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A casa moderna brasileira na década de

MATERIAIS E TÉCNICAS CONSTRUTIVAS

Há muita continuidade entre os projetos da publicação do livro da Acrópole e os do livro de Mindlin, corroborando a afirmação de que na década de 1950, particularmente, na sua primeira metade, há grande convergência arquitetônica moderna entre São Paulo e Rio de Janeiro (para não dizer em todo o país). Assim, os comentários de ambas as publicações aplicam-se simultaneamente.

Posso dizer com segurança que a Arquitetura Moderna paulistana firmou-se definitivamente na cidade somente depois da 2ª Guerra Mundial encerrada em 1945. Os anos 50 foram primordiais e nesse tempo, quatro determinantes concorreram para tal fato: a produção siderúrgica de Volta Redonda; a conversão ao modernismo de arquitetos oriundos dos cursos conservadores anexos às escolas de engenharia; a chegada a São Paulo de talentosos profissionais estrangeiros e, finalmente, a presença de arquitetos cariocas inspirados por Lucio Costa a partir, tanto de seus textos decisivos, como de sua atuação na direção da escola de arquitetura do Rio e na sua chefia na elaboração coletiva do projeto do

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edifício do Ministério da Educação, onde se manifestou, também, Le Corbusier, o

convidado carismático, o dimiridor de dúvidas (LEMOS, 2005) 50.

A materialidade é aplicada com grande diversidade nos projetos residenciais analisados, buscando uma composição entre suas diversidades de texturas e materiais, assim como, composições com a luz e sombra dos ambientes. Como descreve o arquiteto Nilo Ramos Vilaboim, em seu projeto residencial: “Foram evitados panos grandes do mesmo material. Há, ao contrário, um harmonioso intercalamento de vários revestimentos decorativos, tais como: de pedra (canjica sêca), pastilhas de porcelana de várias côres, massa raspada, esmalte em verde claro com molduras brancas nas esquadrias de madeira” (VILABOIM, 1956).

Dentre os principais materiais aplicados, pode-se citar alguns que fazem clara referência histórica, como é o caso dos muxarabis, da casa de Argemiro Hungria Machado, de 1942, projeto de Lúcio Costa, no Rio de Janeiro, ou mesmo na casa de João Paulo de Miranda Neto, de 1953, projeto de Lygia Fernandes, em Maceió. Afirma Mindlin sobre a casa de Argemiro Hungria Machado, projeto de Lúcio Costa, 1942, no Rio de Janeiro,

Esta casa ilustra uma faceta de Lúcio Costa relacionada com o seu trabalho no SPHAN (Serviço do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional), dedicado à cuidadosa restauração e reconstrução de monumentos históricos e artísticos nacionais. Aqui, os elementos tradicionais se integram em uma discreta expressão moderna. A construção maciça, o grande beiral, as telhas coloniais; o alinhamento simétrico das janelas da fachada principal e os muxarabis do pátio – evocação nostálgica do passado – se fundem naturalmente com as características modernas do projeto: o exterior ligado ao interior por uma varanda inteiramente aberta ao pátio, uma grande porta com brise-soleil móveis em madeira dando para o jardim em frente e, no andar superior, os jardins de inverno junto aos respectivos quartos (MINDLIN,1999, p.44).

A alvenaria aparente ou revestida é utilizada em diversos projetos aplicada, geralmente, como elemento compositivo sobreposto a outros materiais exercendo a função de vedação; elementos vazados, ou blocos convencionais utilizados para compor elementos vazados, exemplo do pavilhão escritório e casa de hóspedes de Oswaldo Artur Bratke, de 1953, em São Paulo.

Os inúmeros brise soleil e pergolados de concreto ou madeira que visam melhor proteger a residência da insolação, compondo diferentes sensações de luz e sombra em seus ambientes, ao mesmo tempo em que visam protegê-los da luz direta ”São de se notar o páteo social interno e os acabamentos em materiais naturais. Dentro de um orçamento limitado obteve-se uma residência confortável e perfeitamente satisfatória” (BARROS, 1956)51.

50 LEMOS, Carlos A.C. (2005). O modernismo arquitetônico em São Paulo. São Paulo: III Seminário

Docomomo Estado de São Paulo.

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37 A madeira é utilizada tanto como revestimento quanto como esquadria, e a pedra pode ser encontrada constituindo uma parede estrutural ou como revestimento de alguma superfície, sendo aplicados de maneira aparente e garantindo um aspecto de utilização de materiais naturais a obra. As esquadrias das janelas, são em sua maioria de madeira ou alumínio, compostas por venezianas, que protegem da insolação, como afirma Mindlin sobre a mescla de elementos históricos a elementos contemporâneos, na casa para José Pacheco Filho, 1946, Cataguases, projeto de Aldary Henrique Toledo. “Os detalhes da varanda, com sua balaustrada contínua em madeira, passando pela frente dos esbeltos suportes do telhado, contra um fundo de portas com venezianas, são um exemplo característico de uso contemporâneo de elementos do passado” (MINDLIN,1999, p.50).

As coberturas das residências apresentam-se como telhados sem beiral, geralmente, com telhas onduladas de cimento-amianto, já os telhados com telha de barro, geralmente de duas águas ou quatro, possuem beiral com sua estruturação de grelha de madeira, aparente ou revestida, há também as coberturas planas, como é o caso da residência de Oswaldo Arthur Bratke e de seu pavilhão, de 1953, em São Paulo, da residência de Oscar Niemeyer, de 1953, no Rio de Janeiro, e na casa de Paulo Antunes Ribeiro, cuja uma cobertura é plana, 1955, Rio de Janeiro.

