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De entre as possibilidades oferecidas pela estratégia da mediação, aquela que nos parece ser a mais adequada ao contexto escolar é a Mediação entre Pares; na medida em que todo o processo de comunicação (e portanto de possibilidade de resolução eficaz do conflito) é facilitado quando numa situação entre iguais, ou seja, entre pares. Por outro lado, os efeitos que se registam atingem de forma muito positiva os próprios mediadores, a todos os níveis, mas muito especialmente ao nível da sua socialização.

A Mediação entre Pares poderá ser desenvolvida relativamente a qualquer elemento da comunidade escolar/educativa e não apenas entre alunos; mas, no momento, iremos restringir o nosso estudo ao caso da Mediação entre Pares de alunos.

Consideramos, de facto, que, idealmente, a mediação deverá ser construída por pares; pares porque indivíduos da mesma faixa etária e com a mesma função na escola e pares porque constituem grupos de 2+2 (2 alunos mediadores + 2 alunos em conflito).

A oferta de um ambiente de aprendizagem seguro e de um clima de bem-estar deve estar presente em todas as instituições educativas escolares, de qualquer nível de ensino. Esse deve constituir o principal objectivo de qualquer liderança organizacional. De que forma se poderá atingir? A estratégia eficaz e duradoura será certamente capacitar os alunos de competências que lhes possibilitem a resolução dos problemas que se lhes deparem ao longo da sua vida. Essa é uma aprendizagem capaz de proporcionar a todos um ambiente saudável, propício à eficácia de uma aprendizagem significativa.

É precisamente neste contexto que a recorrência à estratégia da mediação entre pares faz mais sentido e revela potencialidades a longo prazo, acentuadas pelo seu carácter preventivo, efectivado através de um processo assente na compreensão do

conflito. Deste modo se ganha uma dimensão de autonomia e de autoprevenção de situações potencialmente gerenciadoras de conflito.

Centremo-nos, então, no conceito de mediação, na sua vertente utilizada no campo da educação. Em termos genéricos podemos começar por definir mediação escolar como um “método de resolução de conflitos em que duas partes em confronto recorrem, voluntariamente, a uma terceira pessoa imparcial, o mediador, a fim de chegarem a um acordo satisfatório” (Seijo, 2003:5). Na mediação não há adversários; o que existe é a criação de um ambiente favorável ao encontro, à comunicação e ao entendimento entre as partes em conflito. O principal objectivo da mediação escolar é a aquisição, manutenção e generalização de uma intervenção comportamental/cognitiva, no sentido da prevenção e remediação dos comportamentos disruptivos ou agressivos nas escolas.

A mediação de conflitos entre os alunos (mediação entre pares) surge, então, na sequência do desejo de uma resolução pacífica desses conflitos e da vontade de criação de um clima salutar de sã convivência entre todos os elementos de uma comunidade educativa que proporcione um clima propício à aprendizagem. Por parte dos professores, como educadores que são, é desejável que esse objectivo se concretize, acima de tudo porque dele resultarão consequências também a nível didáctico e pedagógico. Neste âmbito, pensar na implementação de estratégias de mediação será, com certeza, uma oportunidade excelente até porque “(...) mediation went beyond a simple strategy for the management of conflits; it turned out be an educative process and it presented an added value as a cultural change agent in school.” (Grave-Resendes & Caldeira, 2003:277). Bonafé-Schmitt acrescenta:

“(…) la médiation scolaire ne représent pás une simple technique de gestion de la violence ou une nouvelle forme de contrôle social visant à la pacification des relations sociales à travers la disciplinarisation des corps et des esprits (Pavlich, 1996). Mais elle doit s’apparenter à un véritable processus éducatif permettant de favoriser la diffusion d’un nouveau modèle de régulation des conflits, plus consensuel, faisant appel aux notions de contrat, de confiance, d’équité.

