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O IHGB se reportava, com frequência, aos resultados dessa investigação As­ sim, José Vieira do Couto, também pesquisador da natureza do século XVIII,

S. convocar as Cortes, que desde 1689 não mais haviam sido convocadas, a fim de preparar uma Constituição

17 O IHGB se reportava, com frequência, aos resultados dessa investigação As­ sim, José Vieira do Couto, também pesquisador da natureza do século XVIII,

trabalhou, a partir de sua exploração da região de Minas Gerais, elaborando as bases de uma teoria acerca da proto-história do país, que foi perpetuada pelo instituto. R evista do IH G B , Rio d ejaneiro, 3 (12), out-dez/1841, p. 524. 18 Veja-se a carta de Ph. Vandermaelen e do dr. Meisser, sócios-correspondentes

do IHGB que viviam na Bélgica, com o pedido de colaboração do Insdtuto e com a notícia do envio da publicação chamada Epistemonomia. Revista do IH G B , Rio d ejan eiro, 3 (12) out-dez;1841, p. 501v.

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A intenção do IHGB de oferecer conhecim entos ao governo e de to rn a r sua atuação p eren e n a historiografia pode, igualm ente, ser vinculada ao pensam ento iluminista.

O insdtuto, por seus trabalhos, acom panha a m archa gloriosa de seu governo e, dando luz a seus atos, fará ch e g a r ao co­ nhecim ento da mais rem ota posteridade os memoráveis acon­ tecim entos do im pério de Santa Cruz, felizmente regido por um príncipe nascido no seu solo e recon h ecid o desde seus primeiros anos com o Augusto p rotetor das letras brasileiras.19

Aqui tocamos o cerne da visão do IHGB a respeito de história. Na m edida em que os m em bros do instituto preten d iam transm itir lições aos governos, partiam do princípio de que seria possível filtrar exem plos e m odelos d a história para o presente e o futuro. A histó­ ria, en ten d id a com o a experiência de gerações passadas, poderia in­ dicar com o fazer as coisas. Mas a história só po d e fo rn ecer exem plos e ensinar o presente desde que se en ten d a ser ela um continuum, um processo direcionado para fren te.20 É indubitável que o IHGB partia dessa premissa.

A alocução de Jan u ário da C unha Barbosa p o r ocasião da inau­ guração do instituto é elucidativa nesse sentido.21 Após haver citado Cícero para frisar a utilidade do Instituto H istórico, prosseguia com as seguintes palavras: “Não duvidamos, Srs., que as m elhores lições que os hom ens podem receber lhes são dadas pela história.”22

Em seu 5S relatório anual, surge a m esm a ideia: “A H istória é a m em ória das Nações, disse um sábio filósofo, e de seu copioso

19 Revista do IH G B , Rio de Janeiro, 3(12) out-dez/1841, p. 537.

20 Veja-se; KOSELLECK, Reinhart. “Historia magistra vitae”. In Vergangene Z u ku ­ nft. Frankfurt/M , Suhrkamp, 1984, pp.38-66.

21 Discurso inaugural de Januário da Cunha Barbosa por ocasião da fundação do IHGB, em 2 5 /1 1 /1 8 3 8 . R evista do IH G B , Rio de Janeiro, 1 (1), jan-m ar/1839,

pp. 10-21. '

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depósito derivam elas a necessária instrução, ou para se regularem no presente, o u p ara p e n e tra re m o futuro, seguras em sua m archa.”23 São num erosas as provas dessa convicção e seria en ted ian te enum erá-las aqui. O que m e parece im p o rtan te é constatar que cabe à história um a função com corresp o n d en tes consequências político- pragm áticas para o presen te e o futuro.

Com o en tão p ô d e o IHGB co rresp o n d er, n a prática, à função autoform ulada de o ferecer aos hom ens d e estado, através d e co n h e­ cim entos derivadas d a história, recom endações para a ação política? A ntônio de M enezes Vasconcelos de D ru m m o n d (1794-1865), re p re ­ sentante diplom ático brasileiro em Lisboa e m em bro do instituto, enviou ao IHGB docum entos acerca da história da Província do Ma­ ranhão, que, àquela época, se rebelava co n tra o governo central. Ao ver dele, esse m aterial p o d eria co n trib u ir para e n te n d e r m elh o r os problem as da província: “Em p resença de docum entos desta natu­ reza é que eu quisera que os nossos legisladores legislassem para o Im pério, e não im buídos em máximas, o u princípios excelentes, se quiserem , mas sem aplicação en tre nós.”24

