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Mediação de crédito

No documento ESTUDO DAS PRESTAÇÕES PRINCIPAIS (páginas 45-48)

PARTE I – Delimitação e contextualização do tema

2. Atividades de intermediação na lei portuguesa e modelos contratuais que as

2.5 Mediação de crédito

O DL 133/2009, de 2 de junho, que procedeu à transposição para a ordem jurídica interna da Diretiva 2008/48/CE, do Parlamento Europeu e do Conselho, de 23 de abril, relativa a contratos de crédito aos consumidores, define o mediador de crédito como «a pessoa, singular ou coletiva, que não atue na qualidade de credor e que, no exercício da sua atividade comercial ou profissional e contra remuneração pecuniária ou outra vantagem económica acordada: i) Apresenta ou propõe contratos de crédito a consumidores; ii) Presta assistência a consumidores relativa a atos preparatórios de contratos de crédito diferentes dos referidos na subalínea anterior; ou iii) Celebra contratos de crédito com consumidores em nome do credor» (art. 4.º, n.º 1, f))60.

A atividade da subalínea i) poderá ter na sua génese um contrato de mediação, mas também outras formas de prestação de serviço. O diploma não define uma espécie contratual para o exercício daquela atividade e dá abertura a que se exerça com recurso a vários modelos. Já a atividade da subalínea ii) – assistência relativa a atos preparatórios de contratos não propostos pelo mediador – não se reconduz a um contrato de mediação. Finalmente, a atividade da subalínea iii) remete-nos para uma atuação do mediador de crédito em representação do credor, poder que, em regra, é conferido no âmbito de contratos de mandato ou de agência.

60 O «mediador de crédito» referido neste diploma é figura distinta daquela que, quase com a

mesma designação, foi instituída pelo DL 144/2009, de 17 de junho: o «mediador do crédito», mediador de conflitos junto do Banco de Portugal.

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No exercício das atividades das primeiras subalíneas, o cliente do mediador de crédito pode ser o consumidor, o credor, ou ambos; no caso da terceira subalínea há, necessariamente, uma relação contratual com o credor.

Várias normas do diploma respeitantes ao mediador de crédito pressupõem os casos em que a atividade assenta numa relação contratual com o credor: o art. 5.º, n.º 1, dispõe sobre a publicidade através da qual um credor se proponha conceder crédito ou

se sirva de um mediador de crédito para a celebração de contratos de crédito; o art. 25 impõe aos mediadores a obrigação de indicar a extensão dos seus poderes, se atuam em exclusividade ou com mais de um credor ou como independentes, e a comunicar ao consumidor a eventual taxa a pagar como remuneração pelos seus serviços.

A atividade de mediação de crédito pode ser exercida a título principal ou acessório – é este o caso quando os fornecedores de bens aos consumidores intermedeiam na celebração dos contratos de crédito necessários ao fornecimento –, havendo normas previstas para um caso (arts. 6.º, 7.º e 8.º) e outro (art. 9.º).

Das enunciadas normas resulta que o chamado mediador de crédito se aproximará mais do mandatário ou do agente, que do mediador, tendo a caracterização do contrato que mantém com o credor de resultar de uma análise casuística.

Cabe aqui uma referência à Instrução n.º 11/2001, do Banco de Portugal, sob o assunto «Promotores», respeitante à celebração, por instituições de crédito ou sociedades financeiras, de contratos que visem a promoção, por terceiros, de operações de promoção, junto do público, dos produtos e serviços que comercializam. Esta Instrução tem um campo de aplicação mais amplo que a promoção de crédito ao consumo, abrangendo contratos que visam a promoção de quaisquer produtos de instituições de crédito ou sociedades financeiras. No que for contrariada pelo disposto no DL 133/2009, ter-se-á por revogada, mas a sua maior amplitude permite, ainda, a sua aplicação a diversos casos.

De referir que o Banco de Portugal não tem competência para regular ou fiscalizar os prestadores de serviços de promoção de produtos comercializados pelas instituições de crédito ou sociedades financeiras (art. 17, a contrario sensu, da Lei Orgânica do Banco de Portugal, aprovada pela Lei 5/98, de 31 de janeiro, com as alterações introduzidas pelos DL 118/2001, de 17 de abril, 50/2004, de 10 de março, e 39/2007, de

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20 de fevereiro)61. Por essa razão, fundamenta a instrução nas regras de conduta das instituições de crédito – contraparte naqueles contratos de promoção –, e na supervisão que sobre elas tem (arts. 73 a 77 do RGICSF).

A Instrução impõe às instituições que queiram socorrer-se de terceiros para promover os seus produtos que o façam por escrito; que os prestadores do serviço sejam designados por promotores, sem o qualificativo financeiro; que lhes seja assinalada uma área de atuação e que não exerçam a atividade por conta de outra instituição; que os contratos tenham por objeto apenas a promoção de negócios, ficando vedada a realização de quaisquer operações bancárias e financeiras, bem como o recebimento ou entrega de valores; que as operações pretendidas pelos clientes sejam efetuadas diretamente junto da instituição; e que esta seja responsável por todos os atos praticados com o público, nomeadamente pelas informações sobre operações a realizar.

Estamos perante contratos em que o prestador de serviço se limita a uma atividade de promoção, ficando a celebração do contrato promovido inteira e diretamente a cargo das partes. No entanto, o facto de o promotor ser, ao que tudo indica, contratado para promover uma quantidade indeterminada de contratos, numa determinada área geográfica, com exclusividade, assumindo a instituição responsabilidade pelos seus atos, aproxima estes contratos de contratos de agência.

Para além da atividade de promoção vinda de mencionar, pratica-se ainda no mercado a prestação de serviços de consultoria e mediação financeira, que se oferece ao público em geral, sem vínculo às instituições de crédito. Estes prestadores apenas desenvolvem a atividade sob a alçada do DL 133/2009 quando esteja em causa mediação de crédito a consumidores. A estes prestadores reporta-se o comunicado do Banco de Portugal de 23 de fevereiro de 2011, no qual afirma não ter supervisão sobre os prestadores de serviços de consultoria ou mediação financeira (que, naturalmente, não sejam instituições de crédito, sociedades financeiras e outras entidades que lhe

estejam legalmente sujeitas, como é o caso das instituições de pagamento)62. Não

61 Art. 17 da LOBP: «Compete ao Banco exercer a supervisão das instituições de crédito,

sociedades financeiras e outras entidades que lhe estejam legalmente sujeitas, nomeadamente estabelecendo diretivas para a sua atuação e para assegurar os serviços de centralização de riscos de crédito, nos termos da legislação que rege a supervisão financeira» (ênfase minha).

62 O comunicado é consultável em http://www.bportugal.pt/pt- PT/OBancoeoEurosistema/ComunicadoseNotasdeInformacao/Paginas/combp20110223.aspx, e tem o seguinte teor:

«Têm chegado ao conhecimento do Banco de Portugal diversas situações de pessoas coletivas e singulares que – apresentando-se junto do público como consultores ou mediadores financeiros – obtêm

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existem dados que permitam afirmar que estes profissionais desenvolvem a atividade tipicamente com base neste ou naquele modelo contratual. Estarão provavelmente em causa vários modelos de prestação de serviço.

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