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Manuscrito 2 – Bullying: relação com satisfação, trabalho em equipe,

4. RESULTADOS

4.2 Manuscrito 2 – Bullying: relação com satisfação, trabalho em equipe,

Roberta Nazario Aoki, Dirceu da Silva, Edinêis de Brito Guirardello

Resumo

O bullying no ambiente de trabalho da enfermagem acarreta consequências negativas para o profissional e para a instituição. Além das manifestações físicas e psíquicas, pode repercutir na insatisfação com o trabalho e intenção em permanecer no emprego e na profissão. Objetivo: Avaliar a percepção de bullying por parte dos profissionais da enfermagem e sua relação com satisfação no trabalho, trabalho em equipe e intenção em permanecer no emprego e na profissão. Método: Estudo quantitativo, descritivo e transversal com dados referentes a um hospital de ensino do interior do Estado de São Paulo. Utilizou-se o Negative Acts Questionnaire Revised e as subescalas satisfação no trabalho e trabalho em equipe do Safety Atittudes Questionnaire, Short Form 2006, ambos na versão brasileira. Resultados: A maioria dos profissionais (60,9) relatou não exposição ao bullying, 9,7% relataram ser vítimas de bullying e 29,4% relataram atos negativos eventuais. A percepção de bullying apresentou correlação negativa com a percepção de trabalho em equipe e com a intenção em permanecer no emprego e na profissão. Conclusão: A percepção de bullying na instituição de saúde pode ser considerada baixa e não diferiu entre técnicos de enfermagem e enfermeiros. Ressalta- se o impacto negativo no trabalho em equipe e na intenção em permanecer no emprego e na profissão de enfermagem evidenciado com este estudo. A existência de um grupo de eventuais exposições a atos negativos reforça o alerta para a necessidade de implantação de medidas preventivas de bullying na instituição.

INTRODUÇÃO

O bullying é considerado um dos problemas mais comuns no ambiente de trabalho e tem sido relatado mundialmente1. Descrito como um comportamento sistemático, caracterizado pela constância de atos ofensivos, persistentes, com o objetivo de excluir ou afetar negativamente o indivíduo em seu ambiente de trabalho1, trata-se de um

problema mundial e de alta prevalência nos serviços públicos2. Ainda que presente em diferentes setores de trabalho, o bullying mostra-se mais evidente na área da saúde3, em especial entre os profissionais de enfermagem4.

Os estudos sobre bullying na enfermagem apresentam diferentes níveis de percepção sobre este fenômeno. Em um estudo realizado nos Estados Unidos, 40% dos enfermeiros relataram atos de bullying em seu ambiente de trabalho5, na Grécia foram 30% dos enfermeiros6. No Brasil, 29,65% dos enfermeiros admitiram serem vítimas de violência no trabalho7, sendo este índice semelhante ao de estudos internacionais 5-6.

O bullying afeta negativamente a saúde geral e mental do profissional8, manifesta- se por altos níveis de estresse, ansiedade, cefaleia e dores físicas que afetam o bem- estar fisiológico e psicológico, fatores considerados determinantes para a satisfação do profissional com o trabalho9.

A satisfação no trabalho é compreendida neste contexto como a sensação de contentamento com o ambiente laboral, podendo ser positiva ou negativa, de acordo com as vivências do profissional9. A percepção negativa do ambiente de trabalho é reflexo da queda de desempenho, da comunicação ineficaz, da negativa percepção do trabalho em equipe oriunda da deterioração das relações sociais com os colegas e superiores9. Assim, profissionais que vivenciam essas consequências dos atos de bullying em seu ambiente de trabalho relatam alta insatisfação profissional e intenção em deixar seus postos de trabalho9-10.

A insatisfação no trabalho e a intenção em não permanecer no emprego têm sido associadas à queda dos indicadores de qualidade na assistência ao paciente, como elevação das taxas de infecções e aumento da mortalidade, mostrando que o bullying não afeta somente o profissional, mas indiretamente traz consequências negativas aos pacientes11.

Frente aos desfechos desfavoráveis que comportamentos de bullying podem impor em ambientes de prática da enfermagem, o objetivo deste estudo foi avaliar a percepção de bullying no ambiente de trabalho da enfermagem e a relação com a satisfação e a intenção em permanecer no emprego e na profissão de enfermagem.

