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Mecanismos para Garantir o Acesso aos cidadãos

CAPITULO III – Enquadramento teórico/Revisão da literatura

3. O acesso aos cuidados de Saúde

3.1. Mecanismos para Garantir o Acesso aos cidadãos

Com a Constituição da República Portuguesa, no Artigo 64º do Capítulo dos Direitos e Deveres, determina que todos os cidadãos têm direito à protecção na saúde, incumbindo ao Estado assegurar aquele direito através do Serviço Nacional de Saúde (SNS). Em termos Constitucionais, o SNS caracteriza-se, por ser geral, universal e tendencialmente gratuito. De modo a garantir o direito à saúde, o Estado:

a. Garante o acesso a todos os cidadãos, independentemente da sua condição económica, aos cuidados da medicina preventiva, curativa e de reabilitação; b. Garante a nacional e eficiente cobertura de todo o país em recursos humanos e

unidades de saúde;

c. Orienta a sua acção para a socialização dos custos dos cuidados médicos e medicamentosos;

d. Disciplina e fiscaliza as formas empresariais e privadas da medicina, de forma a assegurar nas instituições de saúde, públicas e privadas, adequados padrões de eficiência e de qualidade;

e. Disciplina e controla a produção, distribuição, comercialização e uso dos produtos químicos, biológicos e farmacêuticos e outros meios de tratamento e diagnóstico;

O SNS, que abrange todo o território nacional e todos os cidadãos, é gerido de forma descentralizada e participada, abrangendo todos os tipos de cuidados de saúde, os quais são pagos tendo em conta as condições económicas dos cidadãos.

A Lei de Bases da Saúde58 determina que:

• O Sistema de Saúde seja constituído pelo SNS e por todas as entidades públicas que desenvolvem actividades de promoção, prevenção e tratamento na área da saúde, bem como por todas as entidades privadas e por todos os profissionais livres que acordam com o SNS a prestação de todas ou de algumas daquelas actividades; • O SNS disponha de estatuto próprio;

• O SNS abranja todas as instituições e serviços oficiais prestadores de cuidados de saúde dependentes do Ministério da Saúde. A Lei de Bases da Saúde precisa as determinações da Constituição da República Portuguesa e reitera que o SNS se caracteriza por:

1. Ser universal relativamente à população abrangida;

2. Prestar ou garantir que sejam prestados, de forma integrada, cuidados globais; 3. Ser tendencialmente gratuito para os cidadãos, tendo em conta as suas

condições económicas e sociais;

4. Garantir a equidade no acesso, com o objectivo de atenuar os efeitos das desigualdades económicas, geográficas e quaisquer outras assimetrias;

5. Ter organização regionalizada e gestão descentralizada e participada. Para além de todos os cidadãos portugueses, são beneficiários do SNS os: • Cidadãos nacionais de Estados Membros da União Europeia;

• Apátridas residentes em Portugal; • Imigrantes com visto de residência;

• Cidadãos estrangeiros residentes em Portugal em condições de reciprocidade; • Cidadãos que estão abrangidos por convenções entre Estados.

O financiamento do SNS é assegurado pelo Orçamento Geral do Estado. O acesso às prestações do SNS está sujeito ao pagamento de Taxas Moderadoras, encontrando-se em vigor o regime aprovado pelo Decreto-Lei nº 173/2003 de 1 de Agosto, cujos montantes a pagar estão fixados pela Portaria nº 985/2003 de 13 de Setembro. Nos termos do Artigo 2°

do Decreto-Lei nº 173/2003, estão previstas situações de Isenção de Pagamento de Taxas Moderadoras, abrangendo:

• As grávidas e parturientes;

• As crianças até aos 12 anos de idade, inclusive;

• Os beneficiários de abono complementar a crianças e jovens deficientes; • Os beneficiários de subsídio mensal vitalício;

• Os pensionistas que recebam pensão não superior ao salário mínimo nacional, seus cônjuges e filhos menores, desde que dependentes;

• Os desempregados, inscritos nos centros de emprego, seus cônjuges e filhos menores, desde que dependentes;

• Os beneficiários de prestação de carácter eventual por situações de carência paga por serviços oficiais, seus cônjuges e filhos menores;

