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MAPEANDO A SITUAÇÃO DOS ESTUDANTES COM DEFICIÊNCIAS, NAS IES BRASILEIRAS

1 INSERÇÃO DA TEMÁTICA

1.3 MAPEANDO A SITUAÇÃO DOS ESTUDANTES COM DEFICIÊNCIAS, NAS IES BRASILEIRAS

Nessa sessão, apresentaremos um panorama da situação dos Cotistas B nas IES Brasileiras, tendo em vista os dados estatísticos da educação superior dos estudantes com deficiência, disponibilizados pelo INEP17 e discutido em Brasil (2014).

Embora esse não consista no objetivo desta pesquisa, consideramos importante desenvolver um mapeamento breve da condição desses alunos, visando identificar a região do país que mais matricula pessoas com deficiência e que tipo de rede de ensino mais recebe esse perfil de aluno.

O objetivo principal desse mapeamento foi verificar se houve um aumento no número de estudantes matriculados nas IES brasileiras, tendo em vista os dados expressos pelo INEP. Além disso, na compreensão do universo que gira em torno do tema da aprendizagem da docência diante da inclusão no ES, pretendíamos averiguar a relação matrícula/conclusão dos estudos, considerando que as pessoas com deficiência expressa percentuais altos de trancamentos e desvinculamentos institucionais, o que pode estar associado ao despreparo formativo dos professores no ensino de Cotistas B.

No período que compreendeu 2003- 2012, tem-se o intervalo de tempo entre 2008- 2009 como o momento de maior ingresso de pessoas com deficiência, nas IES. Consideramos que esse acréscimo de matriculados está intimamente ligado aos impactos do Decreto

17 Os dados que compõe esta sessão desta Tese foram cedidos via e-mail pela Coordenação Geral de Sistema

Integrado de Informações Educacionais Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira, no ano de 2014, consistindo, até a data de defesa deste estudo, como os dados mais atualizados. Sendo assim, não tivemos acesso, aos dados estatísticos da educação superior dos estudantes cotistas após 2012, o que impediu-nos de apresentar o mapeamento completo da situação deles. Todas as informações que constam aqui sofreram processo de análise estatística, o que permitiu a sistematização dos dados em forma de quadros e gráficos. É importante esclarecer que o INEP utilizou a expressão ―alunos portadores de necessidade especiais‖ para se referir ao que nomeados, neste estudo, como ―pessoas com deficiência‖ ou ―Cotistas B‖.

Presidencial nº 5296, denominado Lei da Acessibilidade, de 2004; das propostas de acessibilidade lançadas pelos programas; PROUNI, FIES, INCLUIR e, principalmente, aos reflexos do Plano Nacional de Educação em Direitos Humanos de 2007.

Assim, consideramos que a compreensão do universo que gira em torno do tema inclusão no ES, pode lançar dados que geram reflexões para estudos futuros. Pesquisas que sejam capazes de ilustrar a relação entre formação docente, aprendizagem significativa e conclusão dos estudos universitários de pessoas com deficiência, considerando a produção de conhecimentos que possam contribuir para o desenvolvimento de estratégias de trabalho a serem empregadas nas instituições do país, que mais matriculam esses alunos ou que estejam necessitando mais de apoio.

A inclusão em IES se caracteriza como um tema cada vez mais presente na Educação Superior. Isso pode ser percebido a partir do que está expresso no Quadro abaixo, porque mostra um aumento nas matrículas de estudantes incluídos de 10%, em média, no período que compreendeu 2009-2012. Esse aumento pode ser considerado significativo, mesmo ao considerarmos a queda de -3% nas matrículas do ano de 2010. Observemos isso expresso no Quadro que segue:

Quadro 1 − Situação dos alunos com deficiência nas IES- matrículas, conclusões, trancamentos, desvinculados

Matrículas e conclusões 2009 2010 2011 2012 Média de

variação anual

Matrículas 21.006 20.338 23.338 27.323

Variação por ano/matrículas -3% 15% 17% 10%

Concluintes 2.039 2.769 2.972 3.716

Variação por ano/concluintes 36% 7% 25% 23%

Trancadas 1176 1620 2138 2952

Variação por ano/Trancadas 38% 32% 38% 36%

Desvinculada 1.539 3.492 4.243 4.812

Variação por ano/Desvinculada 127% 22% 13% 54%

Fonte: INEP 2014.

Com base no Quadro 1, o número de alunos desvinculados diminuiu no período entre 2009-2012, enquanto que o número de trancamentos manteve quase a mesma variação. No entanto, devemos avaliar que, embora tenha diminuído o número de desvinculados, o percentual de 54% é significativo. E, com relação aos trancamentos, mesmo que ele tenha se mantido, 36% é um percentual considerável. Portanto, embora o percentual de matrículas

tenha aumentado nesse período, num percentual anual de 10%, é significativa a quantidade de aluno que ingressa e, em seguida, tranca ou se desvinvula do curso.