MÉTODO

Estudo quantitativo e transversal realizado em um hospital de ensino do interior do Estado de São Paulo. A instituição é referência no atendimento de casos de alta complexidade. A equipe de enfermagem desta instituição é composta por enfermeiros, técnicos de enfermagem, auxiliares de enfermagem e atendentes de enfermagem, totalizando 1.509 profissionais.

População e amostra

Para a população foram considerados todos os profissionais que compõem a equipe de enfermagem. O quadro de pessoal no momento da coleta de dados totalizava 1.509 profissionais, distribuídos entre enfermeiros responsáveis pelas atividades assistenciais e de gestão, além dos técnicos de enfermagem.

Considerou-se os enfermeiros e técnicos de enfermagem que desenvolvem atividades relacionadas à assistência de enfermagem, com idade igual ou superior a 18 anos e tempo de experiência igual ou superior a seis meses na instituição. Foram excluídos da amostra os sujeitos que ausentes no período de coleta de dados devido a licença-médica e licença-gestante.

Para o cálculo do tamanho mínimo da amostra foi considerada uma proporção p = 0,50, cujo valor representa a variabilidade máxima da distribuição binomial gerando, assim, uma estimativa com o maior tamanho amostral possível. Assumindo o erro amostral de 5%, o cálculo estimado foi de no mínimo de 306 profissionais entre enfermeiros e técnicos de enfermagem. Como critério de inclusão definiu-se que profissionais com tempo igual ou maior a seis meses de atuação na instituição estariam aptos ao estudo. Adotou-se como critério de exclusão o fato de profissionais estarem ausentes no período de coleta por motivo de férias e licenças-médica ou gestante.

Instrumentos de coleta de dados

Para a coleta de dados foram utilizados três instrumentos: a) ficha de caracterização pessoal e profissional; b) versão brasileira do Negative Acts Questionnaire

Revised (NAQ-R)12 e c) subescalas trabalho em equipe e satisfação no trabalho do Safety

Atittudes Questionnaire (SAQ) Short Form 2006 – versão brasileira13.

a) Ficha de caracterização pessoal e profissional: Contém dados de caracterização pessoal (idade, sexo e estado civil) e profissional, como formação profissional, tipo de vínculo empregatício, turno de trabalho e tempo de trabalho na unidade e na instituição. Além disso, continha duas questões sobre a intenção de permanecer no emprego e na enfermagem, com opções de resposta em uma escala Likert que variava de zero a dez, sendo que quanto maior a pontuação, maior a intenção em permanecer no emprego ou na profissão.

b) Negative Acts Questionnaire Revised (NAQ-R) - versão brasileira: Tem como objetivo mensurar a exposição ao assédio moral no local de trabalho12 e é composto por 23 itens, sendo que 22 itens abordam atos negativos relacionados à rotina do profissional no seu ambiente de trabalho. O sujeito é solicitado a responder, por meio de uma escala Likert, a frequência de ocorrência desses atos considerando as opções nunca (01 ponto), de vez em quando (2 pontos), mensalmente (3 pontos), semanalmente (4 pontos) e diariamente (5 pontos)14. Quanto ao item 23, contém a pergunta “Você já foi assediado no trabalho?”, seguida da definição de bullying. As opções de resposta variam de “não” (1 ponto) para “sim, quase diariamente” (5 pontos). Existem diferentes maneiras de analisar o NAQ-R14-15, entretanto, para o presente estudo foi adotada a

classificação da percepção de bullying utilizando como critério “ouro” a pontuação de corte para as 22 questões do NAQ-R15, no qual pontuações menores que 33 pontos indicam que o profissional não foi vítima de violência no ambiente de trabalho, valores entre 33 e 45 pontos indicam eventuais confrontos com atos negativos e valores acima de 45 pontos referem o profissional considerado como vítima de atos de bullying15.

c) Safety Atittudes Questionnaire (SAQ) Short Form 2006 – versão brasileira13: Utilizado a partir das variáveis trabalho em equipe e satisfação no trabalho extraídas das subescalas Trabalho em Equipe (itens 1 ao 6) e Satisfação no Trabalho (itens 7 ao 11), totalizando onze itens avaliados por meio de uma escala tipo Likert com as opções de resposta discordo totalmente (zero ponto), discordo em parte (25 pontos), neutro (50 pontos), concordo em parte (75 pontos) e concordo totalmente (100 pontos). Existe também a opção “não se aplica”, à qual não é atribuída nenhuma pontuação. Os pontos de cada item são somados e divididos pelo número total de itens que compõem a subescala, indicando que pontuações iguais ou maiores a 75 pontos são consideradas positivas e referem satisfação no trabalho(13). Deve-se salientar que o item dois da escala apresenta conotação negativa e foi codificado de forma reversa17.

