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Mercado de carbono: uma nova realidade

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Academic year: 2021

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UNIJUÍ – UNIVERSIDADE REGIONAL DO NOROESTE DO ESTADO DO RIO GRANDE DO SUL

DACEC – DEPARTAMENTO DE CIÊNCIAS ADMINISTRATIVAS, CONTÁBEIS, ECONÔMICAS E DA COMUNICAÇÃO

CURSO DE CIÊNCIAS ECONÔMICAS

MERCADO DE CARBONO: UMA NOVA REALIDADE

PAULO JAIR SOARES CHAVES

Ijuí – RS 2015

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PAULO JAIR SOARES CHAVES

MERCADO DE CARBONO: UMA NOVA REALIDADE

Monografia apresentada ao Curso de Ciências Econômicas da Universidade Regional do Noroeste do Estado do Rio Grande do Sul – UNIJUÍ, como requisito para conclusão de curso.

Orientador: Argemiro Luís Brum

Ijuí – RS 2015

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SUMÁRIO RESUMO... 3 ABSTRACT ... 4 LISTA DE SIGLAS ... 5 LISTA DE FIGURAS ... 7 LISTA DE QUADROS ... 8 LISTA DE GRÁFICOS ... 9 INTRODUÇÃO ... 10

1 O SURGIMENTO DOS CRÉDITOS DE CARBONO ... 15

1.1 EXTERNALIDADES ... 15

1.2 MUDANÇAS CLIMÁTICAS ... 18

1.3 PEGADA ECOLÓGICA E PEGADA DE CARBONO ... 19

1.4 RETROSPECTO HISTÓRICO ... 20

1.5 MDL – MECANISMO DE DESENVOLVIMENTO LIMPO ... 30

2 O MERCADO DE CARBONO ... 35

2.1 O MERCADO DE CARBONO NO BRASIL ... 36

2.1.1 Distribuição das Atividades de Projetos no Brasil por Setor ... 37

2.1.2 Quantidade de RCEs Emitidas ... 38

2.1.3 Mercado Brasileiro de Redução de Emissões – MBRE ... 39

2.1.4 Relação entre Produto Interno Bruto (PIB) e as Emissões de Gases de Efeito Estufa no Brasil ... 41

2.1.5 Mercado de Carbono Atualmente ... 44

2.2 MERCADO VOLUNTÁRIO ... 47

2.3 REDD+ ... 50

2.4 O FUTURO DO MERCADO DE CARBONO NO BRASIL ... 52

3 COP 21 DE PARIS (FRANÇA) ... 57

CONSIDERAÇÕES FINAIS ... 61

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RESUMO

O presente trabalho teve como objetivo aprofundar o assunto relacionado ao mercado de carbono, tomando-se por referência as primeiras conferências da ONU, nos anos 1970, até a considerada mais importante da história, que se realiza em Paris (França) em dezembro de 2015, a COP 21. O desafio de vivermos em uma economia de baixo carbono, nos obriga a mudanças de comportamento, de consumo e de produção, as quais parecem ser inadiáveis. E o mercado de carbono é uma ferramenta para auxiliar nessa meta da humanidade. Portanto, nesta pesquisa, o objetivo principal é tornar mais conhecido o assunto nos meios acadêmicos, assim como junto à população em geral. Em termos metodológicos, fez-se a construção do trabalho como uma escada, degrau por degrau. O início do mesmo trata das primeiras preocupações mundiais com o clima, passando às conferências que discutiram as mudanças climáticas, o Protocolo de Quioto (que definiu o mercado de carbono), os projetos de MDL, a situação do mercado de carbono atualmente e no futuro, terminando com um capítulo especial sobre a COP 21. A pesquisa foi de natureza qualitativa e descritiva, baseada em pesquisa bibliográfica e sites especializados. Chega-se à conclusão que os resultados das diferentes conferências sobre o clima, e o desenvolvimento do mercado de carbono, ainda são insatisfatórios. Após 10 anos de entrada em vigor do Protocolo de Quioto, um novo acordo global sobre o clima, na COP 21 de Paris, pode modificar esse quadro e influenciar o mercado de carbono de forma mais profunda.

Palavras-chave: Protocolo de Quioto. Crédito de Carbono. Mudanças Climáticas.

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ABSTRACT

This study aimed to deepen the matter related to the carbon market, taking as reference the first UN conferences in the 1970, to the considered most important in history, to be held in Paris (France) in December 2015, COP 21. The challenge of living in a low-carbon economy requires us to change behavior, consumption and production, which appear to be unavoidable. And the carbon market is a tool to assist in this goal of humanity. Therefore, in this research, the main objective is to make better known the subject in academic circles as well as among the population at large. In terms of methodology, we did the construction work as a ladder rung by rung. The beginning of it is the first global concerns about the climate, going to conferences discussed climate change, the Kyoto Protocol (which set the carbon market), MDL projects, the carbon market situation today and in the future, ending with a special chapter on COP 21. The research was qualitative and descriptive, based on literature and specialized search sites. It concludes that the results of the various conferences on the climate, and the development of the carbon market, are still unsatisfactory. After 10 years of entry into force of the Kyoto Protocol, a new global climate agreement at COP 21 in Paris, you can change this situation and influence the carbon market more deeply.

Keywords: Kyoto Protocol. Carbon Credits. Climate Change. Carbon Market. MDL

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LISTA DE SIGLAS

AND – Autoridade Nacional Designada CCX – Chicago Climate Exchange CEMDL – Conselho Executivo do MDL CER – Certificado de Emissões Reduzidas CFC – Clorofluorcarbono

CIE – Comércio Internacional de Emissões

CIMGC – Comissão Interministerial sobre Mudança Global do Clima COP – Conferência das Partes

CQNUMC – Convenção Quadro das Nações Unidas sobre Mudança do Clima CVM – Comissão de Valores Mobiliários

DCP – Documento de Concepção do Projeto – PDD (Project Design Document) GEE – Gás de Efeito Estufa

IAS – International Accounting Standard IBAMA – Instituto Brasileiro do Meio Ambiente IBGC – Instituto Brasileiro de Governança Pública IC – Implementação Conjunta

INDC – Contribuições Internacionais Nacionalmente Determinadas

IPCC – Intergovernmental Panel on Climate Change (Painel Intergovernamental de Mudanças Climáticas)

IRCEs – RCEs de Longa Duração (Long-term CERs – ICER) MBRE – Mercado Brasileiro de Redução de Emissões

MCTI – Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação

MDIC – Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior MDL – Mecanismo de Desenvolvimento Limpo

MOP – Meeting of the Parties

OECD – Organization for Economic Cooperation and Development ONG – Organização Não Governamental

ONU – Organização das Nações Unidas

PNUMA – Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente ppmv – Partes por Milhão por Volume

PPP – Princípio Poluidor Pagador

Proinfa – Programa de Incentivo às Fontes Alternativas de Energia Elétrica

RCE – Redução Certificada de Emissões (Certificated Emissions Reducions – CERs)

RCs – Reduções Certificadas

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UNFCCC – United Nations Framework Convention on Climate Change (Convenção Quadro das Nações Unidas sobre Mudança do Clima)

URE – Unidade de Redução de Emissão ou Permissão de Emissão (Emission Reduction Unit – ERU or Allowance)

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LISTA DE FIGURAS

Figura 1 – Modelo gráfico de externalidade negativa em uma usina de aço ... 16 Figura 2 – Custo marginal social e custo marginal de redução ... 17

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LISTA DE QUADROS

Quadro 1 – Pegada ecológica, disponibilidades de área eco produtiva e déficit

ecológico de alguns países ... 20

Quadro 2 – Síntese das conferências das partes da Convenção das Nações Unidas sobre mudanças climáticas e informações mais relevantes ... 22

Quadro 3 – Gases de efeito estufa e seus equivalentes em dióxido de carbono (CO2) ... 27

Quadro 4 – Anexo B – Protocolo de Quioto ... 27

Quadro 5 – Total das emissões de dióxido de carbono das partes do Anexo I em 1990, para os fins do artigo 25 do Protocolo de Quioto ... 28

Quadro 6 – Variação das emissões totais no Brasil ... 41

Quadro 7 – Variação das emissões totais no mundo ... 42

Quadro 8 – Variação do produto interno bruto do Brasil ... 43

Quadro 9 – Principais diferenças entre o Protocolo de Quioto e CCX ... 47

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LISTA DE GRÁFICOS

Gráfico 1 – Distribuição do total de atividades de projeto registradas por país ... 36

Gráfico 2 – Estimativa de reduções de emissões associados a projetos de MDL ... 37

Gráfico 3 – Distribuição das atividades de projetos no Brasil por escopo setorial de acordo com classificação da UNFCCC ... 38

Gráfico 4 – Status dos projetos brasileiros na CIMGC e no Conselho Executivo do MDL ao fim do 1º período de compromisso do Protocolo de Quioto ... 38

Gráfico 5 – Distribuição de RCEs distribuídas por país ... 39

Gráfico 6 – Emissões de dióxido de carbono ... 42

Gráfico 7 – Emissões de CO2e mundial ... 42

Gráfico 8 – Relação PIB x emissões de CO2 no Brasil... 43

Gráfico 9 – Status dos projetos brasileiros no Conselho Executivo do MDL até 30 de setembro de 2014 ... 44

Gráfico 10 – Histórico de volume e valores do mercado voluntário de carbono ... 50

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INTRODUÇÃO

A questão da mudança de hábito no processo produtivo e de consumo é um dos problemas mais importantes que a humanidade enfrenta. O mundo necessita de um novo patamar de desenvolvimento, mais equilibrado e produtivo.

