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Ainda não vamos responder à pergunta acima. Veremos adiante o que signifi ca um ambiente de negócios com as ameaças e as oportunidades que ele traz em seu bojo. Uma parte da resposta está exatamente aí: saber evitar ou neutralizar as ameaças e saber navegar pelas oportunidades que ocorrem nesse ambiente. Em outras palavras, saber escolher o negócio mais oportuno e mais suscetível de êxito. Isso envolve forte dose de análise e intuição. A outra parte da resposta está em você mesmo. A lista a seguir apresenta algumas razões pelas quais as pessoas se engajam em negócios:

forte desejo de ser seu próprio patrão, de ter independência e não re- ceber ordens de outros, fundamentando-se apenas em seu talento pes- soal. A isso se dá o nome de espírito empreendedor;

oportunidade de trabalhar naquilo que gosta, em vez de trabalhar como subalterno apenas para ter segurança de um salário mensal e férias a cada ano;

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sentimento de que pode desenvolver a sua própria iniciativa sem o guarda-chuva do patrão;

desejo pessoal de reconhecimento e de prestígio;

poderoso impulso para acumular riqueza e oportunidade de ganhar mais que quando era simples empregado;

descoberta de uma oportunidade que outros ignoraram ou subestimaram; desafi o de aplicar recursos próprios e habilidades pessoais em um am- biente desconhecido.

Se você tem algumas dessas razões — racionais ou emocionais, ou am- bas —, a outra parte da resposta está dada.

Novamente retomamos David McClelland, que desenvolveu uma interes- sante teoria a respeito dos empreendedores. Um dos traços mais importantes foi descrito como motivação de realização ou impulso para melhorar.16 O pri- meiro passo de McClelland foi defi nir um treinamento de motivação para a realização para desenvolver essa característica e fazê-la aplicável nas situações típicas das empresas. O segundo passo foi desenvolver um projeto de seleção e desenvolvimento de empreendedores, baseado em um estudo realizado em 34 países, para criar os instrumentos adequados de seleção e treinamento. O pro- grama fi cou pronto em meados de 1985 e lançado, no Brasil, ofi cialmente por meio de um convênio entre o Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas (Sebrae) e a Organização das Nações Unidas (ONU). De acordo com McClelland, as principais características que um empreendedor bem-sucedido deve possuir ou desenvolver são as seguintes:

iniciativa e busca de oportunidades; perseverança;

comprometimento;

busca de qualidade e efi ciência;

coragem para assumir riscos, mas calculados; fi xação de metas objetivas;

busca de informações;

planejamento e monitoração sistemáticos, isto é, detalhamento de pla- nos e controles;

capacidade de persuasão e de estabelecer redes de contatos pessoais; independência, autonomia e autocontrole.

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Tais características devem ser equilibradas, aplicadas com bom senso e, se possível, distribuídas também entre os parceiros ou colaboradores do em- preendedor, para assim constituir um todo harmonioso. Não basta buscar opor- tunidades se o empreendedor não se aprofundar na tomada de informações. Também não adianta estabelecer metas objetivas se o empreendedor não for perseverante na sua conquista. De nada vale ser independente e autoconfi an- te se o empreendedor não tiver profundo comprometimento emocional com seu negócio. O segredo está em desenvolver todas essas características no seu conjunto, pois elas constituem a matéria-prima básica do homem/mulher de negócios, a essência do espírito empreendedor. Para tanto, uma constante e profunda auto-avaliação para verifi car se você e sua equipe de trabalho estão utilizando pessoalmente tais características pode ajudar muito.

O que pode tornar você bem-sucedido em um negócio é a conjunção de duas coisas: o negócio oportuno e apropriado e o espírito empreendedor bem- dotado que o leva adiante. Trata-se de um casamento entre a oportunidade e o oportunista que pretende aproveitá-la. Saiba engatar o seu vagão em uma boa locomotiva. Se a locomotiva for pesada demais e não conseguir vencer a rampa, o vagão permanecerá parado ou descerá ladeira abaixo na contramão. Em suma, saiba escolher a oportunidade adequada.

Tabela 1.1 Um pequeno instrumento de auto-avaliação

Característica desejável Iniciativa pessoal Busca de oportunidades Perseverança Comprometimento Qualidade do trabalho Eficiência

Coragem de assumir riscos Fixação de metas objetivas Busca de informações Planejamento e monitoração (controle)

Capacidade de persuasão Capacidade de fazer contatos Independência

Autonomia Autocontrole

Muito

baixa Baixa Média Alta Elevadíssima Muito

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Além de possuir as características anteriormente relacionadas, para ser bem-sucedido, o empreendedor precisa:

ter vontade de trabalhar duro; ter habilidade de comunicação;

conhecer maneiras de organizar o trabalho; ter orgulho daquilo que faz;

manter boas relações interpessoais;

ser um self-starter, um autopropulsionador; assumir responsabilidades e desafi os; tomar decisões.

Procure refl etir sobre as características acima, melhorando cada uma de- las. O segredo não é ser forte em uma ou outra característica, mas saber dosá-las e integrá-las em um conjunto harmonioso de comportamento empreendedor.

Um terceiro aspecto que torna um negócio bem-sucedido é o planejamen- to sólido e detalhado daquilo que se pretende fazer. O plano de negócio é fun- damental e será analisado nos próximos capítulos.

O quarto aspecto é o capital fi nanceiro adequado para tocar o negócio. Dinheiro ou crédito são também fundamentais. Também esse aspecto será tra- tado mais adiante.

O quinto aspecto é a sorte. E, como isso não depende de você, desejamos- lhe muito boa sorte nas suas atividades.

