• Nenhum resultado encontrado

2 A APRENDIZAGEM COMERCIAL: SEMELHANÇAS E DIFERENÇAS ENTRE

2.2 Material empírico de análise – o Parecer

O documento primário ou o material empírico analisado neste capítulo é intitulado

“Conceito de ‘Aprendizagem’ - Definição de ‘Aprendizagem Comercial’- Semelhanças entre

‘Aprendizagem’ no Comércio e na Indústria”. Trata-se de um parecer solicitado pelo Senac, no Rio de Janeiro produzido em 25 de janeiro de 1949, catalogado em formato de manuscrito e que contém 12 folhas. Segundo o próprio Lourenço Filho (1949, p. 1) este parecer veio a atender à solicitação do Diretor da Divisão do Ensino no que se referiu ao esclarecimento do conceito de “aprendizagem”, à definição da expressão “aprendizagem comercial” e ao apontamento das diferenças e semelhanças entre “aprendizagem” nas atividades comerciais e nas industriais. Este documento foi catalogado pelo Centro de Pesquisa e Documentação de História Contemporânea do Brasil (CPDOC), pertencente à Fundação Getúlio Vargas.

O documento, composto de 12 páginas como já mencionado, está organizado em cinco tópicos e a conclusão, sendo eles: I – Motivo do parecer; II – Conceito de “aprendizagem”; III – Definição de “aprendizagem” no comércio; IV – Diferenças e semelhanças entre a

“aprendizagem” no comércio e na indústria; V – A legislação brasileira.

São 35 parágrafos numerados e mais um destinado à conclusão. Há pequenas rasuras feitas à mão, que pressupõem ser do próprio Lourenço Filho e se encontram nas páginas 04, 05, 08, 09, 10 e 11. Sendo o “Parecer” a manifestação especializada sobre determinado assunto, onde dar um parecer é transmitir mais do que uma opinião, é expressar-se de modo embasado, e sendo seu objetivo explicitar o assunto, de forma clara e precisa, para uma outra parte cujo conhecimento técnico não é o mesmo do parecerista27, a linguagem utilizada por Lourenço Filho neste documento mostra-se bastante explicativa e de fácil compreensão.

Lourenço Filho (1949) inicia o texto fazendo a definição de aprendizagem que, segundo ele, significa o exercício necessário para aquisição de ideias, conhecimentos, práticas e atitudes. Já no sistema de preparação para uma profissão, a definição de aprendizagem está mais ligada ao exercício do próprio trabalho em fábricas, oficinas ou empresas. No entanto, o termo apreender, segundo o autor, diz respeito ao ato de compreender, apoderar-se do conhecimento, por isso é mais utilizado em atividades intelectuais. Segundo Lourenço Filho, até o início do século XX o termo aprendizagem era empregado para designar aquisição de técnicas, modos ou processos de trabalho, permanecendo como expressão da linguagem                                                                                                                          

27  Fonte: https://www.significados.com.br/parecer/

vulgar. Apenas recentemente, à época do parecer, a psicologia havia adotado o termo aprendizagem como abrangente a todos os processos de aquisição, seja na esfera da ação, do pensamento ou da sensibilidade.

Mas é na Grécia e Roma antigas que o termo surge como significado para preparação para o trabalho. Na Idade Média representou uma organização das bases econômica-sociais, com a expressão de “grêmios artesanais” e “corporações de ofício”, que possuíam, cada uma delas um conjunto de mestres e aprendizes. Os mestres ensinavam o ofício e forneciam casa, comida e tratamento, em caso de doença. O aprendiz, por sua vez, se comprometia a trabalhar um número de anos ao mestre em forma de retribuição. (LOURENÇO FILHO, 1949).

Lourenço Filho (1949) acrescenta que em alguns países como a França, o sistema de corporação de ofício vigorou até o final do século XVII, após a revolução francesa, devido à liberdade profissional, o sistema foi abolido dando lugar ao sistema de ensino profissional que foi assumido por congregações religiosas, por empresas e pelo poder público. Após a Primeira Guerra Mundial, as ideias de corporações de ofício retornaram, dessa vez, focalizadas na necessidade de orientação geral de aprendizagem em fábricas, oficinas, pelos auspícios do Estado. Sendo assim, na França em 1919, o governo estabeleceu a “taxa de aprendizagem”

que seria cobrada de todos os estabelecimentos industriais. Em 1925 foram criados na França e semelhantemente na Suíça e Itália e na Alemanha, um movimento de “orientação profissional” relacionados com serviços nas fábricas e oficinas. Logo após este período, na Bélgica, Rússia (1943) e Argentina (1944) foram estabelecidos os sistemas de

“aprendizagem”. Nos Estados Unidos da América, embora não vigore o sistema nacional de aprendizagem, existem em vários estados e munícios.

