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MEIO BIOLÓGICO Flora

No documento Laudo Técnico Vicuña (páginas 37-45)

3. IMPACTOS CAUSADOS

3.1 CARACTERIZAÇÃO DAS ÁREAS ATINGIDAS 1 LOCALIZAÇÃO

3.1.3 MEIO BIOLÓGICO Flora

O litoral paranaense faz parte do domínio da Floresta Ombrófila Densa (Floresta Atlântica), sendo considerada uma das florestas tropicais mais ameaçadas em níveis mundiais, e um dos mais significativos remanescentes de Floresta Atlântica do Brasil. De acordo com o Inventário de Áreas Úmidas do Brasil (USP, 1990), o Complexo-Estuarino-Lagunar de Iguape-Cananéia (SP) e Paranaguá (PR) representa uma das mais importantes reservas de manguezais do País. Sabe-se que as regiões mais conservadas situam-se nas bacias de drenagem das baías dos Pinheiros, Laranjeiras e Guaraqueçaba, onde a cobertura vegetal corresponde de 75 a 97,6% da área total (IPARDES, 1989; ANDRIGUETO, 1995; LIMA et al., 1998 apud CEM/UFPR, 2005).

A classificação da vegetação adotada por RODERJAN e KUNIYOSHI (1988), baseada em parâmetros altimétricos e condições edáficas diferenciadas, indica para o litoral paranaense as Formações Pioneiras de Influência Marinha (vegetação de praias e dunas, restinga); Formações Pioneiras de Influência Flúvio-Marinha (manguezais); Formações Pioneiras de Influência Fluvial (caxetais); Floresta Ombrófila Densa das Terras Baixas ou das Planícies Quaternárias (até 40 a 50 m a.n.m.); Floresta Ombrófila Densa Sub-Montana ou do Início da Encosta (40-50 a 500-700 m a.n.m.); Floresta Ombrófila Densa Montana (700 m a 1000 m a.n.m) e Floresta Ombrófila Densa Alto Montana (1000 m a 1800 m a.n.m.).

As áreas afetadas pelo acidente do Navio Vicuña referem-se às Formações Pioneiras de Influência Marinha e de Influência Flúvio-Marinha, bem como ao ambiente aquático. Sendo assim, as informações para caracterização da flora referem-se a tais ecossistemas.

Manguezais e Marismas

As três espécies de mangue que colonizam o litoral paranaense são: mangue-vermelho

 Rhizophora mangle, mangue-preto Avicenia schaueriana e mangue-branco Laguncularia racemosa.

Essas espécies frutificam, com pequenas variações, de março a outubro. Sua distribuição é muito variável de bosque para bosque e padrões de zonação raramente são evidentes. Quando isto acontece,  R. mangle costuma ocupar as áreas marginais, próximas aos rios ou gamboas. Os

grupamentos vegetais podem ser monoespecíficos, fato bastante comum nas áreas euhalinas de alta energia da Baía de Paranaguá, onde os manguezais são basicamente compostos de L. racemosa, ou

pluriespecíficos, em áreas mais internas, onde as três espécies podem ser co-dominantes (CEM/UFPR, 2001). O limite austral da distribuição dos manguezais no Atlântico sul é Laguna, no Estado de Santa Catarina.

As marismas da Baía de Paranaguá são áreas de deposição marinha recente, regular ou irregularmente inundadas por águas salinas ou salobras e colonizadas por plantas vasculares herbáceas, tipicamente halófitas. As marismas locais, conhecidas tradicionalmente como praturás, ocorrem como associações mono-específicas ou de baixa diversidade, com predomínio da Poaceae (=Graminae) Spartina alterniflora, sob a forma de faixas estreitas e descontínuas, geralmente na

margem frontal de manguezais (LANA et al., 1991 apud CEM/UFPR, 2005). As marismas são reconhecidas como ecossistemas extremamente produtivos, apesar das dificuldades metodológicas para se estimar suas taxas de produtividade (LANA et al., 1991 apud CEM/UFPR, 2005). Gêneros de algas comuns nas marismas da Baía de Paranaguá são Ulvaria spp. , Enteromorpha spp. e Cladophora spp. Segundo ANDRIGUETTO FILHO et al. (no prelo), cerca de 100 espécies de

macroalgas bênticas ocorrem na região, principalmente em costões rochosos expostos e nos manguezais.

