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4 EDUCAÇÃO AMBIENTAL

4.4 Meio Ambiente e Educação Ambiental como Tema Transversal

A questão ambiental é um dos temas transversais - “Meio Ambiente” - apontados pelos Parâmetros Curriculares Nacionais (PCN’s), documento elaborado sob coordenação do MEC em 1997. Foram elencados como temas transversais assuntos que são discutidos em diferentes segmentos sociais e que vão além de um único campo de conhecimento. A Educação Ambiental é um espaço interdisciplinar, onde diversos campos do conhecimento se encontram. No plano pedagógico ela faz uma crítica a compartimentalização do conhecimento em disciplinas. Os conteúdos não são estanques. Eles se

relacionam com outros conteúdos o tempo todo. No mundo real, vivido por todos nós, os conhecimentos não estão divididos em disciplinas. Todos eles formam um só tecido, um conjunto único de saberes.

Como problema do nosso cotidiano, a temática ambiental não pode ser dividida em uma disciplina específica, pois é uma questão que ultrapassa as disciplinas, que possuem limites estreitos. O conhecimento disciplinar reduz a complexidade do mundo real. Ele é despedaçado, fragmentado e altamente especializado. Com isso, é mais fácil deter um amplo conhecimento sobre um pequeno fragmento da realidade – e, consequentemente, estabelecer uma relação de poder sobre o objeto conhecido. Como afirma Araruna (2009), a “disciplinarização” da Educação Ambiental não é uma questão recente. Desde a década de 60, ainda que timidamente, a forma como a educação ambiental deveria ser tratada nos sistemas de ensino é discutida. De acordo com ela, podemos dizer que há um relativo consenso contrário à individualização da Educação Ambiental em uma disciplina específica.

Existe no meio escolar uma grande confusão entre os conceitos de multidisciplinaridade, transdiciplinaridade e interdisciplinaridade. Um trabalho multidisciplinar é quando diversas disciplinas colaboram no estudo de um determinado fenômeno. Cada disciplina está baseada em suas próprias teorias. Na transdiciplinaridade os diversos campos do conhecimento se fundem em um amplo corpo de saberes. Esse conjunto de conhecimentos diversos pode ser aplicado em qualquer fenômeno. A separação entre as disciplinas perde a sua nitidez. A interdisciplinaridade é a abordagem citada por vários autores para o tratamento das questões ambientais no espaço escolar. Carvalho (2008, p. 121) faz uma análise sobre isso.

A interdisciplinaridade, por sua vez, não pretende a unificação dos saberes, mas deseja a abertura de um espaço de mediação entre conhecimentos e articulação de saberes,

no qual as disciplinas estejam em situação de mútua coordenação e cooperação, construindo um marco conceitual e metodológico comum para a compreensão de realidades complexas. A meta não é unificar as disciplinas, mas estabelecer conexões entre elas, na construção de novos referenciais conceituais e metodológicos consensuais, promovendo a troca entre os conhecimentos disciplinares e o diálogo dos saberes especializados com os saberes não científicos.

Como vimos, a autora também localiza o lugar do saber popular na Educação Ambiental. Os conhecimentos científicos são uma fonte de trabalho e pesquisa desuma importância para a Educação Ambiental. Porém. não são os únicos. Outros saberes culturais, como o popular, também tem muito a contribuir.

A interdisciplinaridade é uma posição incômoda porque nossa mentalidade é disciplinar. O cotidiano escolar é planejado em torno de disciplinas isoladas. Portanto, o saber ambiental é “indisciplinado”. Ele não cabe dentro de apenas uma disciplina. Ele ultrapassa limites. A Educação Ambiental convida a uma revisão do cotidiano escolar, que não pode continuar a ser excessivamente fragmentado. Por isso a importância de conceitos como o de transversalidade e interdisciplinaridade. Sobre a interdisciplinaridade Carvalho (2008, p. 129) também faz outra reflexão:

O desafio metodológico da interdisciplinaridade repousa no fato de que uma prática interdisciplinar de EA pode tanto ganhar o significado de estar em todo lugar quanto, ao mesmo tempo, não pertencer a nenhum dos lugares já estabelecidos na estrutura curricular que organiza o ensino. Por outro lado, como ceder à lógica segmentada do currículo, se a EA tem como ideal a interdisciplinaridade e nova organização do conhecimento? Diante de um projeto tão ambicioso, o risco é o da paralisia ante o impasse do tudo ou nada: ou mudar todas as coisas ou permanecer a margem, sem construir mediações adequadas e experiências significativas de aprendizado pessoal e institucional.

Como aponta a autora, uma mudança tão profunda no cotidiano escolar deve ser realizada por meio de um processo reflexivo sobre a prática escolar. A Educação Ambiental tem uma vocação renovadora. Mas a esfera educativa é marcada por uma cientificidade normativa e tecnicista. Por isso a dificuldade em se abordar o meio ambiente de forma eficaz em nossas escolas. A Educação Ambiental pode alterar profundamente a rotina escolar. Ela apresenta um novo jeito de ensinar e de aprender.

Assim podemos perceber que o agente da Educação Ambiental, o educador ambiental, tem um papel importantíssimo nessa mudança. Ele deve ser um investigador atento e curioso. Além disso, deve ser capaz de desenvolver trabalhos em equipe, já que está num campo marcado pela interdisciplinaridade.

Para Tozoni-Reis (2007), o aspecto pedagógico é indispensável na Educação Ambiental. Ela exige mudanças profundas no espaço escolar, alterando a estrutura curricular e as disciplinas. Até mesmo o espaço físico da sala de aula precisa ser mudado. Mas o contexto educativo apresenta muitas dificuldades para que essa mudança seja feita. Ainda não foi possível estabelecer um modo alternativo de ensino queultrapasse as barreiras das disciplinas e dos conteúdos fragmentados. E a formação inicial dos professores, como citado anteriormente, também é um entrave para a implantação dessas mudanças.

A implantação de práticas não disciplinares na escola enfrenta uma série de dificuldades. Os próprios PCN’s estabelecem que cada professor, dentro de sua área de conhecimento e dos limites impostos pela hierarquização das disciplinas, devem trabalhar a temática ambiental em suas aulas adequando-a ao seu conteúdo. Assim corre-se o risco da temática ambiental ser abordada nas diversas disciplinas, mas de forma completamente desarticulada uma da outra. A estrutura curricular de nossas escolas limita a complexidade que é inerente à temática ambiental. De acordo com Araruna (2009, p. 68)

[...] entendo que esse é ainda um grande desafio para os educadores que se propõem a planejar suas ações em Educação Ambiental sob a forma de temas transversais. Nessa perspectiva, alguns desses profissionais vêm optando por inserir suas atividades em disciplinas já existentes, disciplinarizando os conteúdos e práticas da Educação Ambiental no âmbito de outros conhecimentos escolares, ao invés de criar uma nova disciplina escolar. De qualquer modo, penso ser fundamentalmente importante a criação de ações efetivas para que a dimensão ambiental seja contemplada nos currículos escolares, assim como nas universidades.

Com um currículo excessivamente fragmentado, dividido em disciplinas, as dificuldades para se trabalhar a temática ambiental são imensas. Para um trabalho efetivo em relação a essa questão seria necessária uma reformulação do espaço escolar, com a realização de trabalhos interdisciplinares envolvendo todos os professores e áreas do conhecimento.