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AVIFAUNA EM FRAGMENTOS DE MATA CILIAR E ÁREAS ADJACENTES NO BAIXO RIO GRANDE, SUDESTE DO BRASIL

MATERIAL E MÉTODOS Área de estudo: descrição geral

A bacia hidrográfica do rio Grande (Figura 1) pertence à bacia do rio Paraná, uma das maiores do Brasil, que ocupa cerca de 10% do território nacional (891.309 km2). Drena áreas da região sul, sudeste e centro-oeste, constituindo, juntamente com a bacia do rio Paraguai e do rio Uruguai, a grande bacia do rio Prata. A bacia do rio Grande, segunda maior do estado, drena 15% do seu território e ocupa uma área de cerca de 161.000 km2, sendo que 60%, aproximadamente 86.500 Km2, pertencem ao estado de Minas Gerais e o restante, ao estado de São Paulo. Nesta bacia é gerada cerca de 70% de toda energia elétrica do estado de Minas Gerais (Paiva et al. 2002).

As águas do rio Grande nascem em Minas Gerais, na serra da Mantiqueira a uma altitude de 1.980 metros, próximo aos municípios de Alagoa e Bocaina de Minas. O rio Grande percorre uma distância de 1.301 km desde sua cabeceira até sua foz. A partir da nascente, seu curso tem uma orientação SO-NE até a divisa dos municípios de Lima Duarte e Bom Jardim de Minas. Mais a jusante, passa a correr para o Sul até a barragem de Jaguará, município de Sacramento. A montante de Jaguará, à altura do reservatório de Estreito, o rio Grande passa a receber as águas dos rios do estado de São Paulo, e serve de divisa entre este estado e Minas Gerais. O rio muda então seu curso e passa a correr segundo a direção E-O até sua confluência com o rio Paranaíba, originando o Rio Paraná (Castro 2001).

Seus principais tributários são: rio das Mortes, Jacaré, Uberaba e Verde à margem direita; e rio Aiuruoca, Cervo, Sapucaí, Sapucaí-Mirim, Pardo e Turvo à margem esquerda (Paiva et al. 2002). A partir do município de Santana do Garambéu, MG, tem início uma sucessão de barragens de Usinas Hidroelétricas (UHEs), que hoje proporcionam ao rio Grande uma nova fisionomia. A bacia do rio Grande apresenta uma série de onze reservatórios sendo eles, de montante a jusante: Camargos, Itutinga, Furnas, Peixoto, Estreito, Jaguará, Igarapava, Volta Grande, Porto Colômbia, Marimbondo e Água Vermelha (Santos e Formagio 2000).

A primeira barragem construída no rio Grande foi uma pequena usina em um braço da cachoeira do Marimbondo em 1929. A UHE de Furnas foi implementada no final dos anos 50, criada como forma de evitar uma crise energética no país e desde então, começaram as implantações de UHEs de grande porte ao longo do rio. A

20 presença maciça de Usinas Hidrelétricas nesse rio alterou suas características originais de corredeiras caudalosas para um ambiente quase lêntico, transformando a maior parte do rio em uma série de lagos artificiais (Godinho e Godinho 1994).

O presente estudo foi desenvolvido na bacia do rio Grande, mais precisamente na região do baixo rio Grande, em cinco localidades ao longo do reservatório da Usina Hidrelétrica de Volta Grande (Figura 1). As áreas selecionadas para as amostragens são caracterizadas pela existência de fragmentos de mata ciliar em diferentes estágios sucessionais sendo alguns, inclusive, constituídos a partir de reflorestamentos realizados pela CEMIG. Estes fragmentos são circundados por um habitat matriz dominado por atividades agrossilvopastoris diversas, principalmente monoculturas de cana-de-açúcar, além de áreas de uso antrópico, veredas e lagoas marginais tomadas por vegetação paludícola (Figura 2). Essa região, sob influência da UHE Volta Grande, é classificada como uma área de “Alta Importância Biológica” para a conservação de aves no estado de Minas Gerais de acordo o Atlas para a Conservação da Biodiversidade em Minas Gerais (Drummond et al. 2005).

