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1. INTRODUÇÃO

1.3 Medida da dispneia: tarefa possível?

A dispneia é considerada sintoma cardinal da DPOC, sendo um fator prognóstico

importante de sobrevida. Em virtude da importância clínica deste sintoma, a Iniciativa Global

para Doença Pulmonar Obstrutiva Crônica (Global Initiative for Chronic Obstructive Lung

Disease - GOLD) propôs em 2011(6), um novo sistema de avaliação da DPOC, capaz de

identificar a gravidade da doença e, por conseguinte, o manejo teparêutico mais adequado,

incorporando as medidas de avaliação de: Risco futuro - determinado pelo histórico de

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saúde - utilizando-se a Escala de Dispneia do Conselho Britânico de Pesquisas Médicas

modificada (mMRC) e o Instrumento de Avaliação da DPOC (COPD Assessment Test™– CAT)(48-49).

A classificação da GOLD adota quatro níveis de gravidade da DPOC: GOLD 1 = leve,

GOLD 2 = moderada, GOLD 3 = grave, GOLD 4 = muito grave (6,50). Esta classificação era

baseada essencialmente na gravidade da limitação do fluxo aéreo, avaliada pela espirometria.

Ao longo do tempo, entretanto, foram acumuladas evidências de uma fraca correlação entre o

VEF1, a gravidade dos sintomas e o estado de saúde percebido pelo paciente(51-52). E, apesar

da gravidade da limitação do fluxo aéreo ser um preditor positivo importante da mortalidade e

de hospitalizações, foi constatado que o histórico da exacerbação frequente de sintomas como

a dispneia (duas ou mais exacerbações no último ano) é, também, por si só, um forte preditor

de risco futuro(10). Tais constatações reforçam a importância de uma avaliação mais objetiva da

dispneia.

Embora a quantificação da dispneia seja uma necessidade evidente para a prática

clínica, a natureza subjetiva e complexa do sintoma torna difícil sua mensuração. Vários

instrumentos foram desenvolvidos com esta finalidade, mas não há um padrão-ouro para sua

avaliação. Nenhum dos métodos disponibilizados na literatura até o momento é considerado o

ideal, tendo em conta suas vantagens e limitações(36).

Os instrumentos disponíveis para a medida da dispneia têm sido classificados como uni

ou multidimensionais. Em geral, os instrumentos unidimensionais procuram avaliar o sintoma

sob o ângulo da intensidade em um único momento(54). São exemplos de instrumentos

unidimensionais o Oxygen Cost Diagram (OCD)(55), modified Medical Research Council dyspnea

scale (mMRC)(56), e a Escala de Borg(57). Os instrumentos multidimensionais por sua vez,

mensuram diferentes aspectos da dispneia além da intensidade, como por exemplo, o impacto

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ainda visam captar a transição de diferentes “estados” da dispneia(54). São exemplos de

instrumentos multidimensionais caracterizados pela literatura: o Questionário Respiratório St.

George (SGRQm)(58); o Baseline Dyspnea Index (BDI) e o Transition Dyspnea Index (TDI)(20).

Em 1999, o Consenso da American Thoracic Society (ATS)(1) reuniu várias medidas

utilizadas para avaliação da dispneia, mas relativamente pouca atenção foi direcionada aos

domínios/dimensões que os diferentes instrumentos mensuravam. Assim, nenhuma

recomendação foi efetuada sobre a utilidade e indicação de cada medida, segundo as

dimensões avaliadas(59).

Em 2011, a nova diretriz da GOLD(6) recomendou a utilização da mMRC (para avaliação

da dispneia) ou o CAT (para avaliação dos sintomas da dispneia, tosse, expectoração, aperto

no peito, capacidade para o exercício e atividades, níveis de confiança, qualidade de sono e de

energia) para a determinação da classificação da DPOC. No entanto, Kim et al. (2013)(60)

identificaram, por meio da aplicação desses dois instrumentos, que a distribuição dos pacientes

com DPOC (n=257) nos quatro grupos propostos foi diferente, de acordo com a escala de

sintomas utilizada na avaliação. Com o uso do CAT, houve uma maior concentração dos

pacientes no grupo D (47,1%), seguido dos grupos A (23,3%), B (21,4%) e C (8,2%). Já com a

utilização da escala mMRC, houve maior proporção de pacientes no grupo A (37,7%), seguido

dos grupos D (31,1%); C (24,1%) e B (7,0%). O que reforça a importância de se conhecer o que

exatamente cada instrumento se propõe a medir.

Revisões sistemáticas têm apontado que na atualidade há uma grande diversidade de

instrumentos de avaliação da dispneia, o que torna difícil obter uma compreensão crítica destes

instrumentos e, por conseguinte, chegar a um consenso sobre sua utilização(61-63).

Com relação aos instrumentos multidimensionais, Watkins et al. (2013)(8) consideraram

que instrumentos disponíveis, para avaliar a dispneia na DPOC, como o Questionário

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às atividades diárias, por ser um instrumento de âmbito mais abrangente.

Na literatura nacional, entre as escalas unidimensionais autoaplicáveis mais utilizadas na

avaliação da dispneia em pacientes portadores de DPOC, encontram-se a Escala Visual

Analógica (Visual Analogue Scale - VAS)(64) e a Escala Modificada de Borg(57), usualmente

utilizadas para a avaliação da dispneia atual, refletindo as características do sintoma em um

momento preciso(54). A Medical Research Council (MRC)(65), validada por Kovelis et al.

(2008)(66), no contexto brasileiro, também é uma ferramenta unidimensional muito utilizada na

avaliação da dispneia usual, diferenciada da VAS e da escala de Borg Modificada por ser

baseada na atividade cotidiana(54,67).