Atualmente, se todas as nações tivessem o mesmo consumo da sociedade dos EUA, os recursos do Planeta terminariam em pouco tempo. Como mudar essa lógica e como mudar esse quadro que se desenha é um dos desafios da humanidade.

A questão do meio ambiente sempre foi vista com um viés ecológico, de preservação. Todavia, de algumas décadas para cá, vários pesquisadores e cientistas das mais variadas áreas estudam os fenômenos climáticos sob o ângulo igualmente dos seus efeitos sobre a vida das pessoas e suas economias, incluindo até mesmo o desafio de suas sobrevivências.

O assunto se tornou tão importante que, inclusive, já existe a disciplina de

Economia Ambiental em alguns cursos de Ciências Econômicas, abordando

exatamente essas externalidades.

A partir da década de 1950, verificou-se um grande crescimento econômico em quase todo o mundo. A atividade industrial foi impulsionada por vários fatores, dentre eles: o crescimento populacional e consequente ampliação do número de consumidores de produtos industrializados. Essa expansão aumentou significativamente a poluição atmosférica e o uso dos recursos naturais da Terra.

A consciência de que a degradação ambiental causada por ações humanas poderia causar impactos e alterações profundas na vida do Planeta, levaram a ONU a organizar, em 1972, a Conferência de Estocolmo.

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O encontro, que reuniu representantes de diversos países na capital da Suécia, foi a primeira iniciativa mundial no sentido de organizar as relações entre o homem e o meio ambiente. Ao final da conferência, foi divulgado um Manifesto Ambiental com 19 princípios em torno do comportamento e responsabilidade humana, visando conduzir suas decisões em relação às questões ambientais.

Na ECO 92, realizada no Rio de Janeiro, a discussão entre o desenvolvimento econômico e a necessidade de um desenvolvimento social favoreceu o aprofundamento do conceito de desenvolvimento sustentável em âmbito mundial.

As discussões sobre desenvolvimento sustentável incluem sempre questões sobre mudanças de hábitos de consumo, tais como: economizar água e energia, evitar o consumismo, usar mais transporte público para poluir menos. Tais mudanças geram uma questão crucial: é preciso abandonar ou reduzir drasticamente o uso de tudo o que se conquistou em termos de consumo e tecnologia no mundo moderno, para viver de maneira sustentável?

A expressão “economia verde” refere-se à otimização de atividades que façam uso racional e equitativo dos recursos naturais, para emitir baixas taxas de gases de efeito estufa (economia descarbonizada), e agredir, minimamente, o meio ambiente. Para isso, são necessárias novas tecnologias que permitam aos diferentes segmentos da economia utilizar maquinários de baixo consumo energético.

As matrizes energéticas precisam ser gradativamente substituídas por fontes não poluentes e renováveis, como: eólica (energia dos ventos), eletro voltaica (energia solar), biodigestora (queima de gases emitidos por decomposição de dejetos animais, sobra de cultivares agrícolas, esgoto doméstico) e maré-motriz (força motriz de marés).

Com o objetivo de ampliar ainda mais as medidas de preservação e controle ambiental, a ONU promoveu discussões para definir motivações para a preservação do meio ambiente, visando, inclusive, os países em desenvolvimento, onde a degradação é crescente e existe falta de recursos econômicos e tecnológicos para combatê-la.

As medidas empreendidas pelos mentores e organizadores do Protocolo de Quioto e sessões posteriores, no contexto da Convenção Quadro das Nações Unidas sobre Mudança do Clima (CQNUMC) têm, entre seus objetivos básicos, a

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motivação e a organização, pelos países que assinaram o referido protocolo, das ações em favor da redução ou captação de gases que provocam o efeito estufa.

Por meio das normas estabelecidas nos referidos acordos, as empresas são compelidas a tomar providências para reduzir suas participações no volume de poluição do Planeta e, mais especificamente, no aquecimento global da atmosfera. Assim, se não podem ou não querem fazer autoinvestimento para diminuir suas produções de resíduos, têm de investir para que os países em desenvolvimento o façam, amenizando, com isso, os efeitos de seu comportamento indevido e, ao mesmo tempo, contribuindo para o desenvolvimento sustentável de países desprovidos de recursos.

Conforme o Protocolo de Quioto (1997), a partir de 2005 – 90 dias após a adesão de mais de 55 países, que configuraram os 55% de emissões – três mecanismos seriam utilizados para o cumprimento dos compromissos de redução da emissão dos gases que afetam o efeito estufa: execução conjunta (Joint

Implementation), comércio de emissões (emissions trade) e Mecanismo de

Desenvolvimento Limpo (MDL), (Clean Development Mechanism – CDM).

De acordo com o MDL, os países desenvolvidos podem financiar projetos em países em desenvolvimento, para redução de gases de efeito estufa nesses países e se apropriarem de créditos de redução de emissões (CRE).

Dessa forma, os países em desenvolvimento terão recursos para buscar o desenvolvimento sustentável e os países desenvolvidos terão compensado a poluição que produzem e, por razões diversas, não conseguem eliminar. As ações previstas seriam realizadas por empresas situadas nos países que assinaram o Protocolo de Quioto.

Dos mecanismos estabelecidos para a redução de gases de efeito estufa, somente o MDL pode ser aplicado em países em desenvolvimento, como o Brasil. O uso das outras duas alternativas é aplicável apenas em países desenvolvidos que aderiram ao Protocolo de Quioto.

O comércio de emissões e créditos de carbono forma basicamente o mercado de carbono, objeto deste estudo, atualmente esse mercado está muito volátil, com valores irrisórios, o que conduz às seguintes questões: o que ocasionou essa queda? O mercado de carbono é irreversível? Qual o futuro do mercado de carbono? Assim sendo, o objetivo desse trabalho é estudar as características e particularidades do mercado de carbono, a partir do Protocolo de Quioto, focando

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principalmente na experiência brasileira. Adiciona-se a esse objetivo geral, os seguintes objetivos específicos: proceder um levantamento introdutório, histórico e conceitual acerca do meio ambiente ao longo das décadas; dissertar sobre o Protocolo de Quioto, destacando suas principais características e regras; discorrer sobre o mercado de carbono no Brasil; e demonstrar como se dá a comercialização do crédito de carbono.

O presente tema tem se revelado de suma importância nos dias atuais, tanto no cenário nacional quanto no cenário Internacional, porque a implementação de projetos de Mecanismos de Desenvolvimento Limpo (MDL) em países em desenvolvimento e, consequentemente, a emissão de créditos de carbono, em seu primeiro período de compromisso (2008-2012), gerou bilhões de dólares em investimentos.

O cumprimento das metas de redução de gases poluentes estipuladas pelo Protocolo de Quioto não tem se mostrado fácil, pois tais gases são facilmente expelidos no ambiente, já que estão intimamente ligados à maioria das atividades industriais. Essas atividades movimentam a economia dos países mais desenvolvidos do mundo e, diminuir a emissão de gases poluentes, significa reduzir a atividade industrial tal como ela ocorre hoje, levando a maiores investimentos (e custos) em técnicas de produção que reduzam tal emissão. Portanto, o investimento em técnicas menos poluentes exige gastar mais recursos financeiros, levando a atividade industrial a gerar menos dinheiro, interferindo na lógica de acumulação capitalista existente internamente em cada país.