O reservatório está situado a, aproximadamente, 500 metros acima do nível do mar, tendo à montante o reservatório de Igarapava e à jusante o reservatório de Porto Colômbia (Santos e Formagio 2000). O reservatório abrange os municípios de: Conceição das Alagoas, Água Comprida e Uberaba, no estado de Minas Gerais, e Miguelópolis, Ituverava, Aramina e Igarapava, no estado de São Paulo. Possui uma área inundada de 222 Km2, um perímetro de 80 Km e um volume de 2,3 bilhões de m3 de águas para geração de energia elétrica (Greco 2002, Braga e Gomiero 1997, Gomiero et al. 2010). A UHE Volta Grande foi construída entre os anos de 1970 a 1974 e pertence à Companhia Energética de Minas Gerais (CEMIG) (Barroca 2012).

Geologicamente, o reservatório está inserido na região da bacia do Paraná, mais especificamente sobre as rochas basálticas da Formação Serra Geral. Esta formação é caracterizada por uma sucessão de derrames de lavas, predominantemente básicas, contendo domínios subordinados intermediários e ácidos, principalmente no terço médio e superior, com algumas intercalações arenosas (Brito 1979). Os afloramentos são extremamente raros, pois os solos, chamados Latossolos Vermelhos, são facilmente formados a partir do basalto e podem se apresentar com até 20 metros de espessura; é a chamada “terra roxa” da região agrícola do Triângulo Mineiro (MG) e do sudoeste paulista, região de Ribeirão Preto (SP) (Castro 2001). Ainda segundo este autor, de modo geral, são solos porosos, bastante permeáveis e bastante resistentes à erosão, em

21 função do elevado grau de floculação e da presença da argila em sua constituição. Ocorrem em grande parte em relevo propício à mecanização e, quando devidamente adubados e corrigidos, apresentam grande potencialidade para produção de grãos (culturas de ciclo curto).

Figura 2. Imagens Landsat das cinco áreas de estudo por classes de uso e ocupação do solo: (A) Área 1, (B) Área 2, (C) Área 3, (D) Área 4 e (E) Área 5. Para a classificação, considerou-se um buffer de três quilômetros a partir de um ponto central do fragmento de mata ciliar escolhido para o estudo.

A vegetação predominante na região é característica dos domínios do Bioma Cerrado e atualmente se encontra fortemente descaracterizada pela agroindústria (Costa et al. 1998). Os maiores impactos antrópicos que acometem a vegetação da região se originam da industrialização crescente, agroindústria de alta tecnologia, crescimento demográfico e urbanização, projetos de irrigação e infra-estrutura de apoio e construção de usinas hidrelétricas (Costa et al. 1998).

A região possui usinas açucareiras que foram implantadas na primeira metade do século e modernas indústrias químicas que constituem o pólo químico de Uberaba (MG), Igarapava e Miguelópolis (SP). Estas indústrias situam-se às margens de afluentes do reservatório, lançando neles seus efluentes. Além disso, o extrativismo mineral, representado pela extração de sedimento de leito através de dragas, vem sendo feito ao longo dos últimos anos no reservatório (Campos 2003).

O clima da região é de savana tropical, quente e úmido, com período seco correspondendo ao outono e inverno, que pode se estender de cinco a sete meses, e com 80% das chuvas entre outubro e março, sendo as menores médias de pluviosidade registradas nos meses de julho e agosto (Figura 3). O índice médio pluviométrico anual da região atinge 1500 mm, conforme dados obtidos pela CEMIG na estação meteorológica do município de Uberaba. As maiores médias de temperaturas máximas são registradas nos meses chuvosos, chegando a atingir 30C° em outubro e março. Já as menores médias de temperaturas mínimas são observadas nos meses de junho e julho. A temperatura média fica em torno de 23C° nos meses chuvosos e 19C° nos meses secos (Greco 2002).

11.2 8.2 5.8 2.9 1.5 0.7 0.2 0.4 1.7 3.2 5.4 7.7 0.0 2.0 4.0 6.0 8.0 10.0 12.0

Jan Fev Mar Abr Mai Jun Jul Ago Set Out Nov Dez

Meses P lu vi o si d ad e (m m ) m éd ia 1 99 4 - 20 12

Figura 3. Média de precipitação pluviométrica (mm) entre 1994 a 2012 para a região onde o estudo foi desenvolvido; barras em branco (estação seca) e barras em cinza (estação chuvosa).

25 Área de estudo: descrição das cinco áreas avaliadas:

Através do programa ArcGis, em um buffer de três quilômetros a partir do centro de cada fragmento de mata ciliar, foram calculadas as porcentagens referentes às classes de uso e ocupação do solo existentes nos habitats matrizes de cada área estudada (Tabela 1). Para todas as áreas foi vista uma predominância da monocultura de cana-de-açúcar na matriz, representando mais de 60% da cobertura do entorno de cada fragmento de mata ciliar (Tabela 1).