Procedimentos de coleta de dados

Para o início do estudo foi realizado contato com a instituição de saúde e solicitada a autorização das chefias responsáveis. Após aprovação do estudo pelo Comitê de Ética em Pesquisa, iniciou-se a coleta de dados, efetuada pela própria pesquisadora, no período de abril a junho de 2018.

Ao longo deste processo solicitou-se o consentimento de cada supervisor de área para abordagem dos profissionais, que receberam o convite para participar da pesquisa e uma explanação sobre o conteúdo de cada envelope que continha duas vias do Termo e Consentimento Livre Esclarecido (TCLE), a ficha de caracterização pessoal e profissional e os instrumentos de coleta de dados. Os participantes informaram o melhor momento para a retirada dos instrumentos preenchidos e os envelopes foram devolvidos lacrados à pesquisadora, sendo em seguida codificados para alimentação do banco de dados.

Os dados foram organizados em planilha eletrônica do programa Excel 2007 do pacote Microsoft Office® e, posteriormente, foram transferidos para processamento e

análise no programa SPSS for Windows (Statistical Package for the Social Sciences), versão 22.0.

Os dados sociodemográficos foram apresentados em tabela de frequência com valores de frequência absoluta (n) e porcentagem (%) para as variáveis categóricas, sendo as variáveis contínuas descritas por medidas de posição (média, máximo e mínimo) e medidas de dispersão (desvio-padrão).

Após realização dos testes de normalidade, aplicou-se testes não paramétricos de correlação para as variáveis bullying, satisfação no trabalho e intenção em deixar o emprego e profissão. Valores entre 0,1 a 0,29 indicam correlação fraca, entre 0,30 a 0,49 moderada e maior ou igual a 0,50 indicam correção forte. Estes intervalos são aplicados também para coeficiente de correlação negativo16.

Aspectos éticos

A pesquisa foi aprovada pelo Comitê de Ética em Pesquisa da instituição participante (CAE nº 80893517.2.0000.5404) e todos os participantes preencheram o Termo de Consentimento Livre Esclarecido (TCLE) conforme recomendações da Resolução 466/2012 do Conselho Nacional de Saúde/Ministério da Saúde/MS.

RESULTADOS

Compuseram a amostra 350 profissionais de enfermagem, dos quais 118 são enfermeiros e 232 técnicos de enfermagem. A média de idade dos participantes foi de 40,2 anos (Mín= 21 anos, Máx= 68 anos; DP= 8,95). Demais características pessoais e profissionais estão apresentadas na Tabela 1.

Inicialmente, foram abordados 363 profissionais. Desses, 13 questionários foram excluídos da amostra por retornarem em branco ou incompletos, permitindo estabelecer taxa de resposta de 94,6%.

Quanto à formação profissional, 232 (66,3%) possuem o curso Técnico de Enfermagem e 118 (33,7%) possuem Graduação em Enfermagem. Em relação ao vínculo empregatício, a maioria dos profissionais (86,6%) possui apenas um vínculo de

trabalho. A Tabela 2 apresenta a frequência dos atos negativos percebidos pelos profissionais de enfermagem, mensurados pelo Negative Acts Questionnaire – Revised – versão brasileira, analisada adiante.

Tabela 1 – Descrição das características da amostra. Campinas, SP, Brasil, 2018.

