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Passado esse período e construída a praça no lugar do cemitério, o problema era a aparência do cemitério municipal, edificado em 1898. A falta de túmulos não dava um aspecto “digno” para os visitantes e isso foi sendo modificado através de ações no ano de 1918.

Aos poucos o campo santo de Uberabinha vai se tornando povoado de tumulos que o tornam menos monotono e mais digno de ser visitado. Ainda gera nos últimos mezes, graças à operosidade do empreiteiro e constructor sr.JulioGhedini foram construídos dezesete modernos tumulos entre capellas e alegretes de flores que tiraram aquelle peso que predominava o descanço eterno dos mortos...129.

Na mesma crônica que elogia o agora aspecto agradável do cemitério, aponta para problemas que até a desconstrução da outra necrópole não eram abordados, como, por exemplo, a higiene do local e o terreno acidentado:

...Também a posição topográfica, o diminuto espaço e as faltas de zelo e higiene observadas pelo funcionário que desempenha as funções de zelador, tem concorrido para que a população de Uberabinha se afaste do Campo Santo temerosa de ver ossadas humanas ou pedaços de craneos expostos a vista. A digna autoridade a quem esta entregue a direção do municipio certamente vai tratar de adquirir o terreno necessário a ampliação do cemitério criando um regulamento interno que possa ser observado pelo zelador130.

Outro fator aludido na crônica acima é a ampliação do cemitério. Ao que indicam as fontes do período, a epidemia de gripe, a “Influenza Hespanhola”, fora a responsável por uma série de problemas para a administração municipal. Importante lembrar que esse vírus assolou várias cidades brasileiras no final da década de 1910. Exemplo disto é a descrição feita por Nicolau Sevcenko sobre a situação em São Paulo diante da Influenza, quando afirma que a gripe que já havia atingido a Europa, “caíra sobre a cidade com uma voracidade que evocava a peste

negra medieval: em alguns meses prodigalizou São Paulo de valas coletivas lotadas de cadáveres, como não poucos moribundos atirados às fossas ainda vivos de permeio, nas correrias desencontradas do pânico”131. A mesma epidemia causara pânico em Porto Alegre

entre os anos de 1916-1920132.

Além dos gastos relacionados a um atendimento emergencial com a saúde, ao ponto de criar a Cruz Vermelha na cidade em conjunto com a Santa Casa de Misericórdia, Irmandade São Vicente de Paulo e médicos oriundos de outras regiões, especialmente para atender os mais

129 08/12/1918. Cemitério Local. A Notícia. Autor desconhecido. Proprietário, Sr. Umberto Giffoni. Redator chefe,

Sr. A. Peppe., Ano 01, nº 22, p.1. Arquivo Público Municipal de Uberlândia.

13008/12/1918. Cemitério Local. A Notícia. Op. Cit. Arquivo Público Municipal de Uberlândia. 131 SEVCENKO, 2000. Op. Cit., p.24.

pobres133, o governo municipal decretou a lei nº 212 que destinava verbas para os gastos na

campanha contra a gripe134. Contudo, o número de óbitos, conforme tabela abaixo, cresceu

consideravelmente entre 1917 e 1919.

TABELA 2 - Município de Uberabinha – Estudo demográfico 1910-1920

ANO População Nascimentos Média Óbitos Média

1910 17251 531 30.0 282 16.4 1911 17768 584 32.8 229 12.8 1912 18303 624 34.1 249 12.6 1913 18855 613 32.5 185 9.8 1914 19428 630 32.9 171 9.3 1915 20005 686 34.3 211 10.5 1916 20632 708 34.3 238 11.1 1917 21250 738 34.8 293 13.8 1918 21600 791 36.6 490 23.1 1919 22285 682 30.7 254 11.4 1920 22956 867 37.7 231 10.4

MUNICÍPIO DE UBERLÂNDIA – ESTUDO DEMOGRÁFICO. 6º Período / 3º Recenseamento Geral. 13/8/1942. A

Tribuna. Autor: Sr. Othon Gaudie Fleury. Redator e diretor proprietário: Sr. Agenor Paes. Ano 24, n° 1608, p.2.