Área 1: Estação Ambiental de Volta Grande (EAVG) (20°01’27”S / 48°12’45”W), município de Conceição das Alagoas, Minas Gerais. A EAVG, criada em 1976, localiza-se à jusante da UHE Volta Grande e conta atualmente com uma reserva florestal de 391 hectares, um viveiro de mudas de espécies vegetais nativas e uma estação de piscicultura (Filardi et al. 2007, Barroca 2012). Grande parte de sua cobertura vegetal original foi alterada durante a construção da barragem da usina (Moreira et al. 2008). Porém, em seu interior, ainda é possível encontrar uma considerável variação fisionômica, sendo cerca de 190 ha de cerrado sensu stricto, 16 ha de cerradão, 85 ha de floresta estacional semidecidual em franco processo de sucessão secundária e ainda 30 ha de várzea (vegetação palustre) localizados ao longo do Ribeirão do Prata (Filardi et al. 2007). Ainda são encontradas dentro da Estação Ambiental áreas descampadas com predomínio de gramíneas, lagoas, áreas caracterizadas pelo plantio de eucaliptos com sub-bosque regenerante e áreas ajardinadas de uso antrópico.

Além destas áreas, também foi amostrado dentro da Estação Ambiental, um fragmento de mata ciliar com 20 hectares localizado à margem direita do Rio Grande, próximo à barragem da usina (Figura 4A). Este fragmento é o único dentre as cinco áreas estudadas, constituído por vegetação nativa remanescente. Mede, aproximadamente, 400 metros de largura e 500 metros de comprimento. Apresenta grande diversificação de estratos verticais, com presença de sub-bosque arbustivo, estrato arbóreo e um dossel bem definido. A altura máxima do dossel varia entre 25 e 30 metros (A. Tonaco, com. pess.). Em um estudo recente (Messias et al., dados não publicados) foi constatado que Xylopia aromatica (pimenta-de- macaco) e Siparuna sp. (negamina) são as espécies vegetais mais frequentes no fragmento.

No entorno da EAVG, o habitat matriz é constituído predominantemente por plantações de cana-de-açúcar, áreas de uso antrópico, pastagens e fragmentos florestais (Tabela 1; Figura 4B).

26 Área 2: Fazenda Ipanema (20°05’55”S / 48°09’00”W), município de Água Comprida, Minas Gerais. Nesta área o fragmento de mata ciliar estudado, revegetado em 1994, possui 2,7 hectares e está localizado à margem direta do rio Grande. Possui, aproximadamente, 30 metros de largura e 900 metros de comprimento. Não apresenta sub- bosque tão expressivo quanto ao encontrado na Área 1, porém, ainda assim alguns arbustos podem ser localizados (Figura 4C). A altura máxima do dossel varia entre 20 e 26 metros (A. Tonaco, com. pess.). Em um estudo conduzido por Davide e Reis (2007) foram identificadas 33 espécies arbóreas no fragmento, sendo Tabebuia roseo alba (ipê-branco) e Syzygium jambolanum (jambolão) as de maior ocorrência. Os habitats adjacentes ao fragmento são caracterizados pela presença de cana-de-açúcar, pastagens, veredas e um seringal (Tabela 1; Figura 4D).

Área 3: Fazenda Santa Bárbara (20°09’30”S / 48°07’39”W), município de Miguelópolis, São Paulo. Nesta área o fragmento de mata ciliar estudado, revegetado em 1999, possui 3,3 hectares e está localizado à margem esquerda do rio Grande. Mede, aproximadamente, 30 metros de largura e 1.100 metros de comprimento. Em seu interior há uma quantidade significativa de gramíneas (capim-colonião) e sub-bosque ausente (Figura 4E). O estrato arbóreo é composto por árvores de médio porte com altura máxima de 18 metros (A. Tonaco, com. pess.). Em seu interior foram encontradas 37 espécies arbóreas, sendo Clitoria fairchildiana (faveira) e Schinus terebinthifolius (aroeira-vermelha) as com maiores densidades (Davide e Reis 2007). Possui como habitat matriz plantações de cana-de- açúcar e pastagens (Tabela 1; Figura 4F).

