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A pesquisa foi realizada em três propriedades rurais localizadas nos municípios de Mazagão, Porto Grande e Santana, estado do Amapá (Figura 1). As propriedades apresentaram em comum, cultivo de frutas para fins comerciais e área de mata nativa adjacente aos pomares. Nas áres de cultivo, todas as espécies frutíferas foram amostradas, de acordo com a fenologia de cada espécie, enquanto que na vegetação nativa foi demarcada uma parcela de 40 m de largura x 250 m de comprimento (1 hectare), sendo as coletas realizadas somente na área demarcada.

Figura 1. Estado do Amapá com indicações (triângulos pretos) da localização das áreas amostradas.

Fonte: Limites municipais e Rede viária (ZEE/COT/IEPA)

A área de Mazagão (S00º06'; W51º15') dista 30 km de Macapá. A vegetação nativa é típica de floresta de várzea, sofrendo inundação diária devido ao regime das marés. Espécies como macacaúba (Platymiscium duckei Huber), virola [Virola surinamensis (Rol.) Warb.], pau-mulato [Calycophyllum spruceanum (Benth.) K. Schum] e andiroba (Carapa guianensis Aubl.) são abundantes. A área cultivada mediu, aproximadamente, 10 ha, com cultivos de frutíferas como limão taiti (Citrus aurantifolia Swingle var. thaiti), maracujá (Passiflora

edulis Sims) e graviola (Annoma muricata L.) destinadas à fabricação de polpas ou

comercialização in natura.

A área de Porto Grande (N00º36'; W51º27') está localizada na Colônia Agrícola do Matapi, distante 120 km de Macapá. A vegetação nativa é característica de floresta densa de terra firme com predominância de espécies arbóreas, como por exemplo, breu (Protium spp. Sandwith), piquiá [Caryocar villosum (Aubl.) Pers.], cumaru [Dipteryx odorata (Aubl.) Willd.] e pracuúba [Mora paraenses (Ducke) Ducke]. A área cultivada mediu, aproximadamente, 100 ha, sendo 30% dessa, destinada ao cultivo de frutíferas, especialmente

taperebá (Spondias mombin L.), araçá-boi (Eugenia stipitata McVaugh) e graviola (Annona

muricata L.).

A área de Santana (S00º02'; W51º13') dista 20 km de Macapá e tem composição florestal típica de capoeira, com predominância de espécies como matá-matá [Eschweilera

tenuifolia (O.Berg) Miers], figuinho (Ficus pertusa L.f.) e embaúba (Pourouma guianensis

Aubl.). A área destinada ao cultivo de frutíferas mediu aproximadamente, 20 ha, destacando as espécies acerola (Malpighia emarginata Sessé & Moc. ex. DC), goiaba (Psidium guajava L.) e maracujá (Passiflora edulis Sims).

O clima das regiões estudadas é caracterizado como quente e úmido, com regime pluviométrico marcado por duas estações bem definidas: período chuvoso (janeiro a julho), acumulando cerca de 80% da precipitação pluvial anual, e o período seco (agosto a dezembro). As temperaturas mensais são elevadas ao longo do ano, com média anual de 26ºC (mínima de 22ºC e máxima de 34ºC) (IBGE 2010).

Coleta e processamento dos frutos

Foram realizadas coletas mensais de frutos de diversas espécies vegetais nativas e introduzindas, no período de janeiro a dezembro de 2012. Na área de mata nativa, realizou-se varredura em toda a área demarcada, coletando-se frutos diretamente da planta e/ou, recém-caídos no solo. Nas áreas cultivadas, foram coletadas amostras de frutos disponíveis durante o período de coleta.

As amostras coletadas foram transportadas em caixas de plástico empilháveis até o Laboratório de Entomologia da Embrapa Amapá, onde os frutos foram pesados em balança de precisão. Para compor as amostras, os frutos foram processados e individualizados utilizando-se o utilizando-seguinte critério estabelecido por Silva et al. (2011): a) para frutos pequenos, 15 unidades compunham uma amostra; b) frutos médios, 10 unidade; e c) frutos grandes ou alongados, 3 unidades. Em cada amostra, cada fruto individualizado correspondia a uma subamostra.

Os frutos coletados foram dispostos individualmente em recipientes circulares de plástico transparente (8 cm de diâmetro x 6 cm de altura) com tampa vazada fechada com tecido organza; ou em bandejas retangular de plástico (33 cm de comprimento x 18 cm de largura x 6 cm de altura), também cobertas com organza e presos com liga de borracha, para o caso de frutos grandes ou alongados. Ambos os recipientes continham camada fina de areia esterilizada como substrato para pupação.

