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Sabe-se que os alunos com AH/SD, grupo no qual se inserem os precoces, estão entre aqueles que apresentam necessidades educacionais especiais e, consequentemente, requerem educação especial. Todavia, o oferecimento de atenção educacional adequada a esses indivíduos perpassa inicialmente pela identificação, processo que muitas vezes é comprometido pelo pouco conhecimento que a sociedade possui em relação ao assunto, o que resulta na propagação de mitos, estereótipos e preconceitos, sobretudo por conta do desconhecimento dos educadores e demais profissionais da educação a respeito.

Ao pesquisar as concepções das professoras de uma instituição de Educação Infantil sobre o aluno precoce, Forno (2011) constatou a urgência de informações sobre as características desses alunos, bem como a propósito do corpo teórico da área, uma vez que cada uma das seis educadoras participantes do estudo, ao pautar-se em conceitos e concepções individuais, exprimiu uma ideia diferente sobre quem é o aluno precoce.

Marques (2013, p. 66) salienta:

Sendo o reconhecimento do aluno precoce uma ação pedagógica, composta de uma amplitude de opções de atendimento, torna-se ainda maior a importância do papel do professor neste processo, o que reforça a necessidade de uma base de formação sólida, essencial para atuar de maneira eficiente e eficaz.

Contudo, de acordo com Pérez (2006a, p. 55), “geralmente, os professores nunca ouviram falar do tema e nem sequer conhecem a legislação que obriga a atender esses alunos no ensino regular ou em salas de recursos”.

De acordo com a Lei 10.172 (BRASIL, 2001a) que aprova o Plano Nacional de Educação, no que concerne aos alunos com NEE, quanto mais cedo se iniciar a intervenção educacional, maior será a sua eficácia e seus efeitos no desenvolvimento desses educandos. Nesse sentido, alunos com AH/SD devem ser identificados precocemente e, conforme a referida lei, essa identificação deve ocorrer por meio da observação do comportamento e do desempenho do aluno.

Em relação às crianças com altas habilidades (superdotadas ou talentosas), a identificação levará em conta o contexto sócio-econômico e cultural e será feita por meio de observação sistemática do comportamento e do desempenho do aluno, com vistas a verificar a intensidade, a freqüência e a

consistência dos traços, ao longo de seu desenvolvimento (BRASIL, 2001a, p. 47).

Para Pérez (2006b), realizar a identificação de alunos com AH/SD por meio da observação do comportamento e do desempenho atribui ao professor o papel de protagonista desse processo. Sendo assim, surge a demanda por formação de professores em todos os níveis e etapas da Educação. Essa posição é condizente com o Plano Nacional de Educação, que reconhece que “não há como ter uma escola regular eficaz quanto ao desenvolvimento e aprendizagem dos educandos especiais sem que seus professores [...] sejam preparados para atendê-los adequadamente” (BRASIL, 2001a, p. 47).

Frente à precariedade da formação de educadores no que tange ao aluno com AH/SD, tivemos como um dos objetivos deste trabalho a elaboração de um manual de orientação para professores (APÊNDICE G), a fim de que os mesmos possam adquirir os conhecimentos mínimos necessários para a identificação inicial do aluno precoce com indicadores de altas habilidades/superdotação.

Dessa forma, incluímos definições teóricas; biografias exemplificadoras; possíveis dúvidas sobre o processo de identificação; instrumentos de identificação; listas de características de AH/SD; mitos sobre AH/SD; estratégias pedagógicas que favorecem a manifestação da potencialidade; cuidados a serem tomados; principais formas de atendimento e sugestões de leituras complementares.

O manual foi submetido à avaliação de dez educadoras de uma escola pública municipal, que analisaram a linguagem utilizada, os elementos tipográficos, o excesso ou a ausência de conteúdos e o manual como um todo. Do mesmo modo, reservamos um espaço para dúvidas, comentários ou sugestões opcionais.