Área 4: Usina Colorado 1 (19°59’32”S / 47°48’53”W), município de Igarapava, São Paulo. Nesta área o fragmento de mata ciliar estudado, revegetado em 1997, possui 18 hectares e está localizado à margem esquerda do rio Grande. Está localizado a uma distância aproximada de 500 metros de uma usina sucroalcooleira (Usina Junqueira) e a pouco mais de dois quilômetros da Rodovia Anhanguera. Mede, aproximadamente, 100 metros de largura e 1.800 metros de comprimento. No interior do fragmento há o predomínio de gramíneas (capim-colonião) e o sub-bosque é descontinuo (Figura 4G). O estrato arbóreo é formado por árvores de grande porte, com algumas ultrapassando 25 m (A. Tonaco, com. pess.). Neste fragmento foram encontradas 27 espécies arbóreas, sendo Anadenanthera peregrina (angico) e Leucaena sp. (leucena) as espécies dominantes (Davide e Reis 2007). Segundo estes autores, a espécie Leucaena sp., devido ao seu comportamento agressivo, coloniza o reflorestamento ciliar, o que não é uma condição ideal para o processo sucessional da área. Os ambientes adjacentes ao fragmento são formados por plantações de cana-de-açúcar e lagos

27 marginais com grande quantidade de macrófitas e vegetação palustre (Figura 4H). Verificou- se nesta área a presença de ranchos de pesca às margens do rio, fato que interfere na preservação e manutenção do reflorestamento (Tabela 1).

Área 5: Usina Colorado 2 (19°59’25”S / 47°46’53”W), município de Igarapava, São Paulo. Nesta área o fragmento de mata ciliar estudado, revegetado em 2005, possui 8,8 hectares e está localizado à margem esquerda do rio Grande. Está a uma distância aproximada de 800 metros de uma usina sucroalcooleira (Usina Junqueira) e a 100 metros da Rodovia Anhanguera. Está distante, cerca de três km, da área de estudo descrita anteriormente (Área 4 – Usina Colorado 1). Mede, aproximadamente, 100 metros de largura e 900 metros de comprimento. O interior do fragmento é dominado por gramíneas (capim-colonião) e o sub- bosque está ausente (Figura 4I). O estrato arbóreo é formado por árvores de grande porte com altura máxima atingindo 30 m (A. Tonaco, com. pess.). As espécies Schizolobium parahyba (guapuruvu) e Clitoria fairchildiana (faveira) se destacam pelos elevados valores médios de altura e diâmetro (Davide e Reis 2007). Assim como no fragmento anterior, Leucaena sp. é a espécie arbórea dominante (Davide e Reis 2007). Os habitats adjacentes são formados por plantações de cana-de-açúcar e lagos marginais dominados por macrófitas e vegetação palustre. Esta área apresenta considerável interferência antrópica devido à existência de residências, ranchos de pesca e uma olaria no entorno do fragmento, fato que interfere na preservação e manutenção do reflorestamento (Tabela 1).

Tabela 1. Tamanho (km2) e porcentagem (%) das classes de uso o ocupação do solo a partir de um buffer de 3 km das cinco áreas de estudo localizadas ao longo do reservatório da UHE Volta Grande, sudeste do Brasil.

Classes de uso e

ocupação do solo kmÁrea 1 2(%) kmÁrea 2 2(%) kmÁrea 3 2(%) kmÁrea 4 2(%) km2 Área 5 (%) Mata Ciliar 0,23 (2) 0,08 (1) 0,13 (1) 0,18 (1) 0,12 (1) Cana 8,45 (65) 9,70 (63) 12,36 (88) 11,38 (74) 10,68 (69) Fragmento de Mata 3,54 (27) 0,54 (3) 1,41 (10) 2,38 (16) 2,54 (16) Área Urbana 0,42 (3) 0,28 (2) 0,02 (0,2) 0,91 (6) 1,45 (10) Lago 0,25 (2) 0,26 (2) 0,12 (0,8) 0,43 (3) 0,62 (4) Pasto 0,09 (1) 0,75 (5) – – – Seringal – 2,81 (18) – – – Reservatório – 1,0 (6) – – –

28

Figura 4. Ambientes amostrados nas áreas de estudo: (A) Área 1 – Mata Ciliar, (B) Área 1 – vista geral da matriz, (C) Área 2 – Mata Ciliar, (D) Área 2 – Seringal (matriz), (E) Área 3 – Mata Ciliar, (F) Área 3 – Canavial (matriz), (G) Área 4 – Mata Ciliar, (H) Área 4 – Lago (matriz), (I) Área 5 – Mata Ciliar e (J) Área 5 – Canavial e rodovia (matriz).