Dessa forma, a implementação de mecanismos de desenvolvimento limpo foi visto como a possibilidade de se gerar um projeto rentável, tanto para países do Anexo 1 (países desenvolvidos), quanto para os países do Não Anexo 1 (em desenvolvimento) que, além de possuírem em seus territórios projetos de desenvolvimento sustentável, adquiririam uma forma de alavancar a economia interna.

O grande desafio da humanidade é dar prosseguimento a este projeto, mesmo levando em conta que, atualmente, os projetos de MDL estão muito aquém do que já foram, e longe de alcançarem o potencial gigantesco que possuem intrinsecamente.

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Nesse quadro, o estudo desenvolvido se justifica pela atualidade e relevância para as ciências econômicas, pois se insere nos novos tempos vividos pela humanidade e suas relações econômicas.

Metodologicamente, este estudo foi de natureza qualitativa e descritiva, se constituindo, além desta introdução e das considerações finais, em três capítulos.

O capítulo 1 explica as externalidades negativas e contextualiza a história dos tratados internacionais sobre meio ambiente de forma a explicar o surgimento dos créditos de carbono.

O capítulo 2 se dedica a destacar as informações que retratam o mercado de créditos de carbono, com ênfase no Brasil.

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1 O SURGIMENTO DOS CRÉDITOS DE CARBONO

Atualmente, um dos maiores problemas da humanidade é o aquecimento global, ocasionado principalmente pela ineficiência do modelo de produção das empresas. Neste capítulo será visto as consequências deste modo de produção – Externalidades – assim como, as mudanças climáticas. O primeiro estudo rigoroso sobre esse fenômeno foi realizado pelos cientistas da Academia Nacional de Ciências dos Estados Unidos, em 1979. Desde então, este debate tem adquirido cada vez mais espaço e importância nas pautas de políticas públicas da maioria dos países.

1.1 EXTERNALIDADES

Externalidades são os efeitos sociais, econômicos e ambientais indiretamente causados pela venda de um produto ou serviço. O presidente da North

American Economic and Finance Association (Associação Norte Americana de

Economia e Finanças), Dominick Salvatore (apud ECYCLE, 2013) diz que as externalidades se resumem à “diferença entre custos privados e custos sociais ou entre lucros privados e lucros sociais”. Isso significa que as externalidades nascem na economia e podem ser negativas ou positivas para a sociedade.

Uma empresa pode gerar fatores que prejudicam outras empresas e as pessoas ao seu redor de forma que não estão diretamente relacionadas com os bens que produz, mas sim com suas consequências, no caso de uma externalidade negativa.

Empresas também podem causar benefícios para outras empresas e populações, gerando externalidades positivas.

O comércio de emissões instituído a partir do Protocolo de Quioto foi criado com o propósito de corrigir falhas de mercado geradas por externalidades. A poluição emitida por uma empresa no seu processo produtivo gera uma externalidade negativa a sociedade.

A ciência econômica sustenta que, quando as externalidades se encontram presentes, o preço de um bem não reflete necessariamente seu valor social, consequentemente as empresas produzam em excesso ou quantidades insuficientes, que gera ineficiências de mercado. Pindyck e Rubinfeld (2006)

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afirmam: “[...] Como as externalidades não se refletem nos preços de mercado, elas podem se tornar uma causa de ineficiência econômica”.

Utilizam como modelo uma usina de aço que lança efluentes em um rio:

Figura 1 – Modelo gráfico de externalidade negativa em uma usina de aço

Fonte: Pindyck e Rubinfeld (2006).

A figura 1 (a) apresenta a decisão de produção da usina de aço em um mercado competitivo e a figura 1 (b) mostra as curvas de demanda e da oferta de mercado, supondo que todas as usinas geram as mesmas externalidades.

Quando há externalidades negativas, o custo marginal social (CMgS), é maior que o custo marginal (CMg). A diferença é o custo marginal externo (CMgE). Em (a), a empresa que maximiza os lucros produz a quantidade q1, em que o preço é igual ao custo marginal CMg. A produção eficiente ocorre com a quantidade q*, em que o preço é igual ao CMgS. Em (b), o produto competitivo do setor é Q1, na intersecção entre a oferta de mercado CMg1 e a demanda D. No entanto, o produto eficiente Q* é menor na intersecção da demanda com o custo marginal social CMgS.

[...] a ineficiência econômica é o excesso de produção que faz com que uma quantidade demasiadamente grande de efluentes seja despejada no rio. A origem da ineficiência está no preço incorreto do produto. O preço de mercado P1, da figura (b) é muito baixo, pois reflete apenas o custo marginal privado da produção de empresa e não o custo marginal social. Apenas com o preço, mais elevado P* as empresas produtoras de aço obterão um nível de produção eficiente ... (PINDYCK; RUBINFELD, 2006).

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Pindyck e Rubinfeld (2006) afirmam que as externalidades geram ineficiências tanto no curto quanto no longo prazo e que quando há externalidades negativas o custo médio de produção é inferior ao custo médio social. Assim sendo, algumas empresas permanecem no setor mesmo que sua saída seja mais eficiente. Portanto, as externalidades negativas estimulam a permanência de muitas empresas no setor.

No caso de uma empresa que possui tecnologia de proporções fixas, a externalidade pode ser diminuída apenas com a redução de produção. E isso pode ser alcançado com uma taxa sobre o produto.

Em outro caso, eles exemplificam o uso de inovação tecnológica, como um fabricante que que decide colocar um depurador de fumaça em sua chaminé, a fim de reduzir sua quantidade de emissão de poluentes.

Na figura 2, afirma-se que uma empresa pode reduzir suas emissões mesmo que isso tenha um custo, onde no eixo horizontal representa o nível de emissão de poluentes pela fábrica e na vertical o custo por unidade de emissão.

A curva do custo marginal social (CMgS) representa o custo marginal social das emissões de poluentes e indica o aumento do custo associado a emissões de poluentes; a inclinação CMgS é ascendente porque o custo marginal da externalidade torna-se maior à medida que aumenta.

Figura 2 – Custo marginal social e custo marginal de redução

Fonte: Pindyck e Rubinfeld (2006).

A curva Custo Marginal de Redução (CMgR) representa o custo marginal da redução da poluição, ela mede o custo adicional da empresa para instalar equipamentos de controle de poluição.

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Nesse exemplo, Pindyck e Rubinfeld (2006) sinalizaram que se a empresa não fizer nenhum esforço para reduzir suas emissões e tenha escolhido o nível 26 de emissões no qual maximiza os lucros, sua curva de CMgR é zero e o nível eficiente de emissões é no ponto E*, ou seja, nível 12 de emissões, no qual o custo marginal das emissões $3 é igual ao custo marginal da redução das emissões.

Isso se comprova se o nível das emissões nesse caso forem menores que E*, fosse E0, o CMgR seria $7 e o CMgS seria $2, tornando as emissões muito baixas ao ótimo social. Se por ventura o nível das emissões fosse E1, o CMgR seria $1 e o CMgS $4, gerando excesso de emissões.

Existem três medidas para fazer com que as empresas atinjam o ponto E*: (1) fixação de um padrão para emissão de poluentes, (2) imposição de taxas sobre essa emissão e (3) permissões transferíveis de emissão (PINDYCK; RUBINFELD, 2006).

1.2 MUDANÇAS CLIMÁTICAS

Os governos e ambientalistas estão permanentemente em debate sobre as questões fundamentais desta problemática: (i) Se as mudanças ocorridas são eminentes e irreversíveis? (ii) Qual o grau de responsabilidade da ação humana no aquecimento global? (iii) O que pode ser feito para impedir que o problema se agrave? (iv) Como a humanidade vai conseguir reproduzir seu sistema produtivo, consolidado até hoje, sem destruir o meio ambiente, de forma que as gerações futuras possam continuar avançando na atual lógica econômica? (SEIFFERT, 2013).

A mesma autora afirma, que as principais causas das mudanças climáticas estão associadas à geração de emissões atmosféricas (gases e vapores), principalmente pela queima de combustíveis fósseis, gerada nos processos produtivos, notadamente originária da atividade industrial e da operação de veículos automotores. Fazendo com que as mudanças climáticas tornem imprescindível a reestruturação da matriz energética mundial em busca de alternativas de baixo carbono e mais limpas, e que gerem menores impactos na qualidade ambiental.

