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6 ANÁLISE DOS DADOS

6.5 Relatórios de Projetos

Na Unidade de Nepomuceno foram desenvolvidos alguns projetos sobre a temática ambiental. Foram analisados os relatórios finais desses projetos. O primeiro deles foi um projeto institucional, organizado pela sede da instituição, em Belo Horizonte, e que foi repassado para as unidades do interior. Depois outros dois projetos foram desenvolvidos por meio da Coordenação de Política Estudantil (CPE) em parceria com docentes da Unidade.

Em atendimento ao Decreto nº 5.940, de 25 de outubro de 2006, que institui a separação de resíduos descartáveis pelos órgãos da administração pública federal e a sua destinação a cooperativas de materiais recicláveis, o CEFET-MG criou em 01º de junho de 2009, o “Programa de Coleta Seletiva Solidária”. Primeiramente foi criada uma Comissão Gestora na sede da instituição em Belo Horizonte. Posteriormente foram criadas e capacitadas comissões em cada unidade.

Foram instaladas lixeiras em todas as unidades, contendo duas divisórias: “material reciclável” e “não reciclável”. Lixeiras maiores foram instaladas em corredores e pátios. As de modelo menor em todas as salas de aula e de setores. Nos setores também foi colocada uma caixa com duas divisórias: uma para “papeis para reutilizar” e outra para “papel para reciclar”. Todos os servidores também receberam uma caneca e uma squeeze de água para evitar o consumo excessivo de copos descartáveis. Na época da criação da comissão da unidade de Nepomuceno, em 2010, foram realizadas reuniões com servidores e

alunos sobre os objetivos e os procedimentos que deviam ser adotados no Programa de Coleta Seletiva. A Feira de Educação Ambiental, que ocorreu em junho desse ano, também faz parte das atividades do programa. Porém, como vimos anteriormente, não teve continuidade, tornando-se apenas um evento isolado.

O programa foi implementado, mas não houve um maior acompanhamento e discussão das ações propostas. Isso evidencia que muitas vezes a Educação Ambiental é relacionada apenas com a questão do lixo e sem relação com outras atividades desenvolvidas pela escola.

As Coordenações de Política Estudantil (CPE) tem um programa de bolsas para estudantes chamado de “Bolsa de Complementação Educacional” (BCE). Nesse programa, os professores inscrevem projetos de pesquisa. Os projetos são analisados e os aprovados abrem inscrições para alunos interessados em participar. Ao contrário de outras bolsas de pesquisa, nesse programa os alunos inscritos são selecionados por meio de critérios sócio-econômicos e não por notas.

Em 2014, um dos projetos selecionados para o programa de Bolsas de Complementação Educacional foi o de “Educação Ambiental através da coleta seletiva solidária”. O projeto foi executado de janeiro a dezembro de 2014 e foi classificado como um projeto de extensão na linha de Educação Ambiental. Foi coordenado por um técnico-administrativo e pelo professor de Biologia da unidade e teve dois alunos bolsistas. Basicamente o projeto previa o desenvolvimento do programa de Coleta Seletiva Solidária, que como vimos não contava com um acompanhamento regular. Os objetivos eram a conscientização dos alunos sobre a destinação correta dos resíduos, o estabelecimento das atividades de coleta seletiva com registro das informações sobre quantidade coletada, tipo de material, quantidade e valor doados para as cooperativas de reciclagem. Esses objetivos estão em desacordo com os princípios e objetivos

propostos pela Política Nacional de Educação Ambiental, que coloca que o Meio Ambiente deve ser analisado de forma integral, envolvendo suas múltiplas conexões (BRASIL, 1999).

Os bolsistas deveriam auxiliar nas atividades de conscientização e na separação dos materiais coletados. Também deveriam visitar a cooperativa de catadores e as outras escolas do município para auxiliar na formação de grupos de trabalho que implantassem a coleta seletiva no ambiente escolar.

No encerramento do projeto, foi feito um relatório final onde foram descritas as atividades realizadas e as dificuldades encontradas. Entre os pontos negativos apontados está o de que ao procurarem a Comissão Gestora da Coleta Seletiva em Belo Horizonte, orientadores e bolsistas, constataram que a mesma está desestruturada, o que prejudicou a busca por novas informações e ações para o projeto. Isso evidencia que o Programa de Coleta Seletiva Solidária foi criado mais por determinação de um decreto, do que por uma real disposição institucional em se trabalhar o tema.

Outro ponto levantado foi a pouca disponibilidade de horário para a realização das atividades do projeto, pois com uma carga horária excessiva de aulas os bolsistas tinham pouco tempo disponível. Como dito anteriormente, o ensino técnico ainda é muito conteudista sobrando pouco tempo para atividades extracurriculares. Isso poderia ser amenizado com a integração entre essas atividades e os conteúdos trabalhados em sala de aula. Como afirmam Carvalho (2008) e Araruna (2009) a questão ambiental deve estar integrada ao currículo escolar estabelecendo conexões com os outros conhecimentos trabalhados na escola.

Os bolsistas acompanharam a coleta seletiva no CEFET-MG Nepomuceno e registraram a quantidade de materiais coletados e doados a cooperativa de catadores. Ao observarem os resíduos depositados nas lixeiras eles constataram que os estudantes jogavam o lixo sem separar os materiais entre

recicláveis e não recicláveis. Isso mostra que o programa de Coleta Seletiva não provocou uma conscientização sobre a questão dos resíduos entre os estudantes da unidade.

Em agosto de 2015, um novo projeto de Bolsa de Complementação Educacional abordou o tema. Intitulado “Consumo Consciente para uma Escola Mais Sustentável” foi classificado como um projeto de ensino na área de Educação Ambiental. O projeto ainda está em execução e é conduzido por uma técnica-administrativa e pelo professor de Biologia, contando com dois alunos- bolsistas. Como dito anteriormente, muitas vezes, a temática ambiental fica restrita a uma determinada disciplina, especialmente Ciências Biológicas.

Objetivou-se, neste projeto, estimular a reflexão sobre os hábitos de consumo na escola e fora dela e um olhar crítico sobre o consumo consciente. Os bolsistas devem fazer uma revisão de literatura sobre o tema e levantar hábitos que precisem ser alterados na unidade, como desperdício de água, luz, comida etc. Também devem confeccionar material de divulgação sobre o tema e promover palestras para os demais estudantes. A questão das palestras sobre a temática ambiental é um ponto que merece ser discutido. Afinal de contas uma palestra pode significar apenas uma transmissão de informações, sem promover uma maior reflexão sobre o assunto ou mudanças de atitudes. Porém, podemos perceber que, ao contrário do projeto anterior, que enfatizava a questão dos resíduos, esse enfoca os hábitos de consumo, que estão diretamente relacionados com a produção de lixo.

Apesar de colocarem a temática ambiental de forma desconectada aos outros aspectos, esses projetos apresentam um potencial imenso de trabalho na escola. Eles podem ser ampliados em projetos de extensão; podem ser relacionados aos conteúdos trabalhados em sala de aula, gerando projetos interdisciplinares e até novos projetos de pesquisa.