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4.1. Conceito geral sobre a força na natação

4.1.2. Medida da força em Nado Atado (FNA)

Pela complexidade nas ações dos segmentos corporais durante a propulsão, é de interesse compreender as relações entre as forças necessárias para sobrepor o efeito resistivo (Vilas-Boas, 2000). Fatores biomecânicos (Akis e Orcan, 2004) podem nortear os parâmetros relacionados à mecânica e às forças exercidas no deslocamento à frente (Dadashi et al., 2012; Stamm et al., 2013).

Outros fatores são os efeitos fisiológicos e as metodologias são pautadas na descrição das demandas energéticas geradas pelo metabolismo aeróbio/anaeróbio e atuam na contração muscular, fornecendo energia para o trabalho mecânico (Barbosa e Vilas-Boas, 2005; Barbosa et al., 2010). É importante destacar que a base destes conceitos foi desenvolvida em nadadores de alto nível (Silva et al., 2006). Pouco se discute sobre essa eficiência mecânica e fisiológica em atletas com menor índice técnico.

Newton et al. (2002) relataram que bons níveis de força e potência são necessários no desempenho na natação. Vorontsov (2010) propõe que durante o período púbere (entre 12 a 14 anos e 14 a 16 anos para meninas e meninos respectivamente), oferecem implicações e um aporte biológico ideal para o desenvolvimento do sistema enérgico pela via anaeróbia, contribuindo na potência máxima, resistência muscular e habilidades coordenativas envolvidas na relação força-velocidade.

No entanto, o desenvolvimento da natação está centrado especificamente na melhoria na técnica (Barbosa et al., 2012), abrindo mão de variáveis que influenciem este processo, cometendo equívocos metodológicos na quantificação das capacidades físicas devido à especialização técnica do nado.

Em síntese, a tentativa de mensurar a força no nado foi através do método de nado atado (NA) (Magel, 1970; 1971). Esta técnica visa fixar o nadador pela cintura através de um cabo fixo a um dispositivo (dinamômetro) que mensura os distúrbios gerados pela força exercida. É importante destacar que os testes atados não são exclusividade da natação e têm

sido tão robustos na mensuração da força, considerando a especificidade do exercício para corredores (Lima et al., 2011) e canoístas (Messias et al., 2015), assim como em testes utilizando animais (Gobatto et al., 2017).

Os testes de NA, no qual o nadador permanece preso a um cabo rígido e inextensível (Dopsaj et al., 2001b; Papoti, Marcelo et al., 2003; Kjendlie e Thorsvald, 2006; Morouco, Keskinen, et al., 2011; Barbosa et al., 2012; Morouco et al., 2012; Kimura et al., 2013; Papoti, M. et al., 2013; Morouço et al., 2014; Messias et al., 2015) e o teste semi-atado (NSA), onde o nadador permanece preso ao equipamento, porém com a possibilidade de deslocamento a limites impostos pela resistência gerada pelo equipamento, carga ou tubo cirúrgico (Papoti, Marcelo et al., 2003; Papoti et al., 2005; Papoti et al., 2007; Papoti et al., 2009; Dos Santos et al., 2013; Papoti, M. et al., 2013) são os dois métodos frequentemente utilizados.

A condução dos testes em NA e NSA apresentam limitações em relação à medida da força, como a duração e trajetória da fase subaquática da braçada quando comparada ao nado crawl (Maglischo e Maglischo, 2008). Estes fatores estão associados à relação entre a velocidade parcial ou inexistente (velocidade zero) e a criação de massas turbulentas de água em volta do corpo do nadador, que aparentemente diminuem a eficiência da propulsão das mãos com as variações de velocidade de execução da braçada.

Outra possibilidade apresentada é através da substituição do cabo rígido por tubos elásticos, o que permite uma maior aproximação do nado com a vantagem de minimizar os efeitos deletérios que o NA impõe sobre a mecânica da braçada, fazendo valer a presença do deslocamento, mesmo que parcialmente, possibilitando a execução de testes incrementais (Papoti et al., 2013; Papoti et al., 2003; Papoti et al., 2009; Papoti et al., 2007; Papoti et al., 2005).

Mesmo com as limitações, o NA ou NSA possibilitam discriminar a relação da força em unidade de tempo com a possibilidade de quantificação do tempo das fases subaquáticas e de recuperação para cada ciclo (Yeater et al., 1981; Dopsaj et al., 2001b; Papoti et al., 2003; Taylor et al., 2003; Morouco et al., 2012; Costill et al., 1986b; Vilas-Boas, 2000; Dopsaj et al., 2003; Morouco et al., 2012; Castells, 2013b).

A aplicabilidade prática deste método considera a contribuição da eficiência técnica (Nevill et al., 1992), mecânica (Dopsaj et al., 2001a; Castro, 2007; Barbosa et al., 2012) e a possibilidade de avaliação do custo energético (Barbosa et al., 2010), dos mecanismos referentes à contração muscular (Dopsaj et al., 2001a), bem como a análise das alterações da força durante a realização dos ciclos no nado (Barbosa et al., 2012; Morouco et al., 2012).