Embora as mudanças climáticas também são um fenômeno natural, o homem tem papel central nos desequilíbrios causados, fenômeno chamado de influência antrópica, sendo que dificilmente teríamos os desequilíbrios sem a sua interferência.

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Essa importância se mostrou muito relevante principalmente após a Revolução Industrial, no século XVIII, pois mudou drasticamente o processo de produção e consumo, assim como a utilização de fontes de energia. Esse século marca o início da queima acelerada de combustíveis fósseis, iniciando com a utilização do carvão mineral que, ao tornar-se cada vez mais escasso, foi dando lugar ao petróleo e seus derivados, principalmente em função dos avanços tecnológicos de extração e refino (SEIFFERT, 2013).

E com sua utilização em grande escala, a queima dos combustíveis fósseis origina a liberação para a atmosfera de óxidos de carbono, nitrogênio e enxofre.

1.3 PEGADA ECOLÓGICA E PEGADA DE CARBONO

A expressão Pegada Ecológica refere-se à quantidade de terra e água que seria necessária para sustentar as gerações atuais, tendo em vista todos os recursos materiais e energéticos, gastos por uma determinada população.

A Pegada Ecológica atualmente serve aos especialistas como um indicador de sustentabilidade ambiental, pode ser utilizada para medir e gerenciar o uso de recursos através da economia e também para explorar a sustentabilidade do estilo de vida de indivíduos, produtos e serviços, organizações, setores industriais, vizinhanças, cidades, regiões e nações.

Representa o cálculo de área de terreno produtivo necessário para sustentar o estilo de vida de uma população, per capita por hectare, a pegada ecológica de uma população tecnologicamente avançada é, em geral, maior do que a de uma população subdesenvolvida.

Pegada de Carbono é a quantidade de emissões de dióxido de carbono (CO2) e outros gases de efeito estufa (GEEs) atribuíveis ao indivíduo, tomada principalmente pelo seu padrão de consumo energético durante um ano sendo, portanto, um desdobramento da pegada ecológica.

Corroborando com a ideia, Seiffert (2013, p. 12) diz que a pegada de carbono apresenta correlação direta com a pegada ecológica, ou seja, quanto maior a pegada ecológica maior a pegada de carbono e maior sua contribuição para o aquecimento Global, onde transcrevemos um pequeno texto da autora:

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[...] É interessante salientar que enquanto as pegadas ecológicas da Alemanha (5,3) e Reino Unido (5,2) apresentam valores similares, e não muito elevados quando comparados com os Estados Unidos (10,3) e Austrália (9,0), países que não ratificaram o Protocolo de Quioto, os dois primeiros, são os únicos países do globo que conseguiram, até o momento, alcançar as metas estabelecidas pelo Protocolo.

Quadro 1 – Pegada ecológica, disponibilidades de área eco produtiva e déficit ecológico de alguns países

PE (ha/p) TED (ha/p) DE (ha/p)

Alemanha 5,3 1,9 -3,4 Argentina 3,9 4,6 0,7 Austrália 9,0 14,0 5,0 Brasil 3,1 6,7 3,6 China 1,2 0,8 -0,4 Estados Unidos 10,3 6,7 -3,6 Índia 0,8 0,5 -0,3 Itália 4,2 1,3 -2,9 Japão 4,3 0,9 -3,4 México 2,6 1,4 -1,2 PE = pegada ecológica

TED = terras eco produtivas disponíveis DE = déficit ecológico

Fonte: Seiffert (2013).

1.4 RETROSPECTO HISTÓRICO

A Conferência das Nações Unidas sobre Meio Ambiente Humano realizada em 1972, em Estocolmo, na Suécia, foi o marco da união de esforços para discutir o meio ambiente global e as necessidades de desenvolvimento. Representantes de 113 países selaram compromissos pela preservação e respeito ao meio ecológico e ao direito das gerações futuras, reconhecendo-se a responsabilidade comum sobre a preservação do planeta. Essa conferência teve, entre seus produtos: a Declaração sobre o Ambiente Humano, também conhecida como Declaração de Estocolmo, e a criação do Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (PNUMA) (RIBEIRO, 2005).

Em 1982, o PNUMA organizou uma conferência em Nairóbi, no Quênia, para avaliar as medidas empreendidas, ocasião em que surgiu a Comissão Mundial de Meio Ambiente e Desenvolvimento. Em 1987, essa comissão apresentou o Relatório Nosso Futuro Comum, conhecido como relatório Brundtland, nome dado em homenagem a presidente da comissão – a então primeira ministra da Noruega, Gro Harlem Brundtland. Esse relatório condenava o modelo de desenvolvimento adotado pelos países industrializados, destacando a incompatibilidade entre os padrões de

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produção e consumo, a necessidade de uso racional dos recursos naturais e os limites do ecossistema. O documento formalizou o famoso conceito de desenvolvimento sustentável – aquele que atende as necessidades das gerações atuais sem comprometer os direitos das gerações futuras.

Dez anos depois, o PNUMA organizou uma nova reunião, a Conferência das Nações Unidas sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento, que recebeu, entre outras, a denominação de Rio-92, Eco-92 e Cúpula da Terra. Havia representantes oficiais de 175 países. A conferência teve por objetivo a elaboração de estratégias para a contenção e reversão da degradação ambiental e, principalmente, para o desenvolvimento sustentável, além da avaliação dos resultados das medidas empreendidas nos anos que o antecederam.

Seus principais resultados foram: a Agenda 21, que é um extenso programa de ação global; a declaração do Rio, que constitui em um conjunto de 27 princípios tratando da interação da humanidade com o planeta; a Declaração de Princípios sobre Florestas; a Convenção sobre Diversidade Biológica e a Convenção Quadro das Nações Unidas sobre Mudança do Clima (CQNUMC), do inglês United Nations

Framework Convention on Climate Change (UNFCCC) – uma comissão de trabalho

que tem por objetivo a estabilização da concentração dos gases de efeito estufa na atmosfera em níveis aceitáveis para a vida humana. As primeiras normas propostas para implementação do funcionamento da CQNUMC entraram em vigor em 1994, com a aprovação de 186 países, ocasião em que cada um dos países signatários recebeu a denominação de PARTES.

A CQNUMC congrega os países que aderiram ao Protocolo de Quioto. As reuniões entre seus representantes receberam a denominação de “Conferência das Partes” (Conferencie of Parts – COP) e, após fevereiro de 2005, em função do atendimento das regras básicas, “Encontro das Partes” (Meeting of the Parties –

MOPs).

Essa convenção possui um conselho executivo e um secretariado para auxiliá-la nas tarefas técnicas, científicas e políticas, dois órgãos de apoio que são: o de assessoramento científico e tecnológico e o de implementação. O conselho Executivo tem dez membros que são escolhidos entre os signatários da CQNUMC, bienalmente, e são responsáveis pelas decisões tomadas nas COPs/MOPs. Dentre os escolhidos, dois são designados para presidência e vice-presidência, devendo

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ser um representante dos países-membros do Anexo I e um dos membros do Não-Anexo I, alternando-se a posição de presidente e vice de uma gestão para outra.

Além do papel executivo, o conselho tem a seu encargo a supervisão e o monitoramento dos projetos submetidos, o auxílio na obtenção de financiamentos, o credenciamento de entidades de verificação e auditoria dos projetos, custódia dos documentos submetidos a CQNUMC, bem como a divulgação de informações de interesse público, como o nome das empresas credenciadas para verificação, projetos aprovados e informações pertinentes sobre estes.

A mais conhecida entre as COPs foi a de Quioto, no Japão, em 1997, na qual foram apresentadas e discutidas medidas concretas e rigorosas para a contenção das emissões de gases que provocam o efeito estufa, bem como sua remoção. A partir de então, tais medidas têm sido discutidas, aperfeiçoadas e implantadas.

Segue abaixo, no Quadro 2, uma síntese de todas as Conferencias das Partes (COPs), com assuntos mais relevantes, para que se tenha uma visão geral dos encaminhamentos. No capítulo 3 aprofundou-se as discussões sobre a COP 21, que será realizada em Paris na França, em dezembro de 2015.

Quadro 2 – Síntese das conferências das partes da Convenção das Nações Unidas sobre mudanças climáticas e informações mais relevantes

COP ANO LOCAL DESDOBRAMENTOS

1 1995 Berlim (Alemanha)

- Visou o estabelecimento de metas mais amplas do que apenas a estabilização dos Gases de Efeito Estufa (GEEs). Foi

estabelecido o grupo Ad Hoc do Mandato de Berlim. - O IPCC finalizou o segundo relatório de Avaliação 2 1996 Genebra

(Suíça)

- Foi apresentado o segundo relatório de Avaliação realizado pelo IPCC, o qual foi um instrumento de grande importância no processo de negociações.