Obtenção dos pupários e dos insetos adultos

A cada três dias a areia foi examinada e os pupários de tefritídeos recolhidos com auxílio de espátulas, sendo transferidos para frascos de plásticos transparentes (8cm de diâmetro), com tampa vazada e coberto por organza, contendo camada fina de vermiculita umedecida em seu interior. Os insetos que emergiram foram sacrificados e transferidos para tubos ependorff contendo etanol na concentração de 70%, devidamente etiquetados, para posterior identificação.

Identificação dos insetos

Os espécimes de Tephritidae obtidos nesta pesquisa foram identificados de acordo com Zucchi et al. (2011), e os parasitoides com base em Marinho et al. (2011). Especimens

voucher foram depositados na coleção entomológica da Embrapa Amapá.

Identificação do material botânico

Para a identificação das espécies vegetais silvestres, foram coletados ramos contendo estruturas reprodutivas (flores e frutos), que foram posteriormente herborizados, segundo técnicas habituais de montagem e preservação (Fidalgo e Bononi 1984). A identificação foi realizada com auxílio de chaves dicotômicas e materiais bibliográficos especializados, além de comparação com o acervo do Herbário da Universidade Federal Rural da Amazônia- UFRA, em Belém, Pará, e do Herbário do Instituto de Pesquisas Científicas e Tecnológicas do Amapá - IEPA, em Macapá, Amapá. Material-testemunho foi depositado nos acervos dos referidos herbários.

Análise dos dados

Foram calculados os seguintes índices de infestação: 1) percentual de frutos infestados = (número de frutos infestados ÷ número de frutos coletados) x 100; 2) número de pupários/fruto = número de pupários obtidos ÷ nº de frutos infestados na amostra; 3) índice de diversidade de Simpson para três espécies mais infestadas (Eugenia stipitata, Psidium

guajava e Spondias mombin); 4); análise de variância ao nível de 95% de significância para

três espécies selecionadas. Para tanto, foram separados de cada fruto, até 20 pupários. O tratamento estatístico foi processado no software R.

RESULTADOS

Entre janeiro a dezembro de 2012 foram obtidas, nas três áreas avaliadas, 412 amostras de frutos (4.554 frutos, 323,4 Kg), pertencentes a 78 espécies vegetais de 32 famílias botânicas. Das espécies vegetais coletadas, 27 foram espécies vegetais introduzidas e 51 nativas (Tabela 1).

Do total de amostras obtidas, em 107 (1.771 frutos) verificou-se a infestação por Tephritidae (25,9% do total de amostras coletadas, pertencentes a 20 espécies vegetais de 13 famílias botânicas) (Tabela 1). Foi verificada a infestação em 778 frutos, de onde foram obtidos 5.252 pupários (Tabela 2). O maior índice de infestação (30,6 pupário/fruto) foi verificado em ingá-cipó (Inga edulis) e o menor (0,6 pupário/fruto), em acerola (Malpighia

emarginata) (Tabela 2). Nos frutos de anoerá (Licania macrophylla), bacaba (Oenocarpus bacaba) e abacate (Persea americana), houve infestação, porém sem emergência de adultos.

Das 20 espécies vegetais infestadas, 13 eram introduzidas e sete nativas (Tabela 2). Das espécies vegetais nativas, seis encontravam-se em áreas de mata. Já as espécies vegetais introduzidas estavam em áreas de cultivo. Constatou-se a ocorrência de 12 espécies de moscas-das-frutas (Tabela 3). Anastrepha obliqua foi a espécie mais polífaga, tendo sido registrada em sete hospedeiros de quatro famílias botânicas, sendo quatro delas, espécies nativas. Houve registro de A. fraterculus em cinco hospedeiros de três famílias botânicas e A.

striata em três hospedeiros de três famílias. As espécies A. pickeli, A. hastata e A. coronilli,

foram verificadas infestando apenas um hospedeiro (Tabela 3).

A ação dos parasitoides sobre espécies de Anastrepha também foi registrada nesta pesquisa. Nas amostras coletadas, foram obtidas cinco espécies de parasitoides das famílias Braconidae e Figitidae (Tabela 4). Opius bellus (Gahan) foi o parasitoide mais abundante com 101 exemplares obtidos de quatro espécies vegetais hospedeiras de Anastrepha, seguido de

Doryctobracon areolatus (Szépligeti) com 66 espécimes, em três espécies vegetais. O

taperebá (Spondias mombin), foi o hospedeiro que exibiu maior riqueza de espécies de parasitoides (três espécies) obtidas, inclusive o figitídeo A. pelleranoi.

