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Manoel da Nóbrega (1517-1570) estudou os “Canônes” em Coimbra e veio para esta terra em 1549 com Tomé de Souza, o primeiro governador enviado

S. convocar as Cortes, que desde 1689 não mais haviam sido convocadas, a fim de preparar uma Constituição

82 Manoel da Nóbrega (1517-1570) estudou os “Canônes” em Coimbra e veio para esta terra em 1549 com Tomé de Souza, o primeiro governador enviado

para o Brasil. Seu plano para a “cristianização” dos índios previa o estabeleci­ mento de missões, que eram administrativamente autônomas e impediam o contato dos índios com os colonizadores brancos. Nessas missões, os índios eram familiarizados com a agricultura e com o trabalho manual. José de An­ chieta (1533-1597) ingressou na Companhia de Jesus em 1551 e veio ao Brasil em 1553, com o segundo governador nomeado para o Brasil, Duarte da Costa. Em 1595, redigiu uma gramática da língua dos índios existentes na costa bra­ sileira.

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ras. Em 1845, o instituto iniciou a publicação de um m anuscrito que tratava de duas tribos de M ato Grosso, situadas n a fro n teira com a antiga área colonial espanhola. Esse parecer, de 1803, de autoria de Ricardo Franco de A lm eida Serra, foi confiado ao IHGB com a anu­ ência do presidente da Província de M ato Grosso. Após um a detalha­ da descrição dessas tribos, o d o cu m en to salientava a im portância de se m an ter a paz com esses grupos.

Estas são as principais utilidades, que nos resultam da paz e amizade com os U aicurus ainda independente do seu aldea­ m ento e perfeita redução: utilidade que julgo devemos con­ servar com em penho e custo; tanto para bem e tranquilidade desta fronteira, com o para não engrossar, p erdendo o poder, a força, e núm ero dos nossos vizinhos, sem pre rivais, sempre suspeitosos e inimigos ocultos, utilidade que só com m enor despesa podem os conseguir...88

Para a jovem m onarquia, cercada de repúblicas que eram ca­ racterizadas com o rivais, a garantia de suas fronteiras físicas assumia im portância fundam ental.

Para descrever e e n te n d e r a m ultiplicidade do discurso sobre os índios, precisam os nos d e te r em seu aspecto econôm ico. Os inte­ resses econôm icos não suscitaram a atenção científica para com os índios, mas certam ente lhe deram um novo alento, ao m enos depois da década de 1840. A p artir de então, a perspectiva econôm ica da problem ática in d íg en a não po d e mais ser desvinculada do debate acerca da escravidão, ressaltando claram ente sua conexão com as dis­ putas políticas.

A Inglaterra condicionou o reco n h ecim en to d a In d e p e n d ê n ­ cia do Brasil à abolição do tráfico negreiro. Em 1827, o governo brasileiro se co m prom eteu a, p o r m eio de um a convenção, im pedir

o tráfico n eg reiro até o ano de 1830. A im posição dessa proibição 8 * *

8S Revista do IH G B, Rio de Janeiro, 13 (19), set-dez/1850. p. 393. Para um trata­ mento abrangente, veja-se também: Revista do IH G B , Rio de Janeiro, 7 (26), abr-jun/1845, pp. 204-18.

O Instituto H istórico e Geográfico Brasileiro... 1 5 3

colidia fro n talm en te com os interesses dos latifundiários, sobretudo os da Província do Rio de Jan eiro , onde, desde a década de 1830, houve forte expansão das plantações de café. Som ente em 1850, após maciça intervenção inglesa, parcialm ente m ilitar, é que o governo brasileiro conseguiu fazer valer a lei sobre a proibição do tráfico n e ­ greiro. Nesse contexto, entende-se que todas as ideias a respeito de eventuais alternadvas para a escravidão ad q u iriram im portância espe­ cial. E a Revista do IHGB era o foro ideal p ara essa espécie de reflexão. Desde o início do debate, os participantes estabeleceram um a conexão e n tre a escravidão e a questão indígena. Já n a prim eira edição da Revista do IHGB, Jan u ário da C unha Barbosa escreveu um artigo sobre a questão, discutindo em que m ed id a a existência da escravidão representava obstáculo para civilizar os índios. Ele che­ gou ainda m ais longe, concluindo que a escravização dos negros não im pedia apenas a ação de civilizar os índios, com o tam bém se havia transform ado em um freio para o desenvolvim ento co n tín u o da so­ ciedade com o um todo.84

Assim, Jan u ário da C unha Barbosa representava um a posição de expressão no in terio r do IHGB: o rep ú d io à escravidão com o cau­ sa do atraso n o país. U m a atitude pública co n tra a escravidão foi to­ m ando corpo, m arcando o início de um longo processo, que só che­ gou a term o em 1888, com a abolição da escravidão. C unha Barbosa, em seu artigo, advogava a integração dos índios em vista de seu papel com o força de trabalho d o futuro.

Lem bram os este fato para provarm os que eles n ão são tão avessos ao trabalho com o os p retend em pintar os patronos da escravidão africana, e para que se veja que, se forem removi­ das certas causas de seu h o rro r e desconfiança; se forem bem tratados, cum prindo-se fielm ente as convenções que com eles se fizerem; se forem d ocem en te cham ados a um com ércio van­ tajoso e a um a com u n icação civilizadora, terem os, senão nos 84 BARBOSA, Januário da Cunha. “Se a introdução do trabalho africano emba­ raça a civilização dos nossos indígenas”. R evista do IH G B , Rio de Janeiro, 1 (3), jul-set/1839, pp. 159-66.

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que hoje existem habituados à sua vida nôm ade, ao menos em seus filhos e em seus netos, um a classe trabalhadora que nos dispense a dos africanos.85

A reflexão a respeito dos índios devia co n trib u ir p ara o desen­ volvimento de eventuais alternativas à escravidão. Tornava-se neces­ sário esclarecer a dúvida acerca da viabilidade de os indígenas serem capazes de ad o tar um m odo de vida sedentário. As recom endações já m encionadas e que foram publicadas n a revista não deixavam qualquer dúvida de que, p o r trás de um a possível ação de “civilizar” os índios, escondia-se o desejo de utilizá-los com o m ão de obra na agricultura e n a m ineração.86 C onstatando sua atitude de rechaço à lavoura, o au to r frisava com o seria com plicado um projeto desse tipo.87 A redação da revista, no entanto, se em penhava n a publicação de relatórios a respeito dos êxitos n a ação de civilizar índios, ante a convicção de que as experiências havidas seriam de valor para o trabalho fu tu ro .88

85 Conforme nota 84, p. 165. 85 Conforme nota 83.

87 O parecer foi preparado por ordem do governo português e deveria servir,