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Manoel Onofre Jr.

No documento Revista do IHGRN 1989-1990-1991 (páginas 112-117)

(Sócio Efetivo)

A família Onofre, de certa projeção na História de Martins(RN) e Natal, teve como fundador o Alferes Onofre José da Silva. Do prenome deste teria derivado o nome da família.

Esse Alferes tomou parte ativa nas lutas políticas da Independência, na Província. Era do partido reacionário

No livro “A Independência do Brasil no Rio Grande do Norte”, de Tavares de Lyra, consta que ele foi um dos oficiais excluídos do Batalhão de Linha, por motivos políticos. Transcrevo da mencionada obra o seguinte trecho: “Essa orientação da Junta (de Governo) provocou o descontentamento entre os rea­ cionários, levando oficiais do batalhão de linha a não lhe prestarem as honras devidas, fato este que, agravado por sucessos posteriores a obrigou a excluir do mesmo batalhão, mediante representação que lhe foi transmitida pelo Se­ nado da Câmara, os seguintes oficiais, que seguiram por terra para Pernambuco, donde deviam partir para Lisboa” (pág. 53)

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Onofre José da Silva deve ter sido morador da Rua Grande, então a princi­ pal artéria de Natal (atual Praça André de Albuquerque).

De um estudo do historiador Olavo de Medeiros Filho, sobre as doações de terras concedidas pelo antigo Senado da Câmara de Natal, consta:

“ 16 - 6 - 1821 - Favorecido o Alferes Onofre José da Silva na rua Grande, junto às casas de Joaquim José Clementino” (ín “Terra Natalense”, pág. 159).

Pouco mais sei a respeito do irrequieto e combativo Alferes. Devia ser português de nascença, haja vista o partido que tomou nas lutas da Indepen­ dência. Segundo Câmara Cascudo, em “Acta Diurna” a que adiante me repor­ tarei, ele era casado com D Inês Cipriana Geralda de Andrade

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Meu bisavô paterno, João Onofre Pinheiro de Andrade era filho de um filho do Alferes, Manoel Onofre de Andrade

Com raízes em Macaíba e Natal, o Prof. João Onofre terminou por se fixar em Martins, aonde foi ser mestre-escola. Tomou-se um tipo admirável de pa­ triarca sertanejo. Câmara Cascudo que, ainda menino, o conheceu, em Martins,

evoca-o em “Acta Diurna”, incluída no “Livro das Velhas Figuras”, vol. 1). Diz Mestre Cascudo:

“Uma recordação inapagada é o Professor Onoffe, João Onoffe Pinheiro de Andrade, quase septuagenário, forte, risonho, afável, palestrador. Chamava minha mãe “prima”, no velho diapasão senhonal das famílias de outrora. Em toda parte impunha-se pela voz, o gesto amplo, a palavra fácil, torrencial, a memória infalível, tudo fazendo reviver aos olhos da lembrança. Todas as tardes ia à nossa casa ouvir o gramofone, de imensa bocarra tonitroante, ati­ rando modinhas e lundus, valsas lentas e polcas sacudidas. Especialmente, ia conversar. Conversar para mim. Fui, durante meses, um ouvinte fiel e deslum­ brado. Abria os olhos espantados, entreabna a boca, no assombro das lutas, dos sucessos políticos, anedotas, fisionomias que passaram a constituir como um alicerce dos meus estudos. Falava-me dos grandes políticos do passado, os chefes em Natal Conservadores e Liberais, o tio Bonifácio Câmara. Deputa­ do Provincial no biênio 1888/89, João Onoffe sabia, como hoje saberão ainda três homens: - Felinto Elísio, no Jardim do Seridó, Cipriano Santa Rosa, do Acarí e Romão Filgueira, em Mossoró, narrar e ressusçitar os fatos pretéritos. Creio dever-lhe, nos meus onze anos atônitos, as primeiras ondas da paixão pela História, seus detalhes, minúcias, recortes, episódios”(.. .) “Nasceu em Natal e não em Macaíba, como tenho lido, a 16 de maio de 1845. Faleceu no sítio “Lagoa Nova”, arrabaldes de Martins, a 30 de setembro de 1935, com noventa anos feitos. Professor público, Promotor interino de 1919 a 1927, Medalha de ouro oferecida numa linda festa do Grupo Escolar local. Sessenta e dois anos no Martins, desde 1873, sem um só desafeto...”

“Seu pai, Manuel Onoffe de Andrade, filho do Alferes Onoffe José da Silva e D. Inês Cipnana Geralda de Andrade, sua mãe D. Francisca Benvenuta de Borja, filha do Capitão Francisco de B o ija Pinheiro e D. Antonia Josefa de Souza, casaram-se em 7 de agosto de 1844. João Onoffe é o primeiro filho. A mulher do Coronel Bonifácio Câmara, chefe conservador, era irmã de D. Francisca Benvenuta, ambas primas legítimas dos respectivos maridos. Não vou contar ligações genealógicas. São famílias do século X V III, entrelaçadas, enormes, ilustres pela continuada atuação política” (.. .) (págs. 91 e 92).

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Dados sobre o Prof. João Onoffe, colhidos de sua filha Maria Anunciada, a quem chamávamos tia Gordinha, e do meu pai, Manuel Onoffe de Souza:

Casou-se em segundas núpcias com Agostinha Onoffe de Andrade. Filhos: Cícero Onoffe Pinheiro de Andrade (meu avô paterno), Maria Adélir (Manquinha), Maria Augusta (Maroquinha), Mário, Maria Claudina (Marieta)

M ana Benvenuta (Mariví), Solon, M ana das Neves (Neném), M ana da Con­ ceição, Maria das Chagas (Chaguinha) e Maria Anunciada (Gordinha). Das filhas, apenas três se casaram, sendo que só uma deixou descendência - M ana da Conceição, casada com Arnaldo Dias do Nascimento.

