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3.2 DESENVOLVIMENTO REGIONAL PARANAENSE

3.2.2 Marcos Históricos do Setor Elétrico Paranaense

O setor energético paranaense remonta ao período de 1889 a 1930, quando o governo federal mantinha sob o domínio da iniciativa privada o fornecimento de serviços de infraestrutura. No ano de 1892 foi promulgada a primeira lei que dava autonomia para os municípios legislarem sobre obras de interesse público. A primeira lei estadual que definiu o estado como responsável pelos serviços de água, esgoto e iluminação pública foi editada e promulgada em 1903, com o objetivo de suprir as demandas de iluminação e saneamento públicas do estado, sobretudo da capital paranaense (KARPINSKI, 2013).

A partir de 1891, os serviços de transmissão no município de Curitiba foram executados pela Companhia Água e Luz de São Paulo. Em 1890, a atividade foi concedida à iniciativa privada pelo então presidente da intendência municipal Vicente Machado da Silva Lima, e a primeira concessionária que atuou nos serviços de geração e de distribuição foi do grupo privado José Hauer e Filhos (KARPINSKI, 2013, p. 52; MACHADO, 1998).

A primeira hidrelétrica do Estado do Paraná, a Usina de Serra da Prata, foi inaugurada em 1910, próximo à cidade de Paranaguá, com uma potência instalada de 400 kVA. Em 1911, em Ponta Grossa, foi colocada em funcionamento a hidrelétrica de Pitangui, com potência instalada de 760 kW. No ano de 1930, foi inaugurada a usina de Chaminé na Serra do Mar, com 9 megawatts de potência instalada, e considerada um dos primeiros empreendimentos de grande porte da época. Essa unidade passou por ampliações e encontra-se em funcionamento atualmente com 16 megawatts (SIQUEIRA, 1994).

Seguindo a lógica da construção do setor elétrico brasileiro, os empreendimentos energéticos implantados no Paraná contavam com o respaldo do Código de Águas (Decreto-Lei n.o 24.463 de 10 de julho de 1934) e do Conselho Nacional de Águas e Energia Elétrica (Lei n.o 1.285 de 1939), que permitiam ao Poder Público coordenar as ações no âmbito regional paranaense, até então dependente da iniciativa privada. Assim, com o apoio do Plano Nacional de Eletrificação, foi criado em 1948 o Serviço de Energia Elétrica do Paraná, posteriormente transformado no Departamento de Águas e Energia Elétrica (DAEE), com autonomia financeira e administrativa (COPEL, 2015). Uma das primeiras ações do Departamento de Águas e Energia Elétrica foi a criação do Plano Hidrelétrico do Paraná, inspirado no Plano Nacional de Eletrificação, que previa a expansão de sistemas elétricos do Sul (amparado nas usinas de Capivari-Cachoeira e Salto Grande do Iguaçu), do Norte (suprido pelas usinas de Salto Grande e Capivara, no rio Paranapanema, e Mourão), e do Oeste (REICHAMAN, 2002; SIQUEIRA, 1994).

Em 1954, foi criada a Companhia Paranaense de Energia Elétrica (Decreto n.o 14.947 de 26 de outubro de 1954). Uma de suas primeiras ações foi realizar estudos do potencial hidráulico dos rios do Paraná e do rio Iguaçu, a partir de entendimentos com a Comissão Interestadual da bacia do Paraná – Uruguai. Semelhante à atuação da estatal mineira Companhia Energética de Minas Gerais (CEMIG), a Companhia Paranaense de Energia Elétrica dividia o mercado com outras empresas privadas, e serviços com o Departamento de Águas e Energia Elétrica. À medida que se consolidavam as atividades de geração e distribuição no estado, as atividades das empresas privadas sofreram uma rápida limitação pelos serviços oferecidos pela estatal paranaense. Ante esse fato, a companhia estatal iniciou seu monopólio regional de geração, transmissão, distribuição e comercialização de energia elétrica (MACHADO, 1998).

Acompanhando a fase desenvolvimentista do Brasil, o Estado optou por concentrar esforços na modernização por meio da industrialização. "De fato, o progresso de uma nação, no conceito moderno, não depende de uma política tendente a acentuar um rumo agrícola ou um rumo industrial: depende, sim, de um estímulo simultâneo do binômio agricultura e indústria" (SCHULMAN, 1956, p.03). Os investimentos em grandes obras públicas no setor de infra-estrutura, entre as quais a construção de grandes usinas hidrelétricas, exigiam a obtenção de recursos financeiros para

programas de eletrificação. Essa lógica foi responsável por influenciar projetos de geração, distribuição e transmissão de energia elétrica nas décadas de 1950, 1960, 1970 e 1980, quando a preocupação principal era ofertar energia elétrica abundante e barata para garantir o desenvolvimento (SCHULMAN, 1956).

Em Machado (1998), verificou-se que as grandes obras de engenharia entre as décadas de 1960 e 1970 geraram impactos irreversíveis nos ecossistemas e na forma como as pessoas circunvizinhas utilizavam a terra. Dentre estes empreendimentos destacam-se as usinas hidrelétricas de Salto Santiago (Saudade do Iguaçu, PR); Bento Munhoz da rocha Neto (Pinhão, PR); Salto Osório (Quedas do Iguaçu, PR) e Pedro Viriato Parigot de Souza (Antonina, PR).

Note-se que a opção pela expansão da oferta de energia elétrica por meio das hidrelétricas se deu em conjunto com o plano de desenvolvimento do estado paranaense e em consonância com a trajetória do desenvolvimento industrial brasileiro. Foi instituída uma parceria com o Governo Federal, que criou as condições necessárias para obtenção de financiamentos externos que viabilizassem a construção de grandes obras de infraestrutura necessárias para suportar as transformações estruturais da economia paranaense que apresentava um forte dinamismo e progressiva diversificação. Não se pode desconsiderar que os efeitos dos choques do petróleo (1973 e 1979) foram responsáveis por incentivar a ampliação da construção do parque gerador paranaense por meio das hidrelétricas (PARANÁ, 1980; CONSELHO ESTADUAL DO PARANÁ, 1982).

Pode-se considerar como importante marco histórico da estruturação do setor elétrico paranaense a construção de dois empreendimentos: a Usina Binacional de Itaipu e a Usina Hidrelétrica Governador Ney Aminthas de Barros Braga, também conhecida como Segredo. A instalação do canteiro de obras de Itaipu ocorreu em 1974. Esse empreendimento foi o único a atravessar a parte mais aguda da crise econômica brasileira do final dos anos 1970, mantendo-se em operação e com o

status de prioridade absoluta. O ambicioso projeto chegou a contratar até 5 mil

pessoas ao mês entre 1978-1981 e alterou profundamente a economia local: "Foz do Iguaçu era uma cidade com apenas duas ruas asfaltadas e cerca de 20 mil habitantes; em dez anos, a população passou para 101.447 habitantes" (ITAIPU BINACIONAL, 2015).

Em 5 de novembro de 1982, as 14 comportas do vertedouro liberaram a água represada do Rio Paraná, inaugurando oficialmente a maior hidrelétrica do mundo daquele período. Cabe ressaltar os profundos impactos causados pelo enchimento do reservatório, que interferiu na vida de milhares de pessoas que habitavam nas margens do Rio Paraná entre Foz do Iguaçu e Guaíra e o alagamento das Sete Quedas (ITAIPU BINACIONAL, 2015). Sem dúvida a Itaipu Binacional é um marco para o setor elétrico dos dois países (Brasil e Argentina), e no caso brasileiro consolidou a opção pela energia produzida por meio do aproveitamento hidráulico. A potência instalada de 16,7 mil megawatts passou a contar com mais 14 mil megawatts, praticamente dobrando a capacidade de geração. O custo atualizado da construção de Itaipu, considerando juros e a inflação em dólar do período, chega hoje (2015) a US$ 18 bilhões, ou aproximadamente US$ 849 por kW instalado (ITAIPU BINACIONAL, 2015).

Outro importante marco histórico foi a construção da usina hidrelétrica Governador Ney Aminthas de Barros Braga, também conhecida como Segredo (COPEL, 2015). Entre outras disputas judiciais, foi o primeiro empreendimento dessa natureza no país a submeter o projeto de construção de uma planta hidrelétrica a um estudo de impacto socioambiental, o Relatório de Impacto Ambiental (RIMA), concluído e aprovado em 1987. Localizada no Rio Iguaçu, no município de Mangueirinha, na região sudoeste do estado do Paraná, foi inaugurada em 1992, com 1.260 MW de potência instalada (COPEL, 2015).

O Decreto n.o 4141, de 11 de novembro de 1988, instituiu a outorga do direito de uso de recursos hídricos estaduais. A partir de 1991 foi implantada a Lei ICMS Ecológico (Lei n.o 59 de 11 de outubro de 1991), que garantia repasses percentuais para os municípios pelo uso dos recursos hídricos e pela conservação de áreas de proteção ambiental, neste caso Unidades de Conservação e faixas da Floresta Atlântica. A Superintendência de Recursos Hídricos e Meio Ambiente (antiga ARH) propôs uma minuta de lei que previa 2,5% de repasses para os municípios com Unidades de Conservação, e 2,5% para municípios com mananciais de abastecimento que atendem outros municípios a jusante (MACHADO, 1998).

Entre os desafios da atualidade, destacam-se a análise dos contratos públicos, revisão de concessão, e o gerenciamento dos impactos ambientais, que ainda se mostra burocrático e moroso. O planejamento integrado dos recursos hídricos e de seus usos múltiplos ainda não é aproveitado em sua potencialidade, dado que não

existem incentivos econômicos de interesse social, legislativo e ambiental para projetos de engenharia com grandes reservatórios, haja vista o diagnóstico das áreas atingidas (DEBROSSO; ICHIKAWA, 2014).

Historicamente, o Estado do Paraná tem sido um dos maiores produtores de energia elétrica do país, quase em sua totalidade oriunda da força dos rios. O Balanço Energético Nacional de ano base 2014 (BRASIL, 2015a, p. 176) apresentou um potencial hidráulico para o Estado de 23,9 MW3 dos quais 67% estão atualmente em operação. Em 31 de dezembro de 2015, o Banco de Informações de Geração da Agência Nacional de Energia Elétrica registrava uma capacidade de geração instalada de 7.000.085 MW no Rio Paraná, 6.674.000 MW no Rio Iguaçu e 2.184.700 MW no Rio Paranapanema. Dos 260 GW de potencial de geração brasileiro, 23% são oriundos da Bacia do Paraná, que abrange o território do Distrito Federal e mais seis estados: Paraná, São Paulo, Minas Gerais, Mato Grosso do Sul, Goiás e Santa Catarina (PORTAL BRASIL, 2011).

Sobre Política Energética, cabe destacar que a Companhia Paranaense de Energia integra o Conselho Estadual de Energia como órgão executor do planejamento do Estado. Seguindo a tendência nacional, o Paraná vem "ampliando a geração de energia, utilizando matéria orgânica em usinas a biogás, desenvolvendo pesquisas sobre energias alternativas por meio de microalgas, de dejetos animais e humanos, do óleo de grãos e oleaginosas [...]" (ROCHA; VEJO, 2014, p. 14). De acordo com o Plano Decenal de Energia 2024, em relação à carga total da região Sul, "a carga do estado do Paraná, que corresponde a 39% do total da região, apresenta um crescimento anual médio de 3,5% no período decenal para o patamar de carga pesada"30 (BRASIL, 2015b, p. 227).

A capacidade instalada do Paraná em 2014 era de 17.219 MW, correspondendo a 12,9% do total da capacidade instalada nacional. Nesse mesmo ano, foi responsável por 16,47% do total da energia elétrica gerada no país ou o equivalente a 98.834 GWh. Seguindo a tendência nacional, registrou uma queda de 4,5% na geração elétrica em relação ao ano de 2013. Observe-se que a Companhia Parananese de Energia Elétrica é a quarta maior unidade consumidora de energia elétrica na rede

30 Detalhamento das principais obras previstas para o Estado do Paraná constam no Plano Decenal

de Energia 2024, p. 228-229. (Disponível em: <http://www.epe.gov.br/Estudos/Documents/ PDE%202024.pdf>).

ou 5,6% do total nacional. Adicionalmente o consumo per capita no Estado em 2014 foi de 2.730 KWh/hab., um crescimento de aproximadamente 4% em relação ao ano de 2013 proporcionalmente a expansão do produto interno produto no mesmo período (AMANHÃ, 2015).

A importância do setor de energia para a economia paranaense reflete-se no

ranking entre as empresas mais lucrativas do Estado: a Itaipu Binacional e a Companhia

Paranaense de Energia. De acordo com a Agência Paraná de Desenvolvimento (2015), o PIB do estado cresceu 3% em 2013, enquanto o PIB brasileiro cresceu 2,3%. "O resultado do Paraná foi influenciado pela safra cheia de grãos e pelo bom desempenho de energia com produção de Itaipu". A Itaipu apurou um lucro de R$ 2,5 bilhões, que representa uma rentabilidade de 26,5% sobre seu faturamento de R$ 9,7 bilhões; a Copel registrou R$ 1,3 bilhão de lucro com rentabilidade de 9,6% sobre uma receita de R$ 13,9 bilhões. Em 2015, a Companhia Paranaense de Energia realizou investimentos de R$ 962 milhões para garantir a manutenção da qualidade do fornecimento de energia (AMANHÃ, 2015).