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Haviose instalado definitivamente a Academia Portuense de Belas Artes no laicizado Convento de Santo António da Cidade, em S. Lázaro, ' unificando espaços de aulas que interinamente funcionavam na Academia Politécnica (Desenho Histórico e Arquitectura

Civil),quando na carta de lei, de 30de Julho de 1839, era bem explícito que a concessão meação da Academia da cerca e dependências do convento -depois de n'eles se fazerem as casas necessárias" T"°7T T* **** "°

~~ Oonvento de Santo Antonio

se destinariam ao estabelecimento da Biblioteca/Museu e Academia de Belas Artes onde

logo viriam a funcionar as aulas de Pintura histórica e Escultura.2

E nesta Academia já instalada, embora precariamente, que o jovem José Marques

da Silva é matriculado em 30 de Outubro de 1882, no 1s ano de Arquitectura Civil, conforme

"despacho" da mesma data.3

Nascera em S. Veríssimo de Paranhos, na Rua de Costa Cabral, n2 113, no con-

celho e cidade do Porto, em 18 de Outubro de 1869, no seio de família de larga prole, com ascendência paterna ligada às tarefas agrícolas do aro portuense onde proliferavam os terrenos de aptidão agrícola servidos pelos mananciais de água que, de longa data,

^ Cfr. Acta de 31 de Maio de 1875 (E.S.B.A.P. - Livro para sessões ordinárias... [2] (1849-1883,ff. 197-198). Furtado, Tadeu - Apontamentos para a História da Academia. Coimbra, Imprensa da Universidade, 1896, pp. 6- -7.

3

E.S.B.A.P. - Academia/Arquitectura/1881-1892. inscrição n» 4 1 ; idem - Academia/Aula de Escultura»838-1907, f. 91v; idem - Academia/Desenhol^ 875-1888, f. 122v.

alimentavam, ainda, a cidade.4 O pai, Bernardo Marques da Silva, pedreiro lavrista à data

do casamento5, já, em 1877, é dado como estabelecido na Praça de Carlos Alberto, 91, Bernardo Marques da siiva

e a sua oficina de mármores com "sua oficina de obras de mármore" que poderá desdobrar ou transferir para o antigo

e extinto cemitério da Celestial Ordem Terceira da Santíssima Trindade do Porto que arrendara, entestanto com a capela-mor da Igreja "enquanto lhe convier ocupar aquelas dependências..."6

Havia sido inscrito como irmão em 23 de Março de 1877 e é nessa qualidade que arremata e arrenda as referidas dependências. No seio da instituição tomará, aliás, assento como mesário desde, 1882 a 1885, aparecendo referido como definidor em vários docu- mentos. 7

No começo dos anos 80, é indicado na secção de "Escultores em madeira e pedra" de um almanaque portuense,8 com oficina na Rua da Trindade, 9, embora,

José Marques da Silva nasce em 18 de Outubro de 1869, tendo sido baptizado na igreja paroquial de Paranhos no dia pelo reitor António Gomes Ferreira, sendo padrinhos José Paulo Fernandes, negociante e sua esposa Quitéria Rosa, avós maternos (ARQ. - 4a Conservatória Registo Civil/Port o/H AS. to na 137-1869-P).

Bernardo Marques da Silva nascera, em 24 de Julho de 1847, no lugar do Vale da freguesia de Paranhos, filho de Domingos Marques da Silva, nascido no mesmo lugar, e de Rosa Francisca Pereira, nascida no lugar do Casal, da mesma freguesia (ARQ. 4» Conservatória Registo Civil/Porto/H AS.to 58-1923-49); Bernardo Marques da Silva, "pedreiro lavrista", casa em 8 de Julho de 1867 com Maria Rosa, doméstica, natural de S. Martinho de Cedofeita, filha de José Paulo Fernandes, negociante e de Quitéria Rosa, residente em Paranhos. O casamento é realizado pelo reitor António Ferreira, tendo sido padrinhos de casamento Manuel Francisco Lopes, lavrador, morador em S. Cristóvão de Rio Tinto e João Paulo Fernandes, chapeleiro, morador em Lordelo do Ouro (ARQ. 4S Conservatória

Registo Civil/Porto/C AS.Io na 17-1867-P.

