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Programa de Recuperação de Lista de Espera Cirúrgica

CAPITULO II – Conceitos/Precedente Histórico

10. Programa de Recuperação de Lista de Espera Cirúrgica

Assumindo que as listas de espera constituem um entrave no acesso aos cuidados de saúde, os sucessivos Governos têm procurado resolver este problema através da criação de mecanismos que permitam a sua eliminação ou diminuição.

10.1. PERLE – Programa Específico de Recuperação de Lista de Espera

Em 1992, o fenómeno das listas de espera foi reconhecido oficialmente, pelo que a Direcção-Geral dos Hospitais quando definiu as linhas Estratégicas para 1992-1994 estabeleceu “Reduzir a Espera – Aumentar a Utilidade Técnica e Social”. “No total em Junho de 1992, os hospitais tinham em lista de espera cerca de 92000 doentes com uma média global de 223 dias de espera”. “Como causas destas listas, os serviços hospitalares apontavam em primeiro lugar a falta de tempo operatório (56%), seguida de falta de camas (15,4%), falta de médicos (15%), falta de anestesistas (3,7%) e outras com menos significado estatístico” Alves et al (1996:39).

Contudo, a redução drástica das listas de espera representava um grande encargo financeiro, uma necessidade significativa de meios materiais e de tempo. Assim, numa primeira fase foram seleccionadas cinco patologias de maior impacto social: varizes, histerectomia, cirurgia da próstata, artroplastia da anca e cirurgia da catarata.

Criado pelo Despacho do Ministro da Saúde, publicado a 3/1/95, o PERLE teve “(…) por objectivo reduzir ou eliminar de forma coordenada, a nível regional, as listas de espera em serviços hospitalares associadas com patologias de massa com indicação cirúrgica, (…)”.

A grande novidade deste projecto residiu na possibilidade das diversas Administrações Regionais de Saúde (ARS’s) poderem contratualizar a prestação de cuidados cirúrgicos com entidades prestadoras não pertencentes ao SNS (privadas).

Cada ARS deveria apresentar um plano regional para a recuperação das suas listas de espera, com indicação das prioridades, montante previsto e plano de execução temporal do projecto. A verba definida para o PERLE seria repartida pelas diversas ARS’s em função dos planos apresentados por cada uma e aprovados pelo Ministério.

A partir de 1997, as políticas definidas para a Saúde assentaram na reorganização da oferta dos cuidados de saúde ao nível das ARS’s e numa eficiente utilização dos

recursos humanos e tecnológicos existentes dentro do Sistema Nacional de Saúde, com vista a dar resposta aos problemas nesta área.

Neste âmbito e seguindo linhas do PERLE, foram criados ao abrigo de cada ARS projectos hospitalares que visaram a eliminação ou redução das listas de espera.

Contrariamente ao ocorrido no PERLE, a contratualização destes projectos passou a ser feita directamente com os hospitais públicos geradores das listas de espera.

10.2. PPA – Programa para a Promoção do Acesso

Em 1999, os Tempos Clinicamente Aceitáveis para um conjunto de patologias foram estabelecidos por um conjunto de médicos. As patologias seleccionadas foram hérnias e eventrações, colecistectomias, cirurgia vascular arterial, varizes, cirurgia cardiotorácica, hérnia discal, cataratas, retinopatia diabética, prótese da anca, prótese do joelho, adenoma prostático com e sem complicações e qualquer patologia do foro oncológico.

Por Portaria da Ministra da Saúde, publicada a 2/11/1999, o PPA foi criado com vista, “(…) melhoria do acesso dos utentes do Serviço Nacional de Saúde”.

Esta portaria decorre da Lei nº27/99 de 3/5/1999, onde se aprova o Programa especial de acesso aos cuidados de saúde, que “(…) visa assegurar em tempo útil o acesso à prestação de cuidados de saúde pelo Serviço Nacional de Saúde (SNS)”. Nesta mesma Lei consideram-se, “(…) em lista de espera os utentes em relação aos quais tenham sido excedidos os tempos clinicamente aceitáveis”.

Á semelhança do programa anterior, a este programa foi atribuída uma dotação orçamental adicional, e própria para o efeito, devendo cada ARS contratualizar o volume de cuidados com as instituições do Serviço Nacional de Saúde.

Da análise operacional da execução do PPA, e de acordo com o relatório da Direcção-Geral de Saúde (DGS) referente ao ano de 2001, verificou-se que continuava a aumentar o número de cidadãos portugueses que aguardavam a realização de uma intervenção cirúrgica, há mais tempo do que o considerado clinicamente aceitável. De acordo com os elementos oficialmente existentes, em 2001, o número de cidadãos em lista de espera passou de 85339 no mês de Janeiro para 90452 no mês de Dezembro. Neste mesmo ano, apenas foram executadas 23791 das 34925 intervenções cirúrgicas que se

encontravam contratualizadas, valor que correspondia a uma execução na ordem dos 69.6%.

10.3. PECLEC – Programa Específico de Combate às Listas de Espera Cirúrgicas Por Resolução do Conselho de Ministros nº100/2002, publicada em 25/5/2002 e actualmente em vigor, foi criado o PECLEC em que, “(…), é assumida a urgência em eliminar, no prazo máximo de dois anos, as listas de espera para a realização de intervenções cirúrgicas através do recurso a entidades públicas, privadas ou sociais prestadoras de cuidados de saúde, no respeito pelo direito de escolha do doente, devendo ser melhorada a eficiência dos recursos do próprio SNS”.

Constatada uma clara insuficiência de resposta do SNS, em prejuízo da saúde dos cidadãos em lista de espera, o Governo adoptou uma postura de reestrutura da política nesta matéria.

Aquele diploma introduz uma grande novidade, dado que propõe “(…) Desenvolver uma leal concorrência entre os sectores público, social e privado de prestadores de cuidados de saúde e um aperfeiçoamento da sua cooperação em rede; (…)”.

Também este programa foi dotado de uma verba orçamental específica, com a especificidade das ARS suscitarem a candidatura de hospitais públicos da sua área, sendo que (…) constitui condição de selecção dos hospitais públicos, bem como dos estabelecimentos privados ou de natureza social que tenham regime de convenção em vigor com o SNS para este tipo de actos médicos, a prévia demonstração de que a adesão ao programa não prejudica a realização integral da sua actividade programada, de acordo com os recursos existentes e com razoáveis padrões de produtividade.”

De referir que, podiam fazer parte destas candidaturas todos os doentes em lista de espera até ao dia 30 de Junho de 2002, isto é, a partir desta data os doentes estavam sujeitos à actividade programada existente nos Hospitais.

O Programa Especial de Combate às Lista de Espera Cirúrgicas – PECLEC é o objecto do nosso estudo pelo que, no Capitulo IV desenvolvemos o programa em pormenor.