Quadro 1.3 Os ingredientes de um negócio bem-sucedido

• Uma oportunidade de negócios potenciais

• Um espírito empreendedor adequadamente qualificado e motivado • Um planejamento sólido e bem detalhado do negócio

• Capital suficiente para bancar o negócio • Muita sorte pela frente

É conveniente ponderar algumas limitações de um novo negócio. A lista a seguir dá uma boa idéia disso.

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1. Esqueça o período de oito horas diárias de jornada, os fi ns de semana e os feriados, pelo menos no decorrer de alguns meses ou, até mesmo, anos. O ócio e a tranqüilidade não são características de um início de negócio. Você certamente terá horários de trabalho prolongados e irre- gulares, levará trabalho para casa, entre outras coisas.

2. Existe a possibilidade de você perder seu investimento de capital fi nan- ceiro e talvez o dinheiro de outras pessoas que também colaboraram com o ingresso de numerário. O risco eventual de perdas e prejuízos não deve ser descartado.

3. Provavelmente, você não poderá contar com um ganho regular ou nem mesmo com algum ganho durante o período inicial. Talvez alguns me- ses ou anos sejam necessários para que você atinja o nível de salário que seu emprego atual lhe garante mensalmente.

4. Você assumirá um enorme fardo de responsabilidades. Terá de tomar decisões — com ou sem a participação de seus colaboradores — em todos os problemas que aparecerem e precisará de um profundo enga- jamento em todas as fases do negócio.

5. Você terá de fazer o que gosta — isso é extremamente importante para sua satisfação pessoal — e mais o que não gosta para tocar seu próprio negócio. Haverá, certamente, situações muito agradáveis, mas há ativi- dades desagradáveis que terão de ser realizadas de qualquer maneira. Esteja preparado para tudo.

6. Todo o seu tempo e todas as suas energias terão de ser aplicadas. Con- centre-se nessa missão. Isso reduzirá o tempo disponível para a família, para os amigos ou para possíveis diversões.

E agora? Vale a pena continuar? É você quem decide.

O processo empreendedor17

O processo empreendedor abrange todas as atividades, as funções e as ações relacionadas com a criação de uma nova empresa.

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Em primeiro lugar, o empreendedorismo envolve o processo de criação de algo novo, que tenha valor e seja valorizado pelo mercado.

Em segundo lugar, o empreendedorismo exige devoção, comprometimento de tempo e esforço para que o novo negócio possa transformar-se em realidade e crescer.

Em terceiro lugar, o empreendedorismo requer ousadia, assunção de riscos calculados e decisões críticas, além de tolerância com possíveis tropeços, erros ou insucessos.

O empreendedor revolucionário é aquele que cria novos mercados por meio de algo único. Entretanto, a maioria dos empreendedores cria negócios em mercados já existentes apesar do sucesso na atuação de segmentos já es- tabelecidos. Qualquer que seja o tipo de empreendedor — revolucionário ou conservador —, qualquer que seja o caminho escolhido para entrar e sobreviver no mercado, o processo empreendedor requer os seguintes passos:

1. Identifi cação e desenvolvimento de uma oportunidade na forma de vi- são.

2. Validação e criação de um conceito de negócio e estratégias que aju- dem a alcançar essa visão por meio de criação, aquisição, franquia etc..

3. Captação dos recursos necessários para implementar o conceito, ou seja, talentos, tecnologias, capital e crédito, equipamentos etc..

4. Implementação do conceito empresarial ou do empreendimento para fazê-lo começar a trabalhar.

5. Captura da oportunidade por meio do início e crescimento do negócio.

6. Extensão do crescimento do negócio por meio da atividade empreende- dora sustentada.

Todas essas atividades levam tempo e não obedecem a regras defi nidas, fa- zendo, por vezes, com que o empreendedor volte atrás no processo ou, ainda, mude os caminhos para ajustar seu negócio às novas oportunidades. As pes- soas que “fazem acontecer” possuem o talento empreendedor, uma combina- ção feliz de percepção, direção, dedicação e muito trabalho. Se há esse talento, tem-se a oportunidade de crescer, diversifi car e desenvolver novos negócios. Mas o talento sem idéias é como uma semente sem água. Quando o talento é somado à tecnologia e ao capital e o empreendedor tem idéias viáveis, a formu- lação química está pronta para proporcionar resultados favoráveis.

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Nosso país precisa de pessoas como você. Pessoas com iniciativa e de- dicação. Pessoas capazes de se engajar em novos negócios, produzir riqueza, participar do crescimento econômico, abrir novos empregos e gerar valor para a sociedade. Este é o espírito empreendedor que incentiva novos empreendi- mentos, impulsiona a prosperidade e aumenta as oportunidades de novos ne- gócios e iniciativas.

E

xistem vantagens e desvantagens em trabalhar para outras empresas ou em- pregadores, assim como também existem vantagens e desvantagens se você decidir trabalhar para si mesmo. Ter um patrão ou ser dono do próprio negócio: eis a decisão inicial. Existem muitas razões pelas quais muitas pessoas consti- tuem os seus próprios negócios e assumem todos os riscos inerentes. E — o mais importante — se você seguir cuidadosamente as instruções, poderá ter a sua independência laboral e fi nanceira, ser o dono do próprio nariz e construir algo totalmente seu. Para tanto, a sorte é necessária. Mas ela depende de muitos fato- res, complicados e externos, que escapam totalmente do seu controle ou do seu conhecimento. O ideal é contar com a sua própria capacidade e o seu preparo técnico e profi ssional para o novo desafi o. Prever os riscos e os possíveis tropeços aumenta substancialmente as chances de sucesso uma vez que você consegue neutralizá-los. Agir com cautela, sem pressa e com muito bom senso: esses são os ingredientes principais para você começar a pensar em seu próprio negócio.