Considerando-se que na metodologia adotada houve individualização de frutos, a relação tritrófica só foi possível de ser estabelecida entre o parasitoide D. areolatus e a espécie A. serpentina em frutos de aguaí-una (P. gardneri). Isso só é possível de ser realizado

se, em uma única amostra só emergir única espécie de mosca-das-frutas e única de parasitoide.

Os dados de precipitação (Figura 2a) demonstram que entre o período de janeiro a junho, a quantidade de chuvas na região foi alta, com média mensal acima de 250 mm, seguida de uma drástica redução entre os meses de junho e dezembro. No perído de maior precipitação, observou-se maior disponibilidade de frutos, pois a precipitação foi um fator que influenciou na fenologia da maior parte das frutíferas, consequentemente, na maior riqueza de espécies de moscas-da-frutas, seguida de drástica redução, no período de estiagem, tanto da disponibilidade de frutos hospedeiros quanto das espécies de Anastrepha.

O índice de diversidade de Simpson para moscas-das-frutas nas espécies vegetais hospedeiras araçá-boi (E. stipitata), goiaba (P. guajava) e taperebá (S. mombin), foi calculado e os resultados obtidos foram C = 0,56, 0,23 e 0,67, respectivamente, para cada uma das três espécies vegetais selecionadas para essa análise. Esses resultados do índice de diversidade foram submetidos à análise e variância. Como resultado da Anova para a diversidade de mosca-das-frutas entre as três espécies vegetais hospedeiras (E. stipitata x P. guajava; S.

mombin x E. stipitata; S. mombin x P. guajava), os dados revelaram não haver diferença

significativa na composição da comunidade de moscas-das-das-frutas (p = 0,99; 0,22 e 0,10, respectivamente) entre as plantas hospedeiras testadas, demostrando que as comunidades de moscas-das-frutas que ocorrem nesses hospedeiros são semelhantes entre si (Figura 2b).

Considerando o resultado da Anova para efeito de comparação entre as massas dos pupários das respectivas espécies de mosca-das-frutas em frutos de P. guajava x E. stipitata e entre S. mombin x P. guajava, observou-se haver diferença significativa essas massas de pupas nessas duas comparações (p = 0,0). Contudo, o teste comparativo entre as massas das pupas de em frutos de S.mombin x E. stipitata não revelou haver diferença entre as massas dos pupários nesses tratamentos (p = 0,92) (Figura 2c).

Já a análise comparativa entre as massas dos frutos, através da Anova, nas três espécies vegetais testadas (Figura 2d), foi possível verificar que houve diferença significativa (p = 0,0) entre elas, nos três tratamentos, muito embora, em algumas amostras coletadas, houve frutos que se afastaram do peso padrão médio.

DISCUSSÃO

Das 78 espécies vegetais coletadas, 20 estavam infestadas por espécies de Anastrepha. Destas, 13 eram espécies vegetais introduzidas, encontradas em áreas cultivadas (Tabelas 1 e 2). É comum, nos quintais amazônicos brasileiros, esse arranjo consorciado nas plantações, tanto de espéceis frutíferas nativas quanto de introduzidas com espécies florestais arbóreas na mesma área ou localizados próximas a áreas florestadas, os quais caracterizam os sistemas agroflorestais (ENGEL, 1999).

Nas espécies vegetais infestadas, detectou-se 12 espécies de Anastrepha. As espécies

A. obliqua e A. serpentina foram obtidas de frutos provenimentes tanto de ambiente cultivado

quanto de área de mata. Com efeito, nove das espécies de moscas-das-frutas obtidas foram provenientes de frutos das áreas cultivadas, sendo as demais espécies, obtidas de frutos de plantas das áreas de mata, cuja riqueza de espécies foi ligeiramente menor. Esse resultado vai de encontro ao que já foi observados em estudos realizados por Costa et al., (2009), Ronchi-Teles et al. (2011), Deus et al. (2013) e Dutra et al. (2013), onde a riqueza de espécies de moscas-das-frutas foi consideravelmente maior nas áreas de mata.