Fitoplâncton

O plâncton é a comunidade de animais e vegetais pequenos, que sobrevivem em suspensão na coluna de água, respondendo rapidamente às alterações físico-químicas do meio devido à sua

elevada taxa de crescimento e mortalidade. Os organismos planctônicos representam a base da teia alimentar do sistema pelágico, e o principal mecanismo de dispersão de larvas de invertebrados marinhos, alguns dos quais são recursos importantes explorados pela população costeira ou cultivados em sistemas artificiais (p.ex., camarão e ostra) dentro da Baía de Paranaguá (CEM/UFPR, 2001).

Os principais fatores que controlam a produção do fitoplâncton na baía são: extensão da zona eufótica, concentração de nutrientes, salinidade, temperatura e herbivoria.

A produção fitoplanctônica é limitada pela luz nas áreas internas da baía, com maior turbidez, e pelas baixas concentrações de nutrientes, principalmente nitrogênio, nas áreas externas (BRANDINI et al., 1988 apud CEM/UFPR, 2001).

Nos setores intermediários e mesohalinos, o fitoplâncton é dominado por diatomáceas cêntricas e fitoflagelados do nanoplâncton (<20 µm). Dinoflagelados e silicoflagelados do microplâncton (>20 µm) são freqüentes, mas numericamente contribuem pouco para o fitoplâncton total (BRANDINI, 1985; THAMM, 1990; FERNANDES, 1992; BRANDINI e THAMM, 1994 apud CEM/UFPR, 2001). MOREIRA-FILHO et al., (1990) apud CEM/UFPR (2001) fizeram um levantamento das diatomáceas identificadas em todo o Estado do Paraná, constatando a ocorrência de 636 espécies, distribuídas em 115 gêneros, superando o dos demais grupos do fitoplâncton. A maioria das espécies identificadas ocorrem principalmente nos setores interno e intermediários da Baía de Paranaguá. A diatomácea Skeletonema costatum ocorre o ano todo e domina durante o

verão, período de elevada precipitação, com decréscimo da salinidade e enriquecimento da zona eufótica com nutrientes da drenagem continental. Os demais gêneros deste grupo ocorrem em picos de abundância de curta duração, provavelmente associados ao regime de ventos (FERNANDES, 1992; REZENDE e BRANDINI, 1997 apud CEM/UFPR, 2001). Os gêneros Chaetoceros,  Rhizosolenia e Leptocylindrus são freqüentes nas coleções planctônicas, mas apresentam padrões de

variação sazonal irregular. No grupo das diatomáceas penadas dominam Thalassionema nitzschioides e Nitzschia spp., as quais apresentam uma relação positiva com a pluviosidade e o

regime de ventos (THAMM, 1990; BRANDINI e THAMM, 1994; REZENDE e BRANDINI, 1997 apud CEM/UFPR, 2001). Entre as espécies bênticas, dominam as dos gêneros Navicula, Cocconeis

e Diploneis, que ocorrem em grandes quantidades nos bancos de sedimentos da baía.