A.O.T. - Cópia d'officios n2 3, p. 186. Este contrato foi aprovado em Sessões da Mesa de 10 de Setembro de

1877 e 16 de Janeiro de 1878. A Celestial Ordem Terceira da Santíssima Trindade, depois da proibição oficial de enterramentos na área referida (1866), adquire terrenos em Agramonte aonde inaugurou o seu cemitério em 2 de Setembro de 1872. Aí mandou construir a capela privativa, com risco do arquitecto José Geraldo da Silva Sardinha, benzida em Maio de 1877.

Bernardo Marques da Silva é inscrito em 23 de Março de 1877, sob o número 11664 (A.O.T. - Livro 81 -

Catálogo/Secretaria/Entrada de Irmãos, f.46); como membro da Mesa (definidor) assina, a solicitação "dos irmãos

e amigos d'esta Ordem o favor de obterem a inscrição de pessoas das suas relações no catálogo dos... confrades" (...) "dignando-se promover a inscrição de novos irmãos..." (A.O.T. - Copiador d'officios n° 3, p. 373); como definidor assina em 5 de Maio de 1882 um "Termo da Sessão de Mesa e Junta em que se resolveu a aceitação do legado proposto pelo[...] Cónego António Roberto Jorge para se celebrarem sermões ou catequezes..." (A.O.T. - Livro 21

das Resoluções da Meza e Junta, ff.91-93; vide ainda Xavier Coutinho, Bernardo-H/'stór/a Documental da Ordem da Trindade, Porto. 1972,pp.1057-1058); Bernardo Marques da Silva é referido pela primeira vez como Definidor

da Celestial Ordem da Santíssima Trindade a propósito da contracção de um empréstimo "com aplicação à conclusão do zimbório, cobertura da capella-mor...", proposta pelo membro da Junta, António Rodrigues Padiír em 29 de Janeiro de 1883. (A.O.T. - Livro 2° das Resoluções de Meza e Junta , ff. 94-95; cfr. ainda Xavier Coutinho, Bernardo, o.c. p. 635).

o

oumuiotivomente. em meados do mesmo « c o d e se referencie ainda o prime,*, estancio na Praga de Cdrios Alberto. 9,. Compreende­se isto em raœ de preedridade de orren­ domento. embdrd no respectivo controto se estipule que ­<a) Ordem o b r i g a r i a a nãd d u . e n t c ^ c d i ^ r c c . W d ^ t i ^ c O c ^ J e ^ a n t c o p r c p c d ^ e s e ^ r a c c ^ e ^ nas dependências que arrenda...". »

Todavia nd viragem do século Bernardo Marques da Silva é anunciado como ■marmorista­ Walodo no ^ a de Estevão, 22, a norte do Mrro dd Loronja,, junto, ainda,

do Lar8o da Trinddde Cantiga Praça do Laraniai) onde se erguia o poiacete de Bernardo

Pinto Ferreiro e o igreja. Instalações e dependencies dd Ceiestid, Ordem Terceird que vimos citando.

Pcfflcdmente nd ô r t * , dos regeneradores e nqs ondos do rotatrvSmo. com larga

par,dpaÇ â 0 nas disputas deitar* de S. Verfclmo de Paranhos, contes^onalmente muito

roertodaadmiraçqqdocarded D,Américo,empenha.todqvta.nocanpanha canta osacerdoteJcéCoeihodaRochalançando­otdradoseumi^ondcopdadeSdntd Aotanio da Aguardente, na quaildade de m e s » da contraria e po, teso se abeira inadver­ «demente. peid contestação, do a * , e * x * m o latente e do clima hstaurade, da reverão republicana que anos depois eclodirá no Porto.