Em áreas de mata nativa, devido à heterogeneidade de espécies vegetais, os insetos tendem a se distribuir entre as diferentes espécies vegetais gerando maior diversidade na comunidade de insetos que procuram utilizar esses recursos de diferentes maneiras (ALTIERI; LETOURNEAU, 1984). Com efeito, como a riqueza de espécies de moscas-das-frutas obtidas nesse estudo foi maior nas áreas cultivadas, esse fato pode estar relacionado a diversos fatores, dentre os quais, a influência do adensamento populacional das frutíferas cultivadas e do número de espécies vegetais cultivadas (ZUCCHI, 200b). Em casos extremos, ocorre a migração das espécies de moscas-das-frutas do pomar para a floresta e vice-versa. Além disso, algumas espécies de moscas-das-frutas revelam alto grau de especialização ao seu hospedeiro, associada com a capacidade dessas espécies tolerarem as defesas químicas da planta (STEFANI; MORGANTE, 1996).

O maior índice de infestação por Anastrepha nesse trabalho foi verificado em ingá-cipó (I. edulis) (Tabela 2), diferindo dos resultados obtidos em outros estudos na Região Amazônica. Pereira (2009), estudando as espécies de moscas-das-frutas na região do Baixo Amazonas e do Marajó, Pará, obteve índices de infestação de 0,05 a 6,5 pupários/fruto em I.

edulis, no Baixo Amazonas e 1,00 a 3,5 pupários/fruto no Marajó.

As infestações observadas em goiaba (P. guajava) indicam que, provavelmente, A.

abundância relativa em relação às demais espécies. Nessa espécie vegetal, em outras regiões brasileiras, A. fraterculus é a espécie que se destaca com maior abundancia relativa, sendo considerada uma excelente competidora (ALVARENGA, 2004; URAMOTO, 2007; ALVARENGA et al., 2009).

Nos frutos de taperebá (S. mombin), a vantagem competitiva é de A. obliqua, que é polífaga, pois tem capacidade de explorar hospedeiros de diferentes famílias botânicas, sobre a espécie A. antunesi, que é oligófaga. Alvarenga et al. (2009) já havia discorrido sobre a preferência de A. obliqua por frutos de Anacardiaceae. Entretanto, outros fatores, como a atuação dos inimigos naturais, também devem ser consideradas em estudos ecológicos posteriores, pois os parasitoides apresentam grande influência na regulação populacional das espécies de moscas-das-frutas (DENNO et al., 1995).

Anastrepha obliqua e A. fraterculus foram as espécies mais polífagas neste estudo. A

primeira é considerada uma das mais abundantes em estudos sobre mosca-das-frutas no Norte do Brasil (SILVA; RONCHI-TELES, 2000; THOMAZINI et al., 2003; RONCHI-TELES; SILVA, 2005; SILVA et al., 2007; 2011). Ambas as espécies, nas demais regiões do país, causam sérios danos em espécies de citros (Citrus spp), algumas mirtáceas, como goiaba (P.

guajava), araçá-boi (E. stipitata) e anacardiáceas, como manga (M. indica) e Spondias spp.

(SOUZA-FILHO, 2006).

Anastrepha fraterculus é considerada uma das espécies mais polífagas na América do

Sul e está presente em todos os estados do Brasil, graças a sua alta capacidade de colonização de frutos hospedeiros. Por ser uma espécie generalista, quando seus hospedeiros preferenciais estão em baixa produção, ela utiliza hospedeiros secundários ou alternativos para manter suas populações (SELIVON, 2000; ZUCCHI, 2000a).

Embora neste estudo A. striata tenha sido numericamente a mais abundante, foi detectada em apenas três hospedeiros, sendo a goiaba (P. guajava) o preferencial. Na Amazônia brasileira, A. striata já foi registrada infestando 28 hospedeiros e está presente em todos os estados amazônicos, indicando que essa espécie está bem adaptada as condições da região norte (SILVA et al., 2011). No estado do Amazonas, Silva et al. (1996), Ronchi-Teles

et al. (2000), Ribeiro (2005) e Thomazini e Albuquerque (2009) já haviam verificado a

preferência de A. striata por espécies do gênero Psidium. Do mesmo modo, Pereira et al. (2010) observaram o mesmo comportamento da espécie, nos estados do Acre e Rondônia, assim como no Amapá, A. striata tem sido reportada como a principal praga dos frutos de P.

