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Mediação histórica

A história que afeta Cabrujas é a de seu país e sua vida, uma história ampla, extensiva, que desborda os limites temporais dos anos 1979-1986. Ademais, este período é o marco temporal que compreende as estreias de El día que me quieras e El americano ilustrado.

O ponto de inflexão, a área de tensão entre Cabrujas e os processos históricos de sua nação, pode ser localizado cronologicamente: a primeira década da democracia que prosseguiu ao final da ditadura de Pérez Jiménez, em 23 de janeiro de 1958. A explicação é política. Cabrujas pertencia ao PCV e era comunista com 21 anos quando cai a ditadura. Após a ditadura, foi estabelecida uma aliança partidária de emergência, a Junta Patriótica, composta

por um grupo de partidos que, em palavras de Caballero, “no son ni pretenden ser

revolucionarios: son (y a medida que pase el tiempo lo confesarán más abiertamente) sin rubor alguno, reformistas, gradualistas, y sobre todo, institucionalistas (...) el más prudente, el

más institucionalista, era el Partido Comunista de Venezuela”20 (p.146). Cabrujas como

indivíduo, mas também como militante de um partido, de uma ideologia e de um grupo, se sente derrotado. As intenções, o anelo de seu grupo social era o de converter aquela insurreição popular em revolução perdurável. Os anos sessenta, quer dizer, os posteriores à caída da ditadura na Venezuela, estiveram marcados politicamente em toda a região pela revolução cubana.

El mito de los doce muchachos atrincherados en la Sierra Maestra que al final logran no sólo vencer a un ejército profesional sino desafiar en sus propias narices al Imperio, inflamó las juventudes de América. Apenas los barbudos de Fidel Castro y el Che Guevara llegaron a La Habana, una frase comenzó a formarse en los labios de

20Tradução: “Não são nem pretender ser revolucionários: são (e na medida em que passe o tempo o confessarão

mais abertamente) sem nenhuma vergonha, reformistas, gradualistas, e, sobretudo, institucionalistas (...) o mais prudente, o mais institucionalista, era o Partido Comunista de Venezuela.”

todos los revolucionarios: “si ellos pudieron, ¿por qué no nosotros?” Tal vez en ninguna parte se dio eso como en Venezuela, porque aquí la reflexión no tenía forma interrogativa, sino asertiva: “Nosotros hubiéramos podido, el 23 de enero de 1958”21 (CABALLERO, 2002, p.143)

Mas aquilo nunca aconteceu: após a Junta Patriótica, foi eleito Rómulo Betancourt, político antigo, constante opositor da ditadura, histórico líder e impulsor da Ação Democrática (AD), um partido político que, embora tivesse um foco social, não se identificava (se opunha, na realidade) com o PCV e sua ideologia. A geração de Cabrujas não se sentia representada pelo governo.

Enquanto Cuba tinha triunfado na revolução que depôs a ditadura de Batista, na Venezuela, depois da ditadura local, não houve nenhuma revolução, não se tentou instaurar um governo do povo; o que se implantou foi uma democracia de consenso na qual participaram, em sua grande maioria, os mesmos velhos políticos, os dinossauros que uma década antes haviam sido apartados da cena política pelo ditador Pérez Jiménez e que, após sua caída, regressavam vitoriosos para ocupar as mesmas cadeiras do congresso, só que restauradas (como o resto do país) graças à bonança econômica do regime autoritário. Esta nova democracia era percebida pelos grupos de esquerda como uma democracia revanchista, o oposto da ditadura. Embora o mundo mudasse com rapidez, embora a efervescência comunista contagiasse os grupos intelectuais do continente e embora acontecesse uma grande batalha muda contra o atual sistema para propor um novo sistema econômico e social com seu correspondente homem novo, a Venezuela, alheia e ensimesmada, não parecia perceber nenhuma destas coisas e persistiu em sua contramarcha fora de sintonia. O programa político do novo governo consistiu em cimentar, com o apoio tácito da maioria da população, as bases de um projeto democrático conservador perdurável, o que para Cabrujas e sua geração de intelectuais - comprometidos com a política de mudança e os ideais utópicos - representava um retrocesso, um fracasso terrível. Liberar-se da ditadura foi sem dúvida uma meta importante per se, um motivo de orgulho e de comemoração para o povo, mas não era o suficiente para Cadenas. O objetivo era muito superior, como bem resume Octavio Paz em O arco e a lira: “A ideia cardinal do movimento revolucionário da era moderna é a criação de

uma sociedade universal que, ao abolir as opressões, desdobre simultaneamente a identidade

