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MDL – MECANISMO DE DESENVOLVIMENTO LIMPO

No documento Mercado de carbono: uma nova realidade (páginas 31-37)

O mecanismo de desenvolvimento limpo (MDL) foi instituído com o objetivo principal de auxiliar os países em desenvolvimento na implantação de tecnologias de recuperação e preservação ambiental, e de ajudar os países desenvolvidos a cumprir suas metas de redução de emissões. Assim, imputa-se aos maiores poluidores um encargo por comportamento agressivo ao meio ecológico, mas de custo inferior ao que teriam que incorrer para ajustar seu processo operacional à condições adequadas sob o ponto de vista das emissões permitidas. Ele pode ser utilizado para atividades de redução e remoção de GEEs que envolvam o uso da terra, mudança no uso da terra e florestas, limitadas, porém, ao florestamento e ao reflorestamento (RIBEIRO, 2005).

De acordo com o artigo 12 do protocolo de Quioto, parágrafo 2º, o objetivo do MDL é:

[...] assistir ás Partes não incluídas no anexo I, para que atinjam o desenvolvimento sustentável e contribuam para o objetivo final da Convenção, e assistir ás Partes incluídas no Anexo I, para que cumpram seus compromissos quantificados de limitação e redução de emissões.

Observa-se, no texto apresentado, que o MDL é o instrumento a promover o desenvolvimento sustentável nos países em desenvolvimento, tendo como base os recursos provenientes de países desenvolvidos.

Trata-se de uma medida sujeita a críticas, porque admite a continuidade de grandes poluidores. Argumenta-se que, ao invés de conhecimentos tecnológicos, pode faltar vontade política e econômica para alocar recursos em pesquisa e desenvolvimento de novas tecnologias de produção limpa, considerando-se existência de parques industriais inteiros que estão em pleno funcionamento, apesar de serem poluentes. Medidas como essas – reformular processos operacionais inteiros – geram, certamente, impactos nos resultados das empresas e, consequentemente, na economia dos países, podendo fazer com que alguns percam posição de destaque mundial, em razão da resistência dos países desenvolvidos em procurar substituir suas tecnologias atuais.

Corroborando com a ideia de que a aquisição de títulos representativos do direito de poluir deve gerar impacto menor nas disponibilidades financeiras do que a melhoria total do parque operacional interno, Souza e Miller (2003, p. 10) fazem a seguinte afirmação:

[...] concebe-se então, um importante e inteiramente novo mercado, figurando as reduções certificadas de Emissões como o bem negociável e as Partes do Anexo I como principais demandantes de reduções de emissões, visando a reduzir ás despesas com o atendimento a seus objetivos ambientais.

Embora seja passível de crítica, o tempo e o agravamento do cenário de degradação ambiental já provaram que os países desenvolvidos não tomariam qualquer atitude em prol dos países em desenvolvimento sem uma compensação. Assim sendo, o direito de poluir é a compensação dada aos países desenvolvidos para que auxiliem os países em desenvolvimento.

Rocha (2003, p. 124) lembra o aspecto socioambiental que devem ter os projetos desenvolvidos sob a teoria do MDL e que serão considerados nas análises dos investidores:

[...] devemos lembrar que os projetos de MDL, tem um objetivo duplo: redução das emissões de GEE e/ou sequestro de carbono e promover o desenvolvimento sustentável do país hospedeiro do projeto. Ao analisar o primeiro objetivo, o investidor/comprador olha apenas a adicional idade das atividades do projeto (quantidade de CER gerada – análise quantitativa); porém, ao analisar o segundo objetivo, o investidor/comprador observa como a geração dos CER foi alcançada e quais os impactos socioambientais do projeto (análise qualitativa).

