tempo de deixar amadurecer um sentido diferente do seu caráter de coletividade (o

em boa medida, à noção de competência segundo Bourdieu (2003) a concebe. O autor fala das competências como aquilo que diferencia os profissionais dos profanos, em termos de um habitu,s que supõe uma preparação especial enquanto: (a) têm apropriado um corpus de saberes específicos, (b) têm relações qualificadas com os profanos (tribuno) e (c) têm relações qualificadas com os outros profissionais (debater). Considero que para os bonequeiros que participam da JUTI a competência que o match implica – e, aliás, treina – tem a ver com uma qualificação para realizar a arte, mas aqui o foco estaria no sucesso não do artista, e sim na experiência do público.

alguien me invita a un match, yo voy [...] y creo que quedé loco. Y me pregunto, ¿cómo es posible que esta gente se pare en escena y haga una competencia con muñecos, pero por qué tienen que competir, por qué tienen que pararse para ver quién es el mejor en improvisar? [...] eso no tiene sentido, si se quiere jugar, pues que jueguen, hermano, ¿pero por qué tienen que competir? Incluso creo que alguna vez llegamos a hablar del tema con algunos. Y yo estuve enfurruñado234 en ese match, y después me fui. [...] en el fondo había mucho miedo de participar. La segunda vez fue en el Congreso de Salento [de ATICO], y fue una diversión, fue muy chistoso, el tema no era tanto la competencia como jugar, aunque la competencia [...] le daba un matiz al juego, pero sigue siendo juego, entonces fui entendiendo un poco el sentido (Jorge, do grupo Ringletes). la intención no era que los improvisadores fueran los actores, que no fuera una competencia de actores, sino una competencia de personajes, con la intención de que el que pierda no sea el ego del actor, sino que sea como el personaje. Que le aporte al espectáculo, así gane o pierda, [...] o sea, lo menos importante ahí es quién gana, sino cómo entre todos le aportamos al espectáculo, así vayamos perdiendo (Héctor, do grupo La pepa del mamoncillo).