Fauna

Ameaçada de Extinção

Por essa região ser considerada a maior mancha remanescente da Floresta Atlântica, abriga inúmeros animais ameaçados de extinção, que já não existem em outras regiões onde a floresta foi fragmentada. Entre estas, pode-se citar: a onça pintada Panthera onca, onça parda ou sussuarana Puma concolor capricornensis, jaguatirica  Leopardus pardalis mitis, gato-do-mato  Leopardus tigrinus, gato maracajá  Leopardus wiedii, mico-leão-de-cara-preta  Leontopithecus caissara,

ariranha Pteronura brasiliensis, veado-bororó-do-sul  Mazama nana, papagaio-de-cara-roxa ou

chauá Amazona brasiliensis, jacutinga Pipile jacutinga, Maria-da-restinga Phylloscartes kronei, jaó Crypturellus noctivagus noctivagus, albatroz-de-sombrancelha Thalassarche melanophris, trinta-

réis-real Thalasseus maximus, patinha Procellaria aequinoctialis, socó-jararaca Tigrisoma  fasciatum, gavião-pombo-pequeno Leucopternis lacernulata, toninha ou boto amarelo Pontoporia blainvilllei, tartaruga-verde Chelonia mydas, tartaruga-oliva Lepidochelys olivacea, tartaruga-de-

couro Dermochelys coriacea, tartaruga-cabeçuda Caretta caretta, tartaruga-de-pente Eretmochelys imbricata, entre outras. Além disso, espécies como o  Leontopithecus caissara e  Amazona brasiliensis são também consideradas endêmicas, isto é, só existem nessa região, sendo que o

papagaio-de-cara-roxa ocorre de Garuva, no Estado de Santa Catarina, até Iguape, no Estado de São Paulo. Já o mico-leão-de-cara-preta está restrito ao Parque Nacional do Superagüi, especialmente na Ilha do Superagüi, com evidências de ocorrência no Vale do Rio dos Patos, que também faz parte do Parque, como também no Município de Ariri, em São Paulo.

Zooplâncton

Assim como no caso do fitoplâncton, os máximos de abundância do zooplâncton (até 80 org/l) ocorrem nos setores intermediários (mesohalinos e polihalinos) da baía, em salinidades variando entre 15 e 30‰. Não se dispõe de informações sobre a produção secundária planctônica, que provavelmente está relacionada tanto com a disponibilidade sazonal dos microorganismos associados às partículas detríticas em suspensão, como com as flutuações da biomassa fitoplanctônica, dependendo do local e do período do ano.

Existem poucas informações disponíveis sobre a estrutura do zooplâncton da Baía de Paranaguá. Conforme observado em outros estuários tropicais e subtropicais, os copépodes e as larvas de invertebrados (meroplâncton) são os organismos mais abundantes do mesozooplâncton (>180 µm) na Baía de Paranaguá. A importância numérica dos copépodes dos gêneros  Acartia, Paracalanus, Temora, Pseudodiaptomus, Oithona, Corycaeus e Euterpina foi bem caracterizada

para os anos de 1993 a 1996, sugerindo um padrão recorrente de dominância destes organismos. São espécies capazes de tolerar uma ampla faixa de variação da salinidade e, portanto, bem adaptadas aos setores meso e polihalinos (CEM/UFPR, 2001). Os copépodes  Acartia lilljeborgi, Oithona oswaldocruzi e  Euterpina acutifrons dominam o holozooplancton desses setores

(salinidade entre 12,1 e 34,2‰), principalmente na primavera e no verão. Nos meses de maior pluviosidade, os copépodes de águas menos salinas se dispersam espacialmente por uma ampla região da baía, como no caso de Pseudodiaptomus acutus, Labidocera fluviatilis e Oithona hebes

(Lopes et al., 1997 apud CEM/UFPR, 2001). As espécies freqüentes, mas não dominantes, são os cladócerosPenilia avirostris e Evadne tergestina, a hidromedusa Liriope tetraphyla, os quetognatos

do gênero Sagitta, o apendiculário Oikopleura dioica, e as larvas de Gastropoda, Cirripedia e

Decapoda (MONTÚ E CORDEIRO, 1988 apud CEM/UFPR, 2001).

