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2. A educação bilíngue para surdos

2.1 Materiais didáticos na educação de surdos

2.1.1 Materiais de apoio à aprendizagem bilíngues em formato digital

de trabalho, estudos ou socialização. A naturalização do uso das tecnologias tem proporcionado o contato das crianças cada vez mais cedo à elas. Em rotinas sempre ligadas de alguma forma à internet, se faz necessário que a escola também traga esta ferramenta para a sala de aula, não só como suporte extra para as aulas mas também

22 proporcionando o letramento digital dos alunos. Nesse sentido, as autoras Nascimento e Liz (2017, p.265) ressaltam que “Na atualidade, as tecnologias digitais são potencializadoras não somente do processo de comunicação, mas também, como estratégia de ensino”.

Pensando na educação bilíngue de surdos, a utilização de tecnologias digitais tem dado resultados importantes como apontado nas pesquisas de Anunciação, Nascimento e Souza (2018), Cabello e Nogueira (2016), Cruz (2016), Lebedeff e Santos (2014), Lins e Cabello (2019) e Nascimento e Liz (2017).

Cabello e Nogueira (2016 p.184) consideram que:

[...] as tecnologias digitais podem apoiar sobremaneira as crianças surdas, que têm a Língua Brasileira de Sinais (Libras) como primeira língua (L1) e encontram-se em fase de apropriação da escrita em Língua Portuguesa, entendida sob uma perspectiva bilíngue de educação de surdos como uma segunda língua (L2) para essas crianças.

Ou seja, as tecnologias digitais podem ser aliadas no processo educativo dos surdos. Elas são um campo de interesse muito recorrente entre as crianças e sua utilização com apropriação didática pode gerar maior interesse e dedicação dos estudantes. Além disso, materiais digitais costumam trazer uma maior ludicidade que permite trabalhar o conteúdo de forma mais prazerosa e facilita a compreensão de conceitos trabalhados.

Uma das vantagens que o uso das tecnologias traz é a relação que permite estabelecer entre a sua tridimensionalidade e a materialidade da Libras. Tal tridimensionalidade é inexistente nos livros didáticos, e sobre este assunto Lebedeff e Santos (2014, p.1077) exemplificam que

Por ser uma língua viso-espacial, a Libras apresenta peculiaridades específicas distintas das línguas orais. Por exemplo, um dos componentes fonológicos da Libras é o movimento e, infelizmente, as cartilhas não possibilitam a visualização do movimento. Muitas cartilhas utilizam a estratégia de desenhar flechas para indicar direção e pontilhados para informar movimento. Entretanto, não são informações claras e precisas.

Esta precisão e clareza pode ser trabalhada através de vídeos em formato digital que tragam uma visualização tridimensional ao movimento. O vídeo possibilita trabalhar a tríade de semioses necessárias na educação bilíngue que são: a escrita, sinais em Libras e imagem. Nesse aspecto, segundo Cabello e Lins (2019, p.579), no que se refere às “potencialidades trazidas pelas mídias digitais, principalmente recursos como imagens e vídeos, a língua de sinais pode ser aliada aos demais recursos semióticos que privilegiam as potencialidades visuais na produção de

23 materiais bilíngues”. Portanto, os recursos digitais possibilitam um trabalho de forma mais completa, combinando as semioses para uma aprendizagem mais efetiva.

É necessário considerar que a produção de vídeos que trabalhe esta modalidade educacional requer um planejamento dos recursos de forma minuciosa. Conforme Cruz (2016, p.237), o vídeo em Libras traz necessidades específicas para que possa ter uma boa compreensão pelo espectador

[...] há uma falta de materiais de vídeo em Libras, ou seja, que junte imagem e língua de sinais e português, pois a legendagem e a presença de um intérprete-tradutor surdo ou ouvinte bilíngue se faz necessária, além de imagens (fotografias, mapas) que deslizem após as explicações e complementem o texto.

Galasso et al. (2018, p.66) analisam o processamento de informações multimídia por meio do desenvolvimento dos surdos, sendo que os dados da pesquisa revelam que o processamento de múltiplas semioses através das produções em vídeo podem atuar de forma positiva na aprendizagem. Segundo tais autores:

O processamento de informação inicia a partir do momento que o estudante surdo assimila imagens e palavras de uma apresentação multimídia, que pode ser, por exemplo, um vídeo em Libras. Para capturar essa apresentação, as palavras escritas e as imagens entram pelos olhos do surdo e são brevemente representadas na memória sensorial. Em seguida, na memória de trabalho, o surdo seleciona as principais palavras e imagens e as organiza, categorizando palavras escritas em um modelo verbal, e imagens em modelo pictórico. A partir dessa organização, estrutura-se um modelo integrado de informações. Esse modelo integrado está diretamente vinculado à memória de longa duração, onde o aluno pode ativar o conhecimento pré-existente para ser integrado com os modelos verbal e pictórico na memória de trabalho, armazenando o conhecimento resultante na memória de longa duração.