La médiation représente aussi une nouvelle forme d’action commune, qui appelle à une recomposotion des rapports entre l’État et la société civile, à la constitution des nouveaux espaces intermédiaires de régulation des relations sociales. Le développement de la médiation scolaire s’inscrit dans ces recompositions car l’école constitue à la fois un lieu de socialisation et un lieu de prodution de sens qui doit être pris en compte dans la reconstitution du lieu social.”

(in Bonafé-Schmitt, 1997:282)

Analisando os estudos já efectuados, principalmente noutros países (cf. Bonafé-Schmitt, Grave-Resendes, Jullion, Lorcerie, Loureiro, Malique, Marie, Prencipe, Six, Vasconcelos-Sousa, ...), concluímos que a mediação trará, inevitavelmente, também implicações pedagógicas. Levando os docentes à consideração desta dimensão da mediação, para que o seu desempenho seja mais frutuoso, bem como o desempenho dos alunos, a nível do decurso das actividades escolares (lectivas e não lectivas). Desta forma, não podemos deixar de corroborar a opinião de Grave-Resendes & Caldeira, quando afirmam que a mediação entre pares não consiste apenas numa simples estratégia, ela deve ser considerada como um meio de desenvolvimento de princípios educativos: “It must be regarded as an important school educational process for the school, where the major objective is the development of a positive culture of conflit resolution” (2003:278). Pensar na aplicação de um programa de mediação entre pares na escola terá, portanto, como principal finalidade fornecer ferramentas para a formação integral do aluno. Uma vez que “peer mediation is a demonstrably effective youth leadership model”

(http://www.esrnational.org/es/peermediation.htm). A adequada gestão dos instrumentos

que servirão de base à sua aprendizagem permitir-lhe-ão enfrentar eficazmente os desafios do século XXI, através da capacidade de autogestão dos conflitos e da adopção de estratégias de comunicação, diálogo e compreensão para conseguir resolver os conflitos que se lhe depararão. O problema é ter de se percorrer diferentes caminhos para se chegar a atingir esse grande objectivo de moderação e consequente pacificação global. Se, por um lado, podemos iniciar o percurso formando os jovens, temos de ter em linha de conta a influência que os adultos geram nestes e que a sua acção desencadeia nos seus espíritos ainda em formação. Então devemos igualmente tentar modificar as atitudes

dos adultos, especialmente daqueles que mais perto estão dos jovens – os professores e os pais. Assim se poderá iniciar um ciclo de mudança de hábitos que irá depois atingir outras crianças, que naturalmente imitam o comportamento observado nos seus colegas mais velhos. Por outro lado, poder-se-ia começar a mesma acção percorrendo um caminho diferente: a formação das crianças logo na fase inicial da sua formação institucional – na pré-escola. É que nessa fase ainda não se consolidaram hábitos de resposta a conflitos. Este último percurso cremos ser mais moroso, tanto em termos da formação necessária às crianças, como na mudança de atitude dos adultos. No entanto, provavelmente seria a opção mais eficaz se o contexto social actual fosse outro. Em situação neutra, constituiria a escolha certa com certeza, até porque, como diz o povo, “é de pequenino que se torce o pepino”. Em termos de durabilidade de efeitos e de aquisição e manutenção de comportamentos essa seria, também, a opção mais viável. Mas não nos encontramos nessa situação neutra, vivemos um tempo em que é urgente a mudança de comportamentos face a contrariedades ou conflitos mais marcantes. Há que definir linhas de acção a curto prazo, o que não invalida, antes pelo contrário, que se inicie já a actuação ideal, nos mais pequenos.

Em jeito de breve remate, diríamos que “Mediation has a tremendous potential of being a catalysis to initiate change in the culture of the school; yet, there is always the need for willingness to change and embark on new ways of working and thinking about education.” (Grave-Resendes, 2003:285). Ela implica, portanto, uma mudança de paradigmas e de perspectivas da gestão de conflitos e acarreta um forte compromisso com a educação de valores e com a educação para a paz e sã convivência.