A matriarca Agostinha era filha do Pe. Antomo de Souza Martins, primeiro vigáno colado de Martins, e Claudina Teodora de Freitas Irmão de Agostinha, Zenon, o patriarca dos Campos.

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Do primeiro casamento do Prof. João Onoffe, apenas um filho - João Onoffe Filho, pai do Prof. Manuel Onoffe de Andrade, figura saliente na história cultural dos Estados do Rio Grande do Norte, Alagoas e Goiás.

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Mais alguns dados sobre o Prof. João Onoffe - sua personalidade e seu modo de ser:

Católico praticante, era, no entanto, chegado ao Espiritismo. Sério, mas não sisudo, tocava violão e cantava. Certa vez, mandou buscar um bandolim no Rio de Janeiro para a sua filha Gordinha. Elegante, usava paletó e gravata, diariamente, como aliás era praxe naquela época, para as pessoas de certo nível social. Pobre, remediado, tmha de seu o sítio da Lagoa Nova, a casa da rua e a fazenda Lagoa do Serrote, onde invemava com os numerosos familia­ res. Como Promotor interino, notabilizou-se pelas suas atuações no Júri e, também, por haver denunciado Lampião e seu bando, pelos crimes que come­ teram no Município de Martins, em 1927

Sobre a sua atuação parlamentar, nenhuma informação obtive.

No livro “Uma História da Assembléia Legislativa”, de Câmara Cascudo, consta o seu nome na relação dos deputados provinciais da 27* Legislatura -

1888/89 -, a última do período imperial.

Tal como seu avô - o Alferes distinguiu-se o Prof. Onoffe pelo espírito cívico, como bem demonstra a sua participação na Campanha Abolicionista. Foi ele um dos fundadores da sociedade libertadora que se instalou em Impe­ ratriz (Martins), já em 1884. Ocupou a Vice-Presidência. Demais membros:

Dr. Manoel André da Rocha (Presidente); Prof. Teófilo Orozimbo ( I o Sec.); Antonio Augusto de Souza (2o Sec ); Francisco da Costa Oliveira (Tesourei­ ro) e Zenon de Souza Martins (Orador).

“No ato da instalação - informa, em seu diário - foram entregues onze car­ tas de liberdade gratuitas”.

DEPOIMENTO

Há alguns anos, pedí ao meu primo e xará, Dr. Manuel Onofre de Andrade, escritor, Procurador de Justiça no Estado de Goiás, um depoimento sobre o seu ilustre avô. Transcrevo da carta que ele me enviou, o seguinte trecho, no qual se refere, micialmente, aos seus tempos de estudante na Faculdade de Direito do Recife:

“Para a “colônia” potiguar do Recife era o Prof. João Onofre um tribuno que empolgava e dotado, ainda, da boa presença física Latinista Abolicionista. Segundo Nestor Lima o Filgueiras, que chegaria a centenário, tinha de cór (memória prodigiosa) as orações de abolicionista de Almino Afonso, o chefe da campanha e logo depois, as do Prof. João Onofre. Ginasial, eu me carteava com ele. Suas cartas (a máquina de escrever ainda não era de uso geral) pri­ mavam por uma admirável caligrafia e estilo fugindo ao vulgar, com invoca­ ções históricas ou, às vezes, referências mitológicas, de influência decrescen­ te.

Chegana a vez de conhecê-lo Impressão física a se impor, naturalmente, puxando mais para alto. Vertical Figura serena e digna Naquelas horas, es­ cassas, de convivência com sua prole numerosa (de seu segundo casamento), a casa cheia de visitantes, aos quais me apresentava, não houve oportunidade de se expandir livremente, em palestras ffente-a-frente deste seu neto curioso.

Da segunda vez, vinha vê-lo, por mim acompanhado, depois de longa au­ sência no Amazonas, o meu saudoso pai.

A cativante sociedade martinense acorrera à casa do Prof. João Onofre. O ilustre Dr João Vicente, hoje do Tribunal de Justiça do Estado, fizera a sauda­ ção aos Onofres. E eu lhe agradecí, como neto, conceituando que, na árvore genealógica, os galhos se curvavam reverentes sobre as suas raizes (no caso o Prof. Onofre).

Naquela passagem rápida (eu tena que retomar à Delegacia Auxiliar de Natal) eu assistina a um Júri, com a atuação do Prof. Onofre, na promotona, que exercera por vários anos. Meus conhecidos vieram felicitar-me pela vee­ mência oratória dele, já na fase de septuagenário.

Certa vez, em carta, aludira a ramificações suas, de parentesco, em relação aos Câmaras (o que me confirmaria o vice-govemador Augusto Leopoldo Raposo da Câmara) e, também, os Távoras, dentre outras, versão admitida

por um parente de Juarez, alto funcionário do Ministério da Agricultura, no ' entroncamento” dos Pinheiros, originários do Ceará e atingindo - dizia - as­ sim, os Távoras.

Contara-me meu Pai que, na véspera de lances processuais de terra (no Amazonas) sem aviso prévio chegara meu avô ao Juruá, imponente em sua estatura e (ilegível), atuando, horas depois, a favor de meu Pai, na Justiça (ao tempo em Teffé) até a vitória forense, de poderes conjuntos com outro provisionado Bonfim.

Ausentando-me do Rio Grande do Norte, perdí a possibilidade de outros contactos ”

DA REVISTA DO INSTITUTO HISTÓRICO E GEO­

No documento Revista do IHGRN 1989-1990-1991 (páginas 112-117)