3 1997 Quioto (Japão)

- Foi estabelecido o Protocolo de Quioto: as nações

industrializados (Anexo A) se comprometeram a reduzir suas emissões de GEEs em 5,2% em relação ás emissões de 1990, no período entre 2008 e 2012.

- Para facilitar as reduções foram estabelecidas três mecanismos de flexibilizações: o Comércio de Emissões, o Mecanismo de Desenvolvimento Limpo (MDL) e a implementação conjunta. 4 1998 Buenos Aires

(Argentina)

- Estabeleceu o Plano de Ação de Buenos Aires, o qual teve por objetivo criar um cronograma para o acordo acerca das regras operacionais do Protocolo de Quioto

5 1999 Bonn

(Alemanha)

- Estabeleceu um cronograma mais agressivo para completar o trabalho do Protocolo de Quioto.

- Determinou os passos para o próximo ano (2000) ajustando o plano de Ação de Buenos Aires.

6 2000 Haia

(Holanda)

- Não conseguiu chegar a decisões acerca dos temas presentes no Plano de Ação de Buenos Aires. Portanto, foi convocada nova conferência em Bonn (Alemanha), conhecida como COP 6,5, a qual teve forte teor político.

- Resultou nos acordos de Bonn, que finalizaram elementos expressos no Plano de Ação de Buenos Aires, como capacitação, transferência de tecnologia, medidas de adaptação aos efeitos de mudança do clima e mecanismo financeiro.

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COP ANO LOCAL DESDOBRAMENTOS

7 2001 Marrakesh (Marrocos)

- O IPCC finalizou o 3º Relatório de Avaliação.

- Foram finalizadas as negociações dos itens pendentes do Plano de Ação de Buenos Aires.

- “Acordo de Marraqueche” – estabeleceram-se as regras operacionais necessárias a ratificação do Protocolo.

- Decisões referentes aos mecanismos de flexibilização, inclusive o imediato início dos projetos de MDL.

8 2002 Nova Délhi (Índia)

- A tarefa principal foi pôr em prática o Acordo de Marraqueche. - Declaração de Délhi – acordo sobre disposições e

procedimentos para MDL.

- Durante a COP 8, se insistiu continuar as negociações da Rio +10 sobre energias renováveis, clima, biodiversidade e desertificação.

9 2003 Milão (Itália)

- Foi proposto fazer um inventário de tecnologias existentes. - Discutiram-se mecanismos de mercado e alianças entre o setor público e privado.

- As organizações de populações indígenas pediram maior participação.

10 2004 Buenos Aires (Argentina)

- Essa COP foi marcada pela ratificação Russa, o que fez com que o Protocolo de Quioto entrasse em vigor em 16 de Fevereiro de 2005.

As questões básicas discutidas foram: - projetos de pequena escala;

- adaptação dos recursos para países em desenvolvimento; - próximo período de compromissos.

11 2005 Montreal (Canadá)

- O Protocolo de Quioto entra em vigor (16 de fevereiro) desse ano.

- MOP 1 12 2006 Nairóbi

(Quênia)

- Proposto o complementar para operação de Fundo Especial para Mudanças Climáticas.

- Mecanismos de desenvolvimento e transferência de tecnologia. - MOP 2

13 2007 Bali (Indonésia)

- Culminou com a adoção do “Bali Action Plan” que determinou o prazo de 2009 para elaboração dos passos posteriores à expiração do primeiro período do Protocolo de Quioto (2012). - A COP 13 estabeleceu compromissos para a redução de emissões causadas por desmatamento das florestas tropicais (REDD+) e aprovou a implementação do Fundo de Adaptação, instrumento criado para apoiar medidas de combate aos efeitos das mudanças climáticas nos países menos desenvolvidos. - MOP 3

14 2008 Poznan (Polônia)

- Apresentou alguns avanços significativos, porém poucos resultados concretos.

- Os países em desenvolvimento apresentaram propostas concretas de redução das emissões de carbono, enquanto que as nações desenvolvidas, à espera da posição do novo presidente dos EUA Barak Obama, em relação ás mudanças climáticas, não firmaram grandes compromissos.

- Destaca-se o avanço na operacionalização do Fundo de Adaptação e a manutenção do debate sobre a definição das metas globais encaminhadas em Bali para a redução das emissões de carbono (25% a 40% de cortes)

- MOP 4 15 2009 Copenhagen

(Dinamarca)

- A COP 15 terminou sem novo acordo global sobre as metas de redução de GEEs do segundo período de compromisso do Protocolo de Quioto.

- Introduz o Acordo de Copenhagen

- Os países desenvolvidos se comprometeram com a criação de um fundo de cerca de 30 bilhões de dólares de 2010 a 2012, e a mobilizar recursos para financiamento de longo prazo de 100 bilhões de dólares/ano até 2020, através de instituições diversas. - estabelecimento de três novos mecanismos: REDD+, Painel de Alto Nível sob a COP para estudar a implantação de mecanismos de financiamento para o Fundo Verde de Copenhagen e um mecanismo Tecnológico

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COP ANO LOCAL DESDOBRAMENTOS

16 2010 Cancun (México)

- A COP 16 teve uma série de acordos fechados, porém a decisão do futuro do Protocolo de Quioto foi adiado para 2011, na África do Sul.

- Criação de um Fundo Verde do Clima, para projetos de mitigação e adaptação ás mudanças climáticas em países em desenvolvimento, o qual deverá ter rápido início e longo período de financiamento.

- Decisão quanto ao REDD+, a fim de gerar incentivos ao processo.

- Estrutura para adaptação das decisões de Cancun - Definição de um comitê de Adaptação para promover a implantação de ações mais coesas e firmes para adaptação ás mudanças do clima

- MOP 6 17 2011 Durban

(África do Sul)

- Prorroga o período de comprometimento de Quioto, que se encerraria em 31 de dezembro de 2012, de 1º de Janeiro de 2013 para 31 de Dezembro de 2017, com possibilidade de extensão para Dezembro de 2020.

- MOP 7

18 2012 Doha

(Qatar)

-Cerca de 200 países aprovaram a prorrogação do Protocolo de Quioto até 2020.

- O alcance do novo acordo, no entanto, é ainda menor do que o Protocolo de Quioto era, pois Japão, Rússia, Canadá e Nova Zelândia se recusaram a assiná-lo porque queriam que países emergentes como China, Índia e o Brasil também tivessem metas a cumprir, o que não é previsto pelo documento. Os estados Unidos nunca ratificaram o Protocolo.

- Grupo comprometido com as metas do Protocolo se reduz a 36 países: Austrália, Noruega, Suíça, Ucrânia e todos integrantes da União Europeia. Juntos eles respondem por apenas 15% do total de emissões.

- Mantém o financiamento de US$ 10 bilhões por ano a serem doados pelos países desenvolvidos para auxiliar o combate a mudança climática.

- Devido à crise econômica, os países desenvolvidos não conseguiram apresentar um planejamento de como vão chegar a soma de US$ 100 bilhões por ano, que é prevista a partir de 2020 pelo mesmo acordo.

19 2013 Varsóvia (Polônia)

- Foi marcada por várias polémicas: greve de fome, abandono de ONGs durante a conferência, demissão de ministro.

- Foi aprovado o mecanismo de perdas e danos (loss e damage), que força os países ricos a financiar países mais vulneráveis que sofrem com a mudança climática.

- Desbloqueio do debate sobre financiamento a longo prazo. - reforçada a necessidade de aprovar o novo acordo em 2015. Criado normas sobre financiamento de projetos voltados á proteção de florestas em países em desenvolvimento (REDD+)

20 2014 Lima

(Peru)

-Aprovado um conjunto de medidas essenciais para a negociação de novo acordo climático em novembro de 2015 em Paris.

Fonte: Seiffert (2005) – adaptada de www.ambiente.sp.gov.br/proclima/linha_tempo/ linha_tempo. asp e <http://www.unfccc.int>.