Basicamente o NA tem como objetivo caracterizar a produção de força durante um esforço de curta duração e a interpretação da relação da força máxima com a velocidade no nado (Yeater et al., 1981; Yeater et al., 1983; Keskinen et al., 1989) é considerada um método válido e confiável deste tipo de avaliação (Keskinen, 1997; Dopsaj et al., 2003; Kjendlie e Thorsvald, 2006).

Para Dopsaj et al. (2001a), o NA é o principal teste para quantificar a força no nado. Este consiste em uma série de movimentos cíclicos, realizados por pernas e braços, onde cada ciclo resulta em uma força que impulsiona e mantém o indivíduo à frente, em função dos estímulos mecânicos realizados e pela contração muscular. Quanto à mensuração da força no ciclo em NA, está representada pela curva sinusoidal ao longo da unidade de tempo e descreve o comportamento temporal da força.

O comportamento temporal da força interpretado através de parâmetros que correspondem à manifestação da FNA de braços e pernas, analisados de forma isolada ou no nado completo, é denominado de curva força-tempo (CF-t) (Badillo e Ayestarán, 2001). Parâmetros da CF-t são sensíveis às alterações das cargas de treinamento e essas alterações ocorrem considerando o tempo de treinamento, podendo ser observadas através de adaptações agudas ou crônicas.

Diversos são os estudos que descrevem seus principais achados, relatando o uso dos parâmetros da CF-t na quantificação da FNA. Estes parâmetros são a força média (FMed) (Ria et al., 1990; Taylor et al., 2001; Morouço et al., 2011), força pico (FPico) (Christensen e Smith, 1987; Keskisenjärvi et al., 1989), impulso da força (IMP) (Dopsaj et al., 2000; Dopsaj et al., 2003; Morouço et al., 2014), taxa de desenvolvimento da força (TDF) (Dopsaj et al., 2003; Barbosa, 2012) e o índice de fadiga (Morouço et al., 2012). Apesar da classificação de cada parâmetro da CF-t apresentar sua especificidade, controvérsias sobre qual dos parâmetros estariam associados ao desempenho são apresentadas na literatura.

Descrevendo cada um dos parâmetros, a FPico tem por definição a representação do máximo valor da força observada durante a braçada, desconsiderando o efeito inercial do teste. O nível de mobilização da FPico pode variar de acordo com o estilo (Yeater et al., 1981), sexo (Adams et al., 1983; Marinho e Gomes, 1999), frequência de braçadas (Cabri et al., 1988), nível do atleta (Marinho, 2002) e sua categoria. Em nadadores competitivos de nível nacional e internacional, para provas do nado crawl, valores entre 15,9 e 34,7 kgf, realizadas em NA foram apresentados (Dopsaj et al., 2001).

A FMed é um o parâmetro utilizado para descrever a manutenção da força em unidade de tempo. A manutenção da FMed pode representar parâmetros associados ao gesto

motor, como a resistência de força, parâmetro este que está associado à manutenção da potência e índice de fadigas em curtas distâncias.

Outra variável que explica a capacidade do sistema neuromuscular de alcançar índices elevados de força em tempo curto é a TDF (Platonov e Fessenko, 2003). A TDF é obtida pela razão entre a variação da força e do tempo (Corvino et al., 2009) e representa importante medida de desempenho, já que está associada à capacidade de desenvolver força muscular rapidamente, influenciar a magnitude da aceleração de um determinado movimento e ser um fator determinante da expressão da potência muscular. Em síntese, os maiores valores da TDF podem representar o quanto o nadador pode se deslocar na água (Dopsaj et al., 2001).

Apesar dos parâmetros anteriormente citados serem basicamente o principal interesse nas investigações da FNA, outros parâmetros da CF-t têm sido descritos por sua associação nos efeitos do treinamento, seja para acompanhamento das alterações longitudinais ou para orientação da carga, bem como a observação das adaptações crônicas do treinamento.

Também é possível que parâmetros como impulso (IMP) e a duração do ciclo (DUR) (Dopsaj et al., 2001b; Papoti, Marcelo et al., 2003; Barbosa et al., 2012), descrevam o padrão cinético da propulsão. Ambos estão associados com o padrão de realização do movimento em função da força atribuída a uma unidade de tempo para a realização de um ciclo de propulsão, que contribuem diretamente na observação do padrão de movimentos, quantificados através da variação intraciclos (Keskinen, 1997).

Utilizando coerentemente os parâmetros da CF-t, o teste de FNA pode ser utilizado para mensurar as especificidades do treinamento da força, seja este desenvolvido em ambiente terrestre ou aquático. Cada parâmetro também pode distinguir a força em função das demandas metabólica e neuromuscular (Dopsaj et al., 2004) e, enfim, contribuindo para o entendimento de parâmetros biomecânicos (Barbosa et al., 2012).