A m esm a opinião e ra partilh ad a p o r Jan u ário d a C unha Bar­ bosa, em seu relatório referen te ao ano de 1840, em q u e ressaltava a necessidade da história p a ra o hom em de Estado:

A História, tornando-lhe presente a experiência dos séculos passados, ministra-lhe conselhos tão seguros co m o desinteres­ sados, que lhe aclaram os cam inhos que deve seguir, os esco­ lhos que deve evitar, e o seguro p orto a que um a sólida m ano­ bra pode felizm ente fazer ch eg ar a nau do Estado.25

23 Relatório anual do primeiro-secretário do IHGB, Januário da Cunha Barbo­ sa, de 1 0 /1 2 /1 8 4 3 . R evista do IH G B , Rio de Janeiro, 5 (Suplemento), out- d ez/1843, pp. -1-29.

24 Carta de Antonio Menezes Vasconcelos de Drummond a Januário da Cunha Barbosa, de 2 4 /8 /1 8 4 0 . Revista do IH G B , Rio de Janeiro, 2 (8 ), out-dez/1840, p. 526.

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A ocupação com a vida de personalidades im portantes parecia ao instituto a possibilidade de tirar da história exem plos p ara o pre­ sente. Foi assim que o prim eiro-secretário, em seu relatório anual, re­ feriu-se à vida de m em bros falecidos p ara “servirem de exem plo para os vindouros”.26 Igualm ente n a revista foi ab erta um a coluna para a publicação de biografias de “personalidades de destaq u e”.

Com o a história atua politicam ente, fo rn ecen d o aos governan­ tes do presente exem plos e vivências, tam bém atu a ideologicam ente e, nesse processo, afirma-se determ in ad o p apel ao historiador:

Deve o historiador, se não quiser que sobre ele carregu e grave e dolorosa responsabilidade, pôr a mira em satisfazer os fins político e m oral da história. Com os sucessos do passado en­ sinará à geração presente em que consiste a sua verdadeira felicidade, cham ando-a a um nexo com um , inspirando-lhe o mais nobre patriotismo, o am or às instituições monárquico- constitucionais, o sentim ento religioso e a inclinação aos bons costum es.27

Ao historiador que, com o pessoa esclarecida, sabe em que con­ siste o objetivo da história, cabe a tarefa de in stru ir seus contem po­ râneos naquilo que constitui sua felicidade: serem fiéis súditos do Estado m onárquico.

Assim, aos elem entos já m encionados do conceito de história do IHGB, acrescentou-se, ainda, a vontade de se colocar de m odo suprapartidário e a b o rd a r a história p o r m eio de um m étodo. O não atendim ento desses critérios constituía o cerne d a crítica do instituto sobre as publicações de até então acerca do Brasil. O p ro ced im en to m etódico dos historiadores ligados ao instituto se explicita com cla­ reza no decurso das propostas apresentadas de pro jeto d a história nacional.

26 Revista do IHG B, Rio de Janeiro, 16 (12), abr-jun/1853, p. 567. 27 Revista do IH G B, Rio de Janeiro, 9 (6 ), ab rju n /1 8 4 7 , p. 286.

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P a rtin d o d o in stitu to sed iad o n o Rio d e J a n e iro — in té rp re te a u to riz a d o d a h istó ria —, a luz deveria espalhar-se p o r to d o o Im p ério , um c o n c e ito q u e se ajusta sem p reju ízo à p o lític a estatal d e c e n tra li­ zação.

A p o lític a c u ltu ral estatal, afinal, visava fazer d o IH G B o local em q u e se c o n ce n trav a a to ta lid a d e d os co n h e c im e n to s disponíveis a resp eito d o Brasil. O fato de esse objetivo tam b ém c o rre s p o n d e r aos in teresses dos m e m b ro s ficou d e m o n stra d o n a p ro p o sta de 4 de d e z e m b ro d e 1842, d e a b ib lio te ca d o in stitu to ser n o m e a d a com o lu g ar o b rig a tó rio d e todas as o b ras p u b licad as n o Brasil, e m b o ra n o Rio d e J a n e ir o j á houvesse u m a b ib lio te ca p ú b lica.28