No que diz respeito à linguagem empregada, todas as professoras julgaram- na clara. Os elementos tipográficos, mais precisamente a fonte e o tamanho da letra, foram avaliados como adequados. Quanto ao excesso de conteúdo, uma delas compreendeu que as biografias eram demasiadamente extensas e deveriam ser resumidas; por essa razão, procuramos condensá-las, contudo, não foi possível empreender modificações significativas, pois a exclusão de determinados fatos esvaziaria o sentido do relato de tais histórias de vida.

Não foram mencionados quaisquer conteúdos considerados importantes que, na opinião das avaliadoras, deveriam ser incluídos no manual. Porém, quanto à falta

de detalhes ou maiores explicações, uma educadora considerou necessária a determinação de uma quantidade mínima de características de AH/SD, para que se possa supor a presença de tais indicadores.

Com relação à avaliação geral do manual, todas as professoras o adjetivaram positivamente: bom, muito bom, significativo, esclarecedor, ótimo e excelente. Como justificativa, relataram sua clareza e facilidade de compreensão; a exemplificação dos casos de pessoas que são abrangidas pelo conceito de AH/SD, o que favorece o entendimento; sua importância na formação do professor para analisar, identificar e compreender as crianças com possíveis AH/SD; o esclarecimento dos mitos; as “dicas” e sugestões que oferece.

O espaço destinado aos comentários, dúvidas e sugestões opcionais foi utilizado por seis professoras. Estas expressaram satisfação pela leitura do manual que lhes trouxe novos conhecimentos e consideraram-no um instrumento que auxilia o professor a perceber, entender e ajudar o aluno com essa peculiaridade. A iniciativa da pesquisadora foi parabenizada e sugeriram a distribuição do material para todos os professores da rede. Uma das educadoras, além de avaliá-lo como necessário para todos os professores, também julgou importante que os pais tivessem mais conhecimentos sobre o assunto.

Registra-se ainda que, após a leitura do manual, três professoras procuraram a pesquisadora para falar sobre alunos e ex-alunos que passaram a preocupá-las e a lhes atrair a atenção, devido ao distanciamento do grupo em termos de rendimento escolar ou habilidades.

Em vista de tais avaliações, a alteração mais substancial residiu no estabelecimento de uma quantificação das características de AH/SD que apontasse um afastamento da média. Nesse sentido, ao analisarmos as fichas de características de AH/SD preenchidas pelos professores de uma escola pública, obtivemos a média de 35 características por aluno, de modo que a maioria das crianças apresentava de 31 a 40 características, como mostra a Tabela 3:

Tabela 3 – Distribuição dos alunos segundo o número de características de AH/SD apresentadas Características apresentadas Número de alunos

1 – 10 4 11 – 20 5 21 – 30 3 31 – 40 8 41 – 50 3 51 – 60 2 61 – 70 5 Acima de 70 0 TOTAL 30

Fonte: Elaboração própria.

Quanto às características apresentadas pelos alunos integrantes do PAPAHS, obtivemos uma média de 54 características, estando a maioria localizada no intervalo de 51 a 60 características, como se observa na Tabela 4:

Tabela 4 – Distribuição dos alunos do PAPAHS segundo o número de características de AH/SD apresentadas

Características apresentadas Número de alunos

1 – 10 0 11 – 20 0 21 – 30 1 31 – 40 0 41 – 50 3 51 – 60 4 61 – 70 2 Acima de 70 1 TOTAL 11

Fonte: Elaboração própria.

Dessa maneira, compreende-se que os alunos da escola regular que somam 45 características ou mais devem ser encaminhados aos serviços de educação especial, a fim de que sejam submetidos à avaliação pedagógica especializada. Porém, adverte-se que a ficha de características deve ser preenchida por professores que já estejam trabalhando com o aluno há algum tempo, no mínimo há um bimestre, pois a manifestação das características é paulatina e requer um período relativamente extenso de observações.