2. Transportes Sustentáveis
2.3. Medidas para um transporte sustentável
2.3.2. Medidas de planejamento
Para Vasconcellos (2012), o planejamento de transportes define a infraestrutura de circulação que permitirá o deslocamento de pessoas e mercadorias, bem como os veículos e serviços oferecidos.
Para Shiftan, Kaplan e Hakkert (2003), o planejamento de um sistema de transporte sustentável é uma tarefa complexa que envolve um grau elevado de incertezas devido a várias razões:
• Grande número de medidas e alternativas políticas; • Forma de implementação;
• Resposta dos usuários a cada conjunto de medidas;
• Forma como planejadores e decisores definem e interpretam o conceito.
Além disso, as ferramentas existentes para avaliar o planejamento de transportes, que aplicam modelos estatísticos e comportamentais, ainda são limitadas em relação à análise do transporte sustentável.
Para Litman (2012) a sustentabilidade requer repensar como se pode medir o transporte. Os planejadores de transportes tratam o movimento como um fim, enquanto os planejadores de transportes sustentáveis enfatizam a redução da necessidade de viagens, com melhor gestão do uso do solo e da infraestrutura.
Desta forma, é preciso reconhecer que as decisões afetam as pessoas de maneiras diferentes, sendo necessária a consideração de uma variedade de objetivos e impactos. O planejamento de transportes sustentáveis implica a utilização dos modais no que cada um tem de melhor, reconhecendo o valor do transporte não motorizado, a importância do transporte público e a redução – mas não a eliminação – do uso do automóvel.
Assim, o envolvimento do público é fundamental por duas razões: primeiro, pelo fato de os princípios de desenvolvimento sustentável refletirem os valores de uma comunidade; e segundo, pelo fato de o transporte sustentável envolver mudanças do comportamento das comunidades e, dessa forma, depender da participação dos indíviduos. O desenvolvimento sustentável exige que as decisões de transportes individuais sejam subordinadas a objetivos estratégicos de longo prazo para toda a comunidade. Na Tabela 2.10, apresenta-se uma comparação entre o planejamento de transportes convencional e o planejamento de transportes sustentáveis.
Tabela 2.10. Planejamento de transportes convencionais e sustentáveis.
Planejamento convencional Planejamento sustentável
Transporte
Define e mede o transporte, principalmente em termos de viagens de
veículos.
Define e mede o transporte em termo de acesso.
Objetivos
Maximizar a capacidade da estrada e estacionamento para atender à demanda
de tráfego previsto.
Utiliza análise econômica para determinar as políticas e os investimentos ideais.
Envolvimento público
Pouco a moderado envolvimento público. Público é convidado a comentar
em pontos específicos no processo de planejamento.
Moderada a alta participação do público. Público está envolvido em muitos pontos no
processo de planejamento.
Custo de facilidade
Considera os custos para uma agência ou nível de governo específico.
Considera todos os custos de instalação, incluindo os custos para outros níveis de governo e custos para as empresas (como
estacionamento). Custo do
usuário
Considera o tempo do usuário, custos operacionais dos veículos, e as tarifas ou
pedágios.
Considera o tempo do usuário, os custos operacionais e de propriedade de veículos,
tarifas e pedágios.
Custos externos
Pode considerar os custos de poluição do ar locais
Considera poluição local e global do ar, congestionamento jusante, prejuízos não compensados de acidentes, impactos sobre outros usuários da estrada, e outros impactos
Equididade
Considera uma gama limitada de questões de equidade. Endereços equidade principalmente por subsidiar o
transporte.
Considera uma ampla gama de questões de equidade. Favorece as políticas de transporte que melhoram acesso para os não condutores e
populações desfavorecidas Demanda de
viagens
Define demanda de viagens com base nos custos de usuário existente.
Define demanda de viagens em função, de bases em vários níveis de custos para o utilizador. Tráfego
geral/Tráfego induzido
Ignora ao todo, ou pode incorporar um sentimento limitado por um modelo.
Leva tráfego gerado em conta na modelagem e avaliação econômica de políticas e
investimentos alternativos.
Integração com planejamento
estratégico
Considera planos de uso da terra da comunidade como uma entrada para
modelagem de transporte.
Decisões de transporte individuais são selecionados para apoiar a visão estratégica da
comunidade. Decisões de transporte são reconhecidos como tendo impactos de uso da
terra.
Política de investimento
Com base nos mecanismos de financiamento existentes que visam
dinheiro pelo modo.
Planejamento de menor custo permite que os recursos a serem utilizados para a solução de
melhor custo-benefício.
Preços
Instalações viárias e estacionamento são gratuitos, ou precificados para a
recuperação dos custos.
Instalações rodoviário e estacionamentos são precificados para a recuperação de custos e com
base nos custos marginais de incentivar a eficiência econômica.
Gestão da demanda de
transportes
Gestão TDM-usuário apenas para aumentar a capacidade das rodovias ou
estacionamento onde é considerado inviável (ou seja, grandes cidades e
distritos de negócios central).
Implementação de sistemas de gestão TDM sempre que possível. Expansão da capacidade só
ocorre onde TDM não é rentável. Considera uma ampla gama de estratégias de TDM.
Fonte: Litman (2012).
Williams (2005), observando a prática de planejamento, considera necessário trabalhar de forma interdisciplinar. É importante que haja ações de coordenação entre os planejadores de transporte, planejadores urbanos e gerenciadores de projetos em transporte.
Curtis (2005) enfatiza a necessidade de coordenação das agências e serviços, bem como melhor compreensão dos objetivos dos diferentes profissionais na elaboração e implementação de melhores práticas, definindo um conjunto completo de medidas, em vez de soluções fragmentadas.
Para Litman (2012), os objetivos do planejamento de transportes sustentáveis se apoiam nas seguintes medidas:
• Maior diversidade dos sistemas de transportes; • Integração de sistemas;
• Maior acessibilidade;
• Eficiência no uso de recursos energéticos e de infraestrutura; • Política de preços justa;
• Melhorias das opções de uso do solo; • Eficiência operacional;
• Planejamento integrado e aberto, inclusive com a participação da comunidade.
Uma forma de estruturar o desenvolvimento de soluções para o transporte sustentável é a criação de cenários. Para Shiftan, Kaplan e Hakkert (2003), cenários podem ajudar a identificar conflitos, explorar problemas e pontos de vista de uma decisão, explorando várias direções para um desenvolvimento futuro. Os cenários podem ser capazes de internalizar os componentes incertos de um processo de decisão.
Em pesquisa efetuada sobre a implementação de transporte sustentáveis para a cidade de Tel-Aviv, Shiftan, Kaplan e Hakkert (2003), por meio de entrevistas com especialistas, elaboraram modelos de cenários para o desenvolvimento de modais sustentáveis.
Dreborg (2004), em pesquisa efetuada para análise de incertezas em relação às ferramentas utilizadas para implementação de um transporte sustentável, também utilizou a abordagem por cenários como ferramenta de planejamento.