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2 O CEFET-MG E O ENSINO TÉCNICO

2.5 Programas dos Cursos Técnicos Integrados do CEFET-MG,

2.5.1 Professores dos Cursos Técnicos Integrados

Na unidade de Nepomuceno, atualmente temos 59 professores; 26 com licenciatura plena. A carência de licenciados é mais séria nas disciplinas técnicas. Vejamos a distribuição dos professores, de acordo com o departamento e o regime de trabalho, conforme a tabela a seguir.

Tabela 4 Professores da Unidade Nepomuceno

Departamento Efetivos Substitutos/Temporários Licenciados Total de

professores Formação Geral 15 11 25 26 Elétrica 15 03 00 18 Computação e Mecânica 10 05 01 15

Os dados apresentados referem-se ao mês de março de 2015. Por causa dos contratos dos professores substitutos e temporários há uma constante variação no número de docentes. Por força legal, os contratos são feitos com duração de dois anos, ao final desse período um novo professor é contratado. Geralmente, essa troca ocorria nos meses de fevereiro e agosto, para não tumultuar muito o andamento das aulas. De acordo com a direção da unidade de Nepomuceno, em 2011, com a diminuição do número de contratos pelo governo federal, os mesmos passaram a ser estendidos até a data limite. Além da contenção de despesas, outro fator que contribuiu para essa situação foi a greve dos professores das instituições federais de ensino, em 2012. Isso fez com que o calendário letivo fosse reorganizado, com o início e término do ano ocorrendo

fora dos meses habituais. Com isso, as trocas de professores podem ocorrer em qualquer momento do ano letivo.

Como dito anteriormente, a maioria dos professores não possui formação específica para lecionar no Ensino Médio. Vários autores, como Oliveira (2006, 2010), Pena (2014) e Moura (2008), abordam essa questão como um ponto de conflito no ensino técnico. Por outro lado, os professores da Formação Geral, apesar de licenciados, não receberam uma capacitação para trabalhar com Educação Profissional Técnica (EPT). Araújo (2008) chama atenção para a situação dessa dicotomia na educação profissional quando fala da distinção entre profissionalização e escolarização, que acaba por consolidar atividades curriculares voltadas para desenvolver, separadamente, as capacidades do pensar e as capacidades para o fazer, dividindo os professores em educadores de formação geral e educadores de formação técnica, provocando o distanciamento de suas ações e a fragmentação do processo didático da educação profissional.

A capacitação para a docência na EPT é um tema polêmico, discutido por vários pesquisadores. É uma discussão extremamente necessária. Como afirmaMoura (2008, p. 31)

Esse é um problema estrutural do sistema educacional e da própria sociedade brasileira, pois, enquanto para exercer a medicina ou qualquer outra profissão liberal é necessária a correspondente formação profissional, para exercer o magistério, principalmente, o superior ou a denominada educação profissional, não há muito rigor na exigência de formação na correspondente profissão – a de professor. Até mesmo para selecionar professores efetivos para a Formação Geral o bacharelado é colocado como uma opção. É o caso do Edital Específico nº 58, de 14 de fevereiro de 2014, que ao selecionar professores de Matemática, Sociologia e Filosofia, para a unidade de Nepomuceno, coloca como pré-

requisito, o bacharelado ou a licenciatura. É fato que as seleções, tanto para efetivos quanto para temporários, contemplam uma prova didática. Moura (2008, p. 31) também diz que

Isso nos leva a fazer a seguinte reflexão: existe um conjunto de saberes inerentes à profissão docente que a justifiquem como tal? Se a resposta for sim, temos que fazer outra pergunta: por que, então, existe uma grande liberalidade no mundo do trabalho e na sociedade em geral no sentido de que outros profissionais que não tem a formação docente atuem como tal? Nossa resposta é: apesar de existir um conjunto de saberes próprios da profissão docente, essa não tem reconhecimento social e do mundo do trabalho compatível com sua importância para a sociedade, por isso não há esse rigor.