Lourenço Filho (1949) estabelece ainda, as diferenças entre “aprendizagem” e educação profissional. O primeiro, tem como objetivo de ser ministrado a pessoas já engajadas no trabalho, cujo objetivo é seu progresso e aperfeiçoamento. Já na educação profissional, o aluno se prepara para a vida profissional.

Desde a expansão das atividades do comércio com as grandes navegações, a atividade comercial ganhou força ao expressar-se de forma moderna com as vendas por atacado em suas múltiplas especializações. No entanto, para pequenas empresas do interior, as antigas formas de aprendizagem eram suficientes. Algumas formas atacadistas, mantinham seus empregados nas empresas, dando-lhe alimentação e assistência em caso de doença. E não raro, interviam até em problemas de ordem pessoal, como organização de pecúlio e casamento. Diferentemente das atividades da indústria que se concentravam na transformação da matéria, as atividades do comércio eram de cunho mais intelectual, exigiam conhecimento

de leitura e cálculo, por isso, durante dos séculos XVI e XVII, alguns países fundaram e mantiveram escolas populares, cujo objetivo era o de formação geral para aumentar o nível dos candidatos selecionados ao comércio. Daí a necessidade do ensino comercial mais amplo que abrangesse a parte de ensino geral e também do próprio ofício, essa necessidade também se deu no Brasil. Este ensino mais amplo era necessário pois diversos jovens desprovidos de recursos econômicos, mas dotados de boa capacidade intelectual poderiam encontrar um campo propício para o desenvolvimento de suas aptidões, que sem o sistema de aprendizagem, não teriam a oportunidade de desenvolver. (LOURENÇO FILHO, 1949).

Embora o termo aprendiz não fora utilizado para as atividades advindas do comércio, o termo praticante ou auxiliar era mais utilizado. Isso expressa as diferenças e semelhanças entre a aprendizagem na indústria e comercio apresentadas por Lourenço Filho. Deste modo, as semelhanças entre os dois ensinos estão no âmbito da intenção social já que ambas visam a inserção do trabalhador a um ofício. Por isso, segundo Lourenço Filho, a diferença se daria no processo. Por exemplo, nas atividades do artesanato e em algumas da indústria, mantiveram, embora o regime de trabalho livre, formas tradicionais de preparação empírica, conservando a figura do aprendiz. No comércio isso não ocorria, devido à maior exigência de instrução de cultura geral, bem como de alguns atributos da personalidade. Logo, o benefício tanto da aprendizagem para o comércio, quanto para a indústria, seria em tempo reduzido em que o aluno permaneceria no curso. Um exemplo dado por Lourenço Filho (1949) é o da aprendizagem ferroviária em São Paulo, em que o aluno, passava apenas quatro meses aprendendo o ofício ao invés de quatro anos, algo que demandava ligeira seleção psicotécnica entre os candidatos à aprendizagem. Lourenço Filho, afirma ainda, em estudo feito no Senai que, os aprendizes da indústria têm maior facilidade de adaptação e passagem para outras técnicas industriais, isso, em alternativa ao trabalho monótono da indústria. Assim a indústria reconhece a figura do aprendiz como o de praticante, uma aprendizagem mais ampla com maior plasticidade. No comércio as atividades desempenhadas são mais generalizadas e menos suscetíveis a aprendizagem empírica. Um exemplo é a técnica de redação comercial, que pode preparar o aprendiz para uma série de funções, desde auxiliar de escritório às funções de balcão ou armazenagem. Seja na indústria ou artesanato o fim de todo processo é a transformação da mercadoria, já no comércio a mercadoria é deslocada, armazenada, classificada, exposta etc.

Enfim, sobre a legislação brasileira que rege a aprendizagem industrial é posto no decreto lei n. 4073, de 30.01.1942, que os cursos de aprendizagem têm os seguintes fins:

ensinar de forma metódica aos aprendizes de estabelecimentos industriais em período variável

e horário reduzido. Já o decreto lei n.8621, de 10.01.46 designa à Confederação Nacional do Comércio, o encargo de organizar as escolas de aprendizagem comercial, que deverão manter também os cursos de formação continuada e especialização. Segundo esta legislação, o trabalhador menor de dezoito e maior de quatorze anos, assume o nome de aprendiz pelo fato de ser admitido ao trabalho. Na lei da aprendizagem comercial, é estabelece como preferência para admissão, o praticante que estude em curso de formação comercial ou esteja matriculado em cursos do Senac. No caso da indústria a condição de aprendiz se dá pelo menor ser admitido ao trabalho, no segundo, pode ocorrer pelo aluno ser de curso de formação comercial ou matriculado no Senac.

Novamente Lourenço Filho (1949) conclui que o conceito de aprendizagem no comércio tem sentido mais amplo, seja no ponto de vista técnico ou social, isso porque o Decreto Lei de 1946 divulga que o Serviço de Aprendizagem Comercial é quem deverá colaborar na difusão e aperfeiçoamento do ensino de formação e do ensino imediato, e com ele relacionar-se diretamente.