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3 REFERENCIAL TEÓRICO

MEIO SOCIAL E POLÍTICO

Esbelecimento das necessidades da sociedade e do sistema institucional de Gestão dos Recursos Hídricos Cenários de Desenvolvimento Zoneamento Econômico- Ecológico

Com essas informações, passa-se ao meio técnico, em que são estabelecidas metas com relação ao uso dos recursos hídricos a partir das demandas setoriais pré-definidas, as quais devem atender exigências de qualidade e quantidade. O zoneamento econômico econômico-ecológico, quando existente, pode servir como um filtro preliminar dessas demandas por ser um instrumento disciplinador do uso do solo.

O passo seguinte é definir as formas de intervir no sistema hídrico. Essas intervenções podem ser estruturais, como a construção de barragens para aumento da disponibilidade hídrica ou até transposição de bacias. Também, podem ser por meio de instrumentos de gestão, como as diretrizes dos planos de bacias, a outorga, o enquadramento e a cobrança. Os indicadores para análise servem para mostrar o desempenho dessas intervenções, que pode ser feita com recurso a uma análise multiobjetivo, que é uma forma de avaliar, de forma conjunta, o resultado dos diferentes indicadores dessas intervenções, propiciando elaborar políticas e planos de uma forma mais ampla, conciliando múltiplos objetivos na medida do possível. Caso essas medidas atendam as demandas setoriais, encaminha-se a proposta técnica ao meio decisório. Caso contrário, pode haver necessidade de que se revejam as demandas setoriais e se busquem outras alternativas técnicas. Todo esse arcabouço técnico está apoiado na capacidade hídrica do ambiente, que é o principal fator limitante. Todo o processo pode ser alimentado por um sistema de informações.

O meio decisório é aquele que vai definir qual é a melhor forma de intervenção, dadas as restrições do meio técnico. As intervenções aprovadas são apresentadas na forma, por exemplo, de um Plano de Recursos Hídricos, podendo ser solicitadas maiores informações ou outras análises ao meio técnico, caso necessário.

Campos (2001) apresenta as principais características que um modelo institucional de Gestão dos Recursos Hídricos, com as seguintes características e funções:

Formulação do modelo:

• Caracterização das funções do setor hídrico e identificação das funções dos outros setores da administração pública;

• Diagnóstico do modelo institucional vigente; • Formulação do novo modelo;

• Verificação de homogeneidade entre modelo, princípios e leis. Funções e Sistemas no Modelo

Campos (2001) define cinco principais funções do sistema de gestão de recursos hídricos conforme a Tabela 3.1.

Tabela 3.1 Funções do Sistema de Gestão dos Recursos Hídricos de Água e demais Sistemas FUNÇÕES Gestão Planejamento Administração Regulamentação Oferta Represamento Poços Cisternas Usos Consuntivos Abastecimento

Irrigação

Abastecimento Industrial Aqüicultura Abastecimento Urbano Usos Não Consuntivos Geração de Energia elétrica

Navegação fluvial Lazer Pesca e piscicultura Assimilação de esgotos

Preservação Complementares Ciência e Tecnologia

Meio Ambiente Planejamento Global Incentivos Econômicos

Defesa Civil

Com relação aos sistemas, esse autor apresenta um agrupamento das instituições em três sistemas:

Sistema de Gestão – é aquele que detém as funções de gestão, planejamento, administração e regulamentação, quando essas funções estão em uma mesma instituição, a mesma é denominada órgão gestor;

Sistemas afins – composto por:

• Sistema de oferta – responsável pela oferta de água, por meio de construção de obras hídricas que aumentem e regularizem a disponibilidade hídrica;

• Sistema de utilização – aqui estão relacionados os usuários de recursos hídricos com as mais variadas finalidades, consuntivos e não consuntivos;

• Sistema de Preservação – responsável pela proteção dos recursos hídricos, são funções desse sistema, o zoneamento do uso do solo, proteção de mananciais e desenvolvimento de programas de educação ambiental.

Sistemas correlatos – São aqueles sistemas que não estão relacionados diretamente com os recursos hídricos, mas cujas atividades interagem com o sistema de gestão e os sistemas afins, podendo ser relacionados os seguintes:

• Sistema de Planejamento e Coordenação Geral – executa o planejamento do desenvolvimento regional, o orçamento público e os programas e projetos governamentais;

• Sistema de Incentivos Econômicos e Fiscais – Instituições que induzem o desenvolvimento regional por meio de incentivos econômicos e fiscais, podendo interagir com os recursos hídricos quando financia projetos de uso múltiplo dos recursos hídricos e programas de desenvolvimento industrial com base em disponibilidade hídrica e potencial de poluição das águas;

• Sistema de Ciência e Tecnologia – São as instituições que formam recursos humanos e desenvolvem conhecimento e tecnologia para a região;

• Sistema de Defesa Civil – Desenvolve atividades de alerta contra cheias e programas de assistência à população atingida por cheias e secas;

• Sistema do Meio Ambiente – atua na conservação e na preservação do meio ambiente, do qual os recursos fazem parte, são funções desse sistema, entre outras, o estabelecimento de padrões de qualidade da água de acordo com seu uso, assim como a fiscalização das atividades potencialmente poluidoras.

