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A maturação é considerada como o percurso para o estado maturo ou maturidade biológica, sendo a maturação um processo e a maturidade um estado (Malina, 2014). A maturação ocorre em todos os tecidos, órgãos e sistemas, variando por esse motivo com o sistema biológico de cada individuo (Malina et al., 2004). A variabilidade interindividual do processo de maturação e a sua influência no rendimento desportivo e na seleção/exclusão de jovens atletas, especialmente durante o período do salto pubertário, remete para a necessidade de avaliar e monitorizar o processo de maturação dos jovens atletas (Malina et al., 2015).

Face ao exposto, destaca-se que a maturação pode ser avaliada através de duas perspetivas distintas, o estado (i.e.: nível de maturação atingido na idade cronológica da observação) e o timing (i.e.: idade cronológica em que determinados eventos biológicos ocorrem) (Malina et al., 2015). Os indicadores mais usados para determinar o estado de maturação são o desenvolvimento das caraterísticas sexuais secundárias e a idade esquelética (idade óssea, IO), enquanto a idade na menarca e a idade no pico de crescimento em altura são os indicadores usualmente utilizados para o timing do processo de maturação.

1.4.1. Maturação Sexual

A avaliação da maturação sexual baseia-se no desenvolvimento das caraterísticas sexuais secundárias, i.e.: (i) seios, menarca e pelos púbicos nas raparigas; e (ii) genitais (pénis, escroto, testículos e volume testicular) e pelos púbicos nos rapazes (Malina et al., 2015). Nas raparigas, o desenvolvimento inicial dos seios é, em média, o primeiro sinal físico aparente

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de maturação sexual, seguido pelo aparecimento dos pelos púbicos, enquanto nos rapazes, o aumento dos testículos é, em média, o primeiro sinal físico de maturação sexual, seguido pelo aparecimento dos pelos púbicos (Malina, 2014). Cada caraterística atravessa um conjunto de transformações à medida que o individuo passa da fase pré-púbere para a púbere e, posteriormente, para o estado de maturidade.

Tanner (1962) propôs cinco estádios de desenvolvimento genital para os indivíduos do sexo masculino que iam desde o estado imaturo (fase 1: em que se observa órgãos genitais de tamanho infantil) até ao estado maturo (fase 5: em que se observa o desenvolvimento completo dos órgãos genitais que assumem o tamanho e forma adulta).

As técnicas mais utilizadas para a avaliação da evolução das caraterísticas sexuais secundárias são a observação (exame clínico) e a autoavaliação, embora ambas apresentem limitações (Malina et al., 2015). Por exemplo, o exame clínico envolve a invasão da privacidade dos indivíduos e a observação inequívoca dos estádios de desenvolvimento sexual implica estudos longitudinais dos adolescentes (Malina, 2014). Crianças pré-púberes com a mesma idade cronológica podem variar a sua idade esquelética em 4 anos, o que significa que a observação dos estádios de desenvolvimento indica a fase em que o individuo se encontra na altura do exame (i.e.: não fornece qualquer informação sobre quando entrou ou quanto tempo irá permanecer nesse estádio de desenvolvimento sexual) (Malina, 2014). Por outro lado, a autoavaliação, apesar de ser um procedimento utilizado frequentemente, implica o inconveniente das crianças avaliarem incorretamente o seu estádio de desenvolvimento, tornando assim este método de avaliação pouco fiável (Malina et al., 2004).

1.4.2. Maturação Óssea

A maturação óssea tem sido referenciada por diversos autores como o melhor método para avaliar a idade biológica (ou o estado de maturidade) de um sujeito (Malina, 2011, 2014; Malina et al., 2004). A idade óssea (IO), é um indicador de maturação biológica, representando o nível de maturidade dos ossos da mão e do punho (Malina, 2011). Assim, a IO de um indivíduo representa a idade cronológica em que um determinado nível de maturidade dos ossos de mão e punho foi atingido pela amostra de referência sobre a qual o método de avaliação foi desenvolvido (Malina, 2011). Um individuo pode apresentar uma idade cronológica (IC) de 14.5 anos, mas possuir uma IO de 15.5 anos (i.e., a sua IO é

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equivalente a 15.5 anos na amostra de referência), significando que o seu processo de maturação está avançado relativamente à IC.

Como referido anteriormente, a avaliação da IO é baseada na observação de radiografias da mão e punho. As mudanças de forma e de densidade do osso, desde a fase inicial de ossificação (evolução da cartilagem para o osso) até à ao estado maturo (adulto), permitem avaliar o período de crescimento do individuo. Estas transformações acontecem de uma forma uniforme e providenciam uma base sólida para avaliar de forma fiável a IO, ou seja, a idade biológica dos indivíduos (Malina, 2011).

Os métodos frequentemente utilizados para estimar a IO são: (i) o método Greulich-Pyle (Greulich & Pyle, 1959); (ii) o método de Fels (Roche, Chumlea, & Thissen, 1988); e (iii) o método de Tanner-Whitehouse (Tanner, Healy, Goldstein, & Cameron, 2001; Tanner, Whitehouse & Healy, 1962; Tanner et al., 1975). Os métodos são similares no princípio inerente ao exame (radiografia ao pulso e mão e comparação com um conjunto de critérios), mas os critérios e procedimentos para estipular a IO dos indivíduos variam (Malina et al., 2015).

O método Greulich-Pyle (Greulich & Pyle, 1959) baseia-se na avaliação individual de 29 ossos da mão e do punho através da comparação da radiografia do indivíduo com uma lista de fotografias padrão (presentes num atlas radiográfico que representam o processo de maturação desde o nascimento até à maturidade). O método deveria ser aplicado atribuindo uma IO a cada um dos 29 ossos da mão e do punho, mas, na prática, a radiografia do individuo é comparada com a mais similar presente no atlas (excluindo a variabilidade entre os diversos ossos da mão) (Malina, 2011).