Em seu parágrafo 3º, item b, o artigo 12 do Protocolo de Quioto prevê a utilização de títulos representativos de redução de emissões, denominados Reduções de Emissões Certificadas (RCE), pelos países do Anexo I, para cumprir as metas de contenção de emissões de GEEs. A identificação de reduções de emissões de GEEs ou sua remoção, em países em desenvolvimento, em projetos executados sob as orientações do MDL, indicará o volume de reduções que poderá ser comercializado. Em contrapartida, a produção de emissões em níveis superiores aos determinados, nos países desenvolvidos, definirá o volume de aquisição de créditos:

[...] as partes incluídas no anexo I podem utilizar as reduções certificadas de emissões, resultantes de tais atividades de projetos, para contribuir com o cumprimento de parte de seus compromissos quantificados de limitação e redução de emissões (PROTOCOLO DE QUIOTO, 1997).

Observe-se que a norma menciona “contribuir com o cumprimento de parte de seus compromissos”, ou seja, está previsto que os países desenvolvidos devem conseguir internamente uma fração do seu compromisso de redução, porque suas metas de redução não serão consideradas como cumpridas somente à custa de aquisição das reduções de outros países.

Por tratar-se de uma questão bastante delicada e de alto grau de subjetividade, os projetos de investimentos em MDL devem sujeitar-se a aprovação das MOPs e a supervisão do Conselho Executivo da CQNUMC e, ainda, as reduções de emissões realizadas pelas Partes devem ser certificadas por entidades de verificação e de auditoria independentes, a serem designadas pela MOP (BRASIL, 2015).

Entre as condições estabelecidas pelo Protocolo de Quioto para que se obtenha a RCE, o projeto deverá observar os seguintes requisitos, também denominados critérios de elegibilidade: a) participação voluntária aprovada por uma e outra parte envolvida; b) reduções de emissões que sejam adicionais s que ocorreriam na ausência da atividade certificada do projeto (adicionalidade); c) benefícios reais, mensuráveis e de longo prazo, relacionados com a mitigação da mudança do clima. Vale ressaltar que mecanismos de mensuração, principalmente na área ambiental, não são facilmente concebidos, assim, medir “benefícios que

ocorreriam” em uma situação diversa da real torna a tarefa mais complexa e exige muita transparência para justificar seus cálculos e eliminar eventuais polêmicas.

Sabe-se que uma das premissas do Protocolo de Quioto é o desenvolvimento sustentável, então cabe reforçar que a forma de realizá-lo é disciplinada pela Autoridade Nacional Designada (AND), que no Brasil é a comissão Interministerial de Mudança Global do Clima (CIMGC). Essa comissão estabeleceu aos participantes os seguintes critérios de desenvolvimento sustentável local: exigência de um projeto de MDL que comprove a sua viabilidade ambiental; que atenda as condições de trabalho e á geração de empregos, contribuindo para a distribuição de renda; o desenvolvimento tecnológico e a promoção da integração regional.

Além do artigo 12 do Protocolo, regulamentam o procedimento do MDL, as normas do acordo de Marraqueche, firmados durante a COP-7. Nessa Conferência das Partes, estabeleceu-se a Decisão 17 COP-7, que compôs o procedimento do MDL em seis fases:

1ª – a concepção do projeto;

2ª – a aprovação e validação do projeto; 3ª – registro do projeto;

4ª – monitoramento da implementação do projeto; 5ª – verificação e certificação dos créditos de carbono; 6ª – emissão das RCE.

A primeira fase compreende a elaboração do Documento de Concepção do Projeto (DCP), que será avaliado pelo órgão delegado certificador para a validação do projeto de MDL, o DCP conterá a descrição de todas as atividades do projeto, a qualificação das pessoas participantes, a metodologia de cálculo da quantificação do cenário de referência, também denominado de linha de base, assim como a metodologia da quantificação das reduções de emissões de GEEs adicionais. Todas essas atividades demonstrarão o quanto ocorrerá de emissões inevitáveis.

Exigem-se, ainda, no DCP, a justificativa da adicionalidade, o licenciamento ambiental e o comentário das pessoas interessadas no projeto. O plano de monitoramento também constará no documento e deverá ser cumprido após a validação, registro e verificação do projeto de MDL.

A validação é a fase de avaliação do projeto por uma Entidade Operacional Designada (EOD), para que esta constate se houve ou não a satisfação dos requisitos do MDL, conforme demonstrado no DCP.