SILVA (1994) apud CEM/UFPR (2001) apresentou os resultados de um levantamento anual sobre a distribuição horizontal e vertical das larvas de ostras do gênero Crassostrea em dois locais

da Baía de Paranaguá, verificando que o recrutamento é maior durante os períodos mais quentes, apesar da reprodução ser aparentemente contínua ao longo do ano. As larvas maduras tendem a se concentrar nas camadas de fundo, onde a probabilidade de contato com o substrato é, obviamente, maior (BOEHS e ABSHER, 1997 apud CEM/UFPR, 2001).

Fauna Bentônica

Os organismos bentônicos são aqueles associados aos fundos marinhos, como crustáceos, moluscos e anelídeos poliquetas. Esses organismos bênticos são, por várias razões, excelentes ferramentas biológicas em estudos de poluição ambiental ou de monitoramento da qualidade ambiental. Em primeiro lugar, têm um modo de vida predominantemente séssil ou sedentário, pelo menos no que diz respeito à escala espacial de muitas das perturbações ambientais mais usuais. Isto faz com que efetivamente sofram as conseqüências dos agentes poluidores, não evitando a área perturbada, como o fariam peixes ou outros organismos mais móveis. Em segundo lugar, têm ciclos de vida relativamente mais longos do que os organismos planctônicos ou mesmo do que muitos animais do nécton. Isto facilitaria, por exemplo, a análise dos efeitos subletais ou crônicos de agentes poluidores sobre populações submetidas a perturbações. Finalmente, os organismos bênticos têm um espectro de tolerância muito variado a perturbações ambientais. Certas espécies são particularmente sensíveis a determinados poluentes, como o óleo, enquanto outras podem tolerar elevadas concentrações. A tolerância ou sensibilidade diferencial a diferentes poluentes permite que os organismos bênticos possam ser utilizados como indicadores de perturbações ambientais tanto pela sua presença como pela sua ausência, já que os efeitos de uma determinada forma de poluição podem se dar em diversos níveis. O nível mais evidente é aquele em que podemos constatar alterações nas densidades populacionais. Muitas populações são virtualmente excluídas na presença de perturbações ambientais antrópicas, enquanto outras podem sofrer declínios ou aumentos populacionais, dependendo da natureza da perturbação (CEM/UFPR, 2001).

Algumas espécies encontradas na Baía de Paranaguá, dependendo das condições físico- quimicas e biológicas, são: poliquetas Polydora socialis, Sigambra grubii, Glycinde multidens,  Heteromastus similis, Clymenella dalesi e Kinbergonuphis nonatoi, gastrópodo Heleobia australis,

ofiuróide  Hemipholis elongata, bivalvo Tellina lineata, bivalvos comestíveis  Anomalocardia brasiliana e do gênero Mytella, caranguejo-do-mangue Ucides cordatus, caranguejo Uca, entre

outras (CEM/UFPR, 2001).

Ao contrário do observado em regiões temperadas, onde a abundância de invertebrados atinge picos no fim da primavera e início do verão, populações de invertebrados bentônicos na Baía de Paranaguá apresentam alta abundância tanto no inverno quanto no verão, sem nenhum padrão pronunciado de variação sazonal. Oscilações nessas abundâncias ao longo do ano têm sido atribuídas a variações na cobertura e biomassa das plantas, pluviosidade, temperaturas baixas e taxas de predação (LANA et al., 2001).

Ictiofauna

Os estudos sobre o nécton regional do Estado do Paraná são limitados às regiões estuarinas e costeiras. Os trabalhos estão restritos, em sua maioria, ao sistema estuarino da Baía de Paranaguá. Os aspectos da composição ictiofaunística corroboram a opinião generalizada de que o litoral do Estado do Paraná faz parte de uma região de transição faunística. Por isso, algumas espécies apresentam grande similaridade com a região tropical, de águas quentes, especificamente a Caraíbica. Contudo, por ser transicional, é nítida a presença de espécies de águas frias situadas mais ao sul (CEM/UFPR, 2001).