29 Métodos

Levantamento Qualitativo

De acordo com Vielliard e Silva (1990), o levantamento qualitativo ou exaustivo tem como objetivo estabelecer a lista mais completa possível das espécies de aves que ocorrem em um determinado local. Este levantamento não mede a abundância das espécies, mas é de fundamental importância para a identificação de seus ciclos biológicos e preferências ambientais (Donatelli et al. 2004).

Para o levantamento das espécies de aves em campo, foram conduzidas campanhas mensais de cinco dias consecutivos de duração durante os meses de abril, maio, junho, julho, outubro, novembro e dezembro de 2013 e janeiro de 2014. Cada área estudada foi amostrada durante um dia a cada mês. O levantamento qualitativo foi realizado através de transecções dentro dos fragmentos de mata ciliar e nos habitats matrizes adjacentes durante e após o censo quantitativo de aves nos períodos do dia entre 06:00 e 11:00 e 13:00 e 18:00 horas, perfazendo um esforço amostral de 10 horas de observação/dia.

Levantamento Quantitativo

Para o estudo quantitativo da avifauna foi empregado o método de “amostragem por pontos fixos”, idealizado por Blondel et al. (1970) para regiões temperadas e adaptada por Vielliard e Silva (1990) para regiões tropicais (Donatelli et al. 2004). Por campanha, eram amostrados seis pontos em cada área. Três pontos foram estabelecidos no interior dos fragmentos de mata ciliar e outros três pontos no habitat matriz. A distância mínima entre cada ponto foi de 350 metros a fim de evitar a sobreposição do território de algumas espécies (Vielliard et al. 2010) e garantir a independência estatística entre as detecções (Develey 2003). A ordem de amostragem dos pontos era definida por sorteio prévio. Em cada ponto o observador permanecia por 20 minutos registrando todas as espécies de aves observadas e/ou ouvidas, bem como comportamentos de forrageamento, nidificação e presença de indivíduos imaturos.

Associado a estes dois métodos foram utilizadas redes de neblina (dimensões 12 X 2,5 m, com malha de 20 mm) como método complementar de levantamento para captura e anilhamento das aves (Licença de Coleta SISBIO nº 36758-2). Dez redes eram abertas no interior dos fragmentos de mata ciliar do amanhecer até 17:00 horas, sendo checadas a cada 30 minutos visando retirar indivíduos que porventura tenham sido capturados. As aves capturadas eram medidas, pesadas e analisadas quanto à presença de placa de incubação,

30 mudas de penas e ectoparasitos. Após serem marcadas com anilhas de metal numeradas fornecidas pelo Centro Nacional de Pesquisa para Conservação das Aves Silvestres (CEMAVE/ICMBio, Licença nº 367581), eram fotografadas e soltas no local de captura. Espécies registradas apenas através da captura por redes de neblina e no levantamento qualitativo não foram incluídas nas análises de IPA e demais análises estatísticas.

Tanto no levantamento qualitativo quanto no quantitativo as aves foram identificadas visual e/ou auditivamente com o auxílio de binóculo (Nikon 8X40), máquina fotográfica (Canon PowerShot SX50 HS) e consulta a guias de campo (Mata et al. 2006, Sigrist 2013). Um gravador portátil (Sony ICD-PX312) foi utilizado para o registro e documentação de vocalizações não prontamente identificadas em campo para que, posteriormente, pudessem ser identificadas através de comparação com arquivos sonoros. O estudo foi aprovado pela Comissão de Ética no Uso de Animais (CEUA) da Universidade Federal de Ouro Preto (Processo nº 037/2013).

Estrutura da comunidade

De acordo com Costa e Rodrigues (2012) (adaptado de Naka et al. (2002) e Rodrigues et al. (2005)) foi designada, para cada espécie de ave registrada, uma categoria segundo sua Frequência de Ocorrência (FO) nos censos realizados. Este valor permite avaliar a regularidade com que uma espécie é encontrada na área de estudo (Aleixo e Vielliard 1995): C (comum) – espécies registradas entre 75-100% das visitas; RC (relativamente comum) – espécies registradas entre 50-74% das visitas; IC (incomum) – espécies registradas entre 25- 49% das visitas; R (rara) – espécies registradas entre 6-24% das visitas e O (ocasionais) – espécies registradas em menos de 5% das visitas.