O método de Fels (Roche, Chumlea, & Thissen, 1988) baseia-se na observação de indicadores específicos de maturação de 22 ossos da mão e punho (i.e.: rádio, cúbito, carpo, metacarpo, e primeira, terceira e quinta falanges), sendo atribuída uma classificação para cada osso de acordo com a idade e sexo do individuo. Os critérios de avaliação consideram a existência ou não de ossificação, assim como os pontos de ossificação, a forma dos ossos, as linhas opacas inscritas em cada osso e a relação da largura (medida linear) entre a epífise e a metáfise dos ossos longos (ou alongados). A classificação e as medidas da largura de cada osso são inseridas num programa informático com um algoritmo que permite calcular a IO do avaliado e o erro padrão associado (Malina, 2011).

O método de Tanner-Whitehouse (TW), que teve já duas grandes revisões (TW2 e TW3), consiste na avaliação dos ossos da mão e do punho através da observação de determinados critérios associados às etapas de maturação de 13 ossos (i.e.: rádio, cubito, 7 ossos do carpo

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excluindo o pisiforme, metacarpos e falanges do primeiro, terceiro e quinto dedos) (Malina, 2011; Tanner et al., 1975 e 2001). O método TW3 (última versão do método TW) consiste na avaliação de 20 ossos da mão e do punho, i.e., rádio, cúbito, carpo (escafoide, semilunar, piramidal, trapézio, trapezoide, osso grande e unciforme), metacarpo (1.º, 3.º e 5.º), falanges proximais (1.º, 3.º e 5.º dedos), falanges intermédias (3.º e 5.º dedos), e falanges distais (1.º, 3.º e 5.º dedos). Para cada osso é atribuído uma pontuação consoante o estádio de desenvolvimento (cada osso é comparado com imagens padrão presentes num atlas radiográfico), que depois de são somadas e permitem pontuar maturação esquelética, que depois é convertida em IO (através de tabelas construídas para o efeito) (Tanner et al., 2001). Por último parece ser pertinente destacar que as principais limitações destes métodos são os custos excessivos, a falta de avaliadores qualificados (i.e., com conhecimento dos protocolos de avaliação, suas limitações e interpretações) e a exposição à radiação. Relativamente à exposição à radiação, embora seja mínima (0.001 milisievert) com tecnologia moderna (i.e., o equivalente a três horas de visualização de televisão por dia), existe ainda algumas preocupações relativas à sua utilização (Malina et al., 2015).

1.4.3. Maturação Somática

A maturação somática pode ser avaliada através da idade em que ocorre o pico de velocidade em altura (PVA) e/ou da percentagem da altura adulta alcançada numa determinada idade (Malina et al., 2004). A idade no PVA é um excelente indicador do timing de maturidade e define-se como o momento (idade cronológica) em que ocorre uma maior taxa de crescimento em altura (Malina et al., 2004). A estimativa da idade cronológica e da taxa de crescimento no PVA é possível através de estudos longitudinais e da análise das curvas individuais de crescimento (Malina et al., 2015).

A percentagem da altura adulta alcançada numa determinada idade reflete o estado de maturidade alcançado, na medida que os jovens que se encontrem mais próximo da sua altura final adulta estão mais avançadas no seu processo de maturação, e consequentemente, mais próximos do estado maturo (Malina et al., 2004). Para obtermos a percentagem da altura adulta alcançada numa determinada idade é necessário predizer a altura que a criança, ou o adolescente, irá alcançar na idade adulta, transformando, posteriormente, a sua altura atual num valor relativo à sua altura adulta predita (Malina et al., 2015).

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Devido às limitações apresentadas na avaliação da IO (e.g.: exposição à radiação), e das dificuldades logísticas inerentes à realização dos estudos longitudinais, existe a necessidade de utilização de métodos não-invasivos, através de indicadores antropométricos, que possibilitem avaliar o estado e timing da maturação (Malina et al., 2015). Dos métodos não invasivos desenvolvidos para estimar a altura adulta (Beunen et al., 1997; Khamis & Roche, 1994; Roche, Tyleshevski, & Rogers, 1983; Sherar, Mirwald, Baxter-Jones, & Thomis, 2005) a equação preditiva mais popular utiliza a idade decimal, a altura, a massa corporal e a média das alturas dos pais (Khamis & Roche, 1994). Contudo, o protocolo proposto por Khamis-Roche apresenta um erro médio, nos rapazes, de 2.2-cm entre a altura adulta predita e a altura real aos 18 anos (Khamis & Roche, 1994).

No início do século XXI, mais concretamente em 2002, foi desenvolvido um protocolo de avaliação da maturação somática que utiliza a interação entre a idade cronológica (IC) e medidas antropométricas (altura, altura sentado, massa corporal e comprimento estimado da perna) que possibilitam predizer a distância (em anos) da idade do PVA (Mirwald, Baxter- Jones, Bayley, & Beunen, 2002). A equação apresenta uma variação reduzida na idade predita no PVA (DP = ~0.5 anos) e um erro padrão estimado bastante similar entre rapazes (0.59 anos) e raparigas (0.57 anos) (Mirwald et al., 2002). O maturity offset é sugerida como uma variável categórica (i.e.: pré e pós PVA), sendo apropriada para indivíduos de maturação normal que se encontrem perto do PVA (IC entre 13-15 anos) embora a sua utilidade seja questionada para atletas de maturação precoce (Malina et al., 2015).

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