A literatura específica registrou 92 famílias, 191 gêneros e 313 espécies, dos quais 80, 179 e 289, respectivamente, correspondem exclusivamente aos Actinopterygii (peixes ósseos), estando particularmente inexplorada sua condroictiofauna (peixes cartilaginosos) (CEM/UFPR, 2001).

Dentre os Chondrichthyes (tubarões e raias) relatados, a família Carcharhinidae apresenta o maior número de espécies (7) e entre os Actinopterygii a família Myctophidae (37) para a região oceânica (ou de plataforma), Sciaenidae (22) e Carangidae (17) para as regiões costeiras e oceânicas (CEM/UFPR, 2001).

Por sua vez, a ictiofauna do sistema estuarino da Baía de Paranaguá está composta por 167 espécies. Deste total, aproximadamente 66 espécies são explotadas por 71% dos pescadores. Todas as espécies apresentam seu ciclo de vida, ou parte dele, essencialmente associado com as águas costeiras e estuarinas (CORRÊA, 1987, 1992 e 2001 apud CEM/UFPR, 2001).

O sistema estuarino da Baía de Paranaguá, por se tratar de uma área intermediária entre os rios e o oceano, está diretamente relacionada com as migrações dos peixes (ZIJLSTRA, 1986 apud CEM/UFPR, 2001). Temperatura e salinidade da água (associadas à pluviosidade e às marés) são os principais fatores que afetam sua distribuição (CORRÊA et al., 1995a, CORRÊA, 2001 apud CEM/UFPR, 2001).

De acordo com CEM/UFPR (2001), o comportamento migratório das espécies presentes na região pode definir quatro categorias principais:

I. Oceânicas que visitam a região para desova. Geralmente, nestes casos, a região contribui principalmente como local de criação.

II. Oceânicas que realizam todas as atividades de adulto, incluindo reprodução, em áreas distantes da costa, porém exploram a área para alimentação e crescimento. Geralmente invadem a região nos estágios larvais e pós-larvais por mecanismos ainda muito pouco compreendidos. O período de permanência pode variar entre alguns meses até alguns anos.

III. Costeiras que migram para regiões oceânicas para desova e desenvolvimento larval. Contudo, estão presentes na região nos estágios de juvenil e adulto.

IV. Estuarinas residentes que ocorrem na região em todos os estágios de desenvolvimento. São predominantes, levando-se em consideração apenas os estágios adultos e juvenis e o período do ano, as seguintes espécies (citadas por ordem de abundância):

a) verão (dezembro, janeiro, fevereiro): Mugil curema/M.gaimardianus (paratis), Cathorops spixii (bagre amarelo),  Netuma barba (bagre branco ou guiri),  Menticirrhus americanus

(betara preta),Centropomus parallelus (robalo-peva) e Cynoscion leiarchus (pescada branca);

b) outono (março, abril, maio): Cynoscion leiarchus (pescada branca), Mugil curema/M.gaimardianus (paratis), Mugil liza/M.platanus (tainhas e tainhotas), Cathorops spixii (bagre amarelo), Macrodon ancylodon (pescada membeca) e  Netuma barba (bagre

branco ou guiri);

c) inverno (junho, julho, agosto): Cynoscion leiarchus (pescada branca), Cynoscion acoupa

(pescada cambucu), Menticirrhus americanus (betara preta), Mugil liza/M.platanus (tainhas e

tainhotas),  Netuma barba (bagre branco), Centropomus parallelus (robalo-peva),  M.curema/M.gaimardianus (paratis) e Cathorops spixii (bagre amarelo);

d) primavera (setembro, outubro e novembro):  Mugil curema/M. gaimardianus (paratis),  Micropogonias furnieri (corvina), Netuma barba (bagre branco), Cathorops spixii (bagre

amarelo), Cynoscion leiarchus (pescada branca), Menticirrhus americanus (betara preta) e Sciadeichthyes luniscutis (bagre bacia ou cangatá).