As espécies também foram classificadas quanto aos seus hábitos alimentares e estratos preferenciais de forrageamento de acordo com observações de campo e dados da literatura (Schubart et al. 1965, Willis 1979, Sick 1997, Antunes 2005, Lopes et al. 2005a, Lopes et al. 2005b). Baseando-se nestes dados a classificação quanto aos hábitos alimentares foi da seguinte forma:

Insetívoros (INS): espécies cuja dieta é composta por ¾ ou mais de insetos e outros artrópodes.

Onívoros (ONI): espécies cuja dieta é composta por material de origem vegetal e animal em proporções similares.

31 Granívoros (GRA): espécies cuja dieta é composta por ¾ ou mais de grãos.

Nectarívoros (NEC): espécies cuja dieta é composta predominantemente por néctar, mas também por insetos e outros artrópodes.

Carnívoros (CAR): espécies cuja dieta é composta por ¾ ou mais de vertebrados vivos.

Necrófagos (NECRO): espécies cuja dieta é composta por ¾ ou mais de matéria orgânica morta.

Piscívoros (PIS): espécies cuja dieta é composta predominantemente por peixes. Ainda de acordo com estes autores, levando em conta não somente os itens alimentares consumidos, mas também os ambientes e os estratos verticais preferencialmente utilizados durante o forrageamento, as espécies foram agrupadas em 25 guildas tróficas (adaptado de Willis 1979 e Antunes 2005): Frugívoros de dossel (FRU-D), Frugívoros do solo (FRU-S), Onívoros do dossel (ONI-D), Onívoros do sub-bosque (ONI-sb), Onívoros de borda (ONI-B), Onívoros de solo (ONI-S), Onívoros aquáticos (ONI-Aq), Onívoros de brejo (ONI- Br), Carnívoros noturnos (CAR-N), Carnívoros diurnos (CAR-D), Necrófagos (NECRO), Insetívoros de troncos e galhos (INS-TG), Predadores de artrópodes grandes do solo (INS- GS), Predadores de artrópodes pequenos do solo (INS-PS), Predadores de artrópodes da folhagem (INS-F), Insetívoros de taquarais e emaranhados (INS-TE), Insetívoros do nível médio (INS-NM), Insetívoros do dossel (INS-D), Insetívoros de borda (INS-B), Insetívoros de brejo (INS-Br), Insetívoros aéreos (INS-A), Insetívoros noturnos (INS-N), Nectarívoros (NEC), Granívoros (GRA) e Piscívoros (PIS).

Seguindo Silva (1995), as espécies foram classificadas em três categorias de uso de habitats florestais: (1) independente – espécies que se alimentam e se reproduzem principalmente em vegetação aberta (campo limpo, campo sujo, campo cerrado e cerrado sensu stricto), (2) semi-dependentes – espécies que se alimentam ou se reproduzem tanto em habitats florestais como em áreas abertas e (3) dependentes – espécies que se alimentam e se reproduzem principalmente em habitats florestais (cerradão, matas ciliares e matas secas).

De acordo com Silva (1995), as espécies foram analisadas quanto ao seu status de endemismo para o bioma Cerrado e, especificamente para os endemismos de mata ciliar, seguiu Silva e Vielliard (2000). As espécies foram também classificadas quanto à condição migratória segundo Chesser (1994) e Sick (1997) em: migrantes setentrionais (MS) – espécies provenientes do hemisfério norte e migrantes austrais (MA) – espécies que se reproduzem na América do Sul continental temperada, mas migram para o norte em direção à Amazônia,

32 durante o inverno austral. Nesta categoria estão também incluídas espécies residentes cujas populações mais meridionais realizam migrações sazonais de menor escala.

O status de conservação das espécies baseou-se nas listas da fauna ameaçada de extinção dos estados de Minas Gerais (COPAM 2010) e São Paulo (Bressan et al. 2009), do Brasil (MMA 2014) e global (IUCN 2015). As nomenclaturas, científica e popular, assim como a sequência sistemática seguiram a última revisão do Comitê Brasileiro de Registros Ornitológicos (CBRO 2014).

Variáveis fitossociológicas

Para analisar de que forma a riqueza e abundância de espécies vegetais arbóreas influencia a riqueza e a estrutura da comunidade de aves de cada área estudada, dados abordando os parâmetros florísticos e fitossociológicos dos fragmentos de mata ciliar foram obtidos. Estes dados foram coletados e disponibilizados por outra equipe de pesquisadores que estudou os mesmos fragmentos.

Em cada fragmento foram alocadas 12 parcelas de 10 X 10 m, onde amostrou-se todos os indivíduos com circunferência à altura do peito (CAP) maior ou igual a 10 cm. O critério

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