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O coeficiente de dilatação linear da cerâmica piezoelétrica do tipo PZT-4 é um dado importante para o dimensionamento das peças do sensor. Esse valor, em geral, não é fornecido pelos fabricantes das cerâmicas. O fabricante Morgan Electro Ceramics afirma que a expansão térmica das cerâmicas PZT-4 e PZT-5H é extremamente anisotrópica apenas no primeiro aquecimento e se estabiliza nos aquecimentos subsequentes [76].

A Tabela 4.3 mostra os valores do coeficiente de dilatação térmica do PZT-4, levantados pelo fabricante Morgan Electro Ceramics.

Tabela 4.3 – Coeficiente de dilatação térmica do PZT-4 [76].

PZT-4 Polarizada Temperatura [℃] 𝛂𝟏 [𝟏𝟎 −𝟔/℃] Primeiro aquecimento 𝛂𝟏 [𝟏𝟎−𝟔/℃] Aquecimentos subsequentes 0 1,5 3,8 50 4,5 3,8 100 5,8 3,8 150 6,4 3,8 200 5,4 3,4

É possível ver que, de fato, o coeficiente de dilatação do PZT-4 é bastante não-linear no primeiro aquecimento, mas mantém-se constante em 3,8 x 10−6/℃ para temperaturas entre 0 ºC e 150 ºC nos aquecimentos subsequentes.

Já o fabricante Sparkler Ceramics não forneceu informação sobre o coeficiente de dilatação de suas cerâmicas. Portanto, foi montado um experimento para a medição da expansão térmica da cerâmica PZT-4.

É possível medir o coeficiente de dilatação de um material utilizando uma rede de Bragg colada sobre o mesmo. A deformação sofrida pelo material devido à expansão térmica gera uma deformação proporcional na FBG. Substituindo essa relação na equação de Bragg (Equação 2.2) obtém-se o coeficiente de dilatação desejado.

Uma rede de Bragg com comprimento de onda inicialmente centrado em 1547,520 nm (T = 25°C) foi colada a um anel PZT-4. Essa FBG foi previamente caracterizada quanto à temperatura e à deformação, seguindo os procedimentos explicados no tópico 4.1 desse Capítulo.

É importante ressaltar que essa rede foi caracterizada e utilizada somente para a medida do coeficiente de dilatação do anel PZT-4. Após esse experimento, a FBG foi

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descolada do anel e, consequentemente, rompida. Uma outra rede de Bragg, com comprimento de onda diferente, foi utilizada na configuração final do TP óptico.

Para medição do coeficiente de dilatação, o conjunto foi submetido a uma variação de temperatura de 25 °C a 70 °C. Novamente, foi utilizado o termômetro digital do fabricante Extech, modelo Datalogger – SDL200 para monitorar a temperatura da água durante todo o experimento.

Para o processo de fixação da FBG na cerâmica, diversas colas convencionais como Super Bonder e Epoxi foram testadas, entretanto, estas não foram capazes de suportar toda a excursão de temperatura, tornando-se quebradiças e frágeis.

Para a adequada fixação da FBG, uma composição de resina fotopolimerizável foi utilizada. A fotopolimerização garante o endurecimento da resina e assegura a fixação da fibra tanto para temperaturas elevadas quanto baixas [5]. Foi utilizado um fotopolimerizador LED, cuja potência de saída de luz é de 600 mW/cm2.

Primeiramente, foi colado um dos lados da FBG à cerâmica. Antes da fixação da outra extremidade, foi necessário esticar a rede, de modo que esta acompanhe as deformações do PZT. A Figura 4.7 mostra o arranjo utilizado para esticar e colar a rede no anel PZT. Um posicionador mecânico com micrômetro foi utilizado para produzir as deformações na rede de Bragg.

Figura 4.7 – Set-up experimental para esticar e colar a FBG no PZT

Durante o procedimento descrito, foi utilizado o interrogador óptico da Micron Optics para verificar o deslocamento do comprimento de onda de Bragg. A rede foi

Rede de Bragg Micrômetro Ponto de cola Sinal a ser medido pelo Interrogador

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esticada até λB = 1550,433 nm (T= 25 ºC), aproximadamente 3 nm acima de seu valor original.

O conjunto anel PZT + rede de Bragg foi submerso em um becker com água, inicialmente a temperatura ambiente de 25 °C. O experimento para medição do coeficiente de dilatação linear foi realizado de forma semelhante à determinação da sensibilidade térmica da FBG. Novamente, o interrogador óptico da Micron Optics foi utilizado para demodular o comprimento de onda de Bragg. A Figura 4.8 é uma fotografia do experimento montado em laboratório.

Figura 4.8 – Experimento para medição do coeficiente de dilatação do PZT-4.

O becker foi posicionado sobre um agitador magnético, o qual foi utilizado para agitar a água e elevar a temperatura até 70 °C. Também foi monitorado o deslocamento do comprimento de onda de Bragg para o decaimento da temperatura até retornar à temperatura ambiente de 25 ºC.

