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Medidas para reduzir a sinistralidade em Portugal

No documento TD Manuel José Serra da Fonseca (páginas 31-35)

PARTE I – A sinistralidade rodoviária e as campanhas de prevenção

1.1. O contexto nacional

1.1.2. Medidas para reduzir a sinistralidade em Portugal

Com o objetivo de estabelecer medidas de combate à sinistralidade rodoviária nacional foram levados a cabo, no decorrer da última década, duas grandes iniciativas de natureza pública em Portugal: o Plano Nacional de Prevenção Rodoviária, em 2003 e a Estratégia Nacional de Segurança Rodoviária, em 2008.

O primeiro surgiu como objetivo geral de reduzir em 50% do número de vítimas mortais e feridos graves, até 2010. Quando este programa nacional de análise, planeamento e combate da sinistralidade rodoviária (assente na educação contínua, na criação de um ambiente rodoviário seguro e em modificações do quadro legal existente) foi instituído, a situação era particularmente dramática no nosso país: em média

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morriam por dia, em consequência de acidentes de viação, quatro pessoas e ficam feridas cerca de cento e cinquenta e cinco, das quais 8,5% em estado grave.

Neste contexto, foram identificados os principais problemas que condicionavam a segurança rodoviária em Portugal e de onde se destacam: comportamentos inadequados, com violações explicitas do Código da Estrada; falta de educação cívica dos condutores e falta de eficácia do sistema de processamento de contraordenações; insuficiente participação do sistema educativo na formação de crianças e jovens; insuficiente conhecimento das causas e insuficiente formação técnica das entidades intervenientes; infraestrutura rodoviária com deficiências estruturais de naturezas múltiplas; inadequação do sistema de formação e avaliação de condutores; insuficiente coordenação na promoção de campanhas de informação e sensibilização dos utentes (Fonseca, 2008).

Exemplo da concretização das medidas previstas no Plano Nacional de Prevenção Rodoviária de 2003 foi a entrada em vigor de alterações ao Código da Estrada, em Março de 2005 (Decreto-lei nº44/2005, de 23 de Fevereiro), como o agravamento das penas, a obrigatoriedade de uso de colete de alta visibilidade, a implementação de sistemas de retenção, o reforço quantitativo e qualitativo dos sistemas de controlo de velocidade, entre outras.

Posteriormente, de acordo com as Grandes Opções do Plano para 2008 no âmbito da Segurança Rodoviária (Lei n.º 31/2007, de 10 de Agosto) e partindo da constatação de que os objetivos e metas do Plano Nacional de Prevenção Rodoviária (2003) tinham sido genericamente cumpridos antes do período previsto, a Autoridade Nacional de Segurança Rodoviária (ANSR), em parceria técnica com o Instituto Superior de Ciências do Trabalho e da Empresa (ISCTE) procedeu à elaboração da Estratégia Nacional de Segurança Rodoviária (ENSR) para o período 2008-2015. A consubstanciar este planeamento estratégico estão duas grandes premissas: por um lado a constatação de que, objetivamente, os resultados obtidos permitem perspetivar positivamente a evolução do fenómeno da sinistralidade rodoviária no nosso país, por outro, a assunção de que, apesar do exposto, o cenário atual traduz ainda flagelos sociais e económicos significativos, não estando Portugal, em termos europeus, numa posição satisfatória.

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Ilustrando o que acima foi referido, a ANSR identificou que, entre 1999 e 2006, a redução da sinistralidade rodoviária em Portugal apresentou a melhor evolução de toda a Europa dos 25 (54,5% vs. 23,8% da média comunitária), sublinhando a aproximação à média no que concerne ao número de mortos por milhão de habitantes (tabela1).