21Tradução: “O mito dos doze garotos entrincheirados na Sierra Maestra, que no final conseguem não só vencer

um exército profissional, mas desafiar, debaixo de seu próprio nariz, ao Império, contagiou as juventudes de América. Apenas os barbudos de Fidel Castro e o Che Guevara chegaram à Havana, uma frase começou a se formar nas bocas de todos os revolucionários: ‘se eles puderam, por que nós não? ’ Tal vez em nenhuma parte isso tenha acontecido como na Venezuela, porque aqui a reflexão não possuía forma interrogativa, mas assertiva: ‘Nós teríamos podido, o 23 de janeiro de 1958’”.

ou semelhança original de todos os homens e a radical diferencia ou singularidade de cada

um.” (1972, p.254).

Criar uma sociedade universal e livre, desde a perspectiva de um país latino-americano subdesenvolvido e explorado, estava longe demais da realidade material vivida por Cabrujas para que o não cumprimento imediato do objetivo representasse uma frustração real. A frustração se explica antes como um problema de incompetência ou invisibilidade de certos grupos intelectuais nos campos político e social da cena pública. Para os militantes literários e comunistas, que naquele tempo eram praticamente a mesma coisa ( José Ignacio Cabrujas, além de dramaturgo, era membro do Partido Comunista da Venezuela), qualquer alternativa política liberal não passava de uma concessão ao imperialismo estadunidense, inimigo comum dos grupos intelectuais da região que estavam consolidando uma voz potente que estremeceria o mundo com sua força imaginária (o Boom). Ainda que depois as coisas mudassem, naquela década o consenso ideológico entre os intelectuais era quase unanime, mesmo no plano internacional: Gabriel García Márquez, Mario Vargas Llosa, Julio Cortázar, Mario Benedetti, Jorge Amado, Elena Poniatowska, Eduardo Galeano, Pablo Neruda e Carlos Fuentes, todos eram socialistas comprometidos e o fato de começarem a ser publicados, traduzidos e comentados, em todo o mundo, com velocidade vertiginosa, era altamente significativo. Em Cuba, Fidel e Che, dois ídolos barbudos, receberiam a visita amistosa da vanguarda intelectual europeia nas pessoas de Jean-Paul Sartre e Simone de Beauvoir, deslumbrados pelo triunfo revolucionário no Caribe e gratamente surpreendidos pela loquacidade engenhosa desse par de revolucionários-intelectuais, militares-leitores, gerrilheros-nerds, cultos soldados que podiam fazer tudo, inclusive se opor aos donos do planeta. Bem o oposto das pretensões do presidente venezuelano Rómulo Betancourt, anticomunista rabugento, defensor do progresso material e industrial de uma nação que tinha que ser construída.

Os comunistas se rebelaram em Carúpano. Foram contidos pelo governo, o PCV foi ilegalizado. Assim nasceu a guerrilha armada, fraca e focal, mas guerrilha ao fim e ao cabo, com todas suas implicações: a revolução, o derrocamento do governo para impor o governo do proletariado. Os intelectuais apoiavam a causa, alguns chegaram ocultar em suas casas guerrilheiros procurados ou armas. A intelectualidade jovem anos sessenta era absolutamente comunista. Comunista antes de ser artista, comunista dos que não leem O capital, comunistas por osmose, por obrigação, por saudar a bandeira.

Usted, Rafael, habló de religión para designar todo un mecanismo impositivo que en el plano intelectual operó entre los últimos años de la dictadura de Pérez Jiménez y los primeros años de la democracia, durante todo el período guerrillero, esa es una palabra afortunada, correctísima: era una religión. Uno nació a una religión que decía “hay un mundo nuevo”. El esquema propuesto por Betancourt no seduce a mi

generación, él nos parecía una figura del pasado. El 23 de enero es lo más parecido que he vivido al nacimiento de un mundo nuevo y la figura de Betancourt era una como rémora que nos obligaba a echar la película para atrás. Entonces, apareció el gran fantasma: Castro. Ese sí era una maravilla, hasta su personalidad era una maravilla. Bailamos al son de Castro.”22 (ARRAIZ, 2003, p.171)

A unanimidade ideológica dos intelectuais de então era absoluta e “religiosa”, e se

organizava em torno do serviço social, da revolução como meio de alcançar o comunismo. A realidade nacional, porém, é outra. Vejamos agora o que acontece com a tensão entre o entorno e o grupo humano de que Cabrujas formava parte.