As espécies vegetais bacaba (O. bacaba) e abacate (P. americana) apresentaram infestação por tefritídeos, porém sem emergência de exemplares adultos, contudo, essas mesmas espécies já foram relatadas como hospedeiras de A. striata (SILVA et al., 2011). Já para a espécie vegetal anoerá (L. macrophylla), está sendo registrada pela primeira vez a infestação por pupários de Anastrepha, contudo, dos dois pupários obtidos, emergiram dois exemplares do parasitoide O. bellus.

Todas as espécies de parasitoides obtidas nesta pesquisa já haviam sido detectadas anteriormente atuando como inimigos naturais das espécies de Anastrepha (SILVA et al., 2010). Em alguns estudos sobre inimigos naturais de moscas-das-frutas realizados no Brasil,

D. areolatus se apresenta como um dos mais efetivos no controle biológico natural das

espécies de Tephritidae (MARINHO et al., 2011). De acordo com Marinho et al. (2011), o estado do Amapá é o que apresenta o maior número de registros de espécies de parasitoides.

Quanto ao figitídeo A. pelleranoi, sua ocorrência já havia sido registrada na Amazônia (GUIMARÃES et al., 1999; 2000; SILVA et al., 2010). De acordo com Guimarães e Zucchi (2011), A. pelleranoi é uma espécie generalista que pode parasitar espécies de moscas-das-frutas das famílias Tephritidae e Lonchaeidae, tanto em frutos cultivados comercialmente como nos nativos silvestres. Contudo, o conhecimento da fauna de parasitoides Figitidae no Brasil ainda é incipiente, carecendo de mais estudos para entender a biologia dessas espécies (GUIMARÃES; ZUCCHI, 2011).

A diversidade de espécies de moscas-das-frutas foi diretamente relacionada ao período de maior precipitação (janeiro a junho) (Figura 2a). No estado do Amapá, devido a sua localização equatorial específica, as condições climáticas são particulares, sendo exibidas apenas duas estações: inverno e verão. No inverno, acontece o período de maior precipitação que exerce influência direta na fenologia da maioria das espécies vegetais. Isso também contribui para uma maior disponibilidade de frutos de diversas espécies vegetais.

Nesse trabalho foi possível inferir que tanto a precipitação pluviométrica quanto a disponibilidade de frutos hospedeiros influenciaram para a maior diversidade de espécies de moscas-das-frutas. Segundo Uramoto (2004), embora muitos autores já tenham verificado que a disponibilidade de frutos hospedeiros seja um dos principais fatores que influenciam as populações de moscas-das-frutas, a determinação da importância das variáveis climáticas na flutuação das populações de moscas-das-frutas é difícil de ser realizada, no entanto, essa autora observou correlação positiva entre os picos populacionais de A. obliqua e A.

fraterculus com as variáveis climáticas (temperatura, umidade relativa do ar e pluviosidade)

Os índices de diversidade de Simpson para espécies de moscas-das-frutas em araçá-boi (E. stipitata), goiaba (P. guajava) e taperebá (S. mombin) revelaram que esses hospedeiros são semelhantes na composição da comunidade de moscas-das-frutas, não havendo diferença na comparação dessas comunidades. Eugenia stipitata e S. mombin são hospedeiras preferenciais de A. obliqua. Embora essa espécie utilize esses dois hospedeiros de diferentes famílias (Myrtaceae e Anacardiaceae), não houve diferença na comparação das massas das pupas de A. obliqua nesses dois hospedeiros. Contudo, P. guajava é hospedeira preferencial de A. striata, ocorrendo em alta abundância nessa espécie de planta e utiliza tanto E. stipitata quanto S. mombin de forma alternativa, revelando o motivo da diferença entre as massas das pupas tanto em E. stipitata x P. guajava e S. mombin x P. guajava.

Silva (1998) realizou um trabalho morfométrico comparativo entre o tamanho dos pupários de A. antunesi e A. obliqua obtidos de frutos de taperebá (S. mombim) e entre pupários de A. leptozona e A. serpentina obtidos de frutos de abiu (P. caimito) afim de relacionar os parasitoides emergidos desses pupários com as espécies de moscas-das-frutas correspondentes e aos frutos hospedeiros. O autor não encontrou relação nessa análise morfométrica e concluiu que a morfometria não é o melhor parâmetro para caracterizar essa relação parasitoide/hospedeiro.

