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Manutenção e aproveitamento do relevo original

4 ATRIBUTOS DO LUGAR: ABORDAGENS COSTIANAS

4.1 O TERRENO

4.1.2 Manutenção e aproveitamento do relevo original

Na memória de projeto da Vila Monlevade (1934) a manutenção do relevo original aparece como um fator determinante para a escolha do pilotis como sistema construtivo principal, especialmente no caso das unidades habitacionais, provocando intervenções mínimas com a implantação dos edifícios. O arquiteto enumera no texto os benefícios do uso do pilotis:

(...) procuramos, na solução adotada, levando na devida conta a acentuada aclividade do terreno – atender ao seguinte:

1º - Evitar os inconvenientes, difíceis sempre de remediar, dos delineamentos rígidos ou pouco maleáveis, procurando, pelo contrário, aquele delineamento que se apresentasse como mais elástico, tornando assim fácil a sua adaptação conveniente às particularidades topográficas locais; 2º - Reduzir ao mínimo estritamente necessário as despesas com movimentos de terra que, supérfluo se torna frisar, tanto poderiam encarecer o custo global da obra;

3º - Prejudicar o menos possível a beleza natural do lugar a que se refere, muito a propósito, o programa (IDEM, 2007, p. 42-43).

E ainda:

(...) o emprego do pilotis se recomenda, ou melhor, se impõe, por vários motivos:

a) dispensa, para a implantação da obra, movimentos de terra – seja qual fôr [sic] a aclividade local;

b) reduz de 90% a abertura das cavas e respectivas fundações;

c) permite o emprego, acima da laje – livre, portanto, e qualquer umidade – de sistemas construtivos leves, econômicos e independentes da subestrutura(...);

d) torna fácil manter para tôdas [sic] as casas – em razão dos poucos pontos de contato com o terreno – orientação vantajosa uniforme;

e) restitui ao inquilino – protegido do sol e da chuva – tôda [sic] a área ocupada pela construção, assim transformada em espaço útil, o mais agradável talvez para trabalhos caseiros, recreio, repouso, etc, importando, essa aquisição, efetivamente, numa sensível valorização, locativa do imóvel (IDEM, p. 43-45).

Na memória de projeto da Universidade do Brasil (1937) Costa se diz “preso ao terreno previamente escolhido” (IDEM, p. 67). Partido e programa estariam condicionados ao terreno, cujas peculiaridades são detalhadas no texto, como se observa no trecho a seguir:

Assim fixados, examinemos agora o terreno: 2.000.000 de m2, de um lado o morro dos Telégrafos (M), do outro a Quinta da Boa Vista (Q), ao fundo a pequena colina (C) e, cortando a parte restante, as linhas da Estrada de Ferro Central do Brasil e Leopoldina Railway (IDEM, p. 68).

Um morro existente no local e uma porção plana do lote, denominada de “parte sã do

terreno”, foram tomados como pontos de referência para a localização dos equipamentos que compõem o complexo universitário:

Neste terreno, o partido a ser adotado deveria inicialmente ainda atender (...) a conveniência de se aproveitar, tanto quanto possível, a parte plana e desimpedida do terreno; (...) a necessidade de situar definitivamente a entrada principal da Universidade, porquanto a entrada pela Quinta – aparentemente razoável – teria de ser logo posta de lado em razão da própria topografia do lugar (IDEM).

No projeto para a Quinta do Rouxinol (1953) Costa se mostra preocupado com as

características topográficas do terreno, conforme demonstra em carta escrita para a sua filha Maria Elisa em 1960:

A topografia do terreno impõe certa maleabilidade na implantação do partido escolhido, e isto, aliás, com vantagem, porque os aclives e declives, forçando a fragmentação do tema original e a sua eventual distorção, contribuem – como a intuição do Eduardo já o havia assinalado – para as variadas surpresas visuais e a consequente animação do conjunto apesar da padronização (IDEM, 1960).

No texto fica claro que a conformação natural do terreno é um aspecto definidor da forma de alguns edifícios do conjunto:

O estudo dos diferentes setores levou ao exame arquitetônico dos partidos possíveis para as várias unidades. Assim, por exemplo, como a praça semi-circular, que resultou da confluência dos caminhos, cai sensivelmente para o lado, pareceu conveniente aproveitar esse caimento natural e localizar ali o cinema-auditório, ficando a platéia à feição do terreno e o conjunto portanto mais baixo (IDEM).

Na memória descritiva do plano de ocupação da Barra da Tijuca (1969) os aspectos topográficos do local aparecem como ponto de partida para as decisões futuras do projeto:

Vê-se pois o governo do Estado e, portanto, a SURSAN e o próprio DER diante de uma série de indagações: Qual o destino dessa imensa área triangular que se estende das montanhas ao mar numa frente de vinte quilômetros de praias e dunas e que, conquanto próxima, a topografia preservou? Em que medida antecipar, intervir? Como proceder? E, consequentemente, diante da necessidade de estabelecer determinados critérios de urbanização capazes de motivar e orientar as providências cabíveis no sentido de implantação da infraestrutura indispensável ao

desenvolvimento ordenado da região (IDEM, 1995, p. 346).

A residência do compositor Edgard Duvivier e da cantora Olívia Byington é lembrada por Costa em dois textos: uma carta, dos anos 1980, endereçada ao então prefeito do Rio de Janeiro, Marcello Alencar, ao qual Costa solicita autorização para a construção de um estúdio: “Como o terreno é de forte declive e a parte plana da frente foi preservada como jardim, foi necessário criar uma estrutura de sustentação da parte da casa em balanço, já que vista da rua ela é térrea e, devido à topografia, fica escondida” (IDEM, 1980); e ainda um texto avulso, dos anos 1990:

Vista da rua é térrea, mas despenca em quatro pisos para o abismo, e com a particularidade de dispor de pequenas sacadas alpendradas, privativas dos quartos, voltadas para a deslumbrante vista e para a copa das árvores. (correção na margem: para a copa próxima das árvores e para a deslumbrante vista) (IDEM, 1990).

Na memória descritiva do Plano Piloto (1957) Costa fala, muito brevemente, de uma “adaptação à topografia local” (IDEM, 1995, p. 284).