Dopsaj et al. (2003) demonstram alta taxa de confiabilidade (96,3%) e baixo erro padrão de estimativa (± 0,32 s) entre o IMP e TDF, para explicar a velocidade em 50 metros. Estes dados apresentam-se como referência na descrição dos efeitos da FP com mais precisão que a FPico, especificamente, pelo IMP definir a potência e ser considerado como modelo de previsão para o desempenho (Dopsaj et al., 2001b; Papoti et al., 2003; Castro et al., 2010 ).

De acordo com a característica, o aumento no IMP está significativamente relacionado ao aumento de velocidade do nado, portanto, aumentos significativos sugerem desenvolvimento da força, representados pela área da CF-t(Barbosa et al., 2013)

Morouço et al. (2014) corroboram com os achados, considerando que o IMP tem melhor relação com o desempenho, o que levanta a hipótese se este parâmetro seria o mais

eficiente, dependendo do nível dos nadadores ou seria a variável principal no entendimento da fase subaquática (Marinho et al., 2011, não associando a FNA somente a um momento específico (FPico).

Já a TDF depende da variação entre a FMin e o TFPico, que está associada ao

movimento braçada. Da mesma forma, a referência da FMin pode apontar para possíveis

alterações no padrão da coordenação da braçada, indicando a respectivas sobreposições que normalmente ocorrem com o aumento da velocidade de execução (Chollet et al., 2004; Seifert

et al., 2004; Chollet et al., 2006; Chollet et al., 2008; Seifert et al., 2008; Schnitzler et al., 2009;

2011).

É importante destacar que os parâmetros da CF-t têm correspondência com a cinética no nado, porém, alguns estudos reportaram correlação moderada a forte (r= 0,78 a r= 0,96) (Marinho, 2002; Pessôa Filho e Monteiro, 2008), enquanto outros observaram valores mais baixos (r=0,50) (Smith et al., 2002) para a FMed em relação à velocidade do nado em curtas distâncias, reportando a necessidade de utilizar o real parâmetro que represente o fenômeno a observar, tendo em vista que a escolha do protocolo, o tempo da avaliação e nível técnico dos atletas influenciam a medida da FNA.

Toda descrição e importância de cada um dos parâmetros da CF-t estão consolidados e procuraram analisar o comportamento da FNA em relação à velocidade de nado e desempenho em atletas de alto rendimento.

Pouco se tem discutido sobre a utilização do teste de FNA em crianças, já que se deve levar em consideração a mudança nos parâmetros coordenativos, de acordo com o aprimoramento da técnica, bem como a influência de fatores antropométricos (Dos Santos et al., 2012), maturação sexual (Vorontsov et al., 1999; Taylor et al., 2001b), nível competitivo (Sidney et al., 1996) e a distância de prova (Yeater et al., 1981; Morouco, Keskinen, et al., 2011).

Modelos experimentais para a determinação da FNA em crianças (Morouço et al., 2008; Morouco, Keskinen, et al., 2011; Morouço, Neiva, et al., 2011; Neiva et al., 2011; Morouco et al., 2012; Morouço et al., 2014) consistem basicamente em quantificar a produção da força e a manutenção da técnica. No entanto, as limitações apresentadas nos procedimentos que envolvem atletas adultos podem estar presentes e afetando os resultados. Portanto, é recomendável que os nadadores tenham alguma expertise e oportunidades de familiarização com os procedimentos de teste (Psycharakis et al., 2011).

Evidências sobre a familiarização com os procedimentos de teste da FNA são escassas para crianças com baixos índices técnicos. Assim, os resultados poderiam ter sido subestimados pela dificuldade de familiarização (Amaro et al., 2014).

No entanto, Amaro et al. (2014) demonstraram valores consistentes de confiabilidade (α) e reprodutibilidade (CCI) para força máxima (FMax), FMed e IMP, entre teste e reteste. Os índices variaram entre α > 0,970 e CCI > 0,942, respectivamente.

Observando estes resultados em atletas com idade média de 15,3 anos, são muito consistentes, garantindo que a metodologia é altamente confiável na avaliação de nadadores com faixas etárias menores.

Mesmo com a consistência de resultados, similares aos observados em atletas adultos (Barbosa et al., 2012), a inconsistência de resultados podem estar associados ao tempo de prática, a escolha dos parâmetros da CF-t, que representa a relação com provas de velocidade, e o tempo de intervalo para realização dos testes, havendo necessidade de mais estudos para esclarecer as diferentes opções metodológicas.

Outro fator importante é o envolvimento de parâmetros antropométricos e da proporcionalidade corporal na mecânica do nado e na FNA. De acordo com (Dos Santos et al., 2012), devido ao treinamento força, há a possibilidade de aumento nos segmentos corporais, sendo estes responsáveis pelo aumento da força durante o nado (Morouco et al., 2015).

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