Considerando o esforço de coleta realizado, foi possível verificar, nas áreas estudadas que as moscas-das-frutas do gênero Anastrepha infestam hospedeiros nativos ou introduzidos, tanto em áreas de mata quanto em pomares. Observou-se também que o aumento da pluviosidade interfere positivamente na fenologia de algumas espécies vegetais, aumentado a oferta de frutos hospedeiros de moscas-das-frutas, assim como no aumento de suas populações e que a redução da pluviosidade interfere reduzindo a densidade populacional, devido à redução de hospedeiros, mas não na diversidade. A pesquisa revelou ainda que a composição da comunidade de moscas-das-frutas é mais diversa nos ambientes cultivados do que nas áreas de mata, embora a diversidade de espécies vegetais frutíferas no ambiente de mata seja maior.

Frutos de diferentes famílias botânicas podem hospedar a mesma espécie de mosca-das-frutas. Embora esses frutos possam apresentar diferença significativa quando se compara suas massas, os pupários dessas espécies de moscas-das-frutas que eles hospedam não apresentam diferença quando se comparam suas massas.

Parasitoides das famílias Braconidae e Figitidae atuam sobre a fauna de moscas-das-frutas em diferentes frutos hospedeiros e ajudam a reduzir a densidade populacional dessas espécies. As espécies O. bellus e D. areolatus são os mais abundantes e os mais efetivos nesse

controle. A espécie vegetal S. mombim revela ser um excelente repositório natural de parasitoides de mosca-das-frutas.

Este trabalho contribuiu para o conhecimento e ampliação do número de hospedeiros de moscas-das-frutas, sendo que novas associações de moscas/hospedeiros para a Amazônia são realizadas: Q. guianensis, infestada por A. obliqua; S. purpurea infestada por A.

fraterculus; A. muricata por A. distincta; M. emarginata por A. obliqua; P. gardneri por A. serpentina; M. zapota por A. leptozona. Além das associações citadas anteriormente, M. jaboticaba infestada por A. obliqua constitui nova associação para o Amapá.

Tabela 1. Número de amostras e frutos coletados e infestados por Anastrepha em três municípios do estado do Amapá, Brasil. Janeiro a dezembro de 2012.

Espécies/famílias frutíferas amostradas

Municípios

Origem Mazagão** Porto Grande** Santana** Nomes científicos Nomes vernaculares Famílias Nativa (N)

Introduzida (I)

NAC NFC NAI NFI NAC NFC NAI NFI NAC NFC NAI NFI

Alibertia edulis (L. C.Rich.) A. Rich. Ex DC Puruí Rubiaceae N 0 0 0 0 2 30 0 0 0 0 0 0

Anacardium occidentale L. Caju Anacardiaceae I 1 10 0 0 0 0 0 0 2 20 0 0

Annona muricata L. Graviola Annonaceae I 1 3 0 0 4 12 0 0 2 6 1 1

Artocarpus altilis (Parkinson) Fosberg Fruta-pão Moraceae I 0 0 0 0 4 12 0 0 0 0 0 0

Artocarpus heterophyllus Lam. Jaca Moraceae I 0 0 0 0 2 6 0 0 3 9 0 0

Astrocaryum aculeatum G. Mayer Tucumã Arecaceae N 0 0 0 0 0 0 0 0 1 15 0 0

Astrocaryum murumuru Mart. Murumuru Arecaceae N 6 60 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0

Attalea excelsa Mart. Urucuri Arecaceae N 7 70 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0

Averrhoa carambola L. Carambola Oxalidaceae I 0 0 0 0 9 90 0 0 0 0 0 0

Bactris gasipaes Kunth H.B.K. Pupunha Arecaceae N 0 0 0 0 2 30 0 0 0 0 0 0

Bactris maraja Mart. Marajá Arecaceae N 1 15 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0

Bellucia grossularioides (L.) Triana Goiaba-de-anta Melastomataceae N 0 0 0 0 2 30 2 6 0 0 0 0

Byrsonima crassifolia (L.) HBK Muruci Malpighiaceae N 0 0 0 0 0 0 0 0 5 75 0 0

Capsicum chinense Jacq Pimentinha Solanaceae I 8 120 0 0 1 15 0 0 3 45 0 0

Chalophyllum brasiliensis Cambess. Jacareúba Calophyllaceae N 1 15 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0

Carica papaya L. Mamão Caricaceae I 1 3 0 0 5 15 0 0 6 90 0 0

Caryocar glabrum (Aubl.) Pers. Piquiarana Caryocaraceae N 0 0 0 0 1 10 0 0 0 0 0 0

Cayaponia ferruginea Gomes-Klein Fruta de cutia Curcubitaceae N 0 0 0 0 0 0 0 0 1 15 0 0

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