Protocolo de Quioto

Em busca de um desenvolvimento sustentável do planeta, a partir da premissa da responsabilidade comum sobre o estado de degradação da natureza e a provável contribuição de cada um para tal estado, o Protocolo de Quioto firmou as diretrizes básicas para implementação de medidas que pudessem não somente conter o processo de destruição das condições de vida do planeta, mas também tratar das áreas danificadas. A essência do acordo envolve transferir recursos dos países desenvolvidos para os países em desenvolvimento, visando ao

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desenvolvimento destes em bases seguras e ambientalmente corretas, bem como a recuperação de áreas prejudicadas ambiental e socialmente (RIBEIRO, 2005).

Portanto, deu-se ênfase maior a essa conferencia e aprofundamento nesta pesquisa, em razão de ser a responsável por dar as condições de criação do foco dessa pesquisa: MERCADO DE CARBONO.

O Protocolo de Quioto tem, entre os seus pontos básicos: - os mecanismos para remoção ou redução dos GEEs;

- estabelecimento de limites de emissões de GEEs para cada Parte envolvida;

- determinação de quotas de redução de GEEs para os países signatários, do Anexo I, tendo como base os volumes de emissões no ano de 1990; - conciliação entre interesses e necessidades dos países mais ricos e

aqueles desprovidos de recursos para reduzir as emissões de GEEs, bem como para removê-los.

O artigo 3º do Protocolo de Quioto tem o seguinte teor:

[...] as partes incluídas no Anexo I devem, individual ou conjuntamente, assegurar que suas emissões antrópicas agregadas, expressas em dióxido de carbono equivalente, dos gases de efeito estufa listados no anexo A não excedam suas quantidades atribuídas, calculadas em conformidade com seus compromissos quantificados de limitação e redução de emissões descritos no Anexo B e de acordo com as disposições deste artigo, com vistas a reduzir suas emissões totais desses gases em pelo menos 5% abaixo dos níveis de 1990, no período de compromisso de 2008 a 2012. Utiliza-se o princípio das “responsabilidades comuns, mas diferenciadas” em razão dos princípios do poluidor-pagador e da igualdade material, que levam em conta, para fins de responsabilização, a utilização de técnicas poluidoras e o período de tempo em que delas se utilizou a parte ao longo do processo civilizatório. (SEIFFERT, 2013).

As regras estabelecidas em Quioto entraram em vigência somente em fevereiro de 2005, quando se completaram os 90 dias da ratificação que permitiu atingir a quantidade de adesões com volume de emissões superior a 55% do total das emissões de carbono. A Rússia foi o último país a ratificar o acordo, portanto, a responsável pelo atendimento a regra básica, tendo como base os níveis de poluentes emitidos em 1990 nos Países listados no Anexo I do referido Protocolo (RIBEIRO, 2005).

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Os países que aderiram ao Protocolo de Quioto foram classificados em três grupos, discriminados nos Anexos I, II e no Não-Anexo I daquele documento. O Anexo I é composto pelos países desenvolvidos e industrializados que faziam parte da Organização para o Desenvolvimento e Cooperação Econômica (OCDE) em 1992, e os países de economias em transição: Alemanha, Austrália, Áustria, Belarus, Bélgica, Bulgária, Canadá, Comunidade europeia, Croácia, Dinamarca, Eslováquia, Eslovênia, Espanha, Estados Unidos, Estônia, Finlândia, França, Grécia, Hungria, Irlanda, Islândia, Itália, Japão, Letônia, Liechtenstein, Lituânia, Luxemburgo, Mônaco, Nova Zelândia, Noruega, Países Baixos, Polônia, Portugal, Reino Unido e Irlanda do Norte, República Tcheca, Romênia, Rússia, Suíça, Suécia, Turquia e Ucrânia (www.unfccc.int/parties_and_observers).

Os países membros da Organização de Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE) que não sejam economias em transição são os integrantes do Anexo II e serão os provedores dos recursos necessários para a implementação das diretrizes traçadas pela CQNUMC.

Os países considerados na relação Não-Anexo I são os países em desenvolvimento, os quais totalizam 153, entre eles o Brasil.

Existem, ainda, mais dois anexos no Protocolo de Quioto, o A e o B. O primeiro contém o nome dos gases que devem ser objeto de redução ou remoção, pois, embora a discussão se centralize no gás principal, que é o Dióxido de carbono (CO2), também são objetos de controle da CQNUMC: metano (CH4), óxido nitroso (N2O), hidrofluorcarbonos (HFCs), perfluorcarbonos (PFCs) e hexafluoreto de enxofre (SF6). O conjunto desses gases é conhecido como GEEs – gases que provocam efeito estufa.

O Anexo B contém o nome dos países que ratificaram o acordo e seus respectivos compromissos de redução de emissão. Os inventários das emissões de GEEs são responsabilidades dos países membros e devem ser feitos anualmente, por um sistema nacional, e submetidos às MOPS, que os encaminharão a uma equipe de especialistas para examinar a veracidade dos dados apresentados. Devem ser incluídas, nos inventários, informações suplementares sobre variáveis que possam envolver o cumprimento das obrigações (artigo 7º e 8º do Protocolo de Quioto). Os valores apresentados são válidos para o primeiro período de compromisso, que foi de 2008 a 2012. No Brasil, o papel do sistema nacional é exercido pelo Ministério da Ciência e Tecnologia.

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A meta mínima é o padrão apresentado no Protocolo, mas espera-se que funcione como estímulo para a redução gradativa das emissões de GEEs. A expressão “quantidade equivalente” refere-se a um denominador comum criado entre os gases objeto de controle, necessário devido a diferença entre eles, o metano por exemplo, tem um peso vinte e uma vezes maior (RIBEIRO, 2005).

Crédito de Carbono significa a pretensão de reduzir as emissões de GEE – Gases de efeito estufa a seguir enumerados:

Quadro 3 – Gases de efeito estufa e seus equivalentes em dióxido de carbono (CO2)

Gás Carbônico (dióxido de carbono) – (CO2) = 1 crédito Gás Metano (hidro carbureto) – (CH4) = 21 créditos Oxido Nitroso (N2O) = 310 créditos

Hidrofluorcarbono (HFC) = de 140 a 11.700 créditos Perfluorcarbono (PFC) = de 6.500 a 9.200 créditos Hexafluoreto de enxofre (SF6) = 23.900 créditos Fonte: UNFCCC.

As partes signatárias do Protocolo e que estão inseridas no Anexo I da CQNUMC obrigaram-se a reduzir em média 5,2% de suas emissões de GEE no período de 2008 a 2012, utilizando como parâmetro os níveis verificados em 1990. A União Europeia assumiu a meta de reduzir em 8% suas emissões.

No Quadro 4, temos a lista dos países do Anexo B, e suas respectivas metas de redução de emissões de Gases de Efeito Estufa, tendo como base o ano de 1990.

Quadro 4 – Anexo B – Protocolo de Quioto Parte

Compromisso de redução ou limitação quantificada de emissões (porcentagem do

ano base ou período)

Alemanha 92 Austrália 108 Áustria 92 Bélgica 92 Bulgária 92 Canadá 94 Comunidade Europeia 92 Croácia 95 Dinamarca 92 Eslováquia 92 Espanha 92

Estados Unidos da América 93

Estônia 92

Federação Russa 100

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Parte

Compromisso de redução ou limitação quantificada de emissões (porcentagem do

ano base ou período)

França 92 Grécia 92 Hungria 94 Irlanda 92 Islândia 110 Itália 92 Japão 94 Letônia 92 Liechtenstein 92 Lituânia 92 Luxemburgo 92 Mônaco 92 Noruega 101 Nova Zelândia 100 Países Baixos 92 Polônia 94 Portugal 92

Reino Unido da Grã-Bretanha e Irlanda do Norte 92

República Checa 92

Romênia 92

Suécia 92

Suíça 92

Ucrânia 100

Fonte: Protocolo de Quioto (1997).

Exemplificando: Pelo referido Protocolo, os EUA, no período de 2008 a 2012 (1º período de compromisso do Protocolo de Quioto) deveriam limitar suas emissões a 93% do total medido em 1990 (Quadro 5), responsável por 36% de toda a emissão mundial de GEEs, porém os EUA não ratificaram o Protocolo.