Mediação psicossocial

O artista, como indivíduo, adere a um grupo e o habita, para concordar ou discordar, para conservar ou para renovar. Cabrujas, muito antes de ser artista, fazia parte da jovem esquerda venezuelana, da jovem esquerda letrada. É dentro desse grupo, o dos intelectuais de esquerda, que Cabrujas constrói sua identidade como sujeito e desenvolve o começo de sua criação dramática. (Um dado curioso: em 1960 Cabrujas casa pela primeira vez com uma

guerrilheira chamada Democracia López). Em palavras de Goldmann, o artista tem “a

necessidade estética de construir um universo coerente, sem saber por quê. E consegue-se

coerência em relação a um grupo”. (1976, p.129). E esse grupo concreto, o dos esquerdistas

venezuelanos da década dos sessenta, experimentou a agressão constante do presidente Betancourt.

O programa de governo, as políticas econômicas e a ideologia de Rómulo Betancourt estavam demasiado distantes das aspirações políticas dos intelectuais de esquerda e do próprio Cabrujas; mas distância ficou mesmo insuperável a partir da insurreição comunista em Carúpano e a imediata proibição (não legalização) oficial do Partido Comunista, bem no começo do governo de Betancourt. Em resposta a isso, se criam grupos armados de guerrilheiros saídos do PCV com nome de Fuerza Armada de Liberación Nacional (FALN). Durante quase uma década o PCV permanece na clandestinidade e a guerrilha mantém um enfrentamento com os sucessivos governos, até que, em 68, Rafael Caldera legaliza novamente o partido e a guerrilha depõe as armas. Com esse acontecimento, entra em crise a

22 Tradução: “Você, Rafael, falou de religião para designar todo um mecanismo impositivo que no plano

intelectual operou entre os últimos anos da ditadura de Pérez Jiménes e os primeiros anos da democracia, durante todo o período guerrilheiro, essa é uma palavra afortunada, corretíssima: era uma religião. Muitos nasceram numa religião que dizia ‘há um mundo novo’. O esquema proposto por Betancourt não seduz a minha geração, ele nos parecia uma figura do passado. O 23 de janeiro é o mais parecido que tenho vivido com o nascimento de um mundo novo e a figura de Betancourt era como uma rêmora que nos forçava a botar o filme para trás. Então, apareceu o grande fantasma: Castro. Esse sim era uma maravilha, até sua personalidade era uma maravilha. Dançamos ao som de Castro.”

concepção de mundo dos intelectuais de esquerda. “Uma concepção do mundo”, explica Godmann, “é precisamente o conjunto de aspirações, de sentimentos e de ideais que reúne os

membros de um grupo (ou o que é mais frequente, de uma classe social) e os opõe aos outros

grupos” (1976, p.55). Para a intelectualidade venezuelana, fazer a revolução era a meta em

que convergiam todas as aspirações, sentimentos e ideais do grupo, mais ainda depois do começo da insurreição armada. No entanto, tudo isso foi contrariado pelo estabelecimento de uma democracia liberal/petroleira e pela paulatina derrota guerrilheira. Diz Cabrujas, respeito da esquerda venezuelana da nascente democracia (seu grupo social): “En el 65 dábamos lástima ya: estábamos liquidados. En el 65 la historia nos había caído a patadas. Cuando en el 68 el Partido Comunista dice paz democrática, la estampida fue muy grande, se acabó, la

estampida fue al mundo individual.” 23 (ARRAIZ, 2003, p.171) O desencanto é doloroso na

medida em que a ilusão de mudança foi certeza para Cabrujas e sua geração. O fracasso da guerrilha foi desmoralizador e o grupo social se desorientou, seus integrantes se fizeram cépticos e cínicos.