Variável n % Sexo Feminino 295 84,3 Masculino 55 15,7 Estado civil Solteiro 78 22,3 Casado 190 54,3 União Estável 39 11,1 Separado/divorciado/viúvo 43 12,3 Categoria Profissional Enfermeiros 118 33,7 Técnicos de Enfermagem 232 66,3 Última Formação Curso Técnico 166 47,4 Graduação 94 26,9 Residência/ Especialização 73 20,6 Mestrado 14 4,0 Doutorado 03 0,9 Turno Manhã 123 35,1 Tarde 111 31,7 Noite 78 22,3 Outro 38 10,9

Outro vínculo empregatício

Sim 47 13,4

Tabela 2 – Frequência dos atos negativos percebidos pelos profissionais de enfermagem e mensurados pelo Negative

Acts Questionnaire – Revised – versão brasileira, (n=350). Campinas, SP, Brasil, 2018.

It

ens Atos Negativos Nu

n ca De v ez em q u and o Me n sa lmen te S em an alment e Diar iament e n % n % n % n % n % 1 Alguém reteve informações que podem afetar o seu desempenho no

trabalho 139 39,7 162 46,3 18 5,1 23 6,6 8 2,3

2 Foi humilhado ou ridicularizado em relação ao seu trabalho 211 60,3 122 34,9 6 1,7 2 0,6 9 2,9 3 Foi obrigado a realizar um trabalho abaixo do seu nível de competência 212 60,6 96 27,4 13 3,7 11 3,1 18 5,1 4 Áreas ou tarefas de sua responsabilidade foram retiradas ou substituídas

por tarefas mais desagradáveis ou mais simples 224 64,0 94 26,9 11 3,1 10 2,0 11 3,1 5 Espalharam boatos ou rumores sobre você 173 49,3 142 40,6 16 4,6 7 2,0 12 3,4 6 Foi ignorado, excluído ou “colocado na geladeira” 229 65,4 98 28,0 12 3,4 2 0,6 9 2,6 7 Foram feitos comentários ofensivos sobre a sua pessoa (isto é, sobre

hábitos seus ou suas origens), suas atitudes ou sobre sua vida privada 221 63,1 111 31,7 7 2 2 0,6 9 2,6 8 Gritaram com você ou você foi alvo de agressividade gratuita (ou

demonstraram ter raiva de você) 223 63,7 105 30 10 2,9 4 1,1 8 2,3 9 Foi alvo de comportamentos intimidativos tais como “apontar o dedo”,

invasão do seu espaço pessoal, empurrões, bloqueio de seu caminho ou passagem

10 Recebeu sinais ou dicas de que você deve pedir demissão ou largar o

trabalho 298 85,1 39 11,1 6 1,7 1 0,3 6 1,7

11 Foi constantemente lembrado dos seus erros e omissões 255 72,9 80 22,9 9 2,6 1 0,3 5 1,4 12 Foi ignorado ou foi recebido com uma reação hostil quando tentou uma

aproximação 215 61,4 114 32,6 10 2,9 3 0,9 8 2,3

13 Recebeu críticas persistentes ao seu trabalho ou esforço 224 64,0 108 30,9 10 2,9 2 0,6 7 1,7 14 Suas opiniões e pontos de vista foram ignorados 159 45,4 156 44,6 15 4,3 10 2,9 10 2,9 15 Pessoas com as quais você não tem intimidade lhe aplicaram “pegadinhas” 261 74,6 78 22,3 5 1,4 0 0 6 1,7 16 Foi solicitado a realizar tarefas despropositadas ou com um prazo

impossível de ser cumprido 257 73,4 70 20,0 9 2.6 4 1,1 10 2,9 17 Foram feitas alegações contra você 256 73,1 83 23,7 3 0,9 3 0,9 5 1,4 18 Supervisão excessiva de seu trabalho 223 63,7 92 26,3 11 3,1 13 3,7 11 3,1 19 Foi pressionado a não reclamar um direito que você tem (p ex., afastamento

do trabalho, feriado, adicional de salário, bônus, despesas de viagem etc.) 250 71,4 79 22,6 10 2,9 0 0 11 3,1 20 Foi submetido a sarcasmos ou alvo de brincadeiras excessivas 259 74,0 72 20,6 7 2,0 5 1,4 7 2,0 21 Foi exposto a uma carga de trabalho excessiva 175 50 117 33,4 25 7,1 17 4,9 16 4,6 22 Foi ameaçado de violência ou abuso físico ou foi alvo de violência real 318 90,9 25 7,1 1 0,3 1 0,3 5 1,4

Para a avaliação da percepção do bullying pelos profissionais de enfermagem avaliou-se, primeiramente, a frequência de ocorrência de atos negativos (Tabela 2). No que se refere ao item 23 do NAQ-R, que aborda a pergunta “Você já foi assediado no trabalho?”, verificou-se que 264 (75,4%) dos profissionais responderam a opção “Não”; 52 (14,8%) a opção “Sim, muito raramente”; 24 (6,8%) para a opção “Sim, de vez em quando”; 6 (1,7%) para “Sim, várias vezes na semana” e 4 (1,1%) para a opção “Sim, quase diariamente”.