Verifica-se ainda, na literatura brasileira, a utilização dos questionários que visam avalair

mais de que um aspecto da dispneia, como o instrumento multidimensional Questionário

Respiratório St. George (SGRQ)(68), ou ainda o Baseline Dyspnea Índex (BDI) e o Transition

Dyspnea Índex (TDI) na avaliação da dispneia usual. Apesar do relato de sua utilização, até o presente momento, não há registros do processo de validação formal do BDI e do TDI na

cultura brasileira entre pacientes portadores de DPOC(69).

A concepção do BDI surgiu da constatação de que a maioria das escalas clínicas para

avaliação da dispneia, na década de 80, eram baseadas na avaliação do maior nível de

atividade que o paciente era capaz de executar, mas sem dar atenção à quantidade de esforço

empregado para realizar esta tarefa e ao impacto funcional do sintoma(19). Estudos

subsequentes demonstraram que o BDI era de fácil administração, que a atribuição dos escores

dependia da utilização de uma abordagem sistematizada para obtenção de história completa

sobre o quadro respiratório do paciente, que havia uma variação inter-observador aceitável e

que os dados se correlacionavam significativamente, embora sem forte magnitude, com os

dados do teste de função pulmonar e de capacidade física(20). Foi ainda demonstrado que o

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gasosa e capacidade de exercício, após administração de broncodilatador(20).

Motivados com os resultados obtidos nos estudos de Mahler e colaboradores (1984) (20),

Stoller e colaboradores (1986)(19) se propuseram a elaborar uma versão otimizada do BDI,

buscando aumentar a clareza dos critérios para atribuição dos escores. A versão proposta por

Stoller et al. (1986)(19), passa a denominar-se Modified Dyspnea Index.

1.4 Modified Dyspnea Index uma medida multidomínio do sintoma: breve histórico e propriedades da versão brasileira do instrumento

O Modified Dyspnea Index (MDI), proposto por Stoller et al. (1986)(19), como uma

adaptação do instrumento já existente - BDI, visava tornar mais preciso o critério de

quantificação da dispneia. Na versão proposta por Stoller et al. (1986)(19), a avaliação da

dispneia continua sendo feita sob três ângulos distintos: Déficit funcional; Amplitude da tarefa e

Amplitude do esforço. O Comprometimento funcional refere-se à extensão em que a realização

das atividades cotidianas são prejudicadas pela falta de ar. A Amplitude da tarefa, ao limiar de

tarefa em que a presença da dispneia torna-se evidente para o paciente; e Amplitude do

esforço, refere-se ao vigor com que os indivíduos conseguem desempenhar sua tarefa

máxima(19).

Um dos aspectos das mudanças ressaltadas por Stoller e colaboradores(19), refere-se à

separação intencional da ideia de nível de tarefa “limiar”, que deflagra a dispneia, e de “tarefa máxima” – que é o nível máximo de tarefa que o paciente consegue realizar, apesar do aparecimento da dispneia. Muitos pacientes podem continuar executando a tarefa mesmo após

o aparecimento da dispneia. Esta consideração tem um impacto direto sobre a medida da

Amplitude do esforço – que no MDI passa a ser avaliada, considerando-se a tarefa máxima que o paciente consegue realizar, o que contribui em maior precisão da medida, dos ganhos ou

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atingir o limiar de aparecimento da dispneia, mas um esforço variável para continuar a executar

a tarefa. O conceito de “limiar” de tarefa, no entanto, é mantido para avaliar a magnitude do esforço. Os autores compreendem que se, em seu cotidiano, os pacientes não se expõem à

prova de seus limites de tolerância ao exercício (o que é comumente observado, sobretudo em

pacientes sintomáticos) eles tendem a subestimar sua “capacidade máxima”. Assim a utilização do limiar de tarefa para mensurar a Amplitude da tarefa evitaria a subestimação da capacidade

do paciente(19). Além disso, os autores retiraram a demanda de comparação da capacidade do

paciente com a capacidade de seus pares. A avaliação passa a ser centrada sobre a

percepção do paciente sobre suas próprias capacidades.

Outra adaptação do MDI consiste na divisão da avaliacão do Déficit Funcional em duas

partes, acrescentando-se o impacto funcional no trabalho. É possível que a dispneia tenha um

impacto menor sobre a funcionalidade do indivíduo nas atividades domésticas, mas um impacto

significativo sobre as atividades do trabalho, de acordo com a natureza e intensidade das

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Impacto funcional no domicílio

Amplitude da tarefa

Amplitude do esforço

Aplicação do instrumento a pacientes portadores de DPOC (n=32)

Análises da medida: Função pulmonar (CVF e VEF1) e Teste de caminhada de 12 minutos

Limites do BDI:

Impacto funcional – domicílio Modo de avaliação da Amplitude da Tarefa

3 domínios

Impacto funcional no Domicílio + Trabalho

Otimização da avaliação da Amplitude da Tarefa e da Amplitude do Esforço Reunião de aspectos importantes a mensurar sobre a dispneia, a partir da experiência

clínica

Aplicação do instrumento a pacientes portadores de DPOC (n=32)

Análises da medida:

Função pulmonar, Teste de caminhada de 12 minutos, Força muscular respiratória,

Gasometria Arterial e outra medida de avaliação da dispneia – Pneucomniosis Research Unit Score

Adaptação cultural e validação

Versão Brasileira - MDI

Proposição do Bidimensional Dyspnea Index (BDI)

Proposição do Modified Dyspnea Index

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