91 92 93 94 95 96 97 98 99 2000 01 02 03 04 05 06

Média

Europeia 162 151 138 134 132 124 126 123 120 117 112 110 103 95 91 86 Média

Nacional 323 310 271 251 271 272 250 210 200 184 163 160 148 124 119 91 Tabela 1 – Número de mortos por milhão de habitantes (Fonte: Estratégia Nacional de Segurança Rodoviária 2008-2015)

No entanto, apesar de Portugal, na Europa dos 27, ocupar o 13º lugar em termos de vítimas mortais (depois de Malta, Holanda, Suécia, Reino Unido, Dinamarca, Alemanha, Finlândia, França, Luxemburgo, Áustria, Espanha e Irlanda e antes de Itália, Eslováquia, Bélgica, Republica Checa, Chipre, Roménia, Bulgária, Eslovénia, Hungria, Polónia, Grécia, Estónia, Letónia e Lituânia), ainda apresenta um rácio de 91 mortos por milhão de habitantes, enquanto a média europeia é de 86.

O objetivo expresso na Estratégia Nacional de Segurança Rodoviária (2008) indica que, em 2015, Portugal deverá apresentar indicadores de sinistralidade ao nível da Áustria (país que, em 2006, apresentava 84 mortos por milhão de habitantes) e do Luxemburgo (que apresentava, igualmente em 2006, 78 mortos por milhão de habitantes). Estes dois países, em conjunto com a Eslovénia e com Portugal apresentavam, em 1975, mais de 300 mortos por milhão de habitantes, sendo hoje duas referências a seguir. Desta forma, em 2015, Portugal deverá estar integrado entre os 10 países da União Europeia com mais baixa sinistralidade rodoviária, medida em mortos a 30 dias, por milhão de habitantes.

Assim, visando alcançar a meta dos 62 mortos por milhão de habitantes em 2015 (o que representa menos 31,9% em relação a 2006), as entidades responsáveis pela Estratégia Nacional de Segurança Rodoviária, consideraram como fatores prioritários, o controlo da velocidade e da condução sob o efeito do álcool e de substâncias psicotrópicas, a formação/acesso ao título de condução e avaliação dos condutores, o eficaz socorro às vítimas, a auditoria das vias, a fiscalização da segurança do parque automóvel, a

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necessidade de prestar particular atenção aos acidentes dentro das localidades e aos que envolvem veículos de duas rodas e a rapidez na aplicação de coimas.

Esta realidade poderá ser possível, pois como é ilustrado no documento, em 1999 a Alemanha apresentava uma situação semelhante à de Portugal em 2006 (95 mortos por milhão de habitantes), assim como a Dinamarca (97 mortos por milhão de habitantes).

Em 7 anos, tantos quantos estão compreendidos entre 2008 e 2015, estes dois países conseguiram resultados, ligeiramente melhores, mas da mesma ordem de grandeza (a Alemanha passou para 62 e a Dinamarca para 58 mortos por milhão de habitantes, em 2006).

No âmbito específico das ações de comunicação, a ENSR aponta para a necessidade de implementação de ações de formação e de educação para a segurança do ambiente rodoviário, bem como para a segmentação dos seus públicos-alvo. Igualmente Reto e Sá (2003), sugerem que a segmentação dos condutores, enquanto público-alvo das ações de comunicação, deverá ser elaborada com base em definição de tipologias e tipificando os comportamentos concretos a mudar.

De acordo com esta intenção de segmentação a ANSR apresenta 5 Grupos de Risco (condutores de veículos de duas rodas a motor, condutores de automóveis ligeiros, peões, condutores que circulam dentro das localidades e condutores que conduzem sobre o efeito do álcool e de substancias psicotrópicas) e 5 Fatores de Risco (velocidade, dispositivos de segurança, socorro às vitimas, infraestruturas e veículos).

Para os primeiros referem que será viável criar modelos de monitorização através de indicadores que permitam medir os resultados obtidos. Para os segundos entendem não ser possível estabelecer uma correlação entre medidas tomadas/resultados obtidos e a diminuição da sinistralidade, apesar de considerarem que contribuem de forma relevante para essa diminuição.

A comunicação de marketing é ainda explicitamente referenciada como uma das áreas que deve merecer particular atenção no estudo e planeamento da ENSR. Em concreto, o programa de comunicação e ações subsequentes aparece como o objetivo operacional

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número 25, referindo que se pretende elaborar um Plano Integrado de Comunicação para uma divulgação eficaz da Estratégia Nacional de Segurança Rodoviária e das suas ações, centrado na sensibilização, informação, formação e ação cívica.

No documento TD Manuel José Serra da Fonseca (páginas 31-35)