Arquivo Público Municipal de Uberlândia.

Sobre a Santa Casa de Misericórdia e a situação da saúde em Uberabinha é importante ressaltar que a mesma teve sua origem na cidade em meio a essa situação emergencial. Conforme explica Rafael Ribeiro, “A Santa Casa, instituição que prestava atendimento médico às pessoas

pobres e indigentes, foi criada em 1918 pela Irmandade Misericórdia de Uberabinha”135.

Segundo o autor, a instituição sofreu com revezes, em função das crises financeiras e falta de apoio, e assim “contando com o apoio de duas irmãs belgas Celina e Helena que, como

enfermeiras formadas, assistiam aos médicos da cidade nos procedimentos clínicos e cirúrgicos.”136 Mesmo com um prefeito farmacêutico, João Severiano Rodrigues da Cunha no

executivo entre 1912-1922, no momento em que a gripe espanhola atingiu Uberabinha, e atento aos projetos sanitaristas137, a falta de apoio à Santa Casa apresenta um quadro de como a saúde

133 18/12/1918. Livres do Pesadelo. A Notícia. Autor desconhecido. Proprietário, Sr. Umberto Giffoni. Redator

chefe, Sr. A. Peppe., Ano 01, nº 23, p.1.Arquivo Público Municipal de Uberlândia.

134 “A câmara municipal, por seus vereadores decreta: Artigo 1º Fica o senhor Agente Executivo municipal

autorizado a dispender da importância de 8:500$000 como auxílio à “cruz vermelha” desta cidade, para satisfazer o déficit da mesma sociedade, relativo ao despendio e socorro aos doentes afetados pela epidemia da “Influenza Hespanhola” que asolou nosso municipio podendo ser a referida importância da verba de obras públicas”. Ata de 13/12/1918. Livro 15, p. 49 verso. Arquivo Público Municipal de Uberlândia.

135 RIBEIRO, 2006. Op. Cit., p.43. 136 Idem, p.43.

foi tratada naquele período, e que pode ter contribuído para o aumento dos óbitos durante a Influenza Hespanhola na cidade.

Enquanto no ano de 1917, o número de mortes foi de 293 na cidade com população de 21.250 habitantes, no ano de 1918, em que a cidade, nos meses de outubro e novembro fora atingida pela gripe, o número de óbitos atingiu a marca de 490 em uma população de 21.600. No ano seguinte, 1919, sem os efeitos da gripe, Uberabinha que contava com 22.285 habitantes obteve um número menor de mortes, semelhante a 1917 o número foi de 254 óbitos, mantendo uma média da década.

Um dado interessante é registrado pelo Cônego Pedro Pezzutti em Munícipio de

Uberabinha: História, Administração, Finanças e Economia. Segundo uma média feita pelo

autor, descontando o ano de 1918, ano da epidemia da gripe espanhola, o coeficiente de óbitos por mil habitantes no município ficaria em 14,50. Ainda assim, em uma tabela comparativa com outras cidades do Brasil e do exterior, Uberabinha aparece em 5° lugar, ficando somente atrás de Sidney, Manchester, Nova York e Chistiania, sendo a melhor ranqueada entre as cidades nacionais. O autor assim conclui diante dos dados levantados: “Do exposto resulta que,

possuindo um clima magnífico, as condições sanitárias de Uberabinha são excelentes, sendo a porcentagem de sua mortalidade mínima comparada com as maiores cidades do Brasil e do Universo”138.

As fontes não afirmam categoricamente que o número de mortes aumentou em função da gripe, como ocorrido em São Paulo a ponto de realizarem sepultamentos às pressas como em Porto Alegre, onde chegou a faltar condução fúnebre139. Também não declaram que o crescente

número de óbitos de 1918 fora o causador da lotação do espaço cemiterial de Uberabinha. O fato é que, após passada a epidemia, as reclamações nos periódicos, como as discussões na Câmara sobre o que fazer diante da lotação da necrópole, se tornaram frequentes.