Todas estas obras citadas são residências dos própios arquitetos. E ainda, também utiliza-se da cobertura plana nos projetos de Eugênio Szilagy para Amazonas Braun da Silva, de Plínio Croce e Roberto Aflalo para o Banco Hipotecário Lar Brasileiro, de Oswaldo Arthur Bratke para Alberto de Carvalho, e de Henrique Mindlin para Horst Sekkel.

O terraço jardim defendido por Le Corbusier, é aplicado nos dormitórios e cozinha do projeto residencial de Eduardo Corona (residência 23 do livro Residências Interiores). A cozinha usufrui de um terraço jardim interligado diretamente a ela, já nos dormitórios, por tratar-se de um estudo de projeto, não se define de maneira totalmente clara seu uso, com a apresentação de duas plantas e uma perspectiva.

Muitos dos projetos fazem suas próprias referências, geralmente de históricas, fortalecendo a criação deste modelo tão desejado, o da casa moderna brasileira. Para a casa de veraneio do arquiteto Carlos Ferreira, de 1949, em Nova Friburgo é utilizado o sistema de pau-a-pique, garantindo um baixo custo a obra, além de uma importante referência a este sistema construtivo tão utilizado no Brasil.

Aqui, adotou-se o sistema de pau-a-pique, ainda muito comum no interior do Brasil, no qual a estrutura em madeira, incluindo suas ramificações, é simplesmente recoberta com argila, sem uso de qualquer outro tipo de liga. O telhado se apóia nas paredes, exceto no living, onde é sustentado por uma estrutura independente de postes de madeira, permitindo uma maior liberdade no tratamento da fachada. O teto, originalmente em sapê, foi construído mais tarde por telhas coloniais.

As cores usadas nas fachadas combinam branco de caiação com amarelo, azul colonial tradicional e cores naturais de pedra cinza e madeira (apenas impregnada com um verniz protetor incolor) (MINDLIN,1999, p.54).

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Pode-se citar a residência de Affonso Eduardo Reidy para Carmem Portinho, 1952, no Rio de Janeiro, no que diz respeito à integração de diferentes materiais, como pedra, madeira e concreto (possivelmente aparente) os quais são evidenciados diante da aplicação destes distintos elementos compondo diferentes planos verticais.

Já no projeto residencial de Vilanova Artigas para Heitor de Almeida, 1949, em Santos, Mindlin presencia a arquitetura que posteriormente foi considerada hegemônica pela “escola paulista”. Ele descreve Artigas como um defensor da expressão clara e honesta de seus métodos e técnicas contemporâneos.

Artigas vê o homem moderno como um dominador e organizador do seu meio ambiente, na busca de um marco adequado a uma sociedade integrada e harmônica. Daí sua preferência por uma expressão clara e honesta dos métodos e técnicas contemporâneos, em vez de submissão à paisagem e uma fusão com a natureza. Se, por um lado, esta preferência pode parecer algo seca e doutrinária, por outro, não deixa de ser uma manifestação de consistente percepção poética (MINDLIN, 1999, p. 56).

Os novos materiais e técnicas construtivas foram incorporados as obras, permitindo soluções projetuais mais elaboradas, como afirma Mindlin sobre a casa para Olívio Gomes, 1954, São José dos Campos, de Rino Levi e Roberto Cerqueira César:

O telhado, cujo isolamento foi objeto de cuidados especiais, consiste de: telhas onduladas de cimento – amianto, uma câmara de ar, de 21 cm de altura, aberta nos lados, uma placa fina de lajotas e teto revestido em madeira, apoiado em uma estrutura de concreto armado.

Devido a seu tamanho excepcional, o living recebeu um tratamento acústico especial. O controle de ventilação cruzada, uma característica dos trabalhos de Rino Levi, foi obtido pelo rebaixamento dos tetos dos banheiros e pela colocação de ventiladores em fibro-cimento no telhado. A iluminação dos banheiros é feita através de tetos de tijolos de vidro encimados por clarabóias inseridas no telhado. A parede ao lado da entrada principal e o painel da sala de jogos são decorados com azulejos cerâmicos de Roberto Burle Marx, que também projetou o jardim (MINDLIN,1999, p.92).

O mesmo se pode afirmar sobre o projeto de Oswaldo Arthur Bratke para sua residência na cidade de São Paulo (1953), onde desenvolve uma técnica construtiva que lhe permite construir um telhado com inclinação de zero porcento, com uma laje de concreto. Como afirma Mindlin (1999, p. 80) “Nesta casa que fez para si (...), o arquiteto conseguiu equacionar os problemas suscitados por um telhado plano no clima paulistano típico, caracterizado por variações bruscas de temperatura e umidade. Um arranjo regular das colunas de concreto sustenta uma laje de concreto armado, com revestimento asfáltico e de folhas de alumínio, coberta por telhas onduladas de cimento-amianto, entremeada por uma câmara de ar isolante”.

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QUADRO DE ANÁLISE DO

OBJETO DE PESQUISA

Período de análise

A revista Acrópole

Residências unifamiliares publicadas pela revista