Como estábamos frustrados, hablábamos horrores, como todo frustrado, y nos dio a todos por un exagerado plan vital: todos nos convertimos en unos pequeños donjuanes, demasiadas mujeres, demasiado bochinche, demasiado relajo sexual, propio de los puritanos que se destapan (…) gente que andaba por los cafés de Sabana Grande, entre ellos yo, hablando pestes de la vida, hablando horrores y preparando paellas en mi casa para decir que yo era de derecha, para chocar, para molestar, para agredirme a mí mismo, en el fondo.24 (ARRÁIZ, 2003, p.172)

Houve, então, um chamado à reflexão, uma tentativa de reorganização, de reagrupação, com a fundação do partido Movimiento Al Socialismo (MAS), em 1971. Nascido das cinzas do desacreditado PCV e da derrotada guerrilha nacional, um grupo de socialistas, comunistas (não Stalinistas, mas Trotskystas) e intelectuais de esquerda fundam o MAS, um partido afiliado, para todos os efeitos, às alienações da IV Internacional e à terceira via (que Teodoro Petkoff havia explorado teoricamente em seu livro Chekoslovaquia). O flamante partido, como todo projeto novo, não exibia, ainda, nenhum signo de corrupção, de falta de princípios, era todo esperança, futuro e planejamento. O entusiasmo entre a intelectualidade da região era generalizada. Quando García Márquez ganha o Prêmio Rómulo Gallegos por Cem anos de solidão, doa a totalidade do dinheiro ao partido. (Questões de fé:

23 Tradução: “Em 65 já nos lastimávamos: estávamos liquidados. Em 65 a história havia nos arrebentado.

Quando em 68 o Partido Comunista diz paz democrática, a debandada foi muito grande, acabou, a debandada foi para o mundo individual.”

24 Tradução: “Como estávamos frustrados, falávamos coisas horríveis, como todo frustrado, e todos nos

voltamos para um exagerado plano vital: todos nos convertemos em pequenos dom juans, muitas mulheres, muita bagunça, muita fruição sexual, própria dos puritanos que se destampam (...) gente que andava pelos cafés de Sabana Grande, entre eles eu, falando besteiras da vida, falando coisas horríveis e preparando paelhas em minha casa para dizer que eu era de direita, para incomodar, para chatear, para me agredir, no fundo”

em 2003, Fernando Vallejo doou o mesmo prêmio - havia sido premiado por seu

Desbarrancadero - a uma centro de acolhimento de cachorros.) De qualquer forma e retomando o assunto, o MAS representava uma esperança para Cabrujas e seu grupo e aparentava ser um partido estável, pelo menos no começo, coerente, embora fosse insistente perdedor eleitoral, um perdedor sólido. Contudo, outro fator que modifica as relações entre entorno, grupo social e indivíduo, entra em jogo: a nacionalização do petróleo.

O milagre do petróleo: gênese da falsidade

O descobrimento do petróleo e sua nacionalização - com seu altíssimo valor e com seu espetacular show econômico, mais rápido, efetivo e gratificante do que a agricultura, que enriqueceu vertiginosamente o país - acabou criando no venezuelano a ilusão de viver um milagre. Os efeitos da nacionalização petroleira sobre a economia foram fantásticos e o Estado ficou abastecido, se converteu em empresário, distribuidor da riqueza do ingresso do petróleo que por aqueles anos, começos dos setenta, tinha um valor muito elevado. Em consequência, a percepção de um cidadão, de um venezuelano comum sobre o Estado naquela

época era maravilhada e tergiversada: imatura, segundo Cabrujas expõe em “El estado del disimulo” (2012, p.123). Originou-se a cultura do milagre a partir da riqueza. Carlos Andrés

Pérez falava em construir a Grande Venezuela e todos o apoiavam (inclusive Fidel), todos celebravam, preferiam ignorar a dívida, viver o momento, gastar sem pensar. Venezuela estava bêbada de petróleo caro.

Apenas, en efecto, en todo el ámbito nacional, a todas las profesiones e individuos, se les abrió el apetito con el alza repentina en los precios del petróleo, todos los problemas nacionales han sido olvidados, y como problema único, estelar, mirífico, se habla y se grita sobre nuevas riquezas que pueden obtenerse y cómo podrían aumentarse de acuerdo con los arbitrios que a cada uno se le ocurren. Queremos buscar la manera de que Venezuela sea cada vez más rica, más rica, más rica. Se habla de que el Estado venezolano financiará una refinería de petróleo en Centroamérica; con el mismo entusiasmo hablaríamos de urbanizar terrenos en la luna o comprar una máquina de hacer oro. Para nuestra ansia de dinero nada vemos imposible.25 (MIJARES, 2000, p.609)

Ânsia produtora, entusiasmo desmedido, descontrole, atividade em todos os âmbitos, e também no artístico. No pessoal, Cabrujas se propõe produzir riqueza artística e produz de forma plural, intensa e total: além dos dramas, escreve telenovelas, minisséries para televisão,