Com a respectiva aprovação do projeto de MDL pela Comissão Interministerial Global do Clima, as partes titulares requererão ao Conselho Executivo que designe uma das EOD para que proceda a validação do projeto. Esse requerimento de designação de uma EOD se repetirá na fase de verificação e certificação da redução de emissões de GEEs alcançada. No entanto, a EOD que valida o projeto não será a mesma que irá verificar e certificar as reduções de emissões.

Feita a validação pela EOD, segue-se o registro no Conselho Executivo do MDL. O registro é o ato formal de aceitação do proposto como um projeto válido de MDL. A partir de então, deverão ser monitorados todos os dados do DCP em execução pelos participantes do projeto, principalmente pela parte contratante que hospeda o projeto em sua propriedade, e emitirão relatórios periódicos a EOD sobre os dados monitorados.

Vencida esta parte, a EOD faz a verificação in loco, a título de auditoria periódica externa, comprovando o cumprimento das metas de redução de emissões de GEEs que o projeto propôs realizar. Em seguida, certifica por escrito o cumprimento das metas de redução de GEEs relativamente determinado período do tempo constante no DCP e o comunica ao Conselho Executivo, para que este, tendo a certeza da efetiva redução de emissões de GEEs alcançada, emita os créditos de carbono sob a forma de RCE.

Segundo as premissas da CQNUMC, o MDL não existirá por si, mas será parte de uma atividade econômica maior, viável por si só, portanto, a geração de lucro não é vital para sua sobrevivência, entretanto espera-se que ele seja sustentável sob ponto de vista financeiro, social e ambiental, ou seja, que consiga atrair os recursos financeiros necessários para sua operacionalização, que gere benefícios sociais como emprego, redução de problemas de saúde e, ainda, que reduza, se não elimine, a degradação do meio ambiente.

2 O MERCADO DE CARBONO

O Mercado de Carbono sofreu várias alterações desde de sua criação pelo Protocolo de Quioto, em 1997, e com sua implantação somente a partir de 2005, isso tanto a nível mundial quanto nacional.

Como foi transcrito anteriormente, crédito de carbono é um certificado que é emitido quando há diminuição de emissão de gases que provocam o efeito estufa, gerador de aquecimento global. Um crédito de carbono equivale a uma tonelada de CO2 (dióxido de carbono) que deixou de ser emitido para a atmosfera. Aos outros gases reduzidos, são emitidos créditos utilizando-se uma tabela de equivalência entre cada um dos gases e o CO2.

Souza et al. (2013) em suas pesquisas sobre Financiamento do Mercado de Carbono no Brasil e no Mundo relataram que no período de 2006 a 2011, o volume de recursos transacionados pelos mercados de carbono no mundo ultrapassaram a casa dos US$ 700 bilhões, com uma média de US$ 116 bilhões por ano. Atualmente, esse mercado está basicamente em stand by, à espera das definições que advirão da COP 21, em Paris, em Dezembro de 2015.

Conforme o site do Ministério do Meio Ambiente, o Mercado de Carbono é um campo de trocas, regulado pelo Conselho Executivo do Mecanismo de Desenvolvimento Limpo (MDL), que permite aos países com altas emissões de carbono comprar o “excedente” das cotas dos países que produzem menos CO2.

O cálculo utilizado no mercado de carbono, com a redução de emissões de Gases de efeito estufa (GEE) é medida em toneladas de dióxido de carbono equivalente – tCO2e (equivalente). Cada tonelada de CO2e reduzida ou removida da atmosfera corresponde a uma unidade emitida pelo Conselho Executivo do MDL, denominada de Redução Certificada de Emissão (RCE).

Cada tonelada de CO2e equivale a um crédito de carbono. A ideia do MDL é que cada tonelada de CO2e não emitida ou retirada da atmosfera por um país em desenvolvimento possa ser negociada no mercado mundial por meio de Certificados de Emissões Reduzidas (CER).

As nações que conseguirem ou as que não desejarem reduzir suas emissões poderão comprar os CER em países em desenvolvimento e usá-los para cumprir suas emissões.

No documento Mercado de carbono: uma nova realidade (páginas 31-37)

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