Além disso, os autores trazem aspectos do modelo cognitivo proposto por Mayer adaptando para as educação de surdos, este modelo “descreve alguns princípios fundamentais por trás da aprendizagem multimídia, definidos a partir de sua teoria e com base em evidências que são essenciais para elaboração dos materiais bilíngues”

(p.67) que são eles:

"Princípio multimídia": explora a importância de combinar imagens e palavras. Considerando que os surdos se desenvolvem prioritariamente através da visualidade, as imagens são fundamentais para a compreensão e, segundo os autores, quando utilizadas junto com as palavras, esse processo auxilia no processo de aprendizagem. Além disso, os autores destacam que: “devido à característica visuogestual, a Libras pode ser apresentada junto à língua portuguesa, respeitando a estrutura frasal de cada uma dessas línguas, compondo dois canais informacionais de processamento necessários à educação bilíngue.” (p.67)

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➔ “Princípio da contiguidade espacial”: aborda a necessidade de se pensar na espacialidade como um elemento didático, sendo necessário que as palavras estejam próximas das imagens, tendo a imagem como uma reafirmação do texto.

➔ “Princípio da segmentação”: traz a importância de se trabalhar os conteúdos de forma segmentada dando a oportunidade do espectador ir absorvendo o conteúdo de forma gradual.

“Princípio da atenção dividida”: deve-se diminuir a possibilidade de que a atenção seja dividida em mais de um foco, pois sobrecarrega a memória de trabalho.

Nesse sentido, os surdos têm a visão periférica mais desenvolvida, o que pode levar a uma dispersão caso o material não seja direcionado para um único foco.

“Pressuposto da capacidade limitada”: é necessário que o material não traga informações irrelevantes ou redundantes. Deve ser focado no conteúdo a ser trabalhado, pois este foco permite a diminuição da sobrecarga da memória de trabalho.

Portanto, através dos pontos analisados por Galasso et al. (2018) do modelo de Mayer, e realocados para a educação de surdos, temos uma base importante de conteúdos para analisar e considerar na produção de materiais didáticos bilíngues digitais em vídeo.

Além da pesquisa desses autores referente às produções em vídeo, é importante abordarmos também a pesquisa de Nascimento e Liz (2017) e Anunciação, Nascimento e Souza (2018) que analisam a utilização de jogos digitais para o desenvolvimento das crianças surdas. Como resultados, Nascimento e Liz (2017, p.286) trazem que:

Os jogos despertaram o interesse e a motivação das crianças no processo de letramento. As atividades digitais mediadas pelo lúdico geraram uma aprendizagem significativa em relação, principalmente, à aquisição e manutenção do léxico dos textos trabalhados em sala de aula.

Portanto, os jogos são importantes sintetizadores dos processos de aprendizagem trabalhados em sala de aula. Ainda, relatam a importância de se pensar os recursos tecnológicos como uma possibilidade de inovar e utilizá-los como um suporte de ensino e aprendizagem que possibilita o acesso ao mundo letrado. Ainda indicam “a Internet como um dos meios eletrônicos mais eficientes de contato com a língua escrita, pois possibilita a expansão do vocabulário e atribui novos significados aos signos, tornando como recurso do letramento ao uso da Língua Portuguesa."

(p.273). A utilização de tecnologias como a internet traz a possibilidade de trabalhar o

25 letramento digital, dando acesso ao aluno à diversos formatos de texto presentes neste meio. Possibilita também o professor reelaborar as suas práticas pedagógicas através das novas possibilidades que este artefato permite.

Na pesquisa de Anunciação, Nascimento e Souza (2018, p.14), temos que “na alfabetização de crianças surdas jogos que tratam a questão visual são fundamentais para o seu aprendizado” e, sendo assim, “o jogo tem sido defendido na educação como um dos recursos que propõe diversificação de estratégias didáticas para aprendizagem e desenvolvimento das crianças” (p.12). Os jogos além de se darem no campo da visualidade, permitem a diversificação do trabalho pedagógico beneficiando o processo de ensino, desenvolvimento e aprendizagem.

Pode-se concluir, então, que tanto as produções em vídeo quanto a utilização de jogos digitais são importantes aliados no desenvolvimento de crianças surdas. Sendo assim, mediante as informações obtidas através do referencial teórico inicia-se a busca dos materiais didáticos digitais.

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