O CEFET-MG possui um Programa Especial de Formação Pedagógica de Docentes. Mas não é exclusivo para o público interno da instituição. É destinado a candidatos com nível superior completo (exceto licenciaturas e Pedagogia) e habilita para as disciplinas de Física, Matemática, Biologia, Química, Língua Portuguesa e os Eixos Tecnológicos dos cursos ofertados pelo CEFET-MG de acordo com o Catálogo Nacional de Cursos Técnicos. Porém, esses programas de formação são precários e não conseguem atender às diversas demandas postas pela educação técnica. Eles são ofertados de forma presencial na unidade de Belo Horizonte, o que dificulta a participação dos docentes das unidades do interior. Além disso, não são obrigatórios para o exercício da docência no ensino técnico. Como afirma Pena (2014, p. 61)

E quais demandas que essas especificidades [da educação técnica] colocam para a docência nesse contexto? Que elementos os professores da EPT precisam considerar ao organizar sua prática docente nos cursos técnicos? Diversos aspectos se destacam, entre eles, a necessidade de trabalhar com diferentes perfis de alunos, em meio a uma diversidade de currículos decorrente das modalidades de cursos

ofertados pelas instituições; a seleção e/ou preparação de material didático adequado aos cursos técnicos e aos alunos; a realização de aulas teóricas e práticas; a atualização constante de conhecimentos em decorrência das inovações tecnológicas, a articulação com o mundo do trabalho para o qual se formam os alunos, entre outros. Esses aspectos adquirem relevância ainda maior quando se considera o atual momento sócio-histórico e político no qual se encontra em curso um processo de expansão da EPT em nosso país, que pode ser evidenciada, entre outros fatores, pelo aumento expressivo no número de matrículas nessa modalidade de ensino e, conseqüentemente, no número de novos docentes que ingressam nas instituições.

Como dito anteriormente, a LDB não estabelece normas para a docência de disciplinas técnicas no ensino profissionalizante. Assim, como atesta Oliveira (2010, p. 470) “a maioria das instituições que ofertam ensino técnico no país, não exige a formação docente dos seus professores das disciplinas técnicas e não enfrenta dificuldades legais por esse fato”.

Essa questão também tem sido discutida na instituição e uma das alternativas debatidas é a criação de um programa de formação continuada. Nessa iniciativa, pontos relevantes para a docência no ensino técnico seriam trabalhados em reuniões periódicas promovidas pela Coordenação Pedagógica e Coordenações de Cursos.

Na formação geral, a presença de licenciados ainda é uma constante. Nas disciplinas técnicas torna-se uma raridade. Como não existe uma licenciatura específica para cada disciplina técnica e nem a obrigatoriedade de se cursar uma formação pedagógica, esses professores são aprovados no concurso público que, muitas vezes, valoriza mais o conhecimento do candidato sobre a área técnica do que a didática para lecionar. Ocorre, então, que muitos desses professores, apesar de serem capacitados e aprovados num concurso público, lecionam para turmas de ensino médio sem a necessária preparação para isso. Na

verdade, eles nem se veem como educadores. São engenheiros que trabalham em uma escola.Oliveira (2006, p. 7) reflete sobre isso

Da parte desses professores e no interior da própria área, quanto à natureza da função docente, muitas vezes, há o entendimento de que, para ser professor, o mais importante é ser profissional da área relacionada à (s) disciplina(s) que se vai lecionar ou que se leciona. O professor do ensino técnico não é concebido como um profissional da área da educação, mas um profissional de outra área e que nela também leciona. Parece, também, que, muitas vezes, os matriculados nos Programas de Formação Pedagógica de Docentes do Ensino Técnico não têm a expectativa de serem

professores, profissionais da educação, mas, sim,

profissionais de outra área que aprenderam a dar aulas e passaram a ter ampliadas as suas oportunidades de trabalho. Nas escolas técnicas, há uma grande valorização da formação dos professores em nível de pós-graduação stricto sensu. A titulação dos professores aumenta o prestígio de uma instituição, pois eleva a pontuação nos critérios de avaliação do Ministério da Educação. A formação pedagógica não é analisada. Prevalece a ideia de que para ensinar é necessário “dominar o conteúdo”. Mas como afirma Roldão (2007, p. 102, grifos da autora) “o professor profissional – como o médico ou o engenheiro nos seus campos específicos – é aquele que ensina não apenas porque sabe, mas porque sabe ensinar”.

Esse perfil dos professores, acrescido das peculiaridades da educação técnica, faz com que inúmeros conflitos surjam no trabalho cotidiano em sala de aula. Muitas vezes, o relacionamento professor/aluno apresenta pontos de tensão que acabam refletindo na trajetória escolar dos alunos. No próximo item analisaremos o perfil desses alunos.