• Os internados em lares para crianças e jovens privados do meio familiar normal; • Os trabalhadores por conta de outrem que recebam rendimento mensal não superior

ao salário mínimo nacional, seus cônjuges e filhos menores, desde que dependentes;

• Os pensionistas de doença profissional com o grau de incapacidade permanente global não inferior a 50%;

• Os beneficiários do rendimento social de inserção;

• Os insuficientes renais crónicos, diabéticos, hemofílicos, parkinsónicos, tuberculosos, doentes com sida e seropositivos, doentes do foro oncológico, doentes paramiloidósicos e com doença de Hansen, com espondilite anquilosante e esclerose múltipla;

• Outras isenções;

Conforme o Decreto-Lei nº 11/93, que aprova o Estatuto do SNS, respondem pelos encargos das prestações de cuidados de saúde, além do Estado:

• Os utentes não beneficiários e os beneficiários na parte que lhes couber, tendo em conta as suas condições económicas e sociais;

Com a publicação do Decreto-Lei N.° 118/9259, de 25 de Julho, foi criado um regime especial de comparticipação de medicamentos que abrange, apenas, os titulares de pensão igual ou inferior ao salário mínimo nacional, os quais terão direito a uma comparticipação do Estado superior em 15% relativamente ao definido para o regime geral. São, ainda, totalmente comparticipados pelo Estado os medicamentos prescritos a doentes com esofagite de refluxo, paramiloidose, lúpus, hemofilia, hemoglobinopatia, fibrose quística, esclerose múltipla, esclerose lateral amiotrófica, HIV, deficiência de hormona do crescimento e síndroma de Turner.

O acesso aos cuidados de saúde constitui um direito consagrado na Carta dos

Direitos Fundamentais da União Europeia60. No entanto, esse acesso depende muitas vezes

da posição social dos indivíduos. Por conseguinte, é necessário velar, em especial, para que seja garantido o acesso aos cuidados de saúde pelos grupos e pessoas mais carenciados. O relatório conjunto, da Comissão Europeia, de avaliação dos planos nacionais de acção para a inclusão social propõe três categorias de medidas:

• O desenvolvimento da prevenção e da educação no domínio da saúde (protecção materna e infantil, medicina escolar e medicina do trabalho);

• Medidas reforçadas proporcionando a possibilidade da gratuidade para as pessoas com baixos rendimentos;

• A aplicação de medidas destinadas a grupos desfavorecidos: pessoas que sofrem de perturbações mentais, imigrantes, pessoas sem domicílio fixo, alcoólicos ou toxicodependentes, etc.

Com a união de Estados, foi ainda necessário garantir o acesso aos cuidados saúde no espaço europeu. Assim cidadãos da União Europeia que adoeçam ou sejam vítimas de um acidente durante a sua estada num país da União Europeia, na Islândia, no Liechtenstein, na Noruega ou na Suíça, terão acesso a cuidados de saúde gratuitos ou com custos moderados. Desde Junho de 2004, que existe um Cartão Europeu de Seguro de Doença de modo a facilitar o acesso aos cuidados médicos na União Europeia e acelerar o reembolso das despesas. Este cartão vem substituir o formulário E 111, que continua

59 Com nova redacção dada pelo Decreto-Lei n.º 129/2005, de 11 de Agosto - Despacho n.º 19 650-A/2005

(2.ª série), de 1 de Setembro.

60 A Carta dos Direitos Fundamentais da União Europeia, aprovada em Nice em 7 de Dezembro de 2000,

representa a síntese dos valores comuns dos Estados-Membros da União Europeia. Os objectivos são explicados no preâmbulo: "é necessário, conferindo-lhes maior visibilidade por meio de uma Carta, reforçar a protecção dos direitos fundamentais, à luz da evolução da sociedade, do progresso social e da evolução científica e tecnológica".

válido durante o período transitório. Este cartão já está a ser distribuído em catorze países, devendo os restantes fazê-lo até ao final de 2005. Alguns dos países optaram por incluir os elementos do cartão europeu nos seus cartões nacionais e outros preferem emitir cartões distintos.