No ano 1919, mais especificamente em 02 de maio é aprovada a lei de nº 218, que autoriza o senhor Agente Executivo Municipal a ampliar o Cemitério Municipal. Sobre essa lei, o periódico A Notícia, na mesma edição que traz a lei na integra:

138 PEZZUTTI, 1922. Op. Cit., p. 48. 139 DILLMANN, 2013. Op. Cit, p.212

A Camara Municipal por seus vereadores decretou e sancciona a seguinte lei: Artigo 1. Fica ô snr. Agente Executivo autorisado a entrar em accordo com os proprietarios dos terrenos situados nas immediações do cemitério desta cidade e necessarios a ampliação deste, afim de que os referidos terrenos sejam desapropriados por utilidade publica.140

Na mesma edição é comentada a decisão da Câmara Municipal no periódico A Notícia: Tem a data de 2 deste, uma lei da nossa Câmara Municipal que autoriza a aquisição de terrenos nas adjacencias do Cemitério Municipal, com o fim de poder ampliá-lo, melhorando-o convenientemente.Deixamos de encarecer o acerto dessa medida uma vez que ela constitue uma das constantes reclamações desta folha, como de toda a população de Uberabinha. A posição topográfica do nosso Campo Santo só por si vem exigindo de nossa administração municipal um remédio capaz de não nos envengonhar diante de qualquer visita que tenha o religioso desejo de visitar a cidade dos mortos, e não fosse o bastante justificável esse motivo, um outro viria a corroborar pela necessidade de ser aumentado aquele próprio e essa justificativa é a sua excessiva pequenez comparada com o número de habitantes do municipio embora seja salubérrima toda a faixa territorial de Uberabinha. Louvando, pois, mais esse gesto de nossa edilidade, esperamos que com o aumento a ser feito no Cemitério Local, uma nova organização administrativa seja dada, não só na parte de higiene como também na divisão das quadras, na venda de terrenos perpetuos etc. Sem que seja esquecido um bem organizado serviço de registro, em livros apropriados, como se usam em todos centros adiantados141.

Um ano após a criação da lei e sendo que o projeto ainda não havia sido executado, a Câmara de Uberabinha tratava, pelo menos em discurso, na seção “O que é preciso fazer?”142 o

cemitério como obra mais urgente. Na crônica Cypestres de 19/09/1920, citada anteriormente, onde o autor apontava que os melhoramentos urbanos que eram elogiáveis não podiam deixar de lado a cidade dos mortos que tinha sua lotação esgotada, mostra que a situação quando da aprovação da lei em 1919 já não era confortável.

Ainda que a prefeitura tratasse do assunto, publicando inclusive o relatório no mesmo periódico, reafirmando que a obra no cemitério deveria ser a mais urgente, “Nenhuma outra obra

se nos afigura de maior urgência que a ampliação do cemitério, já adiada desde o ano passado. Está inteiramente esgotado o espaço para os enterramentos”143 pois o mesmo estaria lotado, já

tinha inclusive aprovado outra lei, a de número 255 de 19/09/1921, que tratava da construção de outro cemitério, com projeto do muro e suntuoso portão de entrada pronto, elaborado pelo engenheiro Joaquim Azzelli, datado também de setembro de 1921, conforme imagem abaixo:

140 18/05/1919. Lei nº 218 de 2 de Maio de 1919.A Notícia. Autor desconhecido. Proprietário, Sr. Umberto Giffoni.

Redator chefe, Sr. A. Peppe. Ano 01, nº 43, p.2.

141 Idem, p. 1.

142 17/05/1920. Atas da Câmara Municipal. Livro 16. p. 30 frente. Arquivo Público Municipal de Uberlândia. 143 08/08/1920. Relatório do Agente Executivo Municipal. A Tribuna. Autor desconhecido. Redator e diretor

PLANTA 1 - Parte da planta de fachada do Cemitério Municipal. Projeto não executado de