Campos (2001) ainda destaca a importância da interação entre esses sistemas para um melhor desempenho dessas atividades.

Planos de Recursos Hídricos como instrumentos de Gestão

Os planos de recursos hídricos constituem-se em um dos instrumentos de gestão previstos na Política Nacional de Recursos Hídricos. Dos instrumentos previstos, é aquele que aborda de forma mais específica questões de longo prazo com relação à gestão. Aqui se pode atuar mais em uma perspectiva de como se quer e o que se espera do futuro dos recursos hídricos de uma determinada região.

Em síntese, os Planos de Recursos Hídricos definem as prioridades de uso da água na bacia, assim como a destinação dos recursos financeiros disponíveis, o que significa que um plano é, na verdade, um grande acordo político entre todos os atores, já que a definição de prioridades de uso determinará a concessão de outorgas e o valor da cobrança pelo uso da água. Por isso, a elaboração dos planos de bacia deve ser, necessariamente, um processo participativo (Brasil, 2004a).

A Lei 9433/97 (Brasil, 1997) determina que os planos tenham a seguinte estrutura mínima: • Diagnóstico da situação atual dos recursos hídricos;

• Análise de alternativas de crescimento demográfico, de evolução de atividades produtivas e de modificações dos padrões de ocupação do solo;

• Balanço entre disponibilidades e demandas futuras dos recursos hídricos, em quantidade e qualidade, com identificação de conflitos potenciais;

• Metas de racionalização de uso, aumento da quantidade e melhoria da qualidade dos recursos hídricos disponíveis;

• Medidas a serem tomadas, programas a serem desenvolvidos e projetos a serem implantados, para o atendimento das metas previstas;

• Prioridades para outorga de direitos de uso de recursos hídricos; • Diretrizes e critérios para a cobrança pelo uso dos recursos hídricos;

• Propostas para a criação de áreas sujeitas à restrição de uso, com vistas à proteção dos recursos hídricos.

Campos e Sousa (2001) relacionam onze regras para se ter um bom plano de gerenciamento, são elas:

b. Estabelecer objetivos e metas de forma clara; c. Cobrir uma área racional de planejamento;

d. Ter o nível de detalhe adequado para ajustar-se ao tipo de ação proposta; e. Ajustar-se ao planejamento multi-setorial;

f. Apresentar vantagens e desvantagens das alternativas propostas; g. Propor uma alocação eqüitativa dos recursos;

h. Ter uma flexibilidade para adequar-se às incertezas:

i. Ter viabilidade politicamente, tecnicamente, financeiramente e legalmente; j. Ser desenvolvido com o adequado envolvimento público e;

k. Dispor de boa base teórica.

O Plano Nacional de Recursos Hídricos e os Planos Estaduais são instrumentos estratégicos que estabelecem diretrizes gerais sobre os recursos hídricos no país e nos estados. Por esse motivo, têm de ser elaborados de forma participativa, para que possam refletir os anseios, necessidades e metas das populações das regiões e bacias hidrográficas.

Como esses documentos são elaborados para serem executados por meio de medidas de médio e longo prazo, há uma grande dificuldade, principalmente devido a fatores de natureza política, de continuidade dessas medidas e ações. Outro fator que também contribui para essa falta de continuidade é que, apenas recentemente, tem-se trabalhado de forma efetiva, de fato, a questão participativa na elaboração desses planos. Por mais que se tenha um documento tecnicamente consistente e bem elaborado, caso não haja uma identificação por parte da sociedade com o plano, ela dificilmente engajará esforços para a efetivação do mesmo.

Percebe-se aqui, muitas vezes, a falta da inserção estratégica propriamente dita nos planos de recursos hídricos, em que o planejamento por cenários pode ser de grande utilidade por ter a capacidade de expandir modelos mentais, ampliando com isso a capacidade de percepção necessária para reconhecer eventos inesperados (Van Der Heijden, 2004), o que pode propiciar uma maior identificação com os planos, tanto por parte da sociedade como dos tomadores de decisão.

3.2 - APOIO À DECISÃO: CONSTRUÇÃO E RECONHECIMENTO DE UM