No período que compreendeu 2009-2010, aumentaram as matrículas nos cursos de graduação para o público em geral, esse aumento, conforme o Censo 2012, foi de 7.1 milhões. Mas isso não significou um ingresso maior de estudantes com deficiência, até porque esse acréscimo nas matrículas se deu de maneira mais intensa nas IES públicas, onde o acesso de pessoas com deficiência tem sido menor. Corrobora com isso o INEP (2014) que revelou a queda no número de matrículas para deficientes em 2010. Esta discussão é apresentada também por Goessler (2014), quando discute dados do Censo da educação superior 2009- 2012, destacando que o incremento das vagas para os alunos com deficiência, ainda não é representativo, sendo que esses alunos, muitas vezes, encontram-se à margem do acesso ao ES, porque, enquanto 7% da população brasileira - em geral - tinha acesso ao ES, apenas 0,2% da população com alguma deficiência tinha acesso a esse grau de ensino.

No Gráfico 11, a seguir, podemos perceber de modo mais claro a distribuição anual das matrículas para deficientes no país. A queda de matrículas, em 2010, é evidente, assim como o aumento no número de concluintes no período que compreendeu 2009-2012.

Gráfico 11 − Distribuição anual das matrículas e conclusões de alunos Cotistas B - 2009-2012

Fonte: INEP 2014.

A partir de 2010, são evidentes os impactos da Política Nacional da Educação Especial na Perspectiva da Educação Inclusiva e da Conferência Mundial sobre a Educação Superior, porque melhora os índices de acesso e conclusão dos estudos de pessoas com deficiência. Foram especificados quem seriam os estudantes beneficiados com atendimentos especializados, foi garantida a igualdade de acesso nas instituições de ensino a pessoas Público Alvo da Educação Especial, ampliou-se a categoria deficiência e foram realizados

alguns investimentos na qualificação das habilidades pedagógicas dos docente que atuavam no ES.

Assim, não podemos deixar de reconhecer a existência de um conjunto de políticas, pesquisas e debates em prol da igualdade de acesso ao ensino dos estudantes com deficiência, os quais configuram um movimento de luta pelos direitos dessas pessoas. Contudo, ainda temos muito a avançar no desenvolvimento de ações que encetem no número de matriculados no ES, via cotas B, que visem à garantia de um ensino de qualidade e à conclusão de seus estudos universitários.

Em se tratando da conclusão dos estudos de pessoas com deficiência incluídas no ES, insere-se o tema do trancamento do curso. Consideramos importante refletirmos sobre quais são os fatores que estão interferindo no afastamento dos estudantes com deficiência das IES. Nessa direção, Sousa (2008) discute os fatores que contribuem para a minimização do abandono acadêmico, pontuando o papel da educação para a resiliência no desenvolvimento de uma competência educativa como o principal aspecto a ser considerado. Para a pesquisadora, favorecer a adaptação do estudante ao contexto da universidade depende do investimento das IES na formação dos professores. As ações que podem ser desenvolvidas em torno desse fim, compreendem atividades formativas que favoreçam a construção de relações baseadas na reciprocidade e respeito às diferenças; na capacidade para trabalhar persistentemente frente aos nossos objetivos de vida e diante de nosso autoconceito realista e saudável. Desse modo, a educação para a resiliência atuaria no desenvolvimento pessoal e profissional dos professores, implicando no aumento dos índices de permanência dos alunos nas instituições.

Além do investimento em desenvolvimento emocional, concordamos com o que Santos e Venturini (2010) descrevem sobre a importância de atentarmos para as adaptações institucionais, curriculares, pedagógicas na garantia do acesso e da permanência dos alunos com deficiência nas Universidades.

Ainda, quanto ao mapeamento dos alunos com deficiência, no Gráfico 12, é apresentado o percentual de alunos com deficiência, matriculados nos diverentes tipos de instituições do país.

Gráfico 12 − Localização das pessoas com deficiência nos tipos de instituições do país

Fonte: INEP 2014.

Embora nosso país abrigue um número maior de Faculdades do que Universidades, os estudantes com deficiência estão matriculados, geralmente, em Universidades.

Com relação à rede de ensino, no Brasil, 83% das IES são privadas e 17% são públicas, assim como se expressa na imagem a seguir: consoante a relação número de IES e a classificação pública/privada, está a distribuição dos alunos com deficiência, ou seja, temos um número maior de IES privadas no país, as quais estão abrigando mais alunos com deficiência do que as instituições públicas.

Gráfico 13 − Redes de ensino no país onde estão matriculados os alunos com deficiências

Quanto ao número de IES por região do país, a situação brasileira é de 2.441 instituições na região Sudeste; 1.056 no Sul; 1.027 no Nordeste; 517 no Centro-Oeste e 366 no Norte. E a distribuição dos estudantes parece seguir a mesma lógica, exceto nas regiões Centro-Oeste e Norte, porque a região Norte abriga menos IES que a região Centro-Oeste e matricula mais alunos do que nessa região. Isso pode ser analisado no Gráfico 14:

Gráfico 14 − Número de instituições de ensino por região, no país, onde estão matriculados os alunos com deficiência

Fonte: INEP 2014.

A partir disso, podemos perceber que houve um aumento nas matrículas dos estudantes com deficiência, entre 2009-2012. O número de desvinculados diminuiu no período, mas o percentual de 54% é significativo. O número de trancamentos se manteve nesse período, embora 36% seja um percentual considerável. Os estudantes com deficiência, estão matriculados em em Universidades particulares, nas regiões Sudeste e Sul do país.