Os períodos de primavera e do outono demarcam o início e final do período reprodutivo para a maioria das espécies ícticas (CORRÊA et al., 1995b apud CEM/UFPR, 2001).

Avifauna

Em relação às aves, excelentes bioindicadores de impacto de derrames de petróleo em áreas marinhas, cabe ressaltar que, embora o litoral do Paraná apresente uma pequena extensão, existe um grande número de espécies, aproximadamente 300 das 1600 existentes no Brasil. Nos ambientes sob influência marinha no Estado do Paraná a plataforma interna foi recentemente classificada como de extrema importância para a conservação das aves no Brasil, ao passo que os ambientes de baía receberam o status de muito importantes. Tal reconhecimento deve-se ao fato de que muitas aves migratórias usam essas áreas como ponto de parada, por haver reprodução de aves aquáticas coloniais e também por abrigar importantes sítios de alimentação para aves marinhas em geral (Avaliação e Ações Prioritárias para Zona Costeira e Marinha, 2002 apud CEM/UFPR, 2005).

Conforme KRUL (2001) apud CEM/UFPR (2005), as aves podem ser agrupadas em quatro comunidades diferenciadas, de acordo com os ambientes que ocupam no litoral: estuarina, de manguezal, da plataforma, subdividindo-se em costeiras e pelágicas, e a das praias oceânicas.

Cada comunidade de aves apresenta um conjunto particular de espécies, que refletem condições ambientais também peculiares. Porém, algumas aves apresentam maior flexibilidade comportamental, o que lhes permite uma distribuição mais ampla, podendo, dessa forma, contribuir para a riqueza total de espécies em mais de uma comunidade (CEM/UFPR, 2001).

As aves pertencentes à comunidade estuarina são aquelas que ocorrem em áreas abrigadas da baía e obtêm seu alimento das áreas areno-lodosas expostas durante a maré baixa ou de áreas temporária ou permanentemente alagadas, como por exemplo, as garças  Egretta spp., socós  Nycticorax spp., maçaricos migrantes do hemisfério Norte  Actitis macularia, Charadrius semipalmatus, Tringa spp., Pluvialis dominica. No corpo aquoso pode-se citar os biguás Phalacrocorax brasilianus. As marrecas Amazonetta brasiliensis e Anas bahamensis e o pato-do-

mato Cairina moschata freqüentam tanto as áreas aquosas como as lodosas para se alimentarem.

Existem também aves que se reproduzem em alto-mar, mas alimentam-se nas baías, como o atobá (Sula leucogaster). É evidente que existem inúmeras outras espécies que se enquadrariam nessa

comunidade, como as saracuras, os colhereiros, entre outras.

A comunidade de manguezal compreende as espécies que dependem desse ecossistema para alguma de suas necessidades, capturando seu alimento tanto no solo lodoso como nas árvores, pode- se citar, nesse caso, o papagaio-de-cara-roxa Amazona brasiliensis, a saíra-dourada-de-costas-pretas Tangara peruviana, mariquita Parula pitiayumi, bem-te-vi Pitangus sulphuratus, martim-pescador

dos gêneros Ceryle eChloroceryle, entre outras espécies.

As pertencentes à comunidade da plataforma continental podem ser subdivididas em costeiras e pelágicas ou oceânicas. As primeiras são aquelas que ocorrem nas proximidades da costa,

utilizando tanto as águas rasas da plataforma como os ambientes de baía como áreas de alimentação, destacando-se espécies como o atobá Sula leucogaster , o tesoureiro Fregata magnificens, gaivota Larus dominicanus, consideradas residentes, os trinta-réis ou andorinhas do

mar do gênero Sterna, consideradas migratórias. Já entre as espécies de aves pelágicas ou oceânicas

mais características de alto-mar pode-se citar os albatrozes  Diomedea spp. e os petréis Puffinus

spp..