A p e d id o do IH GB, os p re sid e n te s das províncias enviavam ao in stitu to u m e x e m p la r d e seus re la tó rio s an u ais d e p restaç ão de c o n ­ tas, com o q u e o IH G B p e n e tra v a n a á re a d e atu ação d o A rquivo N acional, fu n d a d o em 1838. O u tra prova d a ex p ansão d a á rea d e fu n çõ es d o IH G B é o p la n o d e J a n u á rio d a C u n h a B arbosa d e to rn a r o in stitu to lu g a r d e c o le tâ n e a d e to d o s os d ad o s estatísticos levanta­ dos n o Im p ério ; atividades q u e , à p rim e ira vista, p arec em e x tra p o la r a fu n ç ã o p re c íp u a d o IH G B de escrever a h istó ria do Brasil. A razão disso, e n c o n tra m o s n a o p in iã o esposada p elo in stitu to d e q u e h istó ­ ria tem d e ser global e re tra ta r a n açã o em sua totalidade.

O s p rim eiro s passos co n c re to s n o sen tid o de u m a h istó ria do Brasil d a ta m de 1840, q u a n d o J a n u á rio d a C u n h a B arbosa in stitu iu u m p rê m io p a ra o m e lh o r tra b a lh o d ed ic a d o ao tem a e q u e a p re se n ­ tasse u m p la n o a p a rtir d o qual se deveria escrever a história d o B ra­ sil. O p rê m io co u b e, em 1847, ao p e sq u isa d o r n atu ra lista e etn ó g ra fo alem ão Karl F ried rich P hilip p von M artius (1794-1868), q u e, e n tre 1817-1829, ju n ta m e n te c o m j. B. von Spix, e m p re e n d e ra u m a viagem p e lo Brasil. Dessa e x p eriên cia , n asceu a o b ra em três volum es dos dois au to re s, Reise in Brasilien (V iagem n o Brasil), q u e foi trad u z id a p o r iniciativa do IH G B em 1938, n a ocasião de seu c e n te n á rio de fu n d açã o . V on M artius p u b lic o u diversos estudos nas áreas d a e tn o ­ grafia e d a linguísdca, te n d o sido n o m e a d o p ro fesso r universitário

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em M unique em 1826 e, posteriorm ente, em 1832, d ireto r do Jardim Botânico de lá.

Indubitavelm ente, o Brasil constituiu o objeto central de sua advidade científica, com o se pode d e p re e n d e r da carta de agradeci­ m entos que, em 1840, p o r ocasião de sua aceitação com o m em bro co rrespondente, ele fez chegar ao insdtuto. Seu trabalho científico naquele m om ento estava voltado para um livro, sob o patrocínio do Im perador, a respeito da flora m edicinal brasileira e a história dos naüvos do Brasil. No que se refere aos nativos do Brasil, defendia a teoria de que, m uito antes da chegada dos portugueses, haviam vi- venciado um a civilização de nível mais elevado. A leitura de sua carta estim ulou V arnhagen a form ular a proposta de que o IHGB, além de seu interesse pela língua dos nativos, se interessasse tam bém por outras m atérias de sua história.29

O trabalho de von M artius, intitulado “Com o se deve escrever a história do Brasil” (M unique, 1843), chegou a ser publicado, j á em 1844, n a Revista do IHGB.30 U m a vez que, nesse texto, foram form ula­ dos princípios que correspondiam ao conceito de história do IHGB, é preciso tratá-lo mais de perto.

Partindo da m áxim a idealista - “o gênio da história está em mãos dos hom ens” - , 31 o autor defendia o ponto de vista de que era preciso levar em conta os elementos étnicos, que desem penharam papel rele­ vante na formação dos brasileiros. Constatava von M artius que os bra­ sileiros são a m istura de três “raças”, a indígena, a negra e a branca, e que a história do país forçosamente teria de espelhar a interação des­ sas forças diferenciadas. Na opinião do autor, a cada “raça” hum ana, corresponde determ inado movimento histórico, sendo que no Brasil, devido à predom inância portuguesa, a influência da “raça” branca é a decisiva. De resto, im buído de um otimismo que atribuía im portância destacada ao futuro do Brasil, o autor defendia a tese de que nosso país

29 R evista do IH G B , Rio de Janeiro, 2 (7), jul-set/1840.

30 MARTIUS, Karl Friedrich Philipp von. “Como se deve escrever a História do Brasil”. Revista do IH G B, Rio de Janeiro,6 (24), ja n /1 8 4 5 , pp. 381-403.