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2 A APRENDIZAGEM COMERCIAL: SEMELHANÇAS E DIFERENÇAS ENTRE

2.3 O conceito de “aprendizagem”

Com o intuito de atender à solicitação do Diretor da Divisão de Ensino, Lourenço Filho (1949) trata, no primeiro momento deste parecer, de esclarecer o conceito de

“aprendizagem”. Segundo ele, “na técnica pedagógica” (p. 1) o vocábulo apresenta dois significados como se segue:

a) na de “ação de aprender”, exercício necessário à aquisição de idéias, conhecimentos, práticas e atitudes;

b) na de “sistema de preparação para uma profissão, mediante o exercício do próprio trabalho, em fábricas, oficinas ou empresas” 28. (LOURENÇO FILHO, 1949, p. 1).

De certo que, para o que se pretende com a elaboração do parecer, de acordo com o autor a segunda definição do termo “aprendizagem” apresenta-se como ideal.

Em ambos os casos, a origem da palavra é a mesma. “Aprendizagem”, ação de aprender, encontra sua raíz no verbo latino aprehendo, ou adprehendo (is, endi, ensum, ere).

                                                                                                                         

28  Em todas as citações textuais será preservada a escrita original de Lourenço Filho, que foi realizada de acordo com as normas gramaticais de 1949. Essa transcrição literal inclui algumas palavras com erros gramaticais, expressões estrangeiras, abreviaturas e demais particularidades. Transcrever os trechos tal qual eles foram escritos é uma forma de preservar o caráter genuíno e pessoal das informações.  

(LOURENÇO FILHO, 1949, p. 1, grifos do autor). Em sentido próprio, ou seja, em sentido literal, ou no sentido comum que costumamos dar a uma palavra, aprendizagem “[...] significa tomar, agarrar, segurar, prender” (LOURENÇO FILHO, 1949, p. 1, grifos do autor) e, em sentido figurado, ou seja, no sentido simbólico, significa “compreender, conceber, entender, apoderar-se pelo entendimento”. (LOURENÇO FILHO, 1949, p. 1, grifos do autor).

Ainda em relação a origem da palavra aprendizagem e seus significados, Lourenço Filho (1949) acrescenta:

O nome derivado, por formação própria, é apreensão (ação de apreender, ou ação de entender, de apoderar-se pelo entendimento), e, neste último caso, primeiramente ligada apenas às atividades intelectuais. A êsse nome, por influência do baixo latim, na forma apprendivus (aprendiz) juntou-se o de aprendizado, e, posteriormente, por influência do francês, o de aprendizagem, (de apprentissage, derivada por sua vez de apprenti). (p. 1, grifos do autor).

Até o início do século XX a aprendizagem estava relacionada apenas à aquisição de técnicas, modos ou processos de trabalho. Lourenço Filho escreve que o termo permaneceu, até então, como “expressão da linguagem vulgar”. (LOURENÇO FILHO, 1949, p. 2). Diante do estudo da evolução do conceito de aprendizagem ter-se-ia a relação do termo com a pedagogia e o “movimento do ensino ativo”, e na filosofia o das “relações entre a ação e o pensamento”. Embora o autor considere tal esclarecimento não essencial diante do objetivo da consulta, observa-se que a menção ao movimento do ensino ativo na pedagogia está relacionado ao propósito da Escola Nova ou Escola Ativa, movimento de renovação educacional onde o processo de aquisição do conhecimento, diferentemente da escola tradicional, surge da ação de quem aprende, o qual Lourenço Filho foi um dos precursores.

Isso é salientado por Lourenço Filho, que afirma:

[...] aprende-se observando, pesquisando, perguntando, trabalhando, construíndo, pensando e resolvendo situações problemáticas apresentadas, quer em relação a um ambiente de coisas, de objetos e ações práticas, quer em situações de sentido social e moral, reais ou simbólicos. (LOURENÇO FILHO, 1978, p. 151).

De acordo com Schultz e Schultz (2006), do século XVII até o início do século XX, a doutrina central sobre a aprendizagem era demonstrar cientificamente que determinados processos universais regiam os princípios da aprendizagem, tentando explicar as causas e formas de seu funcionamento, forçando uma metodologia que visava enquadrar o

comportamento num sistema unificado de leis, a exemplo da sistematização efetuada pelos cientistas para a explicação dos demais fenômenos das ciências naturais. Muitos acreditavam que a aprendizagem estava intimamente ligada somente ao condicionamento. Um exemplo de experiência sobre o condicionamento foi realizada pelo fisiólogo russo, Ivan Pavlov, que condicionou cães a salivarem ao som de campainhas. Na década de 1930 os cientistas pesquisaram sobre as leis que regem a aprendizagem. Acreditava-se que as respostas, ao invés das percepções ou os estados mentais, poderiam formar os componentes da aprendizagem. Afirmavam que a força do hábito, além dos estímulos originados pelas recompensas, constituía um dos principais aspectos da aprendizagem, a qual se dava num processo gradual. Desenvolveu-se também, nessa época a linha de raciocínio de que o objetivo visado pelo sujeito era a base comportamental para a aprendizagem. Percebendo o ser humano na sociedade em que está inserido, se faz necessário uma maior observação de seu estado emocional.

Ao analisar o pensamento de Lourenço Filho em relação à aprendizagem, partindo das informações que o autor apresenta neste parecer, é possível fazer uma conexão com pensamento pragmatista de William James, Charles Sanders Peirce e John Dewey, uma das bases de formação do próprio Lourenço Filho, cuja teoria preconiza que todo o aprendizado, todo o conhecimento deve ter um fim prático.

De acordo com o pensamento de Dewey o ensino deveria centrar-se nas grandes necessidades que a sociedade apresenta. Dewey também aponta a existência de dois tipos de ensino, o tradicional centrado no professor e o da Escola Nova, centrado no aluno. Entretanto, Dewey propõe um novo tipo de ensino, o da Escola Progressista ou Democrática onde cada aluno aprende fazendo e se enriquece com as experiências dos outros alunos. Dewey acreditava que aprende-se participando, vivenciando sentimentos, tomando atitudes diante de fatos, escolhendo procedimentos para atingir determinados objetivos e ensina-se não só pelas respostas dadas, mas principalmente pelas experiências proporcionadas, pelos problemas criados, pela ação desencadeada. Toda teoria de Dewey está fundamentada na experiência do aprendiz, sendo esta sua origem, objetivo e norma de toda atividade cognitiva. Para ele, a cognição é o meio através do qual o aprendiz responde às alterações de seu meio ambiente.

Dito de outra forma, a cognição seria todo o processo envolvido na apresentação de um problema e sua solução. Isso envolveria a observação do meio, o conhecimento imediato e também o reflexivo do que aconteceu no passado em circunstâncias similares e a capacidade de julgar as consequências frutos da combinação entre as observações e o conhecimento.

Dewey não se contenta com que o aprendiz entenda o mundo, seu objetivo é mudá-lo. Para

ele, aprende-se fazendo e pensando em como solucionar problemas. Dewey insistia na necessidade de estreitar relações entre teoria e prática, pois o aprendizado torna-se mais fácil quando os conteúdos estão relacionados com a vivência do aluno. (DEWEY, 1971).