Na comunidade das praias oceânicas são observadas as aves migratórias, algumas com mais abundância como Calidris fusciollis e C. Alba, outras, com uma ocorrência menor, são os

batuiruçus Pluvialis dominica e P. squatarola, o vira-pedra Arenaria interpres, o maçarico-de-

colete C. melanotus e o maçarico-de-papo-vermelho C. canutus. Apenas um maçarico é residente, o Charadrius collaris, sendo sua população bastante reduzida.

Conforme relatório do CEM/UFPR (2005), existem cinco ilhas no litoral paranaense que representam importantes pontos de reprodução de aves associadas aos ecossistemas marinhos: Figueira, Itacolomis e, principalmente, o Arquipélago de Currais. O atobá Sula leucogaster , o

tesoureiro Fregata magnificens e a gaivota  Larus dominicanus são espécies residentes que se

reproduzem apenas em dois pontos da costa paranaense, que são o Arquipélago de Currais e a Ilha da Figueira. Em ambientes de baía destacam-se a Ilha do Guará, localizada em frente ao Porto de Paranaguá, e a Ilha do Rato, localizada na entrada da Baía de Guaratuba. No relatório do CEM/UFPR (2001) foi citado que no entorno das Ilhas Gererê, observa-se um local de alimentação para a andorinha-do-mar Sterna spp. e para o biguá Phalacrocorax brasilianus.

Pode-se ainda comentar a existência de ilhas que servem como pontos de dormitório de algumas espécies de aves, um exemplo disso é a Ilha do Pinheiro, localizada em baía do mesmo nome, dentro do Parque Nacional do Superagüi, onde dormem papagaios-de-cara-roxa e biguás. Interações Ambientais no Complexo Estuarino Lagunar de Iguape – Cananéia e Paranaguá

Uma vez conhecidos os principais componentes da área afetada nos itens acima, pretende-se nesse item chamar a atenção para a interessante interação existente entre todos os meios existentes no Complexo Estuarino Lagunar de Iguape-Cananéia e Paranaguá, de maneira que qualquer alteração em um dos seus pontos altera toda a cadeia trófica estabelecida.

Conforme citado no relatório do CEM/UFPR (2001), estuários comportam-se como sistemas muito abertos ou interligados, apresentando trocas de matéria e energia com áreas continentais e marinhas adjacentes, isto é, não existem limites geográficos que possam determinar até onde vão as interações, pois o sistema é naturalmente dinâmico.

Os estuários destacam-se por sua alta produção biológica que ocorre como reflexo: (1) da alta diversidade de sistemas produtores (e.g. manguezais, fanerógamas submersas, algas bentônicas, marismas e fitoplâncton), (2) do abundante suprimento de nutrientes provenientes de aportes fluviais, pluviais e antrópicos, (3) da renovação d'água nos ciclos de maré, (4) da rápida remineralização e conservação de nutrientes através de uma complexa teia trófica, que inclui organismos detritívoros e filtradores (DAY et al., 1989 apud CEM/UFPR, 2001) e (5) da troca de nutrientes e outras propriedades biogeoquímicas entre o sistema bentônico e a coluna d'água estuarina, através dos processos de erosão e ressuspensão dos sedimentos de fundo (NICHOLS, 1986 apud CEM/UFPR, 2001).

Os manguezais constituem um dos sistemas mais produtivos do mundo (300 a 2000 gC/m2) (MANN, 1982 apud CEM/UFPR, 2001) e funcionam como habitats de criação, proteção e alimentação de diversas espécies de moluscos, crustáceos e peixes estuarinos e costeiros (MITSCH & GOSSELINK, 1986 apud CEM/UFPR, 2001), muitas das quais representam importantes recursos pesqueiros. Além disso, atuam na regulação dos ciclos químicos, influenciando na manutenção de

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