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Mecanismo de absorção dos compostos no organismo

Í NDICE DE T ABELAS

1.2. Os compostos fenólicos e os efeitos benéficos na saúde

1.2.1. Mecanismo de absorção dos compostos no organismo

A fim de enquadrar a discussão acerca dos compostos fenólicos na alimentação humana, faz-se uma breve descrição do processo de absorção e metabolização dos compostos no organismo. É sabido que há uma grande variabilidade no consumo diário de compostos fenólicos com a alimentação, que depende dos hábitos alimentares do país e da composição química dos alimentos, a qual por sua vez, está dependente do grau de maturação na altura da colheita, factores ambientais, processamento (métodos de

culinária e métodos industriais) e armazenamento. O consumo médio129,130 de polifenóis

com a dieta foi estimado ser da ordem de 1g/dia. No entanto os polifenóis mais comuns na dieta não são necessariamente os mais activos no organismo, porque têm uma actividade baixa, porque são pouco absorvidos no intestino, são muito metabolizados ou porque são rapidamente eliminados. As diferenças estruturais entre as diferentes classes de flavonóides (figura 1.4) estão relacionadas com o anel C, as variações no número e distribuição dos grupos hidroxilo na molécula e suas substituições. Embora apresentem características estruturais semelhantes, as propriedades biológicas e bioquímicas variam consideravelmente com modificações mínimas na estrutura.

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Por exemplo nos flavonóides48 há

aspectos estruturais importantes que os tornam em compostos com elevada actividade antioxidante:- presença do grupo o-catecol no anel B, o qual confere uma estabilidade elevada ao radical formado;

- a conjugação do anel B ao grupo 4- oxo através da dupla ligação 2,3, que assegura a deslocalização electrónica do anel B;

- os grupos 3-OH e 5-OH e grupo 4- oxo que permite a deslocalização

Figura 1.4. Estrutura dos flavonóides: grupo o-catecol no anel B, dupla ligação

2,3 e grupo 4-oxo no anel C; grupos

hidroxilo nas posições 3 e 5 em conjugação com grupo 4-oxo

electrónica do grupo 4-oxo para ambos os substituintes .

Por outro lado os metabolitos encontrados no sangue e nos órgãos alvo e que resultam da actividade digestiva ou hepática podem diferir das substâncias iniciais em termos de actividade biológica. Assim o estudo da biodisponibilidade dos polifenóis, concentrações e formas em que o composto está presente no plasma e tecidos após a ingestão, é essencial se quisermos perceber os seus efeitos benéficos para a saúde.

A digestão dos alimentos

O aparelho digestivo (figura 1.5) tem várias funções essenciais que condicionam a

acção dos componentes dos alimentos nos seus locais alvo131: ingestão, transporte dos

alimentos ingeridos, secreção de enzimas digestivos, ácido, muco e suco biliar, absorção durante a digestão, transporte dos compostos não digeridos e eliminação.

Figura 1.5. Organização anatómica do tracto gastrointestinal. 1- boca; 2- esófago; 3- estômago; 4- intestino delgado; 5- intestino grosso; 6- recto; 7- fígado; 8- vesícula biliar; 9-canal biliar; 10- pâncreas131

Na boca e no esófago ocorre a ingestão e digestão, no estômago e intestino

delgado a digestão e absorção, no intestino grosso a absorção e eliminação e no recto a eliminação. O fígado a vesícula e o pâncreas produzem e segregam substâncias que ajudam no processo de digestão. A transformação dos alimentos em unidades mais pequenas e finalmente em nutrientes absorvíveis envolve processos químicos e físicos. Primeiro ocorre a desagregação durante a mastigação. Paralelamente os movimentos de contracção continuam o processo de desagregação do alimento e misturam- no com várias secreções. Enzimas (fundamentalmente hidrolases) e alguns compostos químicos que conferem características ácidas ao estômago e básicas ao intestino delgado e bílis, ajudam a que ocorra o processo de

desagregação transformando nutrientes

e não nutrientes em moléculas mais pequenas para que ocorra a sua absorção

Assim os compostos, dependendo do seu tamanho podem ser directamente absorvidos ou vão ter que ser digeridos primeiro.

No estômago, o pH ácido cria condições óptimas para a digestão de proteínas e ocorre absorção de um número muito reduzido de substâncias. É no intestino delgado (duodeno, jejuno, íleon) que acontece em grande parte a digestão e absorção dos compostos, sendo o pH do meio mais básico de forma a que as enzimas possam actuar.

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O transporte de substâncias através da membrana intestinal é um processo complexo e dinâmico que inclui a passagem das mesmas utilizando diferentes vias funcionais em paralelo, através da barreira epitelial intestinal. Esta consiste numa monocamada, composta predominantemente por enterócitos intercalados por células secretoras, que constituem, geralmente, barreiras eficazes a microorganismos e outras partículas. Estas células são ferramentas importantes nos estudos in vitro em que se simula as condições fisiológicas quando se ingerem os compostos fenólicos na dieta alimentar. Os

mecanismos de absorção131 dos compostos são 4: difusão passiva, difusão facilitada,

transporte activo, endocitose (figura 1.6).

Figura.1.6 Diferentes mecanismos de absorção131(a) difusão passiva; (b) difusão facilitada; (c) transporte

A difusão passiva consiste no movimento das moléculas sem dispêndio de energia: as moléculas atravessam as membranas celulares com o objectivo de igualar as concentrações nos dois lados da membrana. Quanto maior for a concentração do composto num dos lados da membrana, mais rapidamente este se move através dela para a zona de menor concentração. Como a membrana tem fundamentalmente na sua composição substâncias lipofílicas deixa passar facilmente compostos lipossolúveis. Para algumas moléculas são necessários transportadores especiais (proteínas) que se encontram na membrana celular e este é o mecanismo de difusão facilitada. Quando é necessária energia para que ocorra o transporte de compostos numa direcção não favorável, ou seja contra um gradiente de concentração, carga ou pressão o transporte diz-se activo. A maioria das substâncias são transportadas por um processo denominado de endocitose, no qual uma porção da membrana forma uma vesícula em torno da molécula, introduzindo-a no interior da célula.

Pode também ocorrer um processo em sentido contrário, o denominado efluxo não é mais do que a regurgitação dos compostos pelas células, ou seja, os compostos permeiam para o interior da célula mas depois são transportados de forma activa para o intestino em vez de passarem para o sangue (transporte de absorção).

No intestino grosso a microflora é constituída essencialmente por bactérias pertencentes aos géneros Bacteroides, Clostridium, Fusobacterium, Eubacterium,

Ruminococcus, Peptococcus, Peptostreptococcus, e Bifidobacterium. Outras estão

presentes em menores quantidades como o género Escherichia e Lactobacillus. Entre os fungos encontram-se Candida, Saccharomyces, Aspergillus e Penicillium. Os

Lactobacillus e Bifidobacterium digerem compostos como a fibra.

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