Em um segundo momento deu-se a classificação da exposição do bullying, considerando o padrão ouro15,que analisa a resposta de cada pessoa individualmente. Assim, pontuações forem menores que 33 pontos indicam a não exposição ao bullying, pontuações entre 33 e 45 pontos indicam exposição eventuais a confrontos com atos negativos e valores acima de 45 pontos significará que a pessoa foi vítima de atos de bullying (Tabela 3).

Tabela 3 - Classificação de exposição ao bullying pelo Negative Acts Questionnaire

Revised – versão brasileira. (n=350). Campinas, SP, Brasil, 2018.

Exposição a atos negativos no

trabalho n %

Não expostos 213 60,9

Eventualmente expostos 103 29,4

Expostos 34 9,7

Ao avaliar se os profissionais diferem na percepção de bullying, os resultados apontaram que não há diferença estatística significante entre os enfermeiros e técnicos de enfermagem (p=0,49).

Considerando que o NAQ-R possui também uma questão subjetiva que corresponde ao item 23 “Você já foi assediado no trabalho?”, avaliou-se a existência de correlação deste comportamento com os demais itens do NAQ-R que abordam atos negativos no ambiente de ambiente de trabalho. Os resultados apontaram um coeficiente de correlação de Spearman de 0,47 (p<0,001).

Na avaliação da percepção do clima de trabalho em equipe, a média de pontuação da subescala Trabalho em Equipe foi de 66,54 (DP= 11,09) e a média da subescala Satisfação no Trabalho foi de 75,51 (DP= 13,21). Em relação à intenção em permanecer no emprego atual, a média da pontuação atribuída foi 8,98 (DP =2,06) e a intenção em permanecer na profissão de enfermagem recebeu pontuação média semelhante: 8,85 (DP= 2,10). As correlações obtidas com os testes não paramétricos de Spearman estão representados na tabela 4.

Tabela 4 – Correlação entre percepção de bullying e as variáveis satisfação no trabalho,

trabalho em equipe e intenção em permanecer no emprego e profissão.

r p Valor

Satisfação no trabalho -0,13 0,143

Trabalho em Equipe -0,31 0,001

Intenção em Permanecer no emprego -0,20 0,029

Intenção em Permanecer na profissão -0,16 0,680

Na avaliação da correlação entre a percepção de bullying e a variável satisfação no trabalho, o coeficiente obtido foi -0,13 e p =0,143. A variável trabalho em equipe foi correlacionada a percepção de bullying e o valor da correlação foi r= -0,31 e p=0,001.

Ao correlacionar a intenção em permanecer no emprego ao bullying, o coeficiente foi r= -0,17 e p =0,001 .Para a variável intenção em permanecer na profissão, o valor da correlação foi r = -0,15 e p=0,004.

DISCUSSÃO

O estudo abrangeu enfermeiros e técnicos de enfermagem de uma instituição pública de saúde e o perfil dos participantes aproximou-se de outros estudos internacionais(17) e nacionais(18): Na análise da percepção de bullying, a maioria dos profissionais (60,9%) não relatou bullying no ambiente de trabalho, enquanto 9,7% dos

profissionais de enfermagem relataram perceber-se vítimas em seu local de trabalho e 29,4% afirmaram que confrontaram eventualmente atos negativos no ambiente profissional. No que se refere à pergunta aberta apresentada no final do instrumento, 75,4% dos profissionais relataram que não sofreram bullying nos últimos seis meses.