Foram realizados 6 ensaios para a medida do coeficiente de dilatação do PZT-4, todos com a mesma rede de Bragg colada no material. Os resultados do comprimento de onda de Bragg medido em função da temperatura encontrados nos 4 primeiros ensaios se apresentaram muito não-lineares. A partir do quinto ensaio, pode-se observar um comportamento mais linear na expansão do conjunto.

Conforme dito anteriormente, o fabricante Morgan Electro Ceramics afirma que as cerâmicas piezoelétricas possuem um comportamento anisotrópico apenas no

Anel PZT + Rede de Bragg Sinal proveniente do Interrogador Óptico Termômetro Digital Sinal a ser medido pelo Interrogador Agitador Magnético

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primeiro aquecimento e se estabiliza nos aquecimentos subsequentes. Contudo, foi observada essa não-linearidade por cerca de 5 ciclos de aquecimento e desaquecimento do PZT-4, realizados em dias distintos.

A Figura 4.9 mostra o gráfico do comprimento de onda de Bragg em função da temperatura na FBG obtido no sexto ensaio realizado. O coeficiente de correlação do ajuste linear das retas foi de 0,9997 para temperatura crescente e 0,9993 para temperatura decrescente, mostrando um comportamento bastante linear da expansão do PZT-4 nesse ensaio.

Figura 4.9 – Comprimento de onda de Bragg X Temperatura crescente e decrescente.

Analisando o gráfico da Figura 4.9, vemos que a FBG caiu 0,5 nm do ensaio com a temperatura crescente para o ensaio com temperatura decrescente. Essa queda se deve a um escorregamento da rede colada no anel PZT, possivelmente devido a uma falha no processo de fixação da mesma com a resina fotopolimerizável.

Podemos ver também que a sensibilidade térmica para a temperatura crescente é igual a 0,0150 nm/ºC, ou seja, 15,0 pm/ºC. Já para a temperatura decrescente, a sensibilidade térmica encontrada foi praticamente a mesma (15,1 pm/ºC). Isso prova que, tanto a FBG quanto a cerâmica piezoelétrica ensaiada, não possuem nenhuma histerese em relação a variação de temperatura.

y = 0,0150x + 1550,0 R² = 0,9997 y = 0,0151x + 1549,5 R² = 0,9993 1549,8 1549,9 1550,0 1550,1 1550,2 1550,3 1550,4 1550,5 1550,6 1550,7 1550,8 1550,9 1551,0 1551,1 25,0 30,0 35,0 40,0 45,0 50,0 55,0 60,0 65,0 70,0 Co mp rimen to d e on d a de Bra g g ( n m) Temperatura (°C) Temperatura crescente Temperatura decrescente

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A partir do valor obtido pelo gráfico da Figura 4.9 podemos calcular o coeficiente de dilatação térmica do PZT-4. A variação do comprimento de um dado material, quando submetido a variações de temperatura é dada por:

∆L = Loα1∆T 4.10

na qual:

∆L: variação do comprimento do material, Lo: comprimento inicial do material,

α1: coefieciente de diltação linear do material, ∆T: variação da temperatura.

A FBG foi colada nas extremidades do anel PZT-4, dessa forma, uma deformação no PZT-4 gera uma deformação proporcional na rede de Bragg (Equação 4.11). εPZT = εFBG ∆LPZT LPZT = ∆LFBG LFBG 4.11

Remanejando a Equação 4.10 a deformação linear do PZT-4 pode ser escrita como:

∆LPZT

LPZT = αPZT∆T 4.12

Substituindo a Equação 4.12 na Equação 4.11, a deformação da rede de Bragg é igual a:

∆LFBG

LFBG = αPZT∆T 4.13

Substituindo a Equação 4.13 na equação de Bragg (Equação 2.2), temos: ∆λB λB = (1 − ρe) ∆LFBG LFBG + (η + αFBG)∆T ∆λB λB = (1 − ρe)αPZT∆T + (η + αFBG)∆T ∆λB ∆T = (1 − ρe)λB αPZT+ (η + αFBG)λB 4.14 Substituindo na Equação 4.14 o comprimento de onda de Bragg da rede utilizada nesse experimento após esticada (B =1550,433 nm), o coeficiente de expansão térmica

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da sílica (αPZT) e os coeficientes termo-óptico (η) e fotoelástico (ρe) calculados nos tópicos 4.1.1 e 4.1.2 desse Capítulo, a equação se resume a:

∆λB

∆T = 1,16 x 10−6 αPZT+ 10,99 x 10−12 4.15 Para esse cálculo teórico, a sensibilidade considerada foi igual a 15,05 pm/°C, isto é, a média entre a sensibilidade durante a temperatura crescente e decrescente determinada experimentalmente. Substituindo esse valor na Equação 4.15, obtemos o coeficiente de dilatação do PZT-4:

αPZT= 3,6 x 10−6/℃ 4.16

O valor encontrado é coerente com o valor ensaiado pelo fabricante Morgan

Electro Ceramics igual a 3,8 x 10−6/℃ .