Quadro 5 – Total das emissões de dióxido de carbono das partes do Anexo I em 1990, para os fins do artigo 25 do Protocolo de Quioto

Parte Emissões (Gg) Porcentagem (Mundial)

Alemanha 1.012.443 7,4 Austrália 288.965 2,1 Áustria 59.200 0,4 Bélgica 113.405 0,8 Bulgária 82.990 0,6 Canadá 457.441 3,3 Dinamarca 52.100 0,4 Eslováquia 58.278 0,4 Espanha 260.654 1,9

Estados Unidos da América 4.957.022 36,1

Estônia 37.797 0,3 Federação Russa 2.388.720 17,4 Finlândia 53.900 0,4 França 366.536 2,7 Grécia 82.100 0,6 Hungria 71.673 0,5 Irlanda 30.719 0,2

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Parte Emissões (Gg) Porcentagem (Mundial) Islândia 2.172 0,0 Itália 428.941 3,1 Japão 1.173.360 8,5 Letônia 22.976 0,2 Liechtenstein 208 0,0 Luxemburgo 11.343 0,1 Mônaco 71 0,0 Noruega 35.533 0,3 Nova Zelândia 25.530 0,2 Países Baixos 167.600 1,2 Polônia 414.930 3,0 Portugal 42.148 0,3

Reino Unido da Grã-Bretanha e Irlanda do Norte 584.078 4,3 República Checa 169.514 1,2 Romênia 171.103 1,2 Suécia 61.256 0,4 Suíça 43.600 0,3 Total 13.728.306 100

Fonte: Protocolo de Quioto (1997).

Conforme determinação do Protocolo, as Partes poderão cumprir seus compromissos de reduções de emissões de GEEs por meio de três alternativas: a Implementação Conjunta (IC), a Comercialização de Emissões (CE), e a instituição de Mecanismos de Desenvolvimento Limpo (MDL).

A Implementação Conjunta consiste no acordo, dentre dois membros do Anexo I para estudo, desenvolvimento e implementação de novas tecnologias para a contenção de suas emissões de GEEs, que possam beneficiá-los igualmente. O objetivo seria a concentração de esforços e recursos financeiros para a solução de problemas comuns. As exigibilidades serão cumpridas se o total de emissões antrópicas estiver nos limites estabelecidos para o conjunto das partes envolvidas. As reduções excedentes ao determinado dos países envolvidos podem ser comercializados no mercado de emissões de carbono (RIBEIRO, 2005).

O Comércio de Emissões prevê a comercialização entre as Partes do Anexo I, dos adicionais de redução obtidos, ou seja, o volume de redução de emissão de GEEs além do previsto no Protocolo. Assim, as partes que tiverem sucesso em suas medidas de contenção de emissões, não necessitando, portanto, exercer inteiramente seu direito de poluir, poderão transacionar a quota de direito que deixaram de usar com os países que não conseguiram atingir suas metas. As partes somente poderão utilizar esses créditos como medidas complementares para

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cumprir seus compromissos, assim terão que empreender procedimentos domésticos para redução efetiva de suas emissões (RIBEIRO, 2005).

Essa alternativa tem sido utilizada na Europa e nos Estados Unidos, mesmo antes da vigência do Protocolo de Quioto, em função de acordos internos similares. Grandes interessados em sua aquisição têm sido as organizações não-governamentais da área ambiental, que compram tais títulos para evitar que empresas poluentes o façam e, assim, continuem a poluir.

O MDL envolve o desenvolvimento e a implantação de projetos para redução de emissões e eliminação de GEEs nos países em desenvolvimento, os quais deverão ser financiados pelos países desenvolvidos em troca de créditos para serem abatidos dos seus compromissos de redução de emissões.

1.5 MDL – MECANISMO DE DESENVOLVIMENTO LIMPO

O mecanismo de desenvolvimento limpo (MDL) foi instituído com o objetivo principal de auxiliar os países em desenvolvimento na implantação de tecnologias de recuperação e preservação ambiental, e de ajudar os países desenvolvidos a cumprir suas metas de redução de emissões. Assim, imputa-se aos maiores poluidores um encargo por comportamento agressivo ao meio ecológico, mas de custo inferior ao que teriam que incorrer para ajustar seu processo operacional à condições adequadas sob o ponto de vista das emissões permitidas. Ele pode ser utilizado para atividades de redução e remoção de GEEs que envolvam o uso da terra, mudança no uso da terra e florestas, limitadas, porém, ao florestamento e ao reflorestamento (RIBEIRO, 2005).

De acordo com o artigo 12 do protocolo de Quioto, parágrafo 2º, o objetivo do MDL é:

[...] assistir ás Partes não incluídas no anexo I, para que atinjam o desenvolvimento sustentável e contribuam para o objetivo final da Convenção, e assistir ás Partes incluídas no Anexo I, para que cumpram seus compromissos quantificados de limitação e redução de emissões.

Observa-se, no texto apresentado, que o MDL é o instrumento a promover o desenvolvimento sustentável nos países em desenvolvimento, tendo como base os recursos provenientes de países desenvolvidos.

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Trata-se de uma medida sujeita a críticas, porque admite a continuidade de grandes poluidores. Argumenta-se que, ao invés de conhecimentos tecnológicos, pode faltar vontade política e econômica para alocar recursos em pesquisa e desenvolvimento de novas tecnologias de produção limpa, considerando-se existência de parques industriais inteiros que estão em pleno funcionamento, apesar de serem poluentes. Medidas como essas – reformular processos operacionais inteiros – geram, certamente, impactos nos resultados das empresas e, consequentemente, na economia dos países, podendo fazer com que alguns percam posição de destaque mundial, em razão da resistência dos países desenvolvidos em procurar substituir suas tecnologias atuais.

Corroborando com a ideia de que a aquisição de títulos representativos do direito de poluir deve gerar impacto menor nas disponibilidades financeiras do que a melhoria total do parque operacional interno, Souza e Miller (2003, p. 10) fazem a seguinte afirmação:

[...] concebe-se então, um importante e inteiramente novo mercado, figurando as reduções certificadas de Emissões como o bem negociável e as Partes do Anexo I como principais demandantes de reduções de emissões, visando a reduzir ás despesas com o atendimento a seus objetivos ambientais.

Embora seja passível de crítica, o tempo e o agravamento do cenário de degradação ambiental já provaram que os países desenvolvidos não tomariam qualquer atitude em prol dos países em desenvolvimento sem uma compensação. Assim sendo, o direito de poluir é a compensação dada aos países desenvolvidos para que auxiliem os países em desenvolvimento.

Rocha (2003, p. 124) lembra o aspecto socioambiental que devem ter os projetos desenvolvidos sob a teoria do MDL e que serão considerados nas análises dos investidores:

[...] devemos lembrar que os projetos de MDL, tem um objetivo duplo: redução das emissões de GEE e/ou sequestro de carbono e promover o desenvolvimento sustentável do país hospedeiro do projeto. Ao analisar o primeiro objetivo, o investidor/comprador olha apenas a adicional idade das atividades do projeto (quantidade de CER gerada – análise quantitativa); porém, ao analisar o segundo objetivo, o investidor/comprador observa como a geração dos CER foi alcançada e quais os impactos socioambientais do projeto (análise qualitativa).

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Em seu parágrafo 3º, item b, o artigo 12 do Protocolo de Quioto prevê a utilização de títulos representativos de redução de emissões, denominados Reduções de Emissões Certificadas (RCE), pelos países do Anexo I, para cumprir as metas de contenção de emissões de GEEs. A identificação de reduções de emissões de GEEs ou sua remoção, em países em desenvolvimento, em projetos executados sob as orientações do MDL, indicará o volume de reduções que poderá ser comercializado. Em contrapartida, a produção de emissões em níveis superiores aos determinados, nos países desenvolvidos, definirá o volume de aquisição de créditos:

[...] as partes incluídas no anexo I podem utilizar as reduções certificadas de emissões, resultantes de tais atividades de projetos, para contribuir com o cumprimento de parte de seus compromissos quantificados de limitação e redução de emissões (PROTOCOLO DE QUIOTO, 1997).

Observe-se que a norma menciona “contribuir com o cumprimento de parte de seus compromissos”, ou seja, está previsto que os países desenvolvidos devem conseguir internamente uma fração do seu compromisso de redução, porque suas metas de redução não serão consideradas como cumpridas somente à custa de aquisição das reduções de outros países.

Por tratar-se de uma questão bastante delicada e de alto grau de subjetividade, os projetos de investimentos em MDL devem sujeitar-se a aprovação das MOPs e a supervisão do Conselho Executivo da CQNUMC e, ainda, as reduções de emissões realizadas pelas Partes devem ser certificadas por entidades de verificação e de auditoria independentes, a serem designadas pela MOP (BRASIL, 2015).