25Tradução: “Apenas, com efeito, em todo o âmbito nacional, a repentina alta nos preços do petróleo abriu o

apetite de todas as profissões e indivíduos, todos os problemas nacionais foram esquecidos, e como problema único, estelar, mirifico, se fala e se grita sobre novas riquezas que podem ser obtidas e como poderiam aumentar de acordo com as ideias que cada um tem. Queremos achar o jeito de a Venezuela ser cada vez mais rica, mais rica. Fala-se de que o Estado venezuelano financiará uma refinaria de petróleo na América Central; com o mesmo entusiasmo falaríamos de urbanizar terrenos na lua ou comprar uma máquina de fazer ouro. Para nossa ânsia de dinheiro nada vemos impossível.”

roteiros de filmes, atua em várias obras, dirige outras tantas e várias óperas, cria e mantêm um programa de rádio sobre ópera e outro programa de radio histórico. Cabrujas trabalha até o esgotamento, sem descanso, sem pausa. Nessa época, funda El Nuevo Grupo, junto com Isaac

Chocrón e Román Chalbaud, “Tres tipos”, conta Cabrujas, “que sin parecerse demasiado, con

experiencias muy distintas, desembocaron en primer lugar en una amistad, antes que en cualquier otra reflexión. El teatro no nos importó tanto. Lo que nos proponíamos hacer con él,

tampoco.”26 Isso se evidencia no fato de que El Nuevo Grupo, em plena época de manifestos

e proclamas literárias, de movimentos, de grupos, de vanguardas, não se declara, não se manifesta, não se explica, apenas se reúne, se junta em uma agrupação focada em produzir, sem princípios, sem critérios, sem ideologia (Issac Chocrón nunca foi de esquerda). Graças ao petróleo, as coisas importavam menos, o importante mesmo era produzir. A crise ideológica de Cabrujas e dos intelectuais venezuelanos se aproximava. Já em 1975, Cabrujas escreve:

Ha desaparecido la capacidad de cuestionamiento de todo. No hay esa capacidad, no existe esa posibilidad porque todos estamos bien. Sigue prevaleciendo el cinismo en el país. Tenemos un presupuesto de 43 mil millones de bolívares, acabamos de abrir relaciones con Cuba. El gran gurú de la izquierda latinoamericana, Castro, nos ha tendido la mano y entonces, ¿cómo vamos a sostener una revolución, una actitud crítica, si el gran gurú dice que todo anda bien? (...) Todo está bien entonces: el Gobierno ha asumido actitudes menos reaccionarias, más correctas, más equilibradas y en este momento estamos desesperados por inventar una revolución.27 (2012, p.19) Naquele momento estavam, assim, no plural, escreve Cabrujas, desesperados por inventar uma revolução os intelectuais de esquerda, cuja ideologia, credibilidade e partidos haviam entrado em crise. Cabrujas é um intelectual de esquerda e assim se assume, fala no plural porque sabe que fala também pelos seus, tem consciência grupal, social e histórica. Sua consciência sofria o conflito de princípios de seu grupo social, sua derrota política e ideológica no âmbito nacional.

Mediação estética

Víctor Hugo, Shakespeare, Lope de Vega, Dostoievski, Ibsen, Chéjov, Rafael Cadenas, Musset, Molière, Tirso de Molina, Sófocles, Ruben Fonseca, Eurípides, Ionesco, Ariano Suassuna, Calderón, (CABRUJAS, 2012, p.204) são algumas das maiores influências

26Tradução: “Três homens, que sem serem parecidos, com experiências muito diferentes, desembocaram, em

primeiro lugar, numa amizade, antes que em qualquer outra reflexão. O teatro não nos importou tanto. O que nós propúnhamos fazer com ele, também não”

27Tradução: “Tem desaparecido a capacidade de questionamento de tudo. Não há essa capacidade, não existe

essa possibilidade porque todos estamos bem. Segue prevalecendo o cinismo no país. Temos um orçamento de 43 mil milhões de bolívares, acabamos de abrir relações com Cuba. O grande guru da esquerda latino-americana, Castro, nos estendeu sua mão e então, como vamos manter uma revolução, uma atitude crítica, se o grande guru diz que todo está bem? (...) Todo está bem, então: o Governo tem assumido atitudes menos reacionárias, mais corretas, mais equilibradas e neste momento estamos desesperados por inventar uma revolução”

No documento – PósGraduação em Letras Neolatinas (páginas 35-45)

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