Considerando que este estudo investigou a percepção de bullying no ambiente da prática profissional da equipe de enfermagem e a relação desta percepção com a satisfação no trabalho, com o trabalho em equipe e a intenção em permanecer na profissão e no emprego atual, verifica-se que os números obtidos aproximam-se da prevalência identificada em estudo realizado por pesquisadores na Coréia do Sul19 e que apontaram que 25,6% dos entrevistados referiram sofrer atos de bullying em seu ambiente de trabalho. Também na Coréia, mas em uma Unidade de Terapia Intensiva, os índices de bullying, dentro dos critérios estabelecidos de temporalidade, também ficaram em torno de 25% dos profissionais de enfermagem entrevistados20.

Por outro lado, pesquisa realizada na região norte do Brasil22 aponta para índices opostos aos encontrados neste estudo. Pesquisadores apontaram que a prevalência de bullying naquela região alcançou índices alarmantes próximos a 74% dos enfermeiros entrevistados. Possíveis razões para essa discrepância entre as prevalências envolvem a diversidade cultural entre as regiões brasileiras e também a diferença dos critérios de temporalidade empregados na conceituação do comportamento de bullying, que neste estudo obedeceu escores propostos por Notelaers e Einasern15, conforme notas de corte para as pontuações do instrumento.

Apesar da baixa percepção de bullying pela equipe de enfermagem, os profissionais classificados como eventuais vítimas de bullying devem ser considerados como um grupo de alerta para os gestores da instituição, uma vez que as percepções eventuais podem evoluir para níveis mais elevados15.

É importante destacar que, neste estudo, a percepção da ocorrência de bullying não diferiu entre técnicos de enfermagem e enfermeiros. Entende-se esta amostra que questões relacionadas a hierarquia e aos processos de trabalho, citados em estudo como fatores potencializadores para o comportamento de bullying, não foram fatores relevantes para as percepções de atos negativos no ambiente laboral21.

Quanto à satisfação profissional, o escore de 75,51 indica percepção positiva da satisfação com o trabalho e não houve correlação desta variável com a percepção de bullying indicada pela análise do NAQ-R. Este resultado pode ser relacionado à ausência de percepção de bullying pela maioria dos profissionais, uma vez que a alta prevalência de atos negativos tem sido associada a uma maior insatisfação com o ambiente de trabalho11,22.

Em relação à percepção do trabalho em equipe, observou-se neste estudo que atos negativos no ambiente de trabalho apresentaram correlação negativa com a percepção de trabalho em equipe, demonstrando que quanto maior a percepção de bullying do trabalhador, menor a cooperação e qualidade das relações entre os profissionais no ambiente de prática profissional. Naweri et al.22, em estudo realizado na Nigéria, afirmaram que o bullying afeta diretamente a relação da equipe de enfermagem com os demais profissionais. A convivência com sentimentos como raiva e frustração provoca insustentáveis condições de permanecer no emprego, e neste estudo os enfermeiros relataram a intenção em deixar o emprego na Nigéria em busca de segurança e realização profissional em outras culturas com melhores programas de prevenção ao comportamento de bullying no trabalho.

Os resultados apresentados por Naweri22 retratam uma condição que pode ser considerada semelhante aos achados deste estudo. Apesar de relatarem a intenção em viajar em busca de melhores condições, os enfermeiros nigerianos não pretendiam abandonar a profissão. Neste estudo, apesar da intenção em deixar o emprego estar correlacionada negativamente com a percepção de bullying, os profissionais de enfermagem não relataram intenção em deixar a profissão, demonstrando possivelmente que são as experiências negativas vivenciadas no contexto recente da prática profissional que despertam a intenção em deixar suas atividades na instituição.

Assim como no estudo realizado na Nigéria, e corroborando com outras investigações internacionais19,23-25, os achados deste estudo mostram que o bullying percebido pela equipe de enfermagem apresentou correlação negativa com a intenção em deixar o emprego atual. Recente pesquisa realizada nos Estados Unidos apontou que o bullying pode afetar negativamente o desempenho do profissional, uma vez que os

indivíduos se julgam menos capacitados para lidar com os desafios vivenciados no ambiente de saúde atual25.

Frente aos achados deste estudo, observa-se que o comportamento de bullying não afeta o profissional apenas em esferas pessoais. As variadas repercussões negativas do bullying mostram-se como um comportamento perturbador para as políticas institucionais de saúde que devem gerenciar os efeitos causados pelos turnover26, que

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