Entre as condições estabelecidas pelo Protocolo de Quioto para que se obtenha a RCE, o projeto deverá observar os seguintes requisitos, também denominados critérios de elegibilidade: a) participação voluntária aprovada por uma e outra parte envolvida; b) reduções de emissões que sejam adicionais s que ocorreriam na ausência da atividade certificada do projeto (adicionalidade); c) benefícios reais, mensuráveis e de longo prazo, relacionados com a mitigação da mudança do clima. Vale ressaltar que mecanismos de mensuração, principalmente na área ambiental, não são facilmente concebidos, assim, medir “benefícios que

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ocorreriam” em uma situação diversa da real torna a tarefa mais complexa e exige muita transparência para justificar seus cálculos e eliminar eventuais polêmicas.

Sabe-se que uma das premissas do Protocolo de Quioto é o desenvolvimento sustentável, então cabe reforçar que a forma de realizá-lo é disciplinada pela Autoridade Nacional Designada (AND), que no Brasil é a comissão Interministerial de Mudança Global do Clima (CIMGC). Essa comissão estabeleceu aos participantes os seguintes critérios de desenvolvimento sustentável local: exigência de um projeto de MDL que comprove a sua viabilidade ambiental; que atenda as condições de trabalho e á geração de empregos, contribuindo para a distribuição de renda; o desenvolvimento tecnológico e a promoção da integração regional.

Além do artigo 12 do Protocolo, regulamentam o procedimento do MDL, as normas do acordo de Marraqueche, firmados durante a COP-7. Nessa Conferência das Partes, estabeleceu-se a Decisão 17 COP-7, que compôs o procedimento do MDL em seis fases:

1ª – a concepção do projeto;

2ª – a aprovação e validação do projeto; 3ª – registro do projeto;

4ª – monitoramento da implementação do projeto; 5ª – verificação e certificação dos créditos de carbono; 6ª – emissão das RCE.

A primeira fase compreende a elaboração do Documento de Concepção do Projeto (DCP), que será avaliado pelo órgão delegado certificador para a validação do projeto de MDL, o DCP conterá a descrição de todas as atividades do projeto, a qualificação das pessoas participantes, a metodologia de cálculo da quantificação do cenário de referência, também denominado de linha de base, assim como a metodologia da quantificação das reduções de emissões de GEEs adicionais. Todas essas atividades demonstrarão o quanto ocorrerá de emissões inevitáveis.

Exigem-se, ainda, no DCP, a justificativa da adicionalidade, o licenciamento ambiental e o comentário das pessoas interessadas no projeto. O plano de monitoramento também constará no documento e deverá ser cumprido após a validação, registro e verificação do projeto de MDL.

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A validação é a fase de avaliação do projeto por uma Entidade Operacional Designada (EOD), para que esta constate se houve ou não a satisfação dos requisitos do MDL, conforme demonstrado no DCP.

Com a respectiva aprovação do projeto de MDL pela Comissão Interministerial Global do Clima, as partes titulares requererão ao Conselho Executivo que designe uma das EOD para que proceda a validação do projeto. Esse requerimento de designação de uma EOD se repetirá na fase de verificação e certificação da redução de emissões de GEEs alcançada. No entanto, a EOD que valida o projeto não será a mesma que irá verificar e certificar as reduções de emissões.

Feita a validação pela EOD, segue-se o registro no Conselho Executivo do MDL. O registro é o ato formal de aceitação do proposto como um projeto válido de MDL. A partir de então, deverão ser monitorados todos os dados do DCP em execução pelos participantes do projeto, principalmente pela parte contratante que hospeda o projeto em sua propriedade, e emitirão relatórios periódicos a EOD sobre os dados monitorados.

Vencida esta parte, a EOD faz a verificação in loco, a título de auditoria periódica externa, comprovando o cumprimento das metas de redução de emissões de GEEs que o projeto propôs realizar. Em seguida, certifica por escrito o cumprimento das metas de redução de GEEs relativamente determinado período do tempo constante no DCP e o comunica ao Conselho Executivo, para que este, tendo a certeza da efetiva redução de emissões de GEEs alcançada, emita os créditos de carbono sob a forma de RCE.

Segundo as premissas da CQNUMC, o MDL não existirá por si, mas será parte de uma atividade econômica maior, viável por si só, portanto, a geração de lucro não é vital para sua sobrevivência, entretanto espera-se que ele seja sustentável sob ponto de vista financeiro, social e ambiental, ou seja, que consiga atrair os recursos financeiros necessários para sua operacionalização, que gere benefícios sociais como emprego, redução de problemas de saúde e, ainda, que reduza, se não elimine, a degradação do meio ambiente.

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2 O MERCADO DE CARBONO

O Mercado de Carbono sofreu várias alterações desde de sua criação pelo Protocolo de Quioto, em 1997, e com sua implantação somente a partir de 2005, isso tanto a nível mundial quanto nacional.

Como foi transcrito anteriormente, crédito de carbono é um certificado que é emitido quando há diminuição de emissão de gases que provocam o efeito estufa, gerador de aquecimento global. Um crédito de carbono equivale a uma tonelada de CO2 (dióxido de carbono) que deixou de ser emitido para a atmosfera. Aos outros gases reduzidos, são emitidos créditos utilizando-se uma tabela de equivalência entre cada um dos gases e o CO2.

Souza et al. (2013) em suas pesquisas sobre Financiamento do Mercado de Carbono no Brasil e no Mundo relataram que no período de 2006 a 2011, o volume de recursos transacionados pelos mercados de carbono no mundo ultrapassaram a casa dos US$ 700 bilhões, com uma média de US$ 116 bilhões por ano. Atualmente, esse mercado está basicamente em stand by, à espera das definições que advirão da COP 21, em Paris, em Dezembro de 2015.

Conforme o site do Ministério do Meio Ambiente, o Mercado de Carbono é um campo de trocas, regulado pelo Conselho Executivo do Mecanismo de Desenvolvimento Limpo (MDL), que permite aos países com altas emissões de carbono comprar o “excedente” das cotas dos países que produzem menos CO2.

O cálculo utilizado no mercado de carbono, com a redução de emissões de Gases de efeito estufa (GEE) é medida em toneladas de dióxido de carbono equivalente – tCO2e (equivalente). Cada tonelada de CO2e reduzida ou removida da atmosfera corresponde a uma unidade emitida pelo Conselho Executivo do MDL, denominada de Redução Certificada de Emissão (RCE).

Cada tonelada de CO2e equivale a um crédito de carbono. A ideia do MDL é que cada tonelada de CO2e não emitida ou retirada da atmosfera por um país em desenvolvimento possa ser negociada no mercado mundial por meio de Certificados de Emissões Reduzidas (CER).

As nações que conseguirem ou as que não desejarem reduzir suas emissões poderão comprar os CER em países em desenvolvimento e usá-los para cumprir suas emissões.

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2.1 O MERCADO DE CARBONO NO BRASIL

Brasil (2015) apresenta o status dos projetos de MDL no Brasil, no primeiro período de compromisso do Protocolo de Quioto (2008-2012). O responsável pela avaliação desses projetos é a Comissão Interministerial de Mudanças Globais de Clima (CIMGC). Durante esse período, diversos fatores e decisões influenciaram os resultados da implementação do MDL. Entre eles, a incerteza sobre a renovação do Protocolo e a decisão da União Europeia – principal comprador de RCEs – de, após 31 de dezembro de 2012, comprar apenas RCEs de projetos de países menos desenvolvidos. O último fato levou os desenvolvedores de projetos, principalmente do Brasil, China e Índia – os representantes de aproximadamente 75% dos projetos do mundo – a acelerarem os procedimentos para registro de projetos. O resultado foi um número expressivo de projetos sendo submetido às Autoridades Nacionais Designadas (ANDs) e ao registro na UNFCCC em 2012, não apenas pelo Brasil, mas por todo o mundo.

Quanto ao status do MDL no mundo, ao final do 1º período de compromisso do Protocolo de Quioto, 7.166 atividades de projetos encontravam-se registradas. O Brasil ocupava o 3º lugar, com 300 projetos registrados (4%). Em primeiro lugar encontrava-se a China, com 3.682 (51%) e, em segundo, a Índia com 1.371 projetos (20%).

Gráfico 1 – Distribuição do total de atividades de projeto registradas por país

1% 2% 2% 2% 3% 3% 4% 12% 20% 51% 0% 10% 20% 30% 40% 50% 60% coreia do Sul Tailandia Indonésia Malásia México Vietnã Brasil Outros India China Fonte: Brasil (2015).

Referências

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