De facto, a agitação religiosa e política que se desenrola no ano de 1885 no Porto

consequent de uma activa propaganda na imprensa e na tribuna que vinha de anos ^ An'ÓnÍ° d* A9Uar"

^ dente

passados, devia­se dinda oo concurso da reanimada Associação Libero, do Porto que, em 23 de Agosto desse dno, com a participação da mesa da Cantata (com Bernardo Marques do Siva, organ™ „o Po,ãcio de Crista, um camelo de protesto contro os "prepotências" do Carded„B,po D, Américo­ que não bov,o levodo o seu rigor o proibi, que « S u a s s e a c e ^ e n ^ r e f e r t a d capeio como desejova a mesa do Contrario de Sonto

secção de Escultores com estabelecimento na Rua da Trindade o »

do E s t e i o , 2 2 ; n o Anuário do Porto p a r a Q _ d ^ 9 ™ *°^° *° * ­ * « ­ < ~ . M na Rua 9 A.O.T, ­ c e » * , «'Officios « , p,86. " ^ ^ ^ M * " * d° E s« < ^ « ■

António que, em Assembleia de 5 de Outubro, tomou mesmo a resolução de se transformar na Sociedade de Instrução e Beneficiência da Praça Marquez de Pombal. ,0 Sinto-

maticamente Praça de Marquez de Pombal aonde já, em 1882, os elementos democráticos do Porto fizeram chegar o cortejo cívico integrado no centenário do Marquês do Pombal. Atento aos processos da mecanização e industrialização, Bernardo Marques da Silva tornar-se-à um industrial de relativo sucesso, oscilando entre a estatuária de um quo- tidiano marcadamente oitocentista, com a encomenda de obras de fé e ama, complemento de uma arquitectura civil, funerária e religiosa de larga expressão local e regional, " e o trabalho de serração e afeiçoamento de mármores destinados à construção civil e equi- pamentos, recorrendo por vezes à importação de Itália.

A mulher, Maria Rosa Marques, há-de repartir-se pelas exigências familiares dos dez filhos e pelos ganhos de um artesanato doméstico inovada, com a utilização e suporte da primeira máquina de artefactos, adquirida numa exposição do Palácio de Cristal - ciranda quase anónima mas marca indelével e persistente, de permanente paixão na vida (e até na obra) do filho José, o primogénito.

José Marques da Silva frequentou a instrução primária e estudos secundários no

Liceu da Ordem da Trindade, aí estabelecido desde 1851,,2 oscilando a sua tenra idade José isques da silva o os

estudos no Liceu da Ordem da Trindade

1 0 Para pormenorização do conflito vide MARTINS. José - A capella de Santo António da Aguardente , in "O

Tripeiro", Porto, Ano III, rf* 57, 60-62 e 65-67, 1910. Aí se poderá verificar, segundo o autor, o possível aproveitamento da Maçonaria Portuguesa e de sectores anti-jesuíticos e já republicanos, com a emergência das figuras de Vasques de Mesquita, Heliodoro Salgado, Felizardo de Lima. Sobretudo "a imprensa republicana[...] imprimiu ao conflito um carácter político" (Martins, José, o. c , pp.395-396).

O Jornal da Manhã de 3 de Dezembro de 1885 terminantemente afirmava: "Estavam inteiramente aniquilados os

jesuítas do Porto" e já em 13 de Novembro o Dr. Vasques de Mesquita, havia feito publicar um comunicado intitulado: "[...] Aos liberaes do Porto", mostrando o duplo sentido do aproveitamento de um facto que teria a ver na origem com o aconselhamento, certamente virtuoso, no acto da confissão...

A título meramente exemplificativo e em época já adiantada, isto é, em 1898, Bernardo Marques da Silva "forneceu" as estátuas de S. Dâmaso e S. Geraldo, "magníficas esculturas saídas da sua oficina de marmorista", para a fachada de S. Torcato (in "O Tripeiro", V Série, Ano IV, Junho. 1948, p. 45).

12

"O ensino primário de meninos e meninas foi criado em 1851, em sessão de Mesa de 7 de Agosto. Seis anos depois, em 1857, a Ordem resolvia alargar o âmbito da sua acção escolar, [...] sendo Prior [...] o Visconde da Trindade apresentou-se a proposta de criação de um Liceu para ambos os sexos..." (XAVIER COUTINHO. Bernardo - o. c. p. 655). O conceito de Liceu era abrangente e nele se incluíam os estudos de instrução primária e lições de disciplinas do ensino secundário e de "prendas próprias de meninas".

Pela legislação de 14 de Agosto de 1895, o Liceu deixa de usar a primitiva denominação em face da exclusi- vidade da nominação dos Liceus Nacionais, passando a designar-se Instituto Escolar da Celestial Ordem da

entre o Liceu e a oficina onde a consciência do métier, a aptidão manual, o contacto directo com os materiais, os valores do trabalho e da emulação, a hierarquização da oficina, preparam a sua entrada na Academia Portuense. Certamente, ou obviamente, decisão familiar implícita nas palavras que Marques da Slva mais tarde escreverá com orgulho: "Comecei por artista de cinzel, continuei como artista do lápis..," '3

A Academia não era exigente em habilitações, bastando para a matrícula o condições e matrícula na

Academia Portuense de

cumprimento do estipulado no capítulo IV dos seus estatutos, nomeadamente nos seus Beias Artes

artigos 412 e 462:

Art9 419 - Todos os indivíduos, tanto naturais como estrangeiros poderão ser

admitidos a frequentar os Estudos da Academia, tendo as condições seguintes: Is. - idade

de dez anos (pelo menos completos); 29. - suficiente instrução das arte de 1er e escrever

e contar; 3S. - bons costumes, atestados pelo Pároco, magistrado ou pessoa autorizada

da sua Freguesia.

Art2 4ó9. - Nenhum indivíduo será admitido à matricula na Aula de Arquitectura com

o intento de seguir a profissão de arquitecto sem que mostre por certidão o ter sido

aprovado nos estudos do l2. ano Matemático.,4

Pelos estudos realizados no Liceu da Trindade e pela exigência do artigo 4ó2. dos

Estatutos da Academia, verifica-se a deliberada intencionalidade na preparação para a carreira de arquitecto, embora tivesse recebido o ensino simultâneo das três Artes - como dizia - princípio orgânico da pedagogia reinante, seguindo os cursos de Arquitectura Civil,

Desenho Histórico e Escultura. ,s

Nos começos da década de 80, a Academia Portuense de Belas Artes, de inspiração setembrista e aplauso régio, no quadro das suas realizações não se regia ainda por um

Santíssima Trindade. Vide a propósito "Liceus" in SILVESTRE RIBEIRO, José-História dos Estabelecimentos Científicos

Literários e Artísticos de Portugal [...], vol. VIII, p. 139.

1 3 A.M.S. - [Notas Pessoais ].

O estipulado nos artigos transcritos reportava-se, com alterações, aos Estatutos promulgados pela Secretaria de Estado dos Negócios do Reino em 22 de Novembro de 1836 e assinados por Manuel da Silva Passos.

Na documentação apresentada para o Concurso de pensionista de Estado no estrangeiro apresenta "certidão de exame de Português e francês no Lyceu du Porto" (A.N.B.A. - Pensionistas/Concursos e contratos/Anos 1864 -1895, Acta de 30 de Março de 1889); matricula-se no 1B ano de Arquitectura Civil em 30 de Outubro de 1882,

todo coerente de doutrina pedagógica e muito menos estética e não é fácil encontrar- -Ihe o modelo de que partira, a não ser como minguado eco parisiense.

Joaquim de Vasconcelos, entre outros, não deixa de reconhecer essa génese das A Academia Portuense de Academias, alargando-as a outras instituições como as Politécnicas, os Institutos Industriais, ^M^ZO9*™****6*™'

mas lastimando -elas não terem marchado com o país e com as instituições que foram copiarem 1836". ,6

Se na sua gestação se ampliava a "pública felicidade da Pátria e dos seus vassalos" e se '(o) estabelecimento de uma Academia de Pintura e Desenho (era) certamente para Portugal um dos passos mais agigantados no caminho da sua civilização prosperidade e adiantamento literário", na visão ainda iluminista de Vieira Portuense (em 1803), '7 a criação

da Academia Portuense tinha por objectivo "promover o estudo das Belas Artes, difundir e aplicar a sua prática às Artes Fabris", '« num contexto bem datado e na adequação a uma industrialização que tardava, aliás, numa similitude de objectivos pragmáticos propostos pela Academia Politécnica do Porto ao substituirá, em 1837, à antiga Academia Real da Marinha e Comércio da Cidade do Porto. '9

Alguma legislação é publicada no decurso do século, mais regulamentadora do que seriamente instauradora e reformista, no seio de uma instituição (ou instituições) onde as dificuldades avultavam, enquanto não se aclimatavam, 'maximesendo inteiramente novas no país, como eram as Academias de Belas Artes, sem casas convenientes, sem mobila apropriada sem estampas, sem gessos, e com grande repugnância que havia para alguém se prestar ao estudo do modelo vivo", como escrevia Tadeu de Almeida Furtado, ao referir a acção do Visconde de Beire como sub-inspector, de 1835 a 1847.20

16 Vide VASCONCELOS, Joaquim de - A Reforma do Ensino de Bellas Artes/Ill [...], Porto, 1879, pp. 187, incluindo

nota 2.

, 7 Vide Discurso proferido na abertura solene da Aula de Desenho a 14 de Junho de 1802 na Academia de

Desenho e Pintura da Cidade do Porto, por Francisco Vieira Júnior e publicado por ordem de Sua Alteza Real em 1803; idem, in "Origens de uma escola", Porto, 1980.

8 Vide Capítulo I. Artigo 1» dos Estatutos para a Academia Portuense de Bellas Artes, publicados em 22 de

Novembro de 1836.

1 9 Cfr. Programma dos Estudos da Academia Polytechnica do Porto no Anno Lectivo de 1838 para 1839 [...], Porto,

Imprensa Constitucional, 1838, p. 3. 20

No relatório anual do Conde de Samodães,21 respeitante ao ano lectivo 1881-82,

dirigido ao Senhor Ministro e Secretário de Estado dos Negócios do Reino, são bem explícitas a deficiente organização da Academia, a necessidade de implementação de reformas, as lacunas institucionais e a sua minimização perante a Academia Real de Belas Artes de Lisboa:

"(Não) posso furtar-me ao renovamento dos antigos e sabidos requerimentos para que os poderes públicos se dignem baixar os olhos piedosos e benévolos sobre este estabelecimento de instrução especial, tão desatendido, desconhecido e abandonado...".

22

José Luciano de Castro, em 22 de Março de 1881, havia promovido a Reforma

das academias de belas artes de Lisboa e Porto23, há muito solicitada, mas da análise

do texto legal se infere "(a) reconhecida e notória preferência que o governo tem dado A reforma de issi e as

Academias de Lisboa s Porto

sempre à Real Academia de Lisboa" pois são elevadas para treze as cadeiras dos seus cursos permanecendo a Academia portuense com as quatro" a que a reduziram outras

reformas sempre tendentes a deprimi-la".2d

As dotações premiararm sempre a Academia de Lisboa, quer por iniciativas par- ticulares, por dádivas de D. Fernando quer por dotações do governo, isto é, dinheiro da Nação, como acentua criticamente Joaquim de Vasconcelos, não deixando de invectivar

o Parlamento que "parece julgar a Arte indigna de qualquer discussão".25 De facto, o

orçamento não permitiu a criação de novas cadeiras e os professores continuaram a auferir os mesmo ordenados que em 36 lhes haviam sido arbitrados, tendo sido apenas equiparados aos de Lisboa para efeitos de jubilação e aposentação.

7; o sub-inspector era Manuel de Pamplona Carneiro Rangel (1790-1868), Visconde de Beire.

2 1 Francisco de Paula Azeredo Teixeira de Aguilar, Conde de Samodães, foi nomeado, em 1865, sub-inspector

da Academia Portuense de Belas Artes a pedido do Conselho Académico tendo-lhe sido concedida a exoneração em 20 de Fevereiro de 1875. Foi reintegrado no cargo de inspector por decreto de 15 de Dezembro de 1877.

2 2 E.S.B.A.P. - Correspondência para o Governo; 3B volume, 1882-1887, f.7 v.

2 3 Cfr. Diário do Governo de 26 de Maio de 1891.

2 4 A aula de Gravura Histórica tinha sido já praticamente eliminada pela anulação da nomeação de Raimundo

Joaquim da Costa em 18 de Junho de 1838 e pela licença concedida ao lente proprietário Francisco António da Silva Oeirense para leccionação na Academia Real de Lisboa desde 1848.

Do diploma releva, todavia, o papel do Conselho da Escola, bem como a exigência

da aprovação na Língua francesa26 "(complementarizando) o estudo de belas artes" '

O citado relatório de 81/82 refere as representações enviadas ao Governo, às Câmaras

dos Pares e dos Deputados28 que não foram atendidas, invocando-se o estado financeiro

do país e a necessidade de novas leis da fazenda.

Não deixa o Conde de Samodâes de exaltar as honras da Academia, como honra da Nação, devidas à participação de Soares dos Reis na Exposição Internacional de Madrid onde obteve o primeiro prémio com "O Desterrado" e que havia tomado posse da cadeira

de Escultura em 4 de Outubro de 1881, isto é, nesse mesmo ano escolar.29 Promovido

a Inspecta da Academia pela nova reforma, representante, afinal, por vocação estatutária, do Governo da Nação, com cargo gratuito, por nomeação régia, com competências na adminis-tração, em todos os negócios técnicos e administrativos, não goza de autonomia que permita uma inflexão inovadora no seio da Academia, se é que de facto desejava

mudanças estru-turais. M Regulamentos, organização dos cursos, concursos, quadro de

professores e empregados da Academia e seus ordenados continuam dependentes da

às instâncias de Elvino de Brito na Câmara dos Deputados (1880), ele que havia cursado a Academia como "aluno obrigado" da Academia Politécnica para o curso de Engenheiros Civis (1875 - 76) e é, como tal, que é reconhecido como académico honorário.

2 6 Cfr. Capítulo VI, Art» 42a a 45a. 2 7 Cfr. Capítulo VIII, Arta 57°.

2 8 Ante a manifesta desigualdade em relação à sua homóloga Academia de Lisboa, a Conferência Geral da

Academia Portuense de Belas Artes em, 7 de Fevereiro de 1882, representa ao Ministro do Reino, tocando alguns pontos que julga fundamentais:

a) Que os professores da Academia de Lisboa ficaram remunerados com o ordenado de 600$00 réis e os do Porto com menos 100$00;

b) Que, quanto ao ensino, "seria para desejar que ele fosse ministrado pelo mesmo modo em uma e outra Academia"; c) Que se criem duas novas cadeiras: Desenho geométrico e de ornamentação, princípios de geometria descritiva

com aplicação à teoria das sombras e Desenho, modelação e pintura decorativa:

d) Que haja um prémio pecuniário em cada um dos seis cursos; e) Que o Museu de pinturas tenha uma dotação sofrível;

f) Que sejam criados cursos livres de História de Arte e Arqueologia e Anatomia e Higiene.

Assinam a representação João António Correia, servindo de Director, Guilherme António Correia, académico de mérito, Tomás Augusto Soller, académico de mérito, José Geraldo da Silva Sardinha, António Soares dos Réis, Tadeu Maria d'Almeida Furtado, secretário.

2 9 Soares dos Réis havia sido nomeado académico de mérito em 27 de Setembro de 1881.

3 0 Tendo em conta a gratuitidade do cargo, Joaquim de Vasconcelos acha-o compatível com "argentários ociosos

e ignaros ou para fidalgos arruinados que procuram compensações" (Vasconcelos, Joaquim de - A nova reforma

das Academias de Bellas Artes, in « Revista de Instrução do Porto», 5. 1881, p.11).

O Conde de Samodâes e suas atribuições

Secretaria de Estado dos Negócios do Reino, através da Direcção Geral da Instrução Pública, e o Orçamento Geral do Estado é um instrumento balizada, normalmente coarctivo dos interesses da instituição.

A Academia do Porto, "pobríssima, (vai) cumprindo à risca o seu estatuto" como se verifica na realização das exposições trienais "que não se verificam com a mesma

regularidade nas de Lisboa